Capítulo 18 (Parte 2)

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                                Darrell Connor

                    "Você me pergunta sobre o que
                                  estou pensando
               Eu te digo que estou pensando sobre
        O que quer que seja que você está pensando
                Diga-me algo que eu vou esquecer
         E você talvez tenha que me contar de novo
           É loucura o que você faz por um amigo"

              Daddy Issues - The Neighbourhood
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Rose está me encarando com tanta determinação, que tenho medo do que ela pode falar. Não posso dizer que odiaria o fato dela contar para mim algo importante, porque eu mesmo não consigo me controlar perto dela. Posso falar tudo para ela em um piscar de olhos.

No entanto, não quero envolvê-la. Ninguém precisa carregar esse fardo comigo. Até porque, eu mesmo não me importo mais. Saí irritado da sala, não porque odiei o fato de que minha madrasta está grávida. Mas sim porque meu pai terá mais uma oportunidade de foder com o psicológico de mais um filho. Será mais uma criança nas mãos dele. Mais uma criança que ele poderá moldar como seu herdeiro, ou deformar como seu desertor.

— No dia que dormi com Timothy, me senti muito mal... - Rose começa a falar. Seu olhar se perde um pouco, se torna vazio e a voz falha. Faço que não com a cabeça, para que ela não continuei se estiver desconfortável. Mas antes que eu fale algo, ela levanta a mão para me impedir. - Não por culpa dele, em parte. Eu só associei a algo que aconteceu comigo quando ainda morava em Seattle.

Encaro ela com toda a calma, tentando passar alguma confiança pelo olhar. Consigo ver a doer se manifestando em seu corpo. Os ombros estão tensos, a respiração acelerada. Não quero força-la a falar.

— Rose, não precisa...

— Pode deixar, eu quero falar. - Ela interrompe. Respirando fundo, ela fita a vista por um segundo, para depois retomar. - Quando eu estava no último ano do ensino médio, minha mãe decidiu que sua missão de vida era me enfiar em um mundinho perfeito. Queria que eu fosse para Harvard, não me deixava decidir quase nada sobre o meu futuro. Odiou quando eu disse que faria jornalismo. Só que o pior não foi isso.

Sinto um frio na barriga, porque não sei se quero escutar o que Rose tem a dizer. Mesmo assim, continuo esperando por sua resposta. Seus olhos verdes brilham, úmidos por um choro iminente. Ela faz uma longa pausa, para que as lágrimas não passem de uma visão distante.

— Ela ficou próxima de uma família muito rica e influente. O filho deles estudava comigo e era o menino perfeito para qualquer garota. Então na cabeça dela, eu tinha que ficar com ele. Começamos a encontrar os Williams em jantares semanais. E no final, acabei realmente me apaixonando por Brian. Ficamos meses juntos. No começo ele não falava sobre sexo e muito menos eu. Só que... - A voz desaparece mais uma vez. Ela joga a cabeça para trás e respira fundo, tentando não chorar. - Mais pro final do relacionamento, ele começou a fazer muita pressão.

"Na época eu também queria, eu acho. Mas não do jeito que foi. Eu recusei algumas vezes, quando os beijos ficavam mais intensos. Um dia, numa festa qualquer que ele deu em sua casa, ele bebeu muito. Ficou atordoado e me levou para o seu quarto. Eu disse que não queria. Não adiantou. Ele passou por cima de minha vontade e transou comigo. Depois, me senti horrível. Fiquei horas no quarto, sem conseguir sair ou me olhar no espelho. Aí eu terminei, briguei com a minha mãe, porque na minha cabeça era culpa dela, e me mudei pra cá."

Não sei o que pensar. Sinto uma raiva muito grande crescendo em meu peito só de pensar que esse escroto a estuprou. Tudo bem que não foi essa palavra que ela usou, mas quando não há consentimento, é estupro. Certo? Não sei, sei que quero muito socar a cara dele. A vontade de espremer sua cara com a minha mão é maior do que quando vi Timothy ser um babaca.

City LightsWhere stories live. Discover now