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Horas se passaram, mas, sinceramente, não parecia que mais que dez minutos havia se passado naquelas duas horas que fiquei bem ali parada, olhando pra o tapete carmesim decorado com ornamentos de outras diferentes cores.

Era tudo o que eu conseguia fazer, encarar o chão, tentar não pensar, tentar me manter firme, tentar não desmoronar.

Bastou que eu erguesse meu olhar e visse o balcão para que eu me lembrasse de Rose. De como ela ficava ali sentada atendendo as pessoas. De como já guardamos doces nas gavetas da recepção, e de como eu sempre passava ali para conversar com ela.

Milhões de memorias não param de me atingir. Cada uma me destroçando mais um pouco. Cada uma sendo pior que uma navalha de dois gumes.

Todas as lembranças estão voltando... lembro-me de cada momento, cada conversa, cada sorriso, cada momento. Mas, ela não está mais aqui. Rose não está mais entre nós. E, mesmo não fazendo mais que algumas horas, o pensamento já me proporciona uma saudade avassaladora.

E pensar que eu havia programado vir me encontrar com ela esta tarde para saber se ela estava bem depois da noite de ontem. Se eu ao menos soubesse...

-Com licença. – Um policial desconhecido se aproximou. – Estão chamando a senhorita. – Ele avisa, e não é necessário que me diga para onde devo ir.

Assinto e levanto-me da poltrona, seguindo a passos curtos para o saguão. E pensar que estive ontem, bem aqui, conversando com Rose, rindo com ela.

Meu deus...

A próxima coisa que vejo é Clara saindo da porta que dava para algumas salas do setor burocrático do hotel. Contudo, o que me fez ficar boquiaberta e em total paralisia, não foi o fato de estar a vendo após o incidente com Rose, e sim o fato de todo o seu uniforme, assim como suas mãos e parte do rosto, estarem cobertos por manchas de sangue. Um tom vibrante e berrante, carmesim e que simboliza claramente a morte.

Clara ergue a cabeça e trocamos contato visual pela primeira vez.

As lagrimas que ambas segurávamos, são soltas. Seus olhos estão tão vermelhos quanto os meus.

Aproximo-me da mesma, parando alguns milímetros antes para observá-la. Tudo o que eu enxergava era vermelho. Sangue.

-Clara... o que aconteceu? – Sussurro sem nem entender como consegui falar.

-E-eu... eu tentei salvá-la. Tentei. Juro que tentei! – Começa a ficar agitada, ainda em choque e certamente abalada. Seguro suas mãos procurando acalmá-la. – Se eu tivesse chegado um pouco mais cedo... – Ela desaba em choro e eu imediatamente a abraço, deixando que seja confortada pelos meus braços. Tento passar o máximo de segurança possível para a mais velha.

Não chore. Por favor não chore.

Eu sempre precisei de Clara, ela foi a minha figura materna na maior parte do tempo, mas agora, a mesa virou, e é Clara quem precisa do meu apoio. E eu vou ajudá-la, sempre ajudarei.

-Ela... ela estava deitada no chão, ensanguentada, e, e ... oh céus, ela parecia com tanto medo, tanto medo.

-Calma, Clara, calma. Eu estou aqui, ok? Vai ficar tudo bem... vai ficar tudo bem. – Passo a mão por seus cabelos brancos tentando lhe trazer segurança. – Shh... vai dar tudo certo.

-Ela foi assassinada. Eu vi, Ashley. Eu vi! E cheguei tarde demais.

Clara, assim como para mim, era uma mãe para Rose. Clara perdeu o marido muito jovem, e nunca mais se casou, e nem teve filhos por ser estéril, por isso se apegou dessa forma a mim e a Rose.

O Lado Mais Sombrio de Nova Iorque (EM PAUSA)Where stories live. Discover now