CAPÍTULO 13

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Puxo o ar com força para dentro dos meus pulmões.

Ar...

Eu consigo respirar.

Abro meus olhos com dificuldade, piscando algumas vezes ao ver uma luz branca quase em cima de mim. Logo percebo o excesso da cor branca ao meu redor, fazendo minha cabeça começar a doer.

Meus ouvidos captam os bipes de algo apitando perto de mim, enquanto afundo meus dedos no tecido em que me encontro deitada, tentando entender onde estou. É macio e quentinho, e quase faz com que eu pegue no sono.

Expiro novamente, vendo o meu hálito manchar a máscara de ar presa ao meu rosto. Os bipes ao meu lado se tornam mais constantes conforme tento respirar, mas meu corpo está começando a entrar em pânico. Tento me mover para tirar o que está enrolado ao redor da minha garganta que está me sufocando, mas não há nada.

Duas silhuetas se erguem sobre mim e pisco mais vezes, distinguindo as duas mulheres.

— Querida, se acalme. — as mãos de Berta estão segurando as minhas e ela está sorrindo, apesar dos olhos vermelhos e inchados, enquanto percebo que ainda está usando seu vestido florido.

— Berta? — sussurro, sentindo minha garganta seca.

— Você precisa se acalmar, Emily. — fala Eva, logo atrás de Berta, ainda usando o mesmo maiô. — Vou chamar um médico, fique de olho nela até ele vim.

— Ok. — concorda Berta, balançando a cabeça rapidamente.

Olho ao redor, percebendo o pequeno cômodo em que me acomodo. No meu lado esquerdo, há um sofá pequeno com os chapéus de praia de Berta e Eva, enquanto do lado direito há uma porta fechada e uma TV pequena na parede.

Me assusto quando vejo os aparelhos estranhos atrás da minha cama, que me circulam, e com a agulha entrando no meu braço.

— O que é isso? — pergunto, tentando me sentar.

Berta parece perceber meus olhos arregalados e o meu medo, e se senta ao meu lado ainda segurando uma das minhas mãos.

— Querida, você precisa respirar devagar. — aconselha, massageando minha mão. — O médico avisou que isso poderia acontecer. Está se sentindo sufocada? — balanço a cabeça e ela retira a máscara do meu rosto. — Vamos deixar assim por enquanto, mas se você sentir falta de ar precisa colocar de volta, tá bom?

Respiro fundo lentamente, me sentindo melhor.

— Que lugar é esse? — pergunto, esfregando meus olhos cansados.

— Estamos no hospital. — ela me encara com as sobrancelhas franzidas. — Você não se lembra do que aconteceu?

Desvio meu olhar para as mãos delas na minha.

Havia água me cercando. A única luz que encontrei foi quando abri os meus olhos pensando que iria morrer e eu deveria estar morta, alguém estava me afogando. Lembro de ter braços ao meu redor me prendendo, de abrir a boca em busca de água e me afogar no desespero conforme percebia qual seria o meu fim.

Respiro fundo novamente, tentando convencer aos meus pulmões de que agora consigo respirar, de que não preciso mais me sentir sufocada.

— Eu... eu lembro. — gaguejo, sentindo as lágrimas nos meus olhos. — Eu... deveria estar morta.

Observo os olhos marejados de Berta, enquanto ela funga uma vez antes de me responder.

— O médico disse que você teve sorte, que teríamos problemas se tivesse ficado mais dois minutos embaixo da água. — ela me lança um sorriso triste. — Graças a Deus, Erick conseguiu te tirar de lá.

— Foi ele quem me salvou? — pergunto, sentindo meu coração bater forte contra o meu peito.

— Quando ele te trouxe até a areia... — ela respira fundo, controlando os soluços. — Ele não estava sentindo o seu coração bater. — eu passo a minha mão livre pela bochecha dela, enxugando algumas lágrimas. — Pensamos que o pior tinha acontecido.

— Eu estou bem agora. — digo, apertando a mão dela. — Só estou com fome.

Isso a faz rir e comemoro por dentro ao ver que consegui fazer ela sorrir.

— Ainda não conseguimos ir pra casa, não queríamos te deixar sozinha. — conta. — Mas assim que a gente voltar, eu prometo que vou fazer um jantar delicioso pra você.

— Obrigado, Berta. — olho ao redor, observando o quarto. — Há quanto tempo eu estou aqui?

— Vai fazer umas seis horas, eu acho. — responde, depois de pensar um pouco.

Nós duas nos viramos para a porta, esperando ver Berta e Erick, mas um homem de jaleco branco, em torno dos 40 anos, se aproxima de nós. Ele está carregando uma prancheta e a apoia no peito quando para ao lado da minha cama. O rosto dele já tem algumas marcas relacionadas a idade, tem olheiras que confirmam os dias difíceis que está passando, mas sorri ainda assim.

— Boa noite, Emily, sou o Dr. Santiago. Fui encarregado de cuidar de você. — fala, me mantendo informada. — Como você está se sentindo?

— Bem, eu acho. — respondo, olhando rapidamente para Berta.

— Algum problema com a máscara de oxigênio? — pergunta, olhando para o aparelho pendurado no meu pescoço.

— Aconteceu o que o senhor previu. — fala Berta.

Ele suspira.

— Você pode deixar de lado caso não se sinta a vontade e esteja respirando normalmente, mas recomendo que coloque de volta assim que sentir algo errado, tudo bem? — ele lê algo na prancheta. — Fizemos alguns exames e a radiografia do seu tórax em busca de alguma sequela grave, mas nada anormal que indicasse traumas apareceu neles. — ele olha para mim e sorri. — Você teve sorte, sabia? Mais alguns minutos e estaria em apuros. Vamos apenas pedir que permaneça por mais uma hora pra que possamos observar as reações no seu corpo e, se tudo ocorrer normalmente, te daremos alta. Alguma dúvida?

— Tem outro cobertor? — pergunto, puxando a manta fina para me cobrir.

— Vou pedir que a enfermeira traga um para você o mais rápido possível. — fala, e apoia uma das mãos no meu ombro. — Qualquer sintoma que envolva dificuldade pra respirar e dor no peito, me chame imediatamente, ok?

Balanço a cabeça.

— Obrigado, doutor. — Berta agradece e sorri.

Ele sai do quarto e acena com a cabeça em um gesto rápido para as outras duas pessoas que estão se aproximando.

Eva entra primeiro, ficando ao meu lado e segurando meus dedos com gentileza. Ela sorri e passa uma mão pelo meu cabelo. Erick aparece alguns segundos depois, com as mãos dentro do bolso da bermuda, mas desta vez usando uma camisa regata.

Olho com atenção a tatuagem dele, me sentindo corar ainda mais quando lembro de que eu poderia ter tocado aquela pele marcada pelas linhas negras.

— Como você está, meu bem? — pergunta Eva.

— Estou melhor. — respondo, sorrindo.

— Você nos deu um baita susto, mocinha. — fala, dando batidinhas de leve na minha mão. — Seu amigo até veio aqui pra te ver.

— Meu amigo? — questiono, franzindo o cenho. Olho para Erick, percebendo o seu desconforto e minha suspeita é confirmada. — Gabriel?

— Ele mesmo. — fala Eva, sorrindo. — O encontrei conversando com Erick lá embaixo, ele estava preocupado com você.

Me remexo, tentando me sentar em uma posição mais confortável, chamando a atenção do meu chefe.

— Ele ainda está aqui? — pergunto, sentindo meu coração acelerar ao saber que Gabriel estava preocupado.

Isso quer dizer que ele está bem, por enquanto.

— Ele disse que iria embora. — responde cautelosamente, vendo minha expressão ansiosa murchar para decepção. — Disse que não era uma boa hora.

— Mas ele vem ver você em breve. — interrompe Erick, parecendo saber de algo que a mãe dele não sabe. — Não tem com o que se preocupar.

— O que o médico disse? — pergunta Eva à Berta, enquanto mantenho minha atenção em Erick ainda de pé na porta.

— Ele disse que não houve traumas e que precisamos ficar aqui por mais uma hora pra observação. — Berta afaga a minha mão. — Aí, então, podemos ir pra casa.

Eva balança a cabeça levemente e depois franze o cenho quando toca o meu braço, e sobe logo em seguida para o pescoço.

— Já pediram um cobertor? — questiona. — Você está tão gelada.

— O médico disse que iria pedir pra enfermeira trazer.

— Eu vou buscar. — fala Erick, já se virando para sair.

— Deixa que eu vou, querido. — interrompe Eva, e ela olha para Berta. — Vamos?

Berta sorri, acariciando rapidamente minhas mãos e depois se levanta, seguindo Eva para fora do quarto. Quando as duas se vão, é só então que percebo o quão rápido meu coração está batendo, pelos bipes constantes ao meu lado, e que minhas mãos estão começando a suar frio.

Coloco a máscara de volta ao rosto, buscando ar e esperando que isso me acalme, enquanto Erick permanece perto da porta.

Odeio o fato do meu corpo reagir dessa maneira a presença dele, quando tudo o que mais quero fazer é me manter distante, mesmo que meus sentimentos e, até mesmo, minha consciência me abandonem perto dele.

— Você está mesmo bem? — pergunta ele, dando um passo cauteloso à frente.

Deixo a máscara pendurada de volta no meu pescoço e brinco com meus dedos em cima do colo, tentando me distrair e fazer com que meu rosto permaneça neutro.

Balanço a cabeça.

— Sim.

Um sorriso minúsculo aparece no canto do seu rosto e não consigo evitar que meu coração acelere quando percebo a maneira que me olha, como se essa resposta fosse o bastante para lhe fazer contente.

— Que bom. — sussurra, mordendo os lábios.

Eu desvio minha atenção, tentando não encarar a boca dele, porque sei que reação meu corpo irá ter.

— Obrigado por me salvar. — digo, olhando para as minhas unhas já sem esmalte.

— E eu peço desculpas pelo que aconteceu. — fala, baixinho, fazendo com que eu erga a cabeça.

O vejo passar a mão pelo cabelo e nuca, fazendo os músculos do braço se tensionarem.

— Você não tinha como saber que isso aconteceria. — o conforto.

— Mas eu que aceitei a oferta da minha mãe pra irmos à praia. — ele caminha até ficar ao meu lado, mas não me encara. — Eu deveria ter ficado em casa com você.

Vejo suas bochechas assumirem uma coloração rosa, enquanto finge prestar atenção nos detalhes do quarto.

— Mesmo com tudo que aconteceu, fico feliz de ter ido. — falo, sorrindo. — Foi a primeira vez em que fui a praia e eu me diverti muito.

— Mesmo do jeito que terminou? — pergunta.

— Mesmo assim. — concordo.

Ele sorri e retribuo, e meu olhos inconscientemente recaem sobre a sua boca.

O meu último pensamento, antes de desistir e achar que seria o fim, de que eu queria que ele tivesse me beijado aquele dia, retorna e quase posso sentir o fluxo de sangue ir direto até as minhas bochechas.

— Tudo bem? — pergunta Erick, se aproximando.

— Só estou com frio. — minto, amassando o tecido fino entre meus dedos trêmulos.

Erick se senta ao meu lado e se inclina para a frente, mal tenho tempo de raciocinar todos os seus movimentos quando uma das suas mãos encostam na minha testa e depois na minha bochecha. Ele faz uma expressão pensativa e depois cobre as minhas mãos com a dele.

— Você está gelada. — resmunga. — Cadê o cobertor que as duas disseram que iriam trazer?

— Eu estou bem. — sussurro, enquanto aproveito o contato da sua pele quente contra a minha.

A atenção dele finalmente se foca completamente em mim, para o jeito em que está me tocando, que seu corpo está perto do meu e que seu rosto está quase tão próximo quanto da vez em que quase me beijou. Lembrar disso novamente faz meu corpo retornar ao momento em todas aquelas sensações que os lábios de Erick me proporcionaram.

— Eu pensei em você.

Meus lábios sussurram essas palavras antes que meu cérebro processe se isso é mesmo uma boa ideia. E não, não é.

Vejo o pomo de Adão dele subir e descer quando engole em seco, nervoso, e sua mão livre, que antes estava na minha testa, acaricia meu rosto.

— Quando? — questiona, curioso.

— Antes de tudo acontecer. — respondo, sentindo o arrepio subir pelo meu corpo.

— Mesmo? — sussurra de volta, parecendo gostar da ideia.

— Sim.

Nunca me senti tão exposta desde que encontrei Erick, desde que descobri que apenas um olhar dele poderia me fazer tremer de ansiedade ou de desejo. Agora, só consigo ter a sensação de que toda vez que me encara de que ele consegue ler cada pensamento meu.

Se Erick soubesse mesmo o quanto quero que faça o que me prometeu que terminaríamos, sei que sua boca estaria contra a minha nesse momento.

— O que você pensou exatamente? — questiona.

Ele me encara, esperando ansioso pela minha resposta.

Sinto minha garganta secar ao imaginar ele rindo ou reagindo de qualquer outra maneira que me faça querer ficar longe dele novamente. Não posso me arriscar assim, não posso falar algo tão sério quando sei que não vou ser correspondida.

— Eu... — abaixo a cabeça, fazendo a sua mão no meu rosto se afastar. — Eu queria te pedir desculpas pelo que eu disse quando estávamos no mar.

— Ah. — sussurra, voltando a sua posição normal e desviando o olhar. — Isso.

— Eu sinto muito. — peço.

— Não sinta, você não fez nada.

Ele me lança um sorriso gentil e aperta meus dedos carinhosamente com a mão que ainda está no meu colo.

— Você falou mesmo com o Gabriel? — pergunto, fazendo ele suspirar fundo.

— Sim.

— E por que ele não veio me ver?

— Ele precisava voltar, Emily. — Erick aperta de novo minha mão quando vê minha expressão cabisbaixa. — Gabriel disse que precisava voltar para os irmãos dele. Eles vão estar em perigo também, não é? — balanço a cabeça, desviando o olhar. — Eu disse a Gabriel que posso proteger os dois e que ele podia morar com a gente, mas o idiota disse que iria pensar.

Olho rapidamente para Erick, odiando ver essa rivalidade entre os dois quando nem sequer se conhecem direito.

— Acha que ele vai aceitar a ajuda? — pergunto.

— Tenho certeza que sim. — fala, me reconfortando. — Você deu um baita susto em Berta, sabia?

— Eu sei. — sussurro, envergonhada, lembrando dos olhos vermelhos da governanta. — Eu não queria preocupar ninguém, muito menos ela com tudo isso.

— Agora não importa mais o que você tiver que enfrentar, se for um dia ruim ou até um namoro que deu errado, só sei que Berta vai estar do seu lado. — ele sorri. — Você conseguiu conquistar o coração daquela mulher.

Minhas bochechas coram ao ouvir isso de Erick, sabendo que o carinho e amor que tenho por Berta é correspondido por ela. Me sinto próxima dela desde o dia em que pus os pés naquele apartamento e, a meu ver, ela é como a mãe que nunca tive.

— Até a minha mãe ficou preocupada com você. — acrescenta Erick, e ele engole em seco antes de continuar. — E eu também.

Antes que eu possa responder, as vozes de Berta e Eva surgem no corredor e logo as duas entram no quarto.

— Aqui está, querida. — Eva para ao meu lado e começa a esticar o cobertor.

De repente, os olhos dela se focam no meu colo, mais especificamente para meus dedos quase entrelaçados com o de Erick.

— Então. — começa Eva, sorrindo, e Erick se levanta para ajudá-la a me cobrir. — Vocês já se entenderam?

— Acho que sim. — respondo, percebendo que Berta também está sorrindo.

— Até que enfim ele tomou a iniciativa. — ela fecha os olhos e suspira. — Eu disse pra ele que era uma boa ideia e que...

— Mãe! — interrompe Erick, encarando a senhora ao meu lado com os lábios fechados com força. — Nós só estávamos conversando.

— Você até contou a ela de que iria ficar com aquela loira falsificada? — pergunta, colocando as duas na cintura, parecendo ofendida.

— Eu não... — começa Erick, olhando para mim. Ele respira fundo, enquanto aperta o osso no alto do nariz. — Isso não importa.

— É, claro. — Eva termina de arrumar o cobertor e se senta na ponta da cama, virando sua atenção para mim. — Agora vamos falar sobre o seu amigo Gabriel.

— Como ele era? — pergunta Berta, se sentando do meu outro lado, fazendo Erick ficar em pé.

— O garoto era lindo, Berta, você tinha que ver. — responde Eva, me deixando constrangida. — Emily, você escolheu bem. A maneira como ele falou de você e a forma que estava preocupado, é óbvio o que ele sente.

— Não acredito. — sussurra Berta, cobrindo a boca. — Ele também gosta dela?

Franzo o cenho, enquanto a frase dela fica repassando na minha cabeça.

"Também"?

— É isso aí. — acho que nunca vi as duas sorrirem tanto. — Nós temos que convidar ele pra jantar com a gente e assim vocês vão poder botar o papo em dia.

— Ele estava ocupado, mãe. — interrompe Erick, se sentando no sofá. — Aposto que o garoto não tem tempo.

— Então vamos fazer com que tenha tempo. — rebate ela, desviando a atenção de novo para mim. — Já imaginou ele dizendo que sente o mesmo que você, querida? E se vocês ficarem juntos? Isso seria tão lindo.

Ouço as duas debaterem mais um pouco, enquanto Erick as observa sem demonstrar emoção.

Se imagino Gabriel dizendo que gosta de mim? Sim, imaginei isso dezenas de vezes antes de dormir quando eu era mais nova, quando tinha certeza do que sentia. Agora, ouvir ele dizendo isso a mim me faria paralisar de dúvida.

Em algum momento, quando me recosto no travesseiro novamente, acabo pegando no sono, pensando ainda o que eu faria se isso acontecesse.

Uma Nova Chance Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt