Quarenta e cinco

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Antes que Tóquio abandonasse o Charger preto, Logan a beijou uma última vez. Ainda era intenso e ainda fazia o peito queimar.

Exatamente como cerca de uma hora atrás. Enquanto dirigia para casa, Logan lembrou-se da diferença entre sentimento e emoção. Sentimentos eram duradouros enquanto emoções momentâneas, apenas reações ao que acontecia no instante em que surgiam. Logan pensou sobre o fato de que mesmo a ducha fria depois de, relutante, sair da cama, não foi capaz de apagar o incêndio que Tóquio criou em seu coração e alma. Sobre como o seu peito ainda queimava.

Haviam algumas mensagens no grupo de Joseph e Ryan, mas ele decidiu que conversaria com eles depois. A casa estava silenciosa quando ele entrou pela porta da frente, bastante escura também. Exatamente como ele havia deixado. Acomodou-se no sofá e passou a fitar o teto, inerte em seus próprios pensamentos.

Logan não conseguiu mais negar a si mesmo o turbilhão de sentimentos dentro do seu peito, não conseguiu escondê-los em algum canto de seu coração e fingir que poderia ignora-los, não mais. Não depois de senti-la por completo e se sentir inteiro com isso.

E, no entanto, conseguiu ignorar muito bem o alerta vermelho em sua cabeça dizendo perigo. Tóquio não parecia se lembrar das coisas que disse, Logan tinha certeza de que ela era esperta o bastante para contornar a situação caso percebesse o peso de suas palavras, mas a coisa era que aquela foi uma crise feia. Ela se expôs da forma mais vulnerável possível, desde o âmago até a epiderme, e quando a dor amenizou um pouco, ela voltou a si.

Mas a coisa já estava feita, e isso fez Logan sentir medo. O seu interior estava revirado e um gosto amargo se instalou em seu paladar.

O que deveria fazer? Trai-la e contar a Elliot, ou trair Elliot ao não dizer?

Logan se sentiu sujo com a simples hipótese de repassar aquela informação. Informação não, aquela não era apenas uma informação, mas sim um resquício do momento em que Tóquio confiou o bastante em Logan Marshall para abrir o seu coração e baixar os seus muros.
Que tipo de pessoa ele precisaria ser para quebrar isso?

Logan foi despertado de seus devaneios quando ouviu a porta ser aberta. Sua mãe comumente passava o dia fora e só retornava mais tarde, quase a noite, mas o seu pai costumava deixar a empresa e terminar o seu dia no escritório de casa, então ele já sabia quem era.

Logan amaldiçoou Elliot por escolher justo aquele dia para isso enquanto sentia os seus músculos se tensionarem.

O garoto tentou passar despercebido ao permanecer imóvel no sofá, e parecia estar funcionando muito bem enquanto ele ouvia os passos de Elliot de afastando. E, no entanto, um frio correu a sua espinha quando o homem parou. Logan sentiu o celular vibrar no bolso e pensou que poderia ser uma boa escapatória pra qualquer que fosse o motivo para a parada repentina de seu pai.

Todavia, a mensagem de Tóquio brilhando na tela do aparelho não o tranquilizou em nada. Na verdade, aquilo fez o seu estômago embrulhar.

Perdi o elástico que prendia o meu cabelo em algum canto da sua casa.

Logan se ergueu num rompante. Girou os olhos pela sala em busca do maldito elástico, mas para seu desespero não o encontrou. Ao menos, não antes de Elliot. O homem observava o elástico preto de perto, com curiosidade e de sobrancelha arqueada. Levou alguns segundos para que erguesse os olhos para o filho e o brilho de diversão contido neles gelou o peito de Logan.

Petricor| RETA FINALWhere stories live. Discover now