(07)

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(NARRADORA)

Quando Any voltou à sala, encontrou apenas Joaquim sentado no mesmo lugar.

Any- Uai, Jo. Cadê o Josh? (perguntou a morena olhando para todos os lados do cômodo)

Joaquim- Ele tá lá fora. (Joaquim respondeu e se levantou, indo até a janela que dava para a rua) Olha lá!

Any acompanhou o filho e, pela janela, viu Josh sentado no meio-fio, debaixo daquela chuva horrenda, em frente à sua casa que não possuía muros.

Any- Por que ele foi lá para fora? (Any perguntou mais para si mesma do que para o filho)

Joaquim- Não sei, mas... Mãe. (Joaquim se virou para a morena com um olhar preocupado) Por que você trouxe eles pra cá?

Any- Olha a chuva que tá caindo, filho. Eles moram debaixo do Viaduto Oeste, perto da rodoviária. Imagina enfrentar uma chuva dessas debaixo daquela cobertura de concreto.

Joaquim- Mas existe um monte de gente que mora assim, mãe, e você nunca trouxe nenhum deles pra cá. Por que logo agora? (questionou Bernardo que, por mais que tentasse, não estava entendendo aquela caridade repentina de Any)

Any- Eu apenas resolvi fazer uma boa ação, Jo. Só isso.

Joaquim- E desde quando você faz boas ações, mãe?

Any- Desde agora, ué!

Any, para evitar novos questionamentos do filho, apressou-se em sair da casa e ir até Josh. Para isso, apanhou um dos guarda-chuvas que estavam dispostos dentro de um cesto comprido próximo à porta da sala e saiu debaixo da chuva, encolhendo os braços por conta do vento que logo a abraçou.

Josh estava sentado ali, naquele meio-fio pintado de branco, há tempo suficiente para não se importar com a chuva mais. Na verdade, preferia assim, pois, com a torrente de água que caía, seria difícil perceber as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. O motivo de seu choro era confuso. A princípio, chorou de angústia: que vida amarga aquela que tinha. Depois, evoluiu para um choro ansioso: era a primeira vez, em 4 anos, que dormiria em uma cama. Em seguida, chorou um choro de alegria: anos fazendo a mesma oração, pedindo a Deus que o ajudasse a sair da rua, e, de repente, quando menos esperou, alguém veio e o levou para casa. Teria o socorro chegado finalmente?

De repente, mesmo que tivesse o rosto apoiado nos joelhos, pois estava sentado e encolhido, tentando esconder seu semblante choroso, Josh percebeu a presença de alguém. Era Any. E ele soube apenas porque, de canto de olho, viu seu salto alto.

Any- Você vai ficar doente se ficar sentado aí, debaixo dessa chuva. (Any disse em pé ao lado de Josh. Ela o olhava por cima, vendo-o de cabeça baixa)

Um silêncio seguiu as palavras de Amy e perdurou por alguns segundos, até que a morena disse mais:

Any- Vem, vamos entrar.

Mais um silêncio e, então, sem dizer nada, Josh se levantou e quis acompanhar Any até o interior da casa sem entrar debaixo do guarda-chuva, mas ela, num simples gesto, aproximou-se dele e o cobriu.

Josh- Eu vi que tem um banheiro aqui fora. Eu posso tomar banho nele. (Josh disse parando diante da porta de entrada)

Any- A ducha do banheiro daqui de fora não esquenta. (disse Any, deixando o guarda-chuva encharcado de lado, no chão da varanda)

Josh- Eu não me importo. (o jovem rapaz afirmou olhando para baixo, para as próprias mãos)

Any estava confusa. De irritado, Josh havia passado para cabisbaixo e retraído. Agora, ao contrário de mais cedo, sua voz saía baixa e surpreendentemente calma.

Any- Josh. (Any chamou pelo rapaz e esperou que ele a olhasse, mas ele não o fez) Pode tomar banho lá dentro.

Josh- Eu não quero sujar sua casa. (Josh afirmou, ainda sem olhar para a morena)

Any riu abafado. A diferença entre Luca e Josh era tão discrepante. Enquanto o primeiro era extrovertido, curioso e alegre, o segundo era quieto e calado. Talvez fosse a diferença de idade ou apenas uma questão de personalidade.

Any- Eu não me incomodo com isso. (assegurou Any)

Pouco a pouco, Josh ergueu o olhar, até que encontrou os olhos castanhos de Any, que continuou:

Any- Tá bom? Agora, vem comigo. Vou te mostrar onde fica o banheiro.

Any abriu a porta e entrou, enquanto Josh, dando um passo com muito custo, murmurou:

Josh- Com licença.

Ele já havia chegado até aquela porta anteriormente, mas, antes, ainda estava tão irritado com o soco e o chute que levou que sequer pensou em bons modos.

Any, por sua vez, apenas sorriu de lado diante daquelas palavras e fechou a porta assim que Josh entrou.

Então ambos seguiram para o mesmo corredor onde, antes, Any havia estado com Luca e pararam diante de um banheiro próximo à lavanderia.

Any- Eu consegui essa camisa e essa bermuda... (Amy começou a dizer apontando para a muda de roupa que estava sobre a pia) É do meu irmão. Ele esqueceu aqui e... Bem, eu acho que vai te servir. Além disso, eu coloquei um sabonete, uma bucha e um shampoo aqui para você e...

Any olhou para os pés de Josh e percebeu que, ao contrário de Luca, que usava um chinelinho, o jovem rapaz usava um tênis desgastado e sem meias,

Any- Espere aí! Eu vou pegar um chinelo para você.

Josh deu espaço na porta e Any saiu, indo até a lavanderia, de onde voltou com um par de chinelos azuis.

Any- É tamanho 40... É do meu pai. Você calça quanto?

Josh- Quarenta e quatro. (Josh respondeu sucintamente e inexpressivo)

Any, por sua vez, ergueu as sobrancelhas, ligeiramente surpresa:

Any- Quarenta e quatro? Uau! (diu sozinha) Quarenta vai ser o maior número que eu vou ter...

Josh Não tem problema. (disse Josh, que olhou para seus próprios pés logo em seguida e completou:) Esse tênis que eu tô usando é tamanho 40.

Seus dedos estavam espremidos dentro do calçado, tão espremidos que Josh já quase nem os sentia, pois os calos de dolorosos passaram a ser amortecedores.

Any- Bom, nesse caso...

Any entregou o par de chinelos a Josh.

Se, por um lado, Josh se sentia deslocado com toda aquela situação, Any também sentia uma ponta de vergonha. Na realidade, estava sem graça depois de ter sido a causa do hematoma roxo no rosto do rapaz e da dor no estômago que ele ainda sentia por causa do chute que havia levado.

Any- Qualquer coisa é só me chamar. (Any afirmou, prestativa)

Josh, no entanto, apenas assentiu e entrou no banheiro, fechando a porta logo em seguida. Então, sozinho lá dentro, olhou para seu reflexo no espelho, mas não teve coragem de sustentar o olhar por muito tempo, pois tinha vergonha de sua aparência suja e desbotada. Quem poderia dizer que ele tinha apenas 23 anos?

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Autora da obra oficial: anac_ssilva

O Malabarista✓Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum