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Any- Pai. (Any sorriu, chorosa) Eu nem sei por onde começar com o senhor, porque eu sei que não foram poucas as vezes em que eu te decepcionei.

Sílvio, assim como Larissa havia feito a princípio, encarou um canto qualquer da sala, como se temesse o olhar da própria filha, que estava próximo a ele.

Any- Ontem, eu me lembrei de quando o Joaquim era pequeno e ainda estava aprendendo a engatinhar. (riu, recordando-se daquele tempo) E ele engatinhava todo errado... Mas, um dia, o senhor olhou para mim e falou: "Ny, você não pode deixar ele engatinhar assim.". Mas eu não sabia qual era a forma correta. Então o senhor parou tudo que estava fazendo e foi ensiná-lo a engatinhar. E, mais do que isso, foi o senhor que o ajudou a dar os primeiros passos.

Quase vencida pela vontade de chorar - pois, vinha fazendo um imenso esforço para se manter firme até então, Any deixou que seu olhar caísse por um instante e confessou:

Any- Eu não sei porque me esqueci disso, pai. Em algum momento, eu fiquei tão cega pela raiva e pelas mágoas que eu guardava dentro de mim, que acabei criando essa fantasia de que o senhor é o pior pai do mundo. Mas não é verdade. Vamos discordar sobre uma coisa ou outra na vida, isso é normal. O senhor vai me chamar a atenção porque me ama e eu vou bater o pé porque eu sou teimosa. Mas... É só isso. Deveria ser só isso! Porém, parece que fomos longe demais. Eu fui longe demais. Então, exatamente por isso, eu quero pedir perdão para o senhor por todas as palavras desrespeitosas, por todas as desobediências e por todas as vezes que eu te decepcionei. E, assim como eu disse para a Larissa, eu também quero falar para o senhor que eu estou disposta a deixar para trás toda desavença entre nós dois. Porque... Novamente, eu digo. Não estou sendo um bom exemplo para os meus filhos quando brigo e desrespeito o meu próprio pai na frente deles. Então me perdoa, pai! De verdade.

Novamente, o silêncio imperou na sala. Any, em pé diante de Sílvio, procurava recuperar o fôlego, pois perdera-o enquanto falava, tamanho esforço fez para não chorar.

Então, ao cabo de alguns segundos, Sílvio se levantou e fez com a filha o que ela havia feito com a irmã mais nova: aproximou-se dela e enxugou suas lágrimas - Any lutou e lutou, mas não conseguiu vencer o choro por completo.

Sílvio- Minha filha, acho que sou eu que tenho que pedir perdão. Não apenas para você, mas para o Noah também.

Nosh, parado perto de Josh e próximo a uma janela, descruzou os braços, surpreso, quando viu seu pai olhar em sua direção.

Sílvio- Eu reconheço que eu fui um pouco cabeça dura, querendo controlar até mesmo a fé de vocês. É claro que eu tenho as minhas convicções e vou defendê-las, mas (voltou-se para Any)  é como você disse, Ny, nós vamos discordar um vez ou outra, porém é apenas isso. Não precisamos derrubar a casa por causa de uma diferença de opinião. E eu sei que fui egoísta querendo obrigar vocês a enxergar o mundo da mesma maneira que eu enxergo. Não fui maduro o suficiente para lidar com o fato de que a gente cria os filhos para o mundo e não para nós mesmos.

Sílvio segurou o rosto de Any gentilmente e beijou-lhe na testa, paternalmente, abraçando-a logo em seguida. Há muito tempo não faziam aquilo. As brigas eram tão constantes que não sobrava tempo para se lembrarem de que eram uma família e, portanto, o primeiro porto seguro para o qual se deve retornar quando a vida aperta.

Sílvio- Eu te amo, filha. (disse Sílvio, desfazendo o abraço e olhando Any nos olhos para vê-la entregue às lágrimas)

Então se voltou outra vez para Noah e o chamou com um gesto. O mesmo fez com Larissa.

Sílvio- Às vezes, a gente esquece do amor que sentimos, (continuou Sílvio, abraçado a todos os seus três filhos) principalmente, nos momentos de raiva, e acabamos machucando justamente aqueles a quem mais queremos bem. E, talvez, eu realmente tenha me esquecido por um instante o quanto vocês são importantes para mim. Cada um de vocês.

[...]

A desavença tem um enorme poder para se alastrar, destruindo vidas e famílias inteiras. Porém, o amor e o perdão também são capazes de se espalharem, contagiando os corações sedentos pela paz. Pois, não há quem se deleite na guerra. Todos buscamos a harmonia e tranquilidade. O que nos falta, todavia, muita das vezes, é humildade para chegar diante do outro e reconhecer que erramos.

Any deu o passo que nunca achou que daria. Com muito esforço e motivada pelo desejo de fazer os seus filhos felizes e, se possível encontrar ela mesma a sua própria felicidade -, Any deixou de lado o seu orgulho e reconheceu em voz alta onde foi que errou. Mais do que isto, decidiu abrir o seu coração, deixando voar para fora todas as mágoas e ressentimentos que mantinha lá dentro como pássaro preso em uma gaiola.

Josh tinha mesmo razão todas as vezes em que, pacientemente, lhe disse que, apesar de ser o caminho mais difícil, perdoar era sempre a melhor opção. A propósito daquele que mudou a sua vida quase sem querer, depois de pedir perdão para todos a quem reconhecia ter ferido um dia, incluindo seus filhos, Any achou por bem dá-lo os devidos créditos pela grande influência que teve em sua transformação.

Any- Você não é simplesmente um anjo que caiu do céu pra mim, Josh. (disse Any, mais tarde, quando conversava a sós com o jovem rapaz) Você é definitivamente o céu inteiro que despencou sobre esta pobre alma rancorosa, mostrando para ela que o melhor remédio para as feridas dela sempre esteve bem aqui e se chama perdão. Não sei o que seria de mim se eu nunca tivesse te conhecido.

Josh- Certamente, Deus usaria de outro meio. Ele jamais ficaria sem realizar a sua vontade. (respondeu Josh com humildade)

Any- Mas ele usou você. E que bom que foi assim! Porque não apenas aprendi a perdoar, como também conheci o amor da minha vida.

Josh sorriu com os olhos e deixou sobre os lábios de Any um beijo singelo antes de dizer:

Josh- Você também é o amor da minha vida.

(FIM DA QUINTA PARTE)

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Autora da obra oficial: anac_ssilva

O Malabarista✓Where stories live. Discover now