A Lei e o destino

By GislianeRodrigues

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Há muitos anos os reinos se uniram em um concílio para determinar leis universais que mantivessem a paz e a o... More

Prólogo Parte I
Parte II
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
CAPÍTULO V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX

Capítulo XVII

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By GislianeRodrigues

Foi preciso esperar um bom tempo para conseguir falar com o capitão da guarda real. Aparentemente ele não estava por perto e foi necessário insistir para que os soldados finalmente decidissem procurar por ele e avisar que ela o aguardava. Finalmente, ele apareceu, vestindo o uniforme usual e ladeado por seus homens. Toda aquela formalidade e seriedade intimidaram Alana um pouco, mas ela se manteve firme e decidida.

Ao se aproximar dela, porém, toda a imponência do cargo e importância sumiram de Gustavo e ele sorriu. Um sorriso íntimo e empolgado.

─ Que surpresa agradável! Não sabe como me alegrou saber que queria falar comigo, Senhorita Durval. Eu estava mesmo procurando oportunidade para te encontrar.

─ Sir Mach, vim porque tenho um assunto urgente a tratar.

Ele a observou por um momento, ainda com o olhar acolhedor e empolgado. Então fechou um pouco o semblante e disse: "Vamos para um lugar mais privado."

Ele tocou em suas costas levemente e a conduziu a uma sala pequena onde se sentou e indicou uma poltrona para que ela fizesse o mesmo.

─ Espero que você e sua mãe estejam bem. A rainha se agradou do quadro?

─ Sim, ela ficou muito satisfeita. Minha mãe disse que ela esteve visitando as obras hoje e comentou sobre o quadro, disse que gostou muito.

─ Que bom. E você conseguiu esconder o defeito?

─ Consegui. Ninguém suspeita que foi rasgado. – Eles sorriram, cúmplices.

Alana se remexeu na poltrona, desconfortável de repente. Gustavo a encarava insistentemente, sorrindo com os olhos.

─ Não quero tomar seu tempo, me perdoe por ter insistido em te chamar, mas tenho uma notícia importante e só consegui pensar no senhor. Não confio em mais ninguém.

─ Mesmo? Estou honrado.

Ele também se remexeu na cadeira. "É uma evolução e tanto, para quem me queria longe e não aceitava receber minhas ordens."

Ela mordeu os lábios, envergonhada, de repente.

─ Sim, realmente devo admitir que fui orgulhosa. O senhor provou ser um homem nobre e confiável.

─ Fico feliz em saber disso. Eu também estava errado sobre você. É muito mais determinada e independente do que eu imaginava. Você me surpreendeu, senhorita Durval, com sua coragem e mesmo sua petulância em me enfrentar. Gosto disso, mas não conte pra ninguém.

Ela deu um sorriso discreto.

─ Desde que chegamos não tivemos oportunidade de nos encontrar, ele continuou, e durante a viagem não tive chance de lhe falar a sós. Venho guardando isso para te dar faz um tempo.

Ele tirou um objeto do bolso e entregou para ela. Alana recebeu relutante, um lenço branco que cobria um objeto fino e duro. Ela abriu o lenço e então deu um grande sorriso. Era o pente revestido de madrepérola pelo qual ela se encantou na feira em Porto Velho. Ele tinha reparado!

─ Por favor, me permita.

Ele pegou o pente de suas mãos e, cuidadosamente, encaixou-o nas mechas de seu cabelo. "Lembro bem do vendedor dizendo que você tinha o cabelo mais lindo que ele já viu. Concordo plenamente com ele. - Gustavo dizia isso enquanto desprendia as mechas para que o enfeite se destacasse de um lado e as ondas caíssem como cascatas douradas do outro. – Você tem o cabelo mais lindo que já vi, mas ainda assim é apenas uma bela moldura para a verdadeira obra de arte. "

E então ele olhou em seus olhos, sério.

Alana enrubesceu tanto que precisou desviar os olhos e até mesmo o rosto. O que estava acontecendo? Ela foi até ali para ajudar Henrique e de repente o capitão a recebia com presentes e elogios?

─ Obrigada. De verdade, estou lisonjeada por ter observado e se importado a ponto de me presentear. Não precisava.

─ Seria uma pena deixar aquele pente lá, sabendo que ele foi feito para te enfeitar.

Aquilo estava ficando muito embaraçoso e Alana se apressou a entrar no assunto que a trouxera até lá.

─ Eu vim aqui te pedir ajuda, Sir Mach. O príncipe corre perigo.

─ O príncipe? – Ele se endireitou, sério, mudando completamente a fisionomia.

─ Sim, senhor. Minha mãe, por acaso ouviu uma conversa quando vinha para o palácio agora há pouco. Ela não queria se intrometer, mas quando entendeu do que se tratava precisou prestar atenção. Estão tramando emboscar o príncipe na estrada quando ele sair de viagem amanhã. Eles pretendem matar o príncipe e fingir que era um assalto. Por favor, o senhor é o único que pode impedir isso.

─ Eles quem?

Alana baixou o olhar, perturbada. Não podia revelar o nome da princesa. Seria sua palavra contra a dela. Ela jamais venceria. O importante aqui era salvar a vida do príncipe. Encontrar e condenar os culpados cabia ao capitão. "Não sei. Minha mãe não conseguiu ver quem era, mas ouviu toda a conversa. O senhor precisa acreditar, ela nunca inventaria uma coisa dessas!"

Ele respirou fundo. Então pousou as mãos nas coxas, com um impulso e se levantou. Alana fez o mesmo.

─ Muito bem. É preciso agir. Vou agora mesmo falar com o príncipe.

─ Não acho que seja a melhor solução. Me perdoe por me atrever a opinar, mas o príncipe não acreditaria e ele não gosta de viajar com comitiva. Se fizerem um grande alarde, talvez desistam de atacar agora, e aí podem tentar uma outra vez e o senhor nunca saberá quando. Não seria melhor fingir que não tem essa informação e esperar eles atacarem? Assim consegue pegá-los em flagrante e descobrir quem é o mandante do crime.

Ele a encarou admirado. "Você é um gênio!"

Então tomou sua mão, num repente e a beijou lentamente.

─ Se estiver certa quanto a isso, acabou de salvar a vida do príncipe, Alana. Você me surpreende cada vez mais. - Ele se recompôs. – Vou fazer como você sugeriu. Não vou avisar ninguém e reunirei alguns homens. Nós vamos seguir o príncipe de perto, mas discretamente e se alguém aparecer estaremos preparados.

─ Obrigada. Espero que minha mãe esteja enganada e isso não passe de uma suspeita boba.

─ Não se pode ignorar algo assim. Obrigada por avisar.

Ela curvou a cabeça e se retirou. Aquilo foi muito mais intenso do que previa. Não sabia se seu coração batia acelerado de medo por Henrique ou de vergonha do capitão.

A discreta comitiva do príncipe deixou o palácio nas primeiras horas do dia. Apenas uma carruagem e dois cavaleiros da guarda real seguiam atrás. Dentro da carruagem, Henrique lia algumas anotações, sozinho com seus pensamentos.

Fazia tempo que ele estava nessa rotina corrida de viagens e compromissos sem fim. Estava grato por se manter ocupado e suas horas de lazer eram preenchidas com visitas ao primo em Rollinston. Mas mesmo essas visitas o entristeciam um pouco, porque o castelo estava cheio de lembranças.

Emma o convenceu a inscrever seu cavalo Trovão nas corridas, o que muito agradou Lady Stein. Ela foi cumprimentá-lo na última vez que Trovão ganhou. "Eu sabia que seu cavalo era um vencedor!", ela disse. Henrique desconversou e foi embora o mais cedo possível. A lembrança de sua última conversa com ela no festival de caça ressoando nos seus ouvidos. Agora ele estava prestes a ficar mais um tempo ausente. Era uma fuga, porque Odete vinha tocando no nome de Elizabeth sempre que tinha chance. Ele sabia que não podia fugir para sempre, porém. Estava sendo pressionado a se casar. Depois que tinha quase se casado por amor, um casamento por obrigação não era nenhum pouco atraente, por mais bonita que Elizabeth fosse.

A paisagem lá fora começou a mudar de urbana para rural, com a estrada de terra se fechando em uma mata densa e verde, o barulho das rodas rivalizando com os inúmeros cantos de pássaros ao redor. Estava um dia quente e seco e Henrique limpou o suor da testa. Ele gostava de viajar, mas às vezes a solidão e o tédio o irritavam.

Estavam rodando há dois dias tinham parado apenas para dormir e descansar. Seguiram viagem assim que amanheceu e agora, já de tarde, o sol estava no alto do céu, sozinho ali sem nuvens. Henrique tirou o casaco e puxou as mangas da camisa pra cima. Ainda faltava um tempo até chegar na próxima estalagem, mas estava ficando insuportável ali dentro. Então a carruagem parou. Ele se sobressaltou e olhou para fora, indagando: "O que foi?"

Então viu cavaleiros mascarados cercando-os. O cocheiro ergueu as mãos e soltou as rédeas. Mas os cavaleiros da guarda desembainharam as espadas e se prepararam para o ataque. Henrique desceu rapidamente da carruagem, não sem antes pegar a própria espada e se preparar para enfrentar quem quer que estivesse atrás daquela máscara diante dele.

─ Saiam do nosso caminho.

Os cavaleiros misteriosos não responderam e apenas incitaram os cavalos em sua direção. Henrique os encarou, determinado, mas uma olhada rápida em volta foi suficiente para o preocupar. Eles estavam em menor número. Bem que o rei insistia para ele levar mais reforços nas viagens, mas nunca pensou que esse tipo de coisa realmente pudesse acontecer.

Ele estava em desvantagem, ali, de pé, enquanto seu inimigo se sustentava do alto do cavalo. O homem avançou contra ele e investiu a espada num rompante, mas o reflexo de Henrique não falhou e ele parou a espada com a sua bem a tempo.

Então o homem apeou do cavalo e a luta começou. Ambos brandindo suas espadas com força e agilidade. O cavaleiro, porém, estava em vantagem e Henrique percebeu que não era o único lutando. Os soldados que o escoltavam lutavam bravamente, mas tinham que enfrentar mais de um, pois estavam em menor número e o próprio Henrique percebeu outro cavaleiro se aproximar à sua esquerda, se preparando para lhe dar um golpe certeiro na costela. Ele estava ocupado, se defendendo dos golpes pesados de seu agressor e pensou, num milésimo de segundo que era o seu fim. Antes que o homem o alcançasse, porém, foi interceptado por um cavaleiro da guarda real, que milagrosamente surgiu das sombras. Outros cavaleiros da guarda real, inclusive o próprio capitão da guarda apareceram e começaram a derrubar alguns dos assaltantes.

"Graças a Deus", pensou ele. Não sabia de onde surgiram os guardas, mas estava tão grato que não parou para pensar. Concentrou-se no seu oponente, que golpeava cada vez mais forte e com mais raiva, ao perceber que sua vantagem tinha diminuído.

"O que você quer?", perguntou Henrique em meio aos estalos das espadas. Ele andava para trás enquanto o homem avançava, encolerizado. Os seus companheiros caíam um a um e agora eram os homens de Henrique que estavam em maior número.

─ Você vai morrer!

O homem continuava avançando contra ele, cada vez mais irritado, mas então, quando percebeu que ele mirava seu peito e investia a espada em posição vertical, Henrique usou o declínio do terreno para se desviar para a direita deixando o homem golpear o vazio. Ele então girou sua espada para a esquerda na diagonal golpeando de lado e atingindo o homem direto na costela. Ele deu um gemido agudo e caiu no chão.

─ Alteza, o senhor está bem?

Gustavo correu em sua direção ao perceber que ele tinha tudo sob controle. O homem sangrava, com a mão na ferida. O corte foi profundo e havia uma profusão de sangue jorrando no chão. Algum órgão foi atingido, mas pelo visto, não era vital, pois ele provavelmente sobreviveria.

─ Quem te enviou? – indagou o capitão da guarda, com a espada apontada para a garganta do homem.

─ Eu não vou falar. Pode me matar.

─ Ah, mas você vai falar. – Gustavo tirou a máscara do homem, que olhou para ele com arrogância. Era um rosto desconhecido.

─ Nunca vi tantos assaltantes assim de uma vez na estrada! – Henrique comentou, recuperando o fôlego. – Se não fosse por sua ajuda estaríamos todos mortos agora, eles não tinham intenção de nos poupar.

─ Não eram assaltantes, alteza. Eram assassinos. Vieram te matar.

─ O quê?

O homem ainda estava caído no chão, ouvindo a conversa com o olhar revoltado da derrota. Sua aposentadoria estava perdida. Agora se sobrevivesse ainda assim morreria enforcado. Maldita lady egoísta!

─ Como soube disso? E por que eles queriam me matar? – Henrique continuava atônito. Ele tinha feridas sangrando por todo o corpo, mas nada sério.

─ Fui avisado. Soldados, gritou para o grupo que tinha vindo com ele, levem esse homem com vocês. Ele está ferido, mas não morreu e precisamos tirar dele o nome do mandante do crime.

Os soldados obedeceram e carregaram o homem ensanguentado para longe dali.

─ Tenho que voltar para Salícea. Não posso prosseguir minha viagem sabendo que sofri um atentado.

─ Sim, alteza. Nós o escoltaremos de volta.

─ Por favor, venha comigo na carruagem e me explique direitinho essa história.

Gustavo pediu para um dos homens levarem seu cavalo e fez o que Henrique pediu. Ele estava assustado, apesar de tentar aparentar calma, mas Gustavo percebeu que ele ainda estava sob efeito da adrenalina.

─ Alteza, tente relaxar e descansar um pouco. Temos muitas horas pela frente, posso te explicar tudo depois.

─ Não. Por favor, Sir Mach. Me conte tudo agora. O que está acontecendo?

─ Não sei exatamente, alteza, que tipo de intriga é essa, mas vamos descobrir. Ainda bem que o senhor não feriu aquele homem mortalmente, porque precisamos dele vivo para nos contar quem está por trás disso.

─ Você não sabe?

─ Não sei de nada, alteza, infelizmente. Assim que chegou ao meu conhecimento que o senhor corria risco, vim direto lhe prestar socorro com reforços e seguimos sua comitiva discretamente para conseguirmos prender os malfeitores e descobrir mais sobre isso.

─ Então me seguiu a viagem toda?

─ Sim, alteza. Estávamos a uma boa distância, mas coloquei sentinelas mais perto e camuflados para me avisar de qualquer movimento suspeito.

─ E como soube dessa emboscada?

─ A senhorita Durval, a decoradora do palácio, me procurou. A mãe dela ouviu um diálogo suspeito e achou melhor avisar, porque parecia sério. Eu não quis correr riscos também e ainda bem, porque ela estava certa.

─ Alana te avisou?

Gustavo confirmou com a cabeça. Henrique sentiu uma pontada no peito. Fazia tempo que não citava esse nome ou se arriscava a pensar nela.

─ A senhora Durval foi quem escutou a conversa, mas segundo ela, não soube identificar as pessoas, só ouviu as vozes. Por isso não sabemos quem mandou. O que sabemos é que se a conversa ocorreu no palácio, o mandante do crime com certeza é da nobreza.

─ Quem iria querer me ver morto, meu Deus?

Henrique colocou a mão na testa, nervoso.

─ Fique calmo, alteza. Vamos descobrir quem foi.

A comitiva, antes pequena, agora seguia robusta. Todos muito concentrados e calados, diante da gravidade da situação.

O palácio real estava em polvorosa. Os artistas, músicos e atores que iriam se apresentar no sarau da rainha estavam todos lá, com suas roupas espalhafatosas e seus admiradores. Vieram ensaiar antes da apresentação, que ocorreria em uma semana. Carine e Alana tinham sido instruídas a acompanhar o ensaio e orientar os artistas sobre a localização do palco, os horários e toda a programação do sarau.

A corte estava em peso no salão, acompanhando os ensaios. Era como uma apresentação particular, sem tantos aparatos e formalidades. Estavam curiosos e agitados, mas os artistas pareciam não se importar com a plateia inesperada.

Entre os nobres reunidos ali, bem na entrada do salão estava Samara e sua enteada, conversando.

─ Fiquei surpresa com seu convite para passar uma semana aqui com você, madrasta. Desde que me casei só recebo cartas com notícias, nunca convites.

─ Ora, Brenda. Já que o sarau vai acontecer em uma semana mesmo, achei que você poderia vir um pouco antes pra aproveitar mais. Faz tempo que não nos vemos e quem sabe o que pode acontecer por aqui durante esses dias?

Brenda assentiu e tomou um gole da bebida que segurava. Ela realmente tinha estranhado o convite inédito da madrasta, mas não desconfiava do real motivo por que estava ali. Samara sabia que a qualquer momento chegaria ao palácio a notícia da morte do príncipe num assalto à comitiva e ela queria que Brenda estivesse lá para ouvir. É claro que ela nunca saberia quem estava por trás de tudo, mas pelo menos Brenda finalmente assumiria que Samara tinha acertado ao casá-la com Otávio, já que, sem Henrique, o rei não teria escolha a não ser optar finalmente pelo primo como herdeiro.

Um grupo de flautistas tocava no palco montado pelas decoradoras. Carine e Alana conversavam com a rainha, se certificando de que estava tudo conforme ela exigia. Alana tomava nota de cada observação da rainha e cada último detalhe e alterações a serem feitas. As duas, assim como Samara, disfarçavam muito bem a ansiedade em descobrir o desfecho da viagem do príncipe. Já haviam se passado alguns dias desde que ele partira e Alana começava a se arrepender da ideia que deu ao capitão. E se algo desse errado? Talvez tivesse sido melhor avisar o príncipe, mesmo com o risco de nova tentativa no futuro, porque pelo menos agora ela teria certeza de que ele estaria bem. Não estaria sentindo esse incômodo quase em forma de dor no estômago de tanto medo, ansiedade e expectativa.

Os flautistas terminaram o ensaio e foram aplaudidos. A rainha estava muito empolgada, ela era uma entusiasta das artes e tinha certeza de que o evento seria um sucesso, pela reação dos cortesãos, empolgados com as apresentações. Seria bom ter algum entretenimento diferente naquele lugar.

Então, quando o grupo de atores entrou no palco e um deles iniciou um monólogo, começou um movimento diferente na entrada do salão. Alguns dos cortesãos voltaram sua atenção para fora, ao invés de continuarem assistindo o que acontecia no palco. Então, um corredor entre eles se abriu e o capitão da guarda apareceu, afoito. Ele parecia tão sério e tenso que a rainha fez sinal para o ator se calar. Samara sentiu o coração acelerar e deu um sorriso malicioso, enquanto aguardava o homem proferir a fatídica notícia.

─ Majestade, iniciou o capitão da guarda enquanto se curvava, desculpe interromper, mas preciso te pedir uma audiência privada.

─ O que aconteceu? – A rainha fechou o semblante em agonia.

─ Tivemos que voltar, majestade, por causa de um incidente na viagem.

Ele olhou para Alana, que estava no canto do salão, apertando as mãos e tranquilizou-a com o olhar. Ela respirou fundo e então apertou a mão da mãe.

─ Um incidente? Oh meu Deus!

A rainha colocou a mão no coração, mas então viu entrar, entre as pessoas, o príncipe Henrique. Ela correu na direção do filho e tomou suas mãos. "Henrique, você está bem?"

Na lateral do salão, esticando o pescoço para se certificar de que não tinha delirado ao ouvir o nome do príncipe, Samara sentiu que ia desmaiar. A princesa correu, sem disfarçar por entre os nobres e então viu com os próprios olhos, o que para ela tinha que ser um fantasma. "Ele está vivo? Não é possível!"

─ O que está acontecendo? – Brenda se aproximou, curiosa, mas Samara não tinha cabeça nem para olhar para a enteada, quanto mais responder.

Brenda não sabia em que direção olhar, porque, apesar de parecer que Henrique tinha sofrido um acidente, ao lado do palco o que acontecia também a deixou intrigada. Discretamente, o capitão da guarda tinha se aproximado daquela famigerada decoradora, a antiga amante do príncipe e conversava com ela com uma intimidade desconcertante! O sangue de Brenda ferveu. Já não bastava ter roubado o coração de Henrique dela, aquela insignificante agora cortejava Gustavo, que desde sempre tinha sido seu mais fervoroso admirador!

Brenda apertou os olhos, furiosa. Do outro lado do salão, o alvo de sua cólera, ignorante de tudo, agradecia o capitão com os olhos marejados.

─ Graças a Deus deu tudo certo, Sir Mach. Não sabe o medo que estávamos sentindo.

─ Graças a vocês. – Ele se dirigiu à Carine também e curvou a cabeça em um sinal de respeito e gratidão. – Saibam que me certificarei de informar a rainha sobre a participação de vocês nisso tudo.

─ Não fizemos mais que a obrigação, senhor. – Objetou Carine.

Gustavo se dirigiu à Alana:

─ Você estava certa. Com essa operação, conseguimos impedir o pior e ainda temos a chance de descobrir quem está por trás desse absurdo.

─ Então ainda não sabem quem foi.

─ Não. Mas não demorará até que o prisioneiro fale.

Gustavo se calou, porque agora Henrique se aproximava. Atrás dele a multidão se dispersava, já que o ensaio obviamente tinha sido cancelado e a rainha tinha se retirado. Sobraram poucas pessoas no salão, apenas. Brenda estava entre elas, assistindo incrédula, as decoradoras de repente estarem ladeadas pelo capitão da guarda e agora também pelo príncipe! Ele tinha ido direto para elas, nem olhou para os lados. Assim que a rainha se retirou, Henrique se dirigiu até onde se encontrava o trio e, sem nenhum pudor, tomou as mãos de Alana e as beijou, uma por uma.

Gustavo então pediu licença e se retirou. Ao passar por Samara, que inexplicavelmente não conseguiu sair do lugar, cumprimentou-a com a cabeça, respeitosamente: "Alteza."

Samara sentiu um alívio tão grande que precisou se apoiar no braço de Brenda. Então ele não sabia! Com o coração aos pulos, ela correu na direção do capitão e, reunindo as forças, indagou:

─ Sir Mach. Pode me dizer o que aconteceu?

─ O príncipe sofreu uma emboscada.

─ Meu Deus! Que infortúnio! Mas ele parece bem.

─ Sim, por sorte fomos alertados antes e conseguimos impedir o pior.

─ Alertados? – A voz saiu um pouco mais aguda do que ela esperava, já que sua raiva e surpresa a dominavam.

─ Sim, alteza. Graças a Deus, alguém ouviu uma conversa suspeita e agora podemos descobrir o culpado disso tudo. Parece que o príncipe possui inimigos.

─ É, parece que sim.

Ela olhou revoltada em direção ao príncipe, que continuava conversando com as decoradoras.

─ Com sua licença.

"Foi ela!", pensou a princesa com os olhos vermelhos de raiva. Obviamente tinha sido ela, já que ambos, o capitão e o príncipe pareceram fazer questão de lhe dirigirem a palavra. Aquele beijo nas mãos foi obviamente um sinal de gratidão. "Ela me paga!" Mas primeiro, precisava se certificar de que os "assaltantes" estavam todos mortos.

─ Sabe de uma coisa? – Brenda disse enquanto se aproximava da madrasta. – Mudei de ideia. Acho que devemos usar aquela informação de Lady Sales, afinal. Sempre podemos fazer algum estrago na reputação do príncipe e com certeza o dano contra a criada será irreversível.

─ Que bom que acha isso, Brenda. Eu estava pensando a mesma coisa. Mas o que te fez mudar de ideia?

─ Não gosto dela.

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