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O trânsito, por incrível que pareça, não estava assim tão ruim, na verdade, estava até razoável para o horário e para a cidade em questão.

Consegui chegar em casa em um curto período de tempo, comparando com o tanto que geralmente demora para atravessarmos algumas quadras do Upper East Side, pode se dizer que hoje batemos um recorde.

-Boa noite e obrigada, senhor. – Agradeço e me despeço do meu motorista que dispensei pelo restante da noite.

Tenho certeza de que não sairei novamente e aposto que qualquer um amaria sair do trabalho um pouco mais cedo. Não custa nada ajudá-lo.

O porteiro, que já me conhece há anos, rapidamente me vê chegando e se aproxima para me abordar, o que não é muito normal já que geralmente apenas acenamos em cumprimento um para o outro.

-Srta. Scott! – Diz ao me alcançar.

Este porteiro trabalha no prédio desde que eu me entendo por gente; sempre morei aqui, desde quando minha mãe ainda era viva, inclusive, e posso afirmar: nunca vi outra pessoa a não ser ele como porteiro.

Ele é um senhor agradável e que deve estar na mesma faixa-etária de Clara, os cabelos brancos e as rugas da experiência de vida, como ele prefere dizer – detesta ser chamado de idoso, ele é experiente – já dizem muita coisa sobre a sua idade.

-Boa noite, sr. Owen. – O saúdo simpática, como todas as outra vezes. – Precisa de algo? – Apresso-me a perguntar, é raro ele me parar dessa forma, o que, para ser sincera, eu achei meio... esquisito.

-Oh, minha querida, não, não, está tudo bem. – Diz em um meio sorriso caloroso passando a mal pelo uniforme, que consistia em um terninho preto acinzentado, mas que, por ele ter corrido, havia saído um pouco fora do lugar.

Eu gostava desse tipo de sorriso, esse que o Sr. Owen acabou de me dar, passava uma sensação de cuidado e acolhimento. É o mesmo tipo que meus avós davam para mim assim que chegava em suas casas na Carolina do Norte. Ah, como eu amava aquele lugar! Pessoas como o sr. Owen e a Clara me fazem lembrar de como era ter meus avós por perto. Sinto falta deles, da sensação de ter uma grande família, de ser criança... aqueles certamente foram os anos de ouro da minha família. Mas vejamos pelo lado bom, tenho a fé de que estão em um lugar maravilhoso, provavelmente próximos a minha mãe, me vigiando, talvez Rose também esteja com eles agora...

-Chegou uma encomenda só isso. – Saio do transe que aquelas memórias me propuseram quando o mais velho me entrega um envelope. – Tenha uma boa noite, senhorita. – Ele toca seu chapéu do uniforme em forma de aceno e eu sorrio me despedindo.

-O senhor também. – Devolvo a gentileza.

As minhas botas, que possuíam um pequeno salto, tilintavam pelo chão gelado de mármore, fazendo um barulho irritante durante todo o meu percurso até o elevador.

Depois de apertar o botão da cobertura, me escoro na parede de espelho que havia na parte de frente para a porta e, agora mais tranquila, pego o envelope que há pouco me foi entregue.

Não tinha remetente, apenas destinatário – eu, no caso – o que eu achei bem anormal, para falar a verdade, afinal, uma das conjunções de uma carta é ter um remetente ou o endereço de onde foi enviado. Entretanto, nessa carta, nada havia, bom, tinha o meu nome, mas o restante era tudo em branco.

Tá... isso é no mínimo bizarro.

Eu estava no vigésimo andar quando decido abrir o envelope.

O quê é? Não vou segurar minha curiosidade, me processem se quiserem.

Dentro dele, havia uma carta, assim como eu esperava. Abro o papel que estava dobrado ao meio duas vezes e...

O Lado Mais Sombrio de Nova Iorque (EM PAUSA)Where stories live. Discover now