Capítulo 46

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Darrell Connor
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Algumas pessoas dizem que experiências de quase morte agem como um choque de realidade. Você começa a dar valor às coisas. Enxerga o mundo de uma maneira mais ampla e verdadeira. Nunca passei por nada parecido, mas agora me sinto como se tivesse caído de um prédio de trinta andares. Estou completamente sem palavras. Desnorteado por tudo o que acabei de ouvir e nem sei como cheguei na calçada do prédio.

Rose falou com os pulmões ardentes. Vi tanta sinceridade em seu olhar que me desmontei por inteiro. E saber que cada palavra que ele me disse está certa, corta meu coração.

Achei que o término seria o melhor para nós dois. Subestimei tudo o que aquela garota sentia por mim, porque da primeira vez que senti isso por alguém, não recebi de volta. Rose está certa ao dizer que eu não conheço o amor. Nunca o vi de verdade antes de conhecê-la. Meus pais não se amavam. Era uma fachada. Um relacionamento de mentira para melhorar as aparências da família. Exatamente o que fiz com Rose.

Um acordo.

Uma fachada para melhorar a minha aparência. Não sabia que essa mentira acabaria se tornando verdade. Ou melhor, deveria saber desde o início que mentiras não se tornam verdade. A verdade vem naturalmente. Você não pode mentir várias vezes esperando que aquilo se concretize.

Então por que meu relacionamento com Rose se concretizou?

E está bem aí, estampado na minha cara a merda da verdade. Porque nunca fingimos um com o outro. Não precisei interpretar um papel ao lado dela. Levamos isso como a nossa verdade, sem admitirmos um mísero detalhe. É evidente que Rose entende isso melhor do que eu, pois teve suas próprias conclusões sobre nós.

"Quero que você me ame da forma certa. Se escolher isso, sabe onde me encontrar. Se não, faça o que eu te pedi naquela mensagem de voz e me esqueça..."

Sua expressão não falhou nem por um segundo. Não vi lágrimas em seus olhos e sei que boa parte disso é porque já chorou demais por nós. Como disse ontem a noite, passei a semana toda com um único objetivo: esquecê-la. Mas, tirando quando estava tão bêbado que tudo se tornava uma bagunça de informações, não consegui cumprir. Não tem como esquecer alguém em uma semana, ainda mais se você ama a pessoa.

No entanto, preciso tomar a merda de uma decisão, porque se não mostrar a ela o que eu realmente quero, vou perdê-la.

• • •

— Onde você meteu essa sua bunda, Darrell? - Grace pergunta, assim que atendo o telefone. Temos ensaio agora e estou alguns minutos atrasado.

— Tô chegando, vê se não enche. - Respondo e desligo.

Bebo um gole do café expresso que acabei de comprar e abro a porta do prédio onde ensaiamos. O festival de música é na sexta e Grace nunca ficou tão insuportável como general. Não temos uma tarde livre e a qualquer momento o demônio de cabelos loiros aparece para discutir algo que fazemos de errado. Seu tom está grave demais. Relaxa a porra da voz, Darrell. Espero que ela não tenha percebido os dias de ensaio que cheguei com boas doses de uísque no cérebro.

A sala que usamos para ensaiar é bem espaçosa e fica no último andar desse prédio comercial. Não é um estúdio super equipado, mas dá para o gasto. Conseguimos deixar a sala à prova de som, ou quase isso, então os outros que alugam não têm do que reclamar. E se tivesse, duvido que Grace pararia um ensaio por alguém incomodado. No mínimo mandaria a pessoa enfiar o incômodo no rabo.

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