Capítulo 26

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Rose Clark
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Tenho quatro horas até entrar pela porta do New York Times como uma funcionária. Estou fazendo o possível para não pensar em tudo que pode dar errado. Depois que as aulas da parte da manhã acabaram, decidi passar o resto do tempo em uma das salas de estudo da biblioteca. É silencioso e tenho toda a privacidade que preciso. Diferente do meu apartamento. Noelle está cada vez mais animada e barulhenta em relação à minha saída. Sei de todos os planos que ela tem sobre o que fará com o meu quarto.

'Talvez possa se tornar um closet... Oh, não tive uma ideia melhor, Max pode morar com a gente.'

A presença dela no meu quarto se tornou constante. Tento ignorar quando a mesma aparece com o telefone nas mãos, decidindo qual cor combina mais com o meu quarto. Na verdade, tenho ignorado muitas coisas nesses últimos dois dias.

O fato de que não achei nenhum apartamento ainda e preciso de um lugar para ficar. Ou talvez a parte em que não converso com a minha família faz bastante tempo e preciso ligar e dar algum sinal de vida. Ah, sem falar no meu namorado falso, com quem tive relações verdadeiras e não falo há dois dias. Não tenho um bom histórico com namoros, mas achava que os falsos seriam mais fáceis. Bem, não quando você confunde toda a proposta.

Pego meu celular no bolso da frente da minha bolsa. Dentro da sala de estudos é bem confortável, por isso me jogo na cadeira de couro antiga e me afundo ali. Preciso ligar para o meu pai, ou para Megan. Sei com absoluta certeza de alguém que não gostaria de conversar: minha mãe. Ela provavelmente acabaria com a minha animação em relação ao estágio em pouco tempo.

É a sua família, a voz na minha cabeça me lembra. Abro minha lista de contatos e toco no do meu pai. Ligo e espero chamar. Os toques de espera parecem sincronizar com a batida do meu coração. Acabo não percebendo o quanto é difícil para mim, me aproximar deles e de Seattle novamente. Não quero ter contato com a Rose de Seattle e mesmo não fazendo por mal, é isso que a minha família faz comigo.

— Alô? Rose? - Meu pai atende e ignoro meus pensamentos. Sua voz me causa uma onda de saudade e tento ignorá-la também.

— Oi, pai. Tem um minuto? - Pergunto, me endireitando na cadeira e apoiando os cotovelos na mesa. Meus livros estão jogados na pequena mesa e folheio algumas páginas, distraída.

— Sim, por quê? Aconteceu alguma coisa? - É perturbador pensar que só ligo para eles em situações de emergência. Sou uma péssima filha mesmo.

— Nada demais, só estou com saudade. Como as coisas estão aí? - Tento puxar assunto antes de pedir para que minha mãe participe da ligação. Ele responde e dá detalhes sobre como anda o trabalho e a cidade. Fico feliz que esteja tudo bem e que não precise responder nada, já que ele fala bastante.

— Pai, antes de terminarmos a conversa, pode chamar minha mãe e Meg por favor. - Peço quando consigo uma brecha do falatório.

— Ah, claro, só um instante. - O escuto gritando o nome das duas. Depois, passos ecoam pela casa. - Estamos todos ouvindo, está no viva voz.

— Oi, Ross! - Megan quase grita do outro lado da linha.

— Oi, Meg... Oi, mãe. - Cumprimento. - Pedi para o papai chamar vocês, porque preciso dar uma notícia e prefiro que todos saibam de uma vez. - Respiro fundo e quando falo de novo, evito enrolação. - Então, eu me despedi do bar onde trabalhava e agora sou uma estagiária no New York Times. Consegui o estágio semana passada, mas esperei um pouco para dar a notícia.

— Ah, meus parabéns querida. - Meu pai diz, parecendo genuinamente orgulhoso.

—  Que demais, Rose! Você conseguiu. - Megan exclama sem conter o entusiasmo. Só falta uma pessoa para me parabenizar e sei que isso será difícil. Eles ficam em silêncio, esperando que minha mãe diga alguma coisa. Sinto um mal estar só de pensar que ela não pode admitir uma vez na vida que estava errada. Que eu posso sim ser uma jornalista incrível.

City LightsWhere stories live. Discover now