Quarenta e dois

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O loiro jamais conseguiria descrever o alívio que tomou o seu corpo ao finalmente dizer o que reprimiu por tanto tempo. Ágata, no entanto, sentiu o peso das palavras que saíram de sua boca.

Ryan delicadamente tirou a mão do seu corpo, tocando-a pela última vez ao devolvê-la ao chão. Aggy sentia o coração bater como tambor dentro do peito, o barulho ecoava em seus ouvidos e ela tinha dúvidas se Ryan podia ouvi-lo também.

Ele a amava?

— Eu não quero que você se sinta pressionada com o que eu disse — Ryan rompeu o silêncio.

Ágata o olhou nos olhos profundamente, e isso o deixou inerte por alguns segundos. No entanto, conseguiu continuar:

— São os meus sentimentos, Ágata. É sobre mim. Você não tem que me amar de volta, não tem que me dizer o mesmo. — ele parou por alguns instantes.

Analisou o seu rosto, buscou alguma reação que o quebrasse por inteiro ou que o ajudasse a juntar os cacos que sobraram, mas não encontrou nenhum resquício. Não havia nada. Ele curvou os seus lábios amargamente para si mesmo, foi quase imperceptível.

— Ou você pode não dizer nada.

O loiro baixou o olhar, não queria que ela pensasse que fita-la naquele momento significava que ele esperava uma resposta. Ryan não esperava. E, no entanto, ela veio. Ágata soltou o ar dos seus pulmões audivelmente, continuou olhando para ele. Reuniu toda coragem que havia em si para dizer:

— Eu quero dizer — sua voz chamou a atenção dele e de seus olhos de volta para si — eu... — ela hesitou um pouco, Ryan estava atento a cada mínimo detalhe seu — eu também sinto, Ryan. Meu interior está confuso, machucado, mas eu sei que existe uma parte sua, uma parte intocada. Você conseguiu entrar, Ryan — ela apontou o dedo indicador para o próprio peito — eu não sei como e não consigo discernir as proporções disso em meio a minha bagunça, mas estou tentando ser honesta com você agora.

Ágata provou o mesmo alívio que Ryan, seus olhos transmitiam a mesma faísca, eles viam a mesma fagulha um no outro. Era pequena, mas capaz de aquecer o peito e dar alguma vida a seus olhares antes mórbidos. Ágata apreciou por alguns instantes a conexão entre eles e o magnetismo que mantia seus olhares presos. Foi desconfortável quebrar isso, as coisas pareceram mais certas naqueles instantes do que em todos os últimos dias. Ela baixou um pouco o olhar e mordeu a bochecha interna. Voltou a falar:

— Sentir nem sempre é suficiente. Eu não posso me entregar, porque eu não quero dar a alguém pedaços de mim. Não posso te entregar um coração quebrado. Você me perguntou porque eu vim aqui... Davina me ligou — surpresa tomou o rosto de Ryan, mas Ágata não lhe deu tempo de falar nada — e eu vim porque ela disse que você precisava de mim. Mas, não só isso, eu precisava de você, e eu estou admitindo isso.

Ágata se aproximou dele, ela estava em sua frente e perto o bastante para que sua testa quase roçasse seu peito. Seus olhos ainda não eram corajosos o bastante para encontrarem as orbes do loiro. Ágata sentiu o calor do seu corpo, mas não o tocou. Ao menos não imediatamente. Hesitou alguns segundos quando seu cérebro tentou tomar controle daquela noite, mas o seu coração não permitiu isso. Movida por sentimentos, ela esticou a sua mão e tocou a de Ryan com a ponta dos dedos.

Ryan decidiu esperar. Queria que qualquer coisa que acontecesse naquela noite, que fosse porque Ágata também sentia o mesmo que ele em seu peito. Quando ela tocou timidamente em sua mão, tudo o que ele desejou foi entrelaçar os seus dedos e sentir o calor de sua pele, mas ele esperou por ela. Esperou até que ela se sentisse confortável para dar um passo à frente, então o seu peito se expandiu em êxtase quando Ágata tomou a iniciativa para fazer isso.

Petricor| RETA FINALOnde as histórias ganham vida. Descobre agora