Céus. Porra. Cacete.

Olhe o tipo de pergunta que está se fazendo, Greg. Questionando se tem sentimentos românticos por uma mulher.

Não, não uma mulher qualquer. A mais temível e de hábitos mais irritantes dentre todas elas. Reed.

Justamente ela.

Viro na direção contraria, esperando encontrar às costas tatuadas de Reed, fênix em chamas em vários tons vívidos de laranja com suas asas abertas. Contudo, é com seu rosto que me deparo, terrivelmente próximo,  a bochecha descansando no travesseiro.

Boa parte do cabelo prateado está esparramado na fronha, e mesmo no escuro, com a regulação do abajur trazendo apenas uma leve iluminação, consigo enxergar alguns fios indisciplinados que repousam em sua testa.

O lençol cobre seu corpo até a cintura, seus braços e ombros ficam a visíveis pela regata de alças finas. Hoje Reed preferiu não furtar uma de minhas camisas, o que é algo a se comemorar, se não me deixasse um tanto decepcionado.

Ela fica bem com minha roupa. Minhas roupas ficam bem com seu cheiro.

— Devo ser irresistível — os lábios de Reed se mexem em um murmúrio baixo. — Grandão, pare de me encarar — ordena de olhos fechados.

Sou pego de surpresa pela entonação sonolenta e levemente rouca.

— Só tô encarando sua feiura pungente — sussurro, temendo que se aumentar o tom de voz ela acabe abrindo os olhos e abandone a expressão relaxada que seu rosto carrega.

O canto da boca de Reed se ergue.

— Tem algum espelho do meu lado da cama para que esteja vendo seu próprio reflexo? — rebate com sagacidade.

— Você não é uma mulher engraçada, Reed.

— Já fui chamada de coisa pior — esnoba. — Estou sem sono — obrigada por isso. É bom saber que não sou o único em declínio.

— Também — estendo a falsa solidariedade. Ela é a única culpada por tal insônia infligida a ambos. — Comprou mais algum móvel para o apê?

Sua testa fica enrugada com o assunto.

— A geladeira, o fogão, uma máquina de lavar-louças...

Prendo uma risada.

— Uma máquina de lavar-louças? Sério? — não escondo a perplexidade.

Ela levanta uma de suas pálpebras, me olhando com um único olho muito, muito hostil.

— O que? Eu tenho dinheiro agora, bastante dinheiro, e eu não uso ele para comprar roupas de grife, nem sapatos caros ou jóias — assim como eu. — É justo gastar com uma lava-louças se isso vai me manter afastada de pratos sujos.

Retorna a fechar o olho, acalmando sua fúria repentina.

— Você lava meus pratos — menciono, intrigado.

— Porque você cozinha, é justo que eu lave — justifica-se. Então tínhamos um acordo silencioso sobre obrigações domésticas? Quando isso aconteceu?

Não era de todo ruim. Também odeio lavar pratos.

— Mas não põe suas próprias roupas na máquina de lavar — trago um ponto muito pertinente a tona. — E ainda deixa meias e sutiãs jogados em qualquer lugar.

O sorriso na sua boca fica mais largo.

— Gregzinho, você não abaixa a tampa da privada e mesmo assim eu não fico reclamando — abre os dois olhos desta vez.

2 •Esqueça Ela - Blue Sky CityWhere stories live. Discover now