Capítulo 47

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Rose Clark

"Nunca houve outra razão, a não ser o medo e a ausência de amor. Agora, estou aqui para te mostrar como seguir sem esse peso. Deixa eu entrar, tomar conta e te fazer meu lar..."
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No momento em que fui embora de Seattle e desembarquei no aeroporto de Nova York, um peso enorme saiu do meu peito. Foi como se eu finalmente tivesse deixado tudo para trás e tivesse a chance de fazer tudo diferente. Tinha grandes expectativas e não me senti nem um pouco arrependida de deixar minha mãe para trás. Ela tinha o meu pai e Megan, mesmo que todas as suas chantagens emocionais estivessem ligadas a como eu a deixaria sozinha. Foi até fácil passar a não visitá-la todos os feriados. Uma boa escolha entre Dia de Ação de Graças e Natal. Ou um, ou outro... E normalmente eu escolhia o mais rápido possível.

Dessa vez, quando voltei para minha cidade natal, o peso voltou com tudo. Se instalou em meu peito mais uma vez e quase me derrubou. Lembrar de Brian nunca me fez bem. As memórias que o meu ensino médio me trazia, junto com aqueles momentos de agonia. Ter que aguentar o que aconteceu comigo aqui é desgastante. Saber que agora estava sozinha, porque das outras vezes tinha pelo menos Timothy ao meu lado, me deixava ainda mais vulnerável. Natalie me buscou no aeroporto no sábado a noite, então tecnicamente eu não estava sozinha, mas uma parte de mim se sentia assim.

Claro, porque o resto de mim tinha ficado em Nova York. Todo o resto tinha saído do meu apartamento poucas horas antes do meu voo. O resto estava com o meu coração, passando por algum bar do West Village, ou tocando sua guitarra vinho e cantando com aquela voz rouca e marcante. O resto é ele. O cara que nem ao menos me ligou. Só aceitou tudo o que eu disse em completo silêncio, sem contestar ou brigar. Sem falar que eu estava errada ou tentar me mostrar o porquê dele está fazendo aquilo tudo. O porquê dele está jogando um monte de coisas fora, para tentar me proteger.

Não estou nem um pouco protegida em Seattle, se ele quer saber.

Aqui tudo é cansativo. Viver escutando os comentários frios e insensíveis da minha mãe, acaba com toda a minha energia. Por sorte, meu pai não me deixa assim por muito tempo. Sempre que me vê de bobeira pela casa, me puxa para a garagem e coloca um disco antigo de vinil, de um rock dos anos oitenta para tocar. Estava com saudade dele e de seus comentários sobre como a voz do Robert Plant é a melhor do mundo.

Isso porque ele nunca escutou o Darrell cantar...

Estou começando a me irritar com meus pensamentos de ex-não-superada. Natalie e Megan parecem concordar comigo, pois sinto uma almofada atingindo meu rosto e me derrubando na cama. Seguro a almofada e a jogo de volta para quem quer que tenha jogado. Estava sentada em minha cama, olhando para a parede e ignorando minha irmã e minha melhor amiga conversando.

— Roseane Clark, pare de pensar, nesse exato momento! - Megan imita a voz de sua mãe — jeito carinhoso de como nós chamamos nossa mãe — atingindo o tom severo bom o suficiente. Resmungo algo parecido com um palavrão e cruzo os braços irritada.

— Roseane? Não ponha letras em meu nome, pelo amor de Deus. - Ela ri e senta ao meu lado, Natalie faz o mesmo, as duas me deixando encurralada no meio da cama. - E como você acha que eu vou parar de pensar? Melhor ainda... Por que você quer que eu pare de pensar?

— Porque você tá parecendo um zumbi. - Natalie explica. Não gosto de como as duas estão se unindo contra mim nesse momento.

— Está com aquela cara de quem não para de pensar, que vai se afundar e acabar revendo friends pela vigésima vez. - Minha irmã completa, levantando as sobrancelhas de forma suave.

City LightsWhere stories live. Discover now