— Boa noite, Darrell. - Ele me cumprimenta com um aceno sucinto. A mulher ao seu lado - cujo até hoje não sei o nome - parece congelada em um sorriso. Não sei dizer se é falso ou não, mas me incomoda da mesma forma. - Fiquei surpreso quando disse que viria jantar.

— Acredite em mim, eu também. - Minha resposta ocasiona um clima horrível. A tensão se instala. Minha madrasta aperta de leve o seu braço, tentando acalmá-lo e isso me dá arrepios. Ele realmente aceita seu apoio.

No momento, a única coisa em que consigo me segurar, é a pequena mão de Ellie ao redor da minha. Minha irmã consegue iluminar a casa, mesmo com toda a merda que se instala aqui. Até fico ressentido com a minha mãe de viajar o mundo e deixar Ellie com esse mostro que tenho o desprazer de chamar de pai.

— Então, por que não vamos para a sala de estar? A comida talvez demore um pouco... - A loira pergunta depois de longos segundos em silêncio, sinalizando a sala com a mão.

— Claro, meu amor. - As palavras dele me enjoam ainda mais. O que aconteceu com o homem temperamental que conheci? Por Deus, tem como essa noite piorar?

Caminhamos até a sala de estar. Ellie cochichava algo sobre sua professora de piano e como amava aprender partituras novas - sem dar brecha para uma resposta, claro. Tenho absoluta certeza que ela é a única pessoa que dá vida para essa casa. Tudo parece vazio, como da última vez que estive aqui. Me sento em umas das poltronas que tem vista para o Central Park e observo todos se acomodarem.

— Querido, aceita uma bebida? Talvez um uísque? - A mulher me oferece, antes de se sentar ao lado de meu pai. Faço um esforço para lembrar o seu nome. Cameron? Caroline? Chasity? Deve ser alguma coisa com c. Lembro de receber um convite para o casamento no ano passado. Algo bem cafona com as iniciais CC.

Já falei o quanto essa noite está uma merda?

— Eu não bebo. - Respondo, secamente. Uma ruga pula da testa do homem à minha frente.

Christopher Connor não é de demonstrar muitos sentimentos. Em toda minha vida, não recebi muitos olhares carinhosos ou orgulhosos. Agora, pela forma que aperta de leve a perna da esposa, em um claro sinal de "sinto muito", vejo algo diferente. Algo que nunca vi com a minha mãe, por exemplo. Nunca nem vi um abraço da parte dele. A lembrança me causa uma leve pontada de dor de cabeça, cerro os punhos sobre os joelhos e respiro fundo para finalmente falar.

— O assunto que vim tratar com o senhor hoje não é muito longo. - A palavra 'senhor' quase engasga, mas me forço a continuar. - Estou precisando do meu fundo de investimentos, aquele que minha mãe e meus avós fizeram para mim.

Pela primeira vez desde que entrei, ele sorri. Não, ele ri. Uma risada seca e convencida. Um misto de raiva e vergonha percorreram pelo meu corpo. Há um ano, no meu aniversário de vinte e um anos, quando recebi um documento dizendo que tinha direito a um fundo de investimentos, não fiquei animado, nem saí jogando o dinheiro pro alto.

Na verdade, respondi ao advogado do meu pai de uma forma bem grosseira. Segundo ele, óbvio. Para mim, responder a um senhor que aparece na porta da sua casa às sete da manhã de uma segunda-feira com um "pode enfiar isso no seu rabo", não foi tão ruim assim.

Tinha muitos outros xingamentos que eu gostaria de direcionar a ele.

Mas afinal, o fundo é meu. Minha mãe e meus avós que guardaram o dinheiro. Só que Jane não foi inteligente o suficiente e passou toda a responsabilidade do fundo para o babaca do meu pai.

— Finalmente se tocou que estava errado? - A pergunta dele não precisa de resposta. Ele quer me humilhar, jogar na minha cara que sempre esteve certo sobre mim. Sinceramente, não sei por quanto tempo vou aguentar as suas merdas. Minha guarda está alta. Aperto as mãos para não perder o controle. - O que foi dessa vez? Está com dívidas? Devendo algum traficante por aí?

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