Vinte e dois

2.4K 425 209
                                    

Tóquio estava em silêncio.

Sentada no sofá, com a cabeça no colo de seu irmão. Ela não havia se atrevido a dizer nada até aquele momento, já sabia o que ouviria.

Sentia-se traída, de algum modo.

Jurava ser por Logan, porque não queria admitir naquele momento de que fora traída por si e por seus sentimentos. Ela havia perdido no próprio jogo, e, particularmente, odiava aquilo. Odiava o fato de seu peito estar apertado, de se sentir tão idiota.

Odiava o fato de que Logan Marshall aconteceu, e ela não teve anúncio prévio sobre isso.

Quando percebeu ele já estava lá.

Odiava também que Joseph e Ryan pensassem em colocar Megan e Ágata naquele jogo sujo e doentio. Elas não mereciam, e a loira iria cuidar dela custasse qualquer preço. Não era uma amizade de longa data, não haviam dividido muitos momentos, mas ela importavam. Muito. E acima de tudo, eram mulheres.

Um riso amargo brotou nos lábios de Tóquio, não haviam resquícios de humor. É claro que havia algo podre, nada de bom poderia vir de alguém que tem Elliot Marshall como figura paterna.

Aquele homem sim, com toda certeza, era um monstro.

— Ei — Edmundo chamou por ela. Seus olhos voaram até ele — Quer me contar o que aconteceu?

Ela fitou o teto. Suspirou.

— Porque não me expulsou daqui na primeira oportunidade? Você não tem que lidar com minhas merdas. — ergueu o seu corpo. Estava sentada.

Edmundo passou os dedos por entre os fios de seu cabelo. Estavam úmidos, havia acabado de sair do banheiro quando a irmã chegou. Vestiu uma bermuda e uma blusa de modo qualquer e voltou para ajudá-la.

Sentiu um incômodo horrível quando viu as lágrimas rolarem pelo rosto da loira, os seus olhos vermelhos e as bochechas rubras. Quis protegê-la, e enquanto a abraçava, lembrava-se do quanto aquilo costumava comum.

E o quanto fora estranho abraçá-la, mesmo que o seu coração estivesse em paz com a escolha.

Ed não desviou o olhar da irmã.

— Você chega tarde da noite, na minha porta, chorando pra cacete e espera que eu te expulse? Qual é, Tóquio, eu não sou tão ruim —   Seus lábios se curvaram, mas não chegou nem aos olhos. Quando nenhuma reação fora esboçada por ela, aquela sombra de sorriso morreu. Seus ombros encolheram.

Ela fechou os olhos com força, também mordia o lábio inferior. O ar escapou por sua boca com força.

— Me desculpe. — fora sincera. Sorriu, mas vacilou. Não havia humor. Passou algum tempo até que ela voltasse a dizer: — Talvez você tivesse alguma razão.

Edmundo piscou, descrente. A fitou por alguns instantes, surpreso. Ele buscava em seu rosto escárnio ou coisa do tipo, mas não encontrou. E então, havia a preocupação evidente no rosto do homem. A sua cara estava fechada, as sobrancelhas quase unidas.

Compreensão transbordava por seu rosto.

– O que ele fez? — a voz grave, seca e algumas oitavas mais altas.

Edmundo se ergueu, a mão indo de encontro com a sua cintura. A cabeça balançando em descrença.

— Aquele filha da puta fez algo contra você? Tóquio, por Deus...

— Ei, ei! — A loira levantou-se e tocou o rosto de Edmundo, tentava acalma-lo. — Fica calmo, okay? Está tudo bem. Eu estou bem. — ele estava parado. Tóquio voltou a se sentar, desta vez, jogando o seu corpo de qualquer jeito no estofado. Um suspiro lhe escapou — Acho que eu só não estava preparada para a verdade. Não hoje. Não da forma que eu ouvi.

Petricor| RETA FINALWhere stories live. Discover now