Capítulo 1

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Darrell Connor
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Pensei muito antes de sair de casa. Tenho milhões de motivos para nunca mais pisar nesse apartamento. Mesmo assim, engoli meu orgulho e cá estou eu. Tentei enfiar na minha cabeça que isso era por um motivo bom, mas não. Prometi a mim mesmo que nunca iria recorrer ao meu pai. Nunca mais dirigiria a palavra à ele. Esse ódio que sinto por ele me corrói por dentro. Fico nauseado só de pensar em olhar na sua cara e ainda por cima para pedir um favor.

É como se estivesse em meu inferno pessoal. O inferno que eu mesmo criei.

Acho que esse é o significado para a música do AC/DC, Highway To Hell. E vai por mim, é bem pior do que eles descrevem.

Se tivesse uma alternativa melhor, eu com certeza faria. Mas não tenho dinheiro, e além de soberba, isso ele tem de sobra. É só parar no hall de entrada do seu apartamento de luxo, que um enjoo me consome. Nunca me odiei tanto. Pior, nunca odiei tanto Christopher Connor.

Quatro anos atrás deixei de ser seu filho. Estar aqui hoje só confirma a sua opinião sobre mim. Que sou um interesseiro, inútil e um músico falido.

Puta merda.

Eu sabia que seria difícil olhá-lo nos olhos e pedir o que tenho em mente - não para ele, mas para mim. Só que agora, com a porta gigantesca do apartamento na minha frente simplesmente não consigo. Não consigo tocar a campainha, nem bater na porta e muito menos entrar. Odeio precisar dele. Nem quando era criança recorria à sua ajuda. Porque Christopher nunca ajuda ninguém de graça. Nem uma criança.

A única coisa que me prende no chão é a mesma que me trouxe até aqui, minha banda. Tenho um show daqui a uma hora. O primeiro show em um bar grande. Um bar que ofereceu um ótimo cachê. O problema é que o valor não chega nem perto do que precisamos. Só dá para pagar nossas despesas básicas. Por isso preciso entrar na casa de Christopher Connor e amassar meu orgulho e a minha dignidade.

Tenho que sair daqui...

Percebo que é tarde demais, quando a porta finalmente se abre e uma criatura pequena se joga em meus braços.

— Ellie, não sabia que estaria em casa hoje... - Suspiro, quase sufocado pelos braços finos de minha irmã mais nova. Não sei como uma criatura de dez anos consegue ter tanta força.

— Essa também é minha casa, e a mamãe está em Paris, esqueceu? -Faço que não com a cabeça, quando Ellie finalmente se afasta e me deixa tomar fôlego.

Como poderia esquecer, se a cada dia minha mãe me manda um email diferente sobre suas aventuras pelo mundo? É difícil acompanhar Jane Davis, mas não impossível.

De repente um aperto toma o meu peito. Como seria mais fácil se essa conversa fosse com ela e não com meu pai. Afasto o pensamento me forçando a entrar no apartamento. Em quatro anos esse lugar não mudou nada. A não ser pela loira com idade para ser minha irmã que ocupa o lugar ao lado de meu pai, ao me receber na porta. Achei que encontrar a nova esposa dele seria pior, agora sei que é irrelevante. Mesmo que a moça seja só oito anos mais velha do que eu.

— Papai, olha quem finalmente apareceu! - Ellie me puxa pela mão até nosso pai.

Entrar no apartamento é realmente como o inferno na terra. Sinto um nó se formando na garganta. Cresci nesse lugar, mas não reconheço como meu lar. Nem sinto saudade. E por mais que pareça idiota, queria tirar minha irmã daqui. Ela não lembra do que aconteceu, nem tem noção de como essa casa realmente foi o inferno durante dias. Anos, até. Tenho péssimas lembranças e tenho medo dela ter também.

Diminuo a velocidade do passo ao me aproximar de Christopher e sua esposa troféu. Sua expressão é indecifrável. Estou esperando pela raiva. Se ele for um completo babaca terei uma justificativa para ir embora mais cedo.

City LightsWhere stories live. Discover now