Cinquenta e três

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Joseph estava jogado em sua cama. Os seus olhos pregados no teto, sua respiração e peito anestesiados. Não havia nada interessante naquela parte do seu quarto, e para ele em nenhuma outra parte do mundo.

Ele só estava ali, existindo, revivendo os dias anteriores e adiando viver o presente. As luzes estavam todas apagadas e pouca claridade entrava por uma fresta na janela. Isso possibilitou que os seus olhos captassem o brilho do celular ao seu lado na cabeceira. Caso contrário Joseph ainda estaria inerte e totalmente alheio a existência daquele aparelho.

Ele girou o pescoço levemente para o lado direito e observou as notificações de mensagens cintilando na tela. Ryan, felizmente alegre mas solidário com a sua dor, mandava mensagens todos os dias e se mantinha por perto o máximo que conseguia na escola. Joe não cobrava nada disso porque sabia que Ágata e ele precisavam de tempo juntos. Logan era o mais distante e recluso deles, mas raramente tinha os seus picos de tentar se erguer de uma vez. Infelizmente isso não funcionava e ele despencava em seguida e se fechava de novo. Não dava para saber exatamente o que se passava na sua cabeça.

Joe identificou além das mensagens de Ryan algumas de Lilian. Ele engoliu a saliva como areia. Balançou a cabeça em negativa levemente e depois voltou a encarar veemente o teto. Ela continuava procurando-o com o mesmo ânimo da última vez que esteve em sua casa porque ainda não tinha ideia de que ele sabia sobre suas reais intenções. E Joseph não tinha coragem para enfrentá-la, porque tinha consciência da pessoa horrível que se tornaria quando estivesse frente a frente com ela. Das coisas terríveis que diria.

Estava tentando ser uma pessoa melhor, afinal, e isso significava começar a se ver como alguém que se preservava e não como um covarde por evitá-la. Isso também seria um ato de amor com ele mesmo, porque Joe sabia em seu âmago o quanto manter o seu orgulho intacto e dizer a ela todas as coisas que queria poderia ferir o seu coração. Agir contra Lilian era, sinceramente, enfiar uma faca de dois gumes no peito dos dois.

Mas apenas ele sentiria a dor, enquanto ela somente encontraria a sua deixa para ir embora sem qualquer remorso outra vez.

Concentrou-se no nada e em acalmar seu coração que momentaneamente bateu mais forte. Entretanto, o barulho atordoador do celular tocando o obrigou a ter que voltar de novo para o aparelho e dessa vez segura-lo em suas mãos. Suspirou profundamente irritado imaginando que era uma ligação de Lilian, mas viu brilhar o nome de Ryan e Logan na tela. Era uma chamada em grupo.

Joseph pensou por alguns instantes se deveria atender ou não, mas no fim resolveu ceder. Fazia bastante tempo que uma chamada em grupo não acontecia entre eles. Ele apertou o botão verde e aceitou a chamada. Acomodou suas costas na cabeceira da cama e apontou a câmera para o seu rosto. Logo, Ryan e Logan apareceram no visor.

O Flynn com o cabelo bem arrumado e uma expressão leve. Logan, por outro lado, estava meio acabado. Algumas olheiras, o cabelo grande e fora do lugar. Joseph sentiu o coração comprimir dentro do peito por seu amigo e pela situação difícil que ele também enfrentava.

Logan Marshall nunca tinha estado daquela forma. Joe já sabia, mas a cada vez que via o amigo tinha ainda mais certeza sobre o quanto ele amava Tóquio e sobre o quanto aquele ciclo que eles supostamente deveriam concluir o feriu. Ainda bem que Tóquio conseguiu convencê-lo ao acompanhamento psicológico antes de ir, porque Logan era apenas bagunça de onde ele podia ver.

Não que Joseph ou Ryan não precisassem também. Naquela altura do campeonato, Joseph já acreditava que toda a humanidade precisava disso.

— Oi, gatinhos. Como estão hoje? — Ryan disse, animado.

— Eu não vou nem responder — Logan balançou a cabeça e Joe conseguiu ver a garrafa de cerveja que ele levava até a boca.

— Bem, Ryan — Joe respondeu sem muito ânimo.

Petricor| RETA FINALOù les histoires vivent. Découvrez maintenant