Petricor| RETA FINAL

Quarenta

Era quase meio dia. Logan havia acabado de sair do banho, a toalha ainda estava enrola em sua cintura e respingos de água corriam por suas costas e testa. Os fios castanho-escuro de seu cabelo estavam úmidos, quase pretos.

Seu peito estava pesado, odiava velórios ou qualquer coisa do tipo. No entanto, sentia que deveria estar lá. Era constante a dúvida sobre quando se aproximaram, a ficha de que as coisas mudaram caia lentamente.

Ou já havia caído por terra e eles apenas aceitavam aos poucos.

Respeitava o uso de preto em velórios; é a ausência da luz. Fazia muito sentido em sua cabeça.Vestiu-se de blusa social preta e um jeans da mesma cor. Estava sério, pensativo. Vestiu-se rapidamente, não se preocupava com vaidade naquele dia.

Enquanto descia as escadas em direção a sala, Logan sentiu que algo errado. Fora do lugar.

A presença de seu pai.

Ele tinha certeza de que Elliot estava em casa, o ar sempre pesava quando ele estava. Pensou em seguir rapidamente o seu caminho e não ser visto, em sair antes que Elliot o notasse. Contudo, já próximo à porta, a voz de seu pai ressoou.

O intimava a ir até ele.

Logan parou a mão a centímetros da maçaneta. Revirou os olhos e se pôs em alerta. Cada poro seu exalava desconforto em trocar mais do que duas palavras com o pai, isso era obviamente algo ruim, mas essa era a relação deles e não havia muito o que fazer.

— Como estão as coisas?

Elliot não se importava com o seu bem estar, nunca se importou. Logan já sabia ao que ele se referia. O maldito era doente com aquele ciclo.

— Bem. — se limitou a dizer.

Elliot estava sentado na poltrona de couro marrom especialmente dele. O lugar era como um trono. Logan o olhava fixamente, tentava a todo custo não vacilar diante do velho. O pai tinha um copo de vidro com líquido marrom dentro que vez ou outra bebericava. Seu olhar sobre o filho era incisivo.

— Soube da morte de Natan Dummont. Uma pena. Muito trágico. Um velório dramático...

— Estou atrasado pra isso — Logan checou a hora no relógio que jazia em seu pulso.

Realmente não poderia demorar muito.

Elliot estreitou os olhos quase que imperceptivelmente. Analisou Logan de baixo em cima e, no fim, um riso de escárnio se formou no canto de sua boca.

— Sabe, Logan, você pode até pensar que não, mas eu esperava um pouco mais de você. — sua voz não continha humor ou deboche como a sua boca erguida, era dura e sem emoção.

Logan engoliu a saliva, deu de ombros. Continuou o olhando e esperava que Elliot continuasse falando. O homem soltou o ar lentamente.

— Vocês se envolveram demais com aquelas garotas.

Logan franziu as sobrancelhas.

— Isso não é verdade.

— Não minta pra mim, garoto — a voz de Elliot soou brava desta vez como o seu rosto fechado de repente. Ele falava um pouco mais alto. — não é uma pergunta, é uma afirmação.