Desvio o pensamento e sorrio para a pequena sala. Sarah, já me explicou algumas coisas, mas terei de perguntar de novo. O aluguel não é tão cara, posso pagar até encontrar alguém para dividir. Está tudo certo, mas não parece nem um pouco.

— Então, esse é o apartamento. Não é muito grande, mas tenho certeza que é suficiente. - Ela diz, se escorando no balcão da cozinha americana.

— Contando que não seja uma caixa de sapatos, para Nova York, esse apartamento é gigantesco.

— Verdade. Acho que podemos falar sobre o dia que vou me mudar. Pretendo sair daqui na terça e depois disso o apartamento é todo seu. - Ela afirma. Gosto de saber que terei um apartamento só meu daqui a uns dias. Estou com saudade de ter um quarto, ou uma sala. E bem longe de Noelle.

Concordo com a cabeça e no momento que decido responder, a porta do apartamento se abre. O rosto familiar de Darrell adentra e fico apreensiva. Deveria ficar feliz ao vê-lo aqui, mas não é o que acontece. Ele estava estranho quando o deixei no carro e parece muito nervoso agora.

— Darrell, o que está fazendo aqui, cara? - Sarah pergunta, aproximando-se para abraçá-lo. Ele retribui o cumprimento, mas sem tirar os olhos de mim. Parece que já está me pedindo desculpa por algo. O clima, de repente, fica tenso e desconfortável.

— Precisava falar com Rose. - Ele diz, vindo na minha direção.

— Agora? Não pode esperar? - Pergunto, rezando para que ele mude de ideia e não queria conversar aqui. Mal conheço Sarah e tenho certeza de que essa conversa não acabaria bem. Meu mal pressentimento, não era apenas um pressentimento.

— Não, preciso fazer isso agora. - Ele lança um olhar para Sarah, que parece dizer tudo o que quer em silêncio. Ela entende e pega seu celular no balcão da cozinha.

— Eu vou dar uma volta por aí, fiquem tranquilos para conversar. Quando saírem, não precisam trancar a porta, o prédio é bem seguro. - Não sei a quanto tempo eles se conhecem, mas para ela não parece ser nada estranho ficarmos aqui sozinhos.

Ela sai e fecha a porta e fico encarando Darrell. Não vejo necessidade de Sarah sair de sua própria casa, para que Darrell converse comigo. Ele poderia esperar.

— Rose, preciso te dizer uma coisa. - Ele fala como se estivesse levando um soco no estômago. A dor está evidente em seus olhos castanhos que ficam cada vez mais vazios.

— Darrell, por que você não espera? O que tá acontecendo? - Pergunto, sentindo minha voz falhar.

— Rose, a noite de ontem foi uma merda. Escutei muito de Christopher, revivi um monte de momentos que não gostaria. Foi uma tortura pra mim. Mas, mesmo que eu estivesse fodido, eu só conseguia pensar no que estava fazendo com você. - A voz dele está fraca e muito baixa, como se ele não tivesse coragem de falar. - Pensei em como Andrew ficou perto de você, perto demais para machucá-la, ou como você me viu batendo nele...

— Eu disse que nada aconteceu e que está tudo bem. Não tem porque se preocupar com isso. - O interrompo, pois não quero ouvir o que ele tem a dizer. Não quero que ele termine de falar.

— Como não posso me preocupar, se tudo isso é culpa minha? Se você não estivesse ao meu lado, não precisaria passar por nenhuma dessas merdas.

Eu decidi ficar ao seu lado. Sei onde estou me metendo, Darrell. - Contesto, pois me sinto uma criança de cinco anos.

— Esse é o problema, você não sabe. Não sabe nem da metade das porras que aconteceram, do que eu fiz... - Ele se interrompe e não reconheço o garoto à minha frente. — Eu disse que não sabia se isso daria certo.

City LightsWhere stories live. Discover now