(06)

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(NARRADORA)

Todo o trajeto até a casa de Any foi quase totalmente silencioso. A voz que mais se fez ouvir foi a de Luca, que estava sentado no banco de trás olhando, encantado, pela janela a visão embaçada pela chuva da cidade que estava quieta. De vez em quando, ele, entusiasmado e vendo tudo como uma verdadeira novidade, apontava algo e logo pendia o corpo para frente, querendo contar tudo para Josh, que estava calado no banco do passageiro.

Any tinha um filho daquela mesma idade e sabia muito bem o que era uma energia inesgotável. Por isso, sempre sorria quando, de relance, via Luca inclinando-se no banco para falar mais uma vez a Josh, mesmo depois de tê-lo escutado dizer num tom firme:

Josh- Senta direito, Luca.

Josh, praticamente encolhido sobre o banco do passageiro, tentava não apoiar todo o corpo sobre o assento, pois tinha medo de marcá-lo com a sujeira de seu corpo. Se lhe perguntassem, ele não saberia responder qual foi a última vez que se banhou decentemente e isso o incomodava profundamente. Sobretudo porque a morena que ia ao volante, apesar de vinda de um longo dia de trabalho, tinha a roupa limpíssima, o cabelo cheiroso, as unhas pintadas com um esmalte preto reluzente e os lábios cobertos por um tímido gloss que, junto ao seu perfume ligeiramente desgastado pelo dia, mas ainda notável, espalhava pelo carro um aroma acolhedor.

Aquela altura, o que Josh sentia era muito mais do que uma simples desconfiança, pois a vergonha o inundava. De repente, sentiu-se pequeno, do tamanho de uma formiguinha, quando, depois de curtos minutos de carro, Any entrou no condomínio fechado e, em seguida, na garagem de sua casa, onde os latidos dos dois Poodles ecoaram alto.

Luca- Uau, Any! Sua casa é linda. (disse Luca, estupefato)

A morena sorriu graciosamente e, saindo do carro, agradeceu:

Any- Obrigada.

Então abriu a porta de trás do Pajero para que Luca descesse, enquanto, do outro lado, Josh também descia. E, talvez por falta de sorte, o jovem rapaz, que já andava achando que aquele não era exatamente o melhor dia da sua vida, foi imediatamente rodeado pela dupla de Poodles que eram bastante valentes.

Any- Bidu! Simba! (Any exclamou e foi até onde estava Josh, encurralado pelos dois cãezinhos)

A morena já se sentia culpada pelo soco e pelo chute que Josh, não muito acidentalmente, havia levado minutos antes, não podia ser que fosse levar também a culpa por uma mordida, apesar dos dois Poodles serem mesmo inofensivos, mas a verdade é que nunca se sabe o que pode acontecer depois de duas desgraças seguidas.

Any- Eles não mordem. (Any assegurou olhando para Josh com certo receio)

Então, quando se viraram, tanto ela quanto Josh, na intenção de irem até a porta que dava para o interior da casa, viram Luca agachado no chão acariciando os dois cachorrinhos, como se os conhecesse há tempos. No mesmo instante, Josh teve a impressão de que, talvez, o problema fosse ele.

Luca- De quem são, Any? (Luca perguntou enquanto entravam)

Any- Dos meus filhos. (a loira respondeu, atenciosa)

Ao entrarem pela sala, Any encontrou Joaquim e Cauê na mesma posição. Então, pigarreando, a fim de chamar a atenção dos filhos, a morena deixou a chave do carro dentro de uma tigela perto da TV e disse ao filho mais velho:

Any- Jo, pausa o jogo um instante.

Joaquim, que, até então, não havia erguido o olhar ainda, fez o que Any ordenou e, ao olhar em sua direção, assustou-se levemente quando viu Luca parado ao lado da morena e Josh, um pouco mais distante, em pé à porta.

O Malabarista✓Where stories live. Discover now