CAPÍTULO 32

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Erick, há 13 anos.

— Você entendeu, Erick? — questiona meu pai, enquanto arruma o boné na minha cabeça.

— Sim. — concordo, cabisbaixo, me assustando ao ver sua atitude preocupada demais.

Meu pai insistiu que eu viesse com ele para vê-lo vender uma casa para um casal que é amigo dele, já que segundo ele, eu preciso começar a me familiarizar com o negócio da família para o dia em que herdarei a empresa.

Mesmo que a casa não fique assim tão perto do bairro que ele diz ser perigoso, meu pai insistiu que eu usasse óculos e boné para cobrir o meu rosto. Sua possível paranoia o está fazendo pensar que serei raptado por uma daquelas pessoas quando elas reconhecerem o meu rosto.

Me entristece ver que a única preocupação dele é porque seu único herdeiro homem desapareceria e o deixaria sem um filho para conseguir dar continuidade a empresa que ele tanto ama. Ama tanto que parece quase um filho.

Mamãe queria estar aqui agora, ela não gosta que eu saia sozinho com o meu pai por causa das coisas que ele irá me dizer. Se tratando da realidade e das duras verdades que o mundo esconde, parece que ele prefere acabar com todas as minhas esperanças agora do que quando me tornar adulto.

Ajeito o óculos no rosto e olho para o nosso motorista, observando quando faz uma curva a direita.

— Já estamos quase chegando. — fala Henrique, meu pai, olhando pela janela parecendo ansioso.

— Legal. — resmungo, balançando meus pés sem entusiasmo.

— Quando chegarmos lá, você só vai falar quando se apresentar a eles, entendeu? — avisa, me olhando com severidade.

Aceno que sim e vejo um pouco de alívio cruzar o seu rosto enrugado.

Meu pai não é o tipo de homem que envelhece muito bem, desde os 30 anos sempre pareceu que ele já tinha 50. Tenho certeza de que toda bebida não ajudou em nada isso também. Os cabelos castanhos dele já estão cheios de fios brancos, rugas e marcas no rosto o fazem parecer mais cansada do que ele pode admitir e, de um tempo para cá, há algo estranho em seus olhos que sempre me causam arrepios. Não é medo, nem cansaço, ou raiva quando algo dá errado na empresa, na verdade,  está beirando mais para maluquice e paranoia.

Tenho medo pela mamãe também, sei que não é fácil ter um homem como Henrique ao lado dela o tempo todo. Além de parecer cada vez mais maluco, ele se tornou possessivo e ciumento com ela e está rastreando todos os passos em que Eva dá no dia.

Mas meu temor é ainda pior pela minha irmãzinha. Agora ela já está com cinco anos e é a princesinha da minha mãe. Não tive muitas chances de passar tempo com ela por causa dos estudos que meu pai me obriga a fazer todos os dias, então eu realmente não faço ideia de como me sinto tendo um novo membro na família. Sei que ela não tirou todo o amor da mamãe por mim, o que foi o meu maior medo quando soube que teria uma irmã, mas parece que desde o dia em que nasceu foi o marco para que o nosso pai começasse a agir de modo diferente.

— Chegamos, senhor. — anuncia o motorista.

— Obrigado, Frank. — agradeço, quando meu pai começa a sair do carro.

O homem lança um sorriso gentil para mim e retribuo, saindo do carro logo depois.

Paro ao lado do meu pai, que está parado na frente do portão, observando a casa. Apenas percebo agora que todas as moradias ao nosso redor têm o mesmo estilo e o mesmo custo. Todos parecem ser habitados, mas é estranho que todas as janelas que tem a vista direto até o bairro atrás de nós, estão com as cortinas fechadas, mesmo que os vidros estejam abertos.

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