Capítulo 19

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                                     Rose Clark
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   Contar para Darrell o que aconteceu comigo foi   difícil. A lembrança me deixou nauseada. Nunca precisei falar isso com ninguém, além de Timothy. E tenho quase certeza de que foi isso, que estragou nosso relacionamento.

Ser a garota com um passado difícil em relação a garotos nunca é bom. Principalmente quando o passado significa que seu ex namorado do ensino médio passou dos limites e estragou sua primeira vez e todas as vezes depois dessa.

Brian não só me tirou o momento que tanto esperava. Quando disse a Darrell que ele tirou minha capacidade de sentir, não estava falando do emocional. Depois de Brian não consegui sequer ter um orgasmo. Falar que as coisas com Timothy estavam frias é eufemismo.

Demorei a maior parte do nosso relacionamento para finalmente transar com ele. Depois, meio que fugia das situações, já que tinha que fingir sentir algo. Isso me deixava péssima. Falava pra mim mesma que um relacionamento não é a base de sexo, e a culpa não era minha. Eu fiz absolutamente de tudo para não estragar as coisas com Timothy. Não queria que se sentisse mal, já que o problema não estava nele.

Eu só não conseguia ficar confortável.

No entanto, meus momentos com Darrell são totalmente diferentes. Me sinto confortável para falar sobre Brian e fico feliz dele se sentir confortável para falar sobre o pai. Depois do que eu escutei, de cada palavra amarga que saiu de Darrell, não consigo pensar em Christopher como uma boa pessoa. Ele me enoja. Saber que alguém como ele, que tenta de tudo para ter uma família, deixa de lado seu filho ou que o força a mudar. Isso é terrível. Ele é um ser humano terrível.

Por isso, torci para a resposta de Darrell sobre ele querer voltar para o jantar fosse um grande não. Meu apetite não estava dos melhores. Ficar nessa casa, mesmo que tão grande e luxuosa, me deixa mal. Ela parece mais um cenário vazio e escuro. Perdeu aquele brilho luxuoso.

Quando Darrell decidiu ir embora, quase pulei de felicidade. Porém, ainda tive de esperar meia hora. Ele e o pai - se é que posso chamar assim - se trancaram no escritório, assim que voltamos à sala de jantar. Eu e Courtney estamos na salinha em frente ao escritório. Ela me conta algumas coisas, mas não presto atenção. Minha atenção está sobre a grande porta de madeira branca, que separa pai e filho e sua conversa, de mim.

Será que Darrell dará um soco no pai? Como eu deveria ter feito com Brian?

Encarar seus demônios é revigorante. Sei disso porque depois de finalmente socar Tim, me senti leve. Uma atitude leve. Não que eu seja a favor da violência como resolução de conflitos, mas as vezes medidas drásticas precisam ser tomadas.

Socar o pai não deveria ser uma dessas medidas, a voz na minha cabeça me lembra. Isso é verdade. Fico triste por essa situação de merda que Darrell encara. Quase tenho vontade de ligar para minha mãe e resolver nossos problemas. Aí me lembro de como ela não me apoiou, quando contei sobre Brian. Ou de todas as vezes que falou sobre minha profissão, dizendo que eu me tornaria uma jornalista em um site ruim para desempregados e desocupados.

Toma essa mãe, estou no New York Times. De repente, sinto mesmo vontade de ligar para ela. O jantar de ação de graças terá um gostinho de vitória. Não serei uma jornalista qualquer, porque conheço meu trabalho.

Ok, agora eu me tornei uma menininha vingativa.

Enquanto Courtney conta sobre a gravidez, desvio a atenção da porta para a loira. Ela fala com muita sinceridade e seus olhos brilham. Espero que seja uma mãe incrível, porque esse bebê precisará.

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