24 - possessividade

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— É a segunda semana que ela me dá um bolo. Disse que está focada em um quadro e precisa dedicar sua atenção a ele — ou a se afastar de mim para não passar nenhuma impressão de teor romântico.

Peter me encara, os olhos claros e perspicazes sondando meu rosto.

— Estão transando desde que ela foi morar na sua casa?

Arregalo os olhos sentindo o sangue de meu corpo se concentrar em minha cabeça.

O quê?! Não

Semicerra os olhos, agindo da maneira que mais me irrita, como se soubesse de tudo sobre todo mundo, e talvez ele saiba mesmo.

— Está trepando com a Reed, Gregzinho? — insiste, com mais confiança em sua voz.

— Porra, não tô — nego. — E se estivesse não seria da sua conta.

— Agora entendi porque ela queria tanto que eu te levasse pra sair para que comesse alguém — assovia. — Reed tem uma maneira peculiar de evitar seus conflitos.

Peter e o assunto ganham todo meu foco.

Cansado, me abaixo e sento no chão frio do ringue.

— Está dizendo que Reed me considera um conflito?

— Me diga o que anda acontecendo e talvez eu responda — se aproxima, me imitando, sentando-se a minha frente. —Depois de todos esses anos, não superou ela?

Nunca tive nada com Reed que fosse digno da palavra "superar". Todos os sentimentos que nutri em relação a ela no passado eram totalmente platônicos. Sendo a noite, a única noite, que tivemos juntos há sete anos, um pequeno resquício de realidade fora das fantasias que eu criava sozinho.

Até hoje.

A química que meu corpo sentiu ao identificar o seu na varanda da festa em que nos conhecemos não era uma ilusão. O que poduziámos juntos já havia se provado bastante quente anos atrás, mas, atualmente mesmo que não tenhamos chegado no objetivo final, criavámos faíscas.

Olho diretamente para Peter, sem escudos ou segredos, sem orgulho. Apenas um amigo falando com outro sobre questões que não prefere dizer em voz alta normalmente.

— É sequer possível superar Reed Spencer?

Agora são os olhos dele que crescem em contrapartida à minha pergunta.

— Em nome de todos os santos — sua piedade é evidente. — Tinha que se apaixonar pela mulher mais complicada que conhecemos?

Abaixo os olhos para minhas mãos inertes em meu colo.

— Não sei aonde foi parar meu bom senso — confesso.

— Provavelmente no seu rabo — rebate, sem muita sensibilidade.

— Obrigada pelo consolo, Peter.

— Estou sendo honesto.

Duramente honesto, pelo visto.

Se ele estivesse usando uma de suas roupas caras, como os ternos, ou as calças caqui, o levaria menos a sério. Mas com as tatuagens a mostra, sem camisa e com o cabelo desgrenhado, é difícil não levar sua opinião em consideração quando estamos conversando de igual para igual.

— Ela admitiu ter sentimentos por mim. Não disse o quê ou a dimensão disso, mas ela tem sentimentos por mim — Estava ali quando a beijei ao voltar do lar de idosos, estampado em seu rosto juntamente com o medo.

— Pode ser repulsa por sua cara feia — zomba.

Fecho o punho.

— Peter.

2 •Esqueça Ela - Blue Sky CityWhere stories live. Discover now