(06) i don't want a secretary.

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vince

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vince.nt hacker
point of view.
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  MEU PAI NÃO ME QUESTIONOU SOBRE
onde eu fui depois que saí da sala de conferência, na semana passada. Nem quando apareci na empresa no dia seguinte, e nem nos dias que se passaram depois desse. Ele não disse uma palavra sobre aquele fiasco de apresentação.

Então eu segui a minha vida como se aquele dia nunca tivesse acontecido. Sem aquela humilhação na sala de conferência, sem eu me embebedando em um pub universitário, mas guardei a memória do banheiro por algumas noites. Ok, todas as noites.

Às vezes eu acabava rindo sozinho, me lembrando do seu discurso de ódio contra os americanos. Ela era engraçada. E rude. E extremamente gostosa, também.

─ Acorda, cara! ─ Aaron estalou os dedos em frente aos meus olhos. ─ Tô aqui falando já faz cinco minutos e você aí, olhando pro nada. Tá chapado ou alguma coisa assim?

─ Bem que eu queria. ─ me estico no sofá. ─ Tenho que ir trabalhar hoje, não posso chegar lá chapado. ─ falo e ele ri.

─ Tenho dó de você.

─ E eu de você. 

Nos encaramos antes de rir.

─ O que você tá fazendo aqui, Liebregts? Você quase não vem me visitar. ─ cruzo os braços atrás da cabeça, encarando Aaron no outro sofá.

─ Estava de passagem por aqui e resolvi dar um oi, já que você é ocupado demais para responder minhas mensagens, bastardo idiota. ─ reviro os olhos.

Aaron e eu somos amigos desde a adolescência, quando nos conhecemos em um evento de mídia que nossos pais nos levaram, e então descobrimos que estudávamos na mesma escola de elite. Foi meio que uma amizade automática, mas se estendeu até hoje.

Mas Aaron foi para a faculdade – cursar design 3D, o que ele ama de paixão –, enquanto eu me enchia de cursos para entrar na empresa. Os horários não batiam, então acabamos nos afastando um pouco.

─ Meu pai tá muito no meu pé ultimamente. ─ resmungo.

─ Sei como é. O meu quer que eu comece um curso de Gestão Pública e Ciências Sociais no verão. Seis meses de cada. ─ ele bufa. ─ Dá pra acreditar nessa merda? Eu. Na política. ─ ele balança a cabeça.

─ Com todas essas tatuagens? Você teria zero credibilidade. ─ provoco.

─ Você já se olhou no espelho, filho da puta? ─ ele retruca. ─ Pelo que eu me lembro, a ideia de se rebelar contra nossas famílias e gastar quase dois mil em tatuagens foi unicamente sua.

─ E você aceitou na hora.

Ele não responde, mas sorri.

─ Eu não vou entrar pra política. Nem fodendo. ─ ele murmura, então se levanta. ─ Tenho aula em uma hora. Projetação de imagens. ─ ele esfrega as mãos, animado.

─ Eca. ─ forço uma expressão de nojo, e ele mostra o dedo. ─ A gente se fala depois.

Acompanhei Aaron até a porta e fui direto para o banho depois disso.

Vesti um terno Zegna azul cobalto, sem o paletó, e subi as mangas da camisa até os cotovelos, deixando a mostra as tatuagens e o Rolex. Deixei o primeiro botão aberto, porque sempre me sentia sufocado com ele fechado, passei os dedos pelo cabelo úmido, borrifei um pouco de Polo Blue na roupa e nas mãos, calcei os sapatos e peguei a chave do carro.

Dirigi por dez minutos até a empresa, estacionando na vaga de sempre. Assim que entrei, ouvi os burburinhos.

─ Eu pensei que ele tivesse dito que não estava mais contratando...

─ Não é culpa dela que ela mal entrou e pegou um cargo bom...

─ Não fui com a cara dela, ela parece ser rude...

─ É, mas ela é bonita. Muito bonita...

Revirei os olhos enquanto passava pelas duas recepcionistas, elas mal notando a minha presença enquanto falavam de uma nova funcionária.

Apertei o botão dez do elevador, o andar onde fica o meu escritório e o de mais duas pessoas: o diretor financeiro e o  vice-diretor executivo. 

Encontrei meu pai assim que o elevador abriu, o que é incomum, porque a sala dele fica no topo do prédio, no décimo quinto andar.

─ Bom dia, meu filho. ─ ele diz, sorrindo. Franzi o cenho. ─ Tenho duas novidades.

Ah, lá vem.

─ Você foi promovido. 

Precisei de quase um minuto para assimilar o que ele estava me dizendo.

Ok, depois de falhar com ele, ele simplesmente me promove, assim, do nada?

Não falo nada por um tempo, enquanto ele me leva para o elevador e aperta o botão de número doze.

─ Você é o meu mais novo diretor de operações. ─ ele põe a mão em meu ombro, como sempre faz. ─ Você vai ter dezenas de papéis por dia para preencher, avaliar e passar a diante, ou descartar. ─ ele continua. ─ E a sua secretária vai carimbá-los antes de serem mandados lá para cima. ─ ele aponta um dedo para cima, e sei que ele quer dizer o seu andar. ─ Faça o trabalho certo, para variar, e você é compensado. Falhe, e você sabe o que vai acontecer.

Respiro fundo.

─ Eu não preciso de uma secretária. ─ falo, por fim. ─ Eu já carimbava papéis antes, posso continuar fazendo isso.

─ E tirar o emprego de alguém que precisa? Isso é crueldade, filho. Eu não te ensinei isso. ─ ele diz, e sinto um fundo de ironia em suas palavras. ─ O nome dela é Ravenna Boyd, mas ela atende por Raven, ou senhorita Boyd, caso você escolha ser mais profissional. ─ ele solta meu ombro. ─ Não me decepcione mais uma vez, Vincent.

Sorrio fraco.

─ Não vou.

Ele inclina a cabeça, indo para o elevador.

─ Ah, filho... ─ ele se vira mais uma vez. ─ O botão azul do seu telefone é a area de segurança, quem controla as câmeras no seu turno é o Charlie. Peça para ele desligar a sua câmera, certo? Eu odiaria que alguém soltasse uma sex-tape sua na internet.

Ele acha que eu vou... Argh.

Ele finalmente se vai, e só me movo quando a porta do elevador se fecha. 

Só estive nesse andar uma ou duas vezes. Há três portas, com placas em cada uma. Gallagher, diretor de TI. Malkovich, diretor de marketing. E a última: Hacker, diretor operacional.

Seja o que Deus quiser.

Abrindo a porta, encontrei uma espécie de sala de espera, com um pequeno sofá de dois lugares na parede esquerda, uma mesa na direção da porta, alguns quadros espalhados em três paredes, e uma segunda porta à direita, onde acredito que seja o meu escritório, de fato.

De repente, a cadeira atrás da mesa range e a minha secretária aparece, segurando o que parece ser um porta canetas em uma mão e cinco canetas na outra.

Ela se levanta imediatamente, provavelmente para se apresentar, mas... Nós já nos conhecemos.

─ Você?

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06. . .se eu falar q to desanimando de bad day....

bad day  ꪵOnde as histórias ganham vida. Descobre agora