Ajeito meu suéter e verifico se meu celular está comigo. Devo passar outro dia para buscar minhas coisas. Não que tenha muito para buscar. Acho que no máximo uma jaqueta e uma escova de dentes. Saio do bar e vejo Darrell encostado em um carro. Um jeep preto, muito grande, que deve custar o andar inteiro do meu apartamento. Atravesso a rua com cuidado e o encontro.

— Pronta? - Ele está com os braços cruzados, vestiu uma jaqueta e seu cabelo voa um pouco com o vento. Como sempre está lindo, mas tento não prestar atenção.

Mesmo que sua presença seja menos irritante com o tempo, devo lembrar que ele é Darrell Connor. Posso no máximo aceitar sua amizade, mas Noelle é a prova viva de que não preciso disso na minha vida. Quero muito ir para casa e ter uma longa noite de sono. No entanto, preciso falar com Darrell sobre meu pedido. Agora realmente preciso de um estágio no Times. E, comparado a tudo que aconteceu hoje, ferir um pouco do meu orgulho para pedir ajuda, nem é tão assustador assim.

— Na verdade, acho que deveríamos conversar sobre... - Não termino de falar, porque não sei como definir sobre o que deveríamos falar.

— Sobre você precisar urgentemente da minha ajuda? - Ele levanta a sobrancelha e sorri. Reviro os olhos, sem conter o sorriso também.

— Se você quer chamar assim, por mim tanto faz. Só entra logo no carro.

Ele obedece e faço o mesmo, entrando no banco do carona. O carro é mais bonito ainda por dentro. Todo preto, com bancos de couro da mesma cor. Darrell deve ter dinheiro, e isso não me surpreende nem um pouco. Até explica algumas coisas. Ele pode ter a fama de badboy da universidade, mas sinto que está mais para playboy.

— Pra sua casa? - Ele pergunta, ligando o carro.

— Não, você terminou com minha colega de quarto na terça, tá querendo morrer?

— Não terminei, porque nunca tivemos nada. - Encaro seu perfil, sem saber se está falando sério ou não. Ele começa a dirigir, sem dizer mais nada.

Quando paramos em um sinal, seu olhar para em meu colo e fico confusa. Sigo o olhar e encontro minha mão esquerda, vermelha pelo impacto. Está dolorido, mas não tinha notado. A adrenalina mal saiu do meu corpo. Passo a mão pelos nós dos dedos e doí. Então minha ficha cai e começo a rir. Não, eu gargalho desesperadamente. Darrell me encara confuso, mas não consigo responder.

— O que foi? - Ele finalmente pergunta, franzindo o cenho.

— Eu... Eu soquei meu ex- namorado. Meu deus... - Gaguejo ainda rindo. Meus olhos ficam marejados e enxugo uma lágrima que escorre.

— É você socou. - Ele começa a rir também, como se estivesse esperado esse tempo todo para baixar a guarda e relaxar. - Na verdade, se tornou minha heroína por isso. - O sinal abre e tento recuperar o folego e ignorar o pulinho idiota que meu coração deu.

— Só dirige, Darrell.

Darrell começa a dirigir e dez minutos depois estaciona em uma lanchonete. Não qualquer lanchonete, uma bem em frente à ponte que leva ao Brooklyn. A vista para o Rio East é incrível. A ponte está toda iluminada, refletindo no rio. Observo o estacionamento, pouco movimentado. A lanchonete está toda acesa, o letreiro escrito Bub's Burger pisca com um tom de azul neon. Levo a mão até a porta, mas Darrell me impede, segurando meu outro braço. O toque me pega de surpresa e a parte tocada queima. Fico imóvel, fitando seu braço e depois seu rosto.

— Fica aqui.

Não tenho tempo de responder. Ele desce e me deixa no carro. Observo a ponte e tento ignorar a dor em minha mão e o resquício do toque de Darrell. Tento reunir tudo na minha cabeça. Penso na melhor maneira de abordar o assunto. Mas não tenho o que fazer. Preciso ser direta e séria. Darrell precisa me levar muito à sério agora. Preciso ter dinheiro para pagar minha parte do aluguel, se não darei um ótimo motivo para Noelle me expulsar. Consigo ver a figura cumprida de Darrell voltando devagar, com as mãos cheias. Endireito a postura sobre o banco de couro e o espero.

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