Trinta e três

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Acordar numa quarta, de ressaca, com a garganta áspera como o inferno e a cabeça doendo como se alguém tivesse te dado alguns socos e chutes com toda força, isso com certeza não era o que Ágata ou Megan esperavam para o fim do ensino médio. Tóquio idem. Isso torna visível ao extremo o quanto as coisas podem mudar com alguns meses ou dias.

O despertar de Megan fora doloroso, com uma pontada aguda na cabeça e a sensação de que toda a água de seu corpo havia ido embora, ela se ergueu na cama com uma careta no rosto e o genuíno desejo de morrer. Voltar a dormir. Qualquer coisa que a impedisse de sentir os efeitos de uma noite regada a álcool.

Tóquio e Ágata acordaram em seguida, induzidas pelos gemidos de dor e os movimentos de Megan sob o colchão. Tóquio mal conseguiu abrir os olhos nos primeiros dois minutos, Ágata tentava localizar em qual terra estaria.

Na noite anterior, antes que o álcool fosse demais, elas combinaram que iriam para a casa de Tóquio. Ela contava que seus pais não estivessem lá ou que não se importassem o suficiente quando chegassem, mas rezava de fato para que Edmundo não escolhesse justo aquele dia para uma visita inconveniente.

Felizmente elas puderam cair sob o colchão as três da manhã, sem qualquer perturbação. Não fecharam a cortina, não procuraram algum cobertor além do edredom que cobria a cama.

— Me lembrem de nunca mais fazer uma coisa dessa — Aggy murmurou, coçava os olhos enquanto seu rosto se contorcia numa careta.

Tóquio abriu apenas um olho, seu cabelo era uma bagunça e a sua maquiagem com certeza não favorecia naquela manhã, isso somado a olheiras debaixo de seus olhos poderia ser engraçado para qualquer um que não estivesse sob sua pele ou em um estado tão deplorável quanto o dela.

— Nós definitivamente não vamos — a loira disse como se fosse óbvio, meio amarga. Bem como uma ressaca pode causar.

Megan olhava para o nada. Tentava buscar sentido para sua existência naquela manhã, estava vegetando e nada mais. Sua garganta seca parecia ter quilos de areia pura.

— Meg, tá tudo bem? — Ágata chamou pela ruiva.

— Me pergunte isso depois que eu me entupir de aspirina  — ela declarou, desgostosa.

Numa tentativa falha de rir, Ágata recebeu aquela maldita dor aguda, o que a fez massagear as têmporas doloridas. Praguejou.

— Quantas horas são? — Foi o primeiro pensamento lúcido de Tóquio.

Megan respirou fundo e tentou não surtar quando se deu conta daquele empecilho. O tempo. Ágata fingiu que não estava surtando. Havia um relógio ao lado da cama, ele marcava oito e meia.

— Estamos atrasadas — Megan constatou, a boca abrindo-se num O. — Eu devia estar na cozinha de casa às sete — ela lamentava, havia algum desespero em sua voz — meus pais vão surtar.

— Não, não vão — Tóquio interviu, tentando tranquiliza-la. Seus olhos ainda se acostumavam com a claridade quando ela se sentou na cama, tocando o ombro da amiga. — Você diz que precisou sair mais cedo. Pronto.

— Eu não sei se irá funcionar — Meg mordeu o lábio, relutante.

A ruiva esteve de pé num àtimo, pareceu receber uma carga de energia.

— Eu não quero pensar sobre o que fizemos naquela festa agora — Megan ainda tentava acostumar-se com o seu novo "eu",  — então vamos nos arrumar o mais rápido possível. Assim os pensamentos ficam longe.

— Eu apoio — Ágata ergueu a mão em concordância.

Tóquio riu.

— Sabem que não dá pra escapar disso, não é?

Petricor| RETA FINALOnde as histórias ganham vida. Descobre agora