— Bem... Eu estava... Estou namorando esse garoto que acabou de tocar, Darrell Connor. - Consigo explicar, com a voz baixa.

— Namorando ele? Mas e Timothy, o que aconteceu com vocês? Sabia que tinha algo de errado quando apareceu aqui sozinha, mas não achei que fosse tão sério. - Minha mãe solta o veneno e me encara como se eu tivesse matado seu cachorro de estimação.

— Eu contei, há seis meses atrás, que eu e Timothy não estávamos mais juntos. - Lembro, me levantando de supetão. A apresentação me deu uma dose de adrenalina, como aconteceu todas as vezes que escutei Darrell cantar. Uso esse sentimento como combustível para continuar falando com a minha mãe.

— Exatamente, achei que em seis meses iria ajeitar as coisas. É tão difícil assim manter um relacionamento? - Solto uma risada abafada, sem acreditar no que acabei de ouvir. Essa mulher não tem nem o porquê de falar dos meus relacionamentos, para começo de conversa.

— Mãe, não faça isso. - Megan pede, com o tom mais autoritário do que jamais usou com nossa mãe. A dispenso com a mão e dou um passo à frente, encarando a mulher que me colocou no mundo. Nicole Clark não perde a postura em hora alguma, continua com as mãos na cintura, evidenciando suas unhas longas e brancas, muito bem pintadas.

— Não, Meg, tudo bem. Acho muito bom ela tocar no assunto, já que tem tanta influência nessa parte da minha vida. - Antes, deixaria passar, mas agora não vou ficar calada. Não quando o menino que eu amo falou para o país inteiro que sentia o mesmo e, nem ela, nem ninguém, vai estragar esse momento. - Desde quando esteve comigo e com Timothy no fim do nosso relacionamento? Nunca, pois nem me ligava para saber se eu estava bem. Então, não me venha falar sobre manter um relacionamento quando não consegue manter seu relacionamento com a própria filha.

Meu pai arregalou os olhos e se juntou bem atrás da minha mãe, colocando as mãos em seus ombros e prevendo o estouro. Meu tom de voz é baixo e minha intenção não é uma discussão familiar. Por isso, levantei a mão para impedir que meu pai jogasse panos quentes na conversa. Precisava tirar um peso do meu coração em relação a minha mãe, e agora era a hora perfeita.

— Ainda não terminei. - Digo, tentando suavizar a voz para o homem que me criou com tanto amor. - Preciso tirar tudo o que deixei guardado todo esse tempo. - Engulo seco e coloco o cabelo atrás da orelha. - Mãe, sempre foi muito difícil seguir o seu estilo de vida perfeito e controlado. Usar aquelas roupas bonitas e comportadas, sair com Brian porque a família dele era influente e acabar machucada depois... Pra falar a verdade, sempre foi um tédio... Nunca pude ser eu mesma aqui, nessa casa. - A expressão de horror em seus olhos não poderia ser melhor. Ela está chocada com a minha reação, mas não tenho medo de enfrentar os meus problemas. - Mas lá, em Nova York, com aquele garoto que estava sobre o palco... - Sorri, ao mesmo tempo que meus olhos encheram-se de lágrimas. - Lá eu pude ser eu mesma. Então, por favor, só respeite o fato de que o único relacionamento que eu desejo manter, hoje, é com aquele menino.

Não esperei por uma resposta, dei a volta no sofá e segui para o corredor. Não esperava que ela resolvesse dar uma trégua no nosso relacionamento. Nunca fomos tão próximas e para mim, tudo bem. Aceitei esse fato desde que era bem pequena. Minha mãe nunca foi minha amiga, mas sim alguém para me impor regras e limites. Quando cheguei ao pé da escada, Natalie e Meg me alcançaram.

— O que você vai fazer? - Minha irmã perguntou, segurando meu braço.

— Vou tentar manter o meu relacionamento. - Dei de ombros e subi às pressas. Fui em direção ao meu antigo quarto e alcancei meu laptop em cima da mesa de cabeceira.

— Como? - Natalie quis saber. Sentei-me na cama em cima de minhas pernas cruzadas e abri o aparelho. A tela demorou um pouco para ligar, por isso encarei as duas que me fitavam com preocupação.

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