Fic?

— O que porra é fic? — pergunto. Peter tende a vir com essas merdas estranhas que ninguém nunca ouviu falar.

Ele ri, jogando a cabeça pra trás com a falta de minha compreensão. Sua capacidade de se divertir as minhas custas começa a me irritar, como de costume.

— Só uma coisa besta que descobri no grupo de leitura do verão passado — faz pouco caso. clube de leitura? Por um momento, ele para, pisca e assimila suas palavras enquanto o avalio com ambas as sobrancelhas erguidas. — Não que eu tenha feito parte de um grupo de leitura... Er... Bem, foi uma garota com quem fiquei uma vez, ela era meio nerd.

Peter e uma garota nerd? Isso não condiz com sua vida de boemia atual e as modelos que costumam atrair sua atenção no presente.

— De qualquer forma, é sempre bom ter uma amiga tão preocupada com meu bem estar — sorrio, embora não alcance os olhos. Não há verdade em uma única palavra.

— Deveria ser grato — olha para trás de si, sobre o ombro, na direção do salão lotado de corpos dançantes. Por algum milagre, está noite ele abdicou dos seus trajes e acessórios ostensivos, se aparentando mais com o Peter que conheci na adolescência, o antigo Rebel Angel da faculdade.

O inconsequente filho do pastor da igrejinha local.

Usando apenas Jeans e uma regata branca, a maioria das tatuagens do moleque estão a mostra hoje, as marcas negras cobrindo seu braço direito quase por completo, e boa parte do esquerdo. Ele evita mostrar suas tatuagens ao máximo no cotidiano, as vezes até esqueço que Peter as têm.

— Pelo que? — sigo seu olhar, e acho facilmente o objeto de sua atenção.

Um trio  bastante atraente de mulheres sorridentes, com vestidos curtos e colados, que se esfregam umas nas outras, em uma dancinha sensual, a qual atrai mais do que nossos olhares, e sim de metade dos caras próximos do trio.

— Você tem os melhores amigos do mundo  — responde. — Nada a reclamar, meu chapa.

Claro, nada a reclamar.

— Se estivesse sob o mesmo teto que Reed, acho que pensaria o oposto — aceno para o Barman, pedindo outra bebida. — No entanto, isso não vai durar mais muito tempo.

O que é ótimo. Retomarei minha privacidade, meu espaço. Tudo que mais amo.

— Você não parece feliz como deveria estar  — Peter retorna a me encarar. — Tem algo a dizer?

Nossa amiga está devorando toda minha sanidade mental.

— nos últimos dois dias, quando eu chego, Reed está dormindo, e quando acordo ela já saiu para o trabalho — ela me evita descaradamente, em minha própria casa.

— Talvez seja coincidência — O pirralho divaga, pensando nas possibilidades. — Ela pode estar cansada, apenas. A visibilidade dela aumentou desde a última exposição, e os convites para parcerias e propagandas veem caindo sobre a Reed de uma vez.

Ela não comentou nada a respeito disso. De fato, esquecia a dimensão do seu trabalho. Reed era a Reed, e também era uma grande artista.

Fico em silêncio, porque me sinto um completo idiota por colocar a frente da nossa amizade toda essa energia sexual. Se não estivesse tão envolvido com dilemas estupidos e meus desejos intensos relacionados a ela, isso não estaria ocorrendo.

Se eu não tivesse falado sobre aquela noite, anos atrás, o pavio que hoje pega fogo, ardendo entre nós, arriscando nos queimar, jamais teria sido aceso.

2 •Esqueça Ela - Blue Sky CityWhere stories live. Discover now