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(NARRADORA)

O caminho até a clínica foi, inicialmente, marcado por um silêncio denso entre Any e Josh, que iam cada qual imerso em seus próprios pensamentos. Para o jovem rapaz era estranho estar na rua outra vez, logo após a noite anterior. De dentro do carro, o mundo parecia carregar consigo certa coloração que, antes, Josh era incapaz de ver. De repente, não pareceu cansativo viver, não pareceu exaustivo se levantar pela manhã e encarar a realidade. E pensar que talvez nunca mais precisaria voltar para debaixo daquele viaduto, verdadeiramente aquecia o seu coração, trazendo alívio e até uma ponta de satisfação.

Então, em determinada parte do trajeto, Any olhou para Josh de relance, vendo-o encarando o porta-luvas do carro.

Any- Tudo bem? (ela perguntou)

Josh- Sim...

O jovem rapaz olhou para Any de relance e explicou:

Josh- Só estou imaginando como será voltar a ter uma vida, no mínimo, digna. Passei tanto tempo debaixo daquele viaduto com Luca que... É meio estranha a ideia de ter um emprego e uma casa, sabe?

Any assentiu, atenciosa, e, estacionando seu carro em frente à clínica, disse:

Any- Vamos?

Josh, antes de se mover para fora do carro, encarou a construção grande e de fachada branca. No mesmo instante, sentiu uma ansiedade enorme lhe abater, mas, apesar disso, respirou fundo e saiu ajeitando os cabelos com as mãos.

Sentia-se estranho e essa sensação só foi piorando à medida que ia dando passos em direção à porta de entrada, ao lado de Any. De fato, ninguém o estava observando minuciosamente, todos. que direcionaram seus olhares para os dois, o fizeram apenas por força do hábito. Mas Josh se sentiu tão exposto como se estivesse nu, pois tinha a impressão de que todos o julgavam pelo olhar. Ainda mais porque era evidente que aquela era uma clínica da alta. Tudo muito limpo, todos muito bem vestidos. De repente, se tornou inevitável para o jovem rapaz não se envergonhar do sapato sem meia que usava.

Any- Bom dia! (saudou Any ao alcançar o balcão da recepção)

Atendente- Bom dia. Em que posso ajudar? (perguntou a atendente, diligentemente)

Any- O Dr. Henrique está atendendo hoje?

Atendente- Sim. É para você?

Any- Não. Não.

A morena se voltou para trás e olhou para Josh que, retornando à realidade, descruzou os braços e pigarreou, a fim de dizer algo, mas Any disse primeiro:

Any- É pra ele.

A atendente olhou de relance para Josh, esboçando um certo desdém, e então lhe entregou uma prancheta com um formulário.

Atendente- Preencha isso. (disse ela indiferentemente, deixando o balcão e entrando em uma porta ao lado)

Tanto Any quanto Josh haviam notado o olhar da atendente e, ao vê-la sair, trocaram rápidos olhares. Então, apoiando a prancheta sobre o balcão, o jovem rapaz se colocou a preencher o formulário.

De repente, Josh se voltou para a morena, dizendo:

Josh- Só vai ter um problema.

Any- Qual?

Josh- Eu não tenho endereço, nem telefone de contato e nem sei o número do meu documento de cor.

Any observou o formulário e, no mesmo instante, a atendente retornou, ainda com seu semblante desconfiado.

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