Bexley Tales

By GabriellaFrattari

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A cidade de Bexley esconde verdades de seus cidadãos que a própria verdade desconhece. Isso, até que um supos... More

☁ Primeiro Ato ☁
☁ Galatia Gray ☁
☁ Colt Carlile ☁
☁ Angela Ashwood ☁
☁ Bay Batchmann ☁
☁ Marina Muller ☁
☁ Leon Lockhead ☁
Capítulo 1: Toda Garota Quer
Capítulo 2: P = U. i
Capítulo 3: Visões Que Só o Dinheiro Pode Comprar
Capítulo 4: Lobos Que Predam Esquilos
Capítulo 5: O Jeito Americano de Viver
Capítulo 6: O Que Bexley Vê o Coração de Colt Não Sente
Capítulo 7: Antes da Tempestade Vem a Calmaria
Capítulo 8: Bexley High
Capítulo 9: Mudança de Tempo
Capítulo 10: O Dia da Chuva
Capítulo 11: Antes Fosse Mais Um Romance
Capítulo 12: Z3R0 À Esquerda
Capítulo 13: O Começo Da Investigação Sobre Um Fim
Capítulo 14: Nada Mudou Mas Tudo Ficou Diferente
Capítulo 15: Guerra Sedutora
Capítulo 16: Reunião
Capítulo 17: Os Balthazar
Capítulo 18: Uma Noite Cinza
Capítulo 19: Confissões Desamorosas
Capítulo 20: Quebra de Expectativa
Capítulo 21: Parece Que o Jogo Virou
Capítulo 22: Dançar Conforme a Música
Capítulo 23: Monstro do Lago Champlain
Capítulo 24: Aquele Em Que O Colt Acorda de Um Coma
Capítulo 25: Esquenta
Capítulo 26: Quando as Máscaras Sobem
Capítulo 27: Quando as Máscaras Caem
Capítulo 28: Fugindo Do Controle
Capítulo 29: Novos Medos
Capítulo 30: Quem Ama Deixa Partir
Capítulo 31: Fechem As Cortinas
☁ Segundo Ato ☁
Capítulo 1: Até Uva-Passa
Capítulo 2: Dor de Coração
Capítulo 3: Tudo é Possível
Capítulo 4: Então Parece Que Temos Uma Máquina de Xerox Por Aqui
Capítulo 5: Quebra-Cabeça
Capítulo 6: Missão Impossível (De Resistir)
Capítulo 7: Ilusão Sob Culpa
Capítulo 8: Instantes Livres & Pensamentos Perigosos
Capítulo 9: ''C'' de Cac@#%!
Capítulo 10: Zero Nomes No Telão
Capítulo 11: Cedrick Carlile
Capítulo 12: Não Salvou O Dia
Capítulo 13: Qual o Nome Daquela Novela do Vampiro Mesmo?
Capítulo 14: Hortelã
Capítulo 15: Junt0s Pel0 Acas0
Capítulo 16: Noite de Não-Crimes
Capítulo 17: Trio Parada Dura
Capítulo 18: Amizades Reviravoltosas
Capítulo 19: Foragida
Capítulo 20: Mergulhos & Iscas
Capítulo 21: São Os Que Vem das Costas
Capítulo 22: Aquele Aonde A Vida Amorosa de Angela Salva o Dia
Capítulo 23: Aquele Aonde Ela Tem Que Lutar
Capítulo 24: Obsessão

Capítulo 25: O Conto de Bexley

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By GabriellaFrattari

Grandes Eventos.

Eles vem, eles sempre acabam vindo,

E aí, eles acontecem.

Acontecem cada um com sua cor, com seu sabor doce ou amargo, com sua duração longa ou excruciante, com seu teor tóxico ou sua áurea boa.

Como uma diversidade de possíveis acontecimentos em uma vastidão de espaço, escolhas e universos paralelos, a tarefa de descrever um grande evento é nada menos que díficil.

Mas o vazio característico que assola a humanidade constantemente entediada torna fácil a tarefa de saber quando um grande evento chega ao seu fim.

E por isso, no instante em que um grupo de jovens sujos por fuligem emergiram do bueiro vizinho à larga, e enigmática, ex-mansão da família Pang, rodeados pelas centenas de pessoas curiosas que esperavam aquele desfecho tanto quanto qualquer um de nós, ficou claro para a não tão pacata população de Bexley, que aquela história tinha vivido seu climax e agora desfazia-se em seu próprio final.

Leon Lockhead usou da vida que ainda sobrava em seu âmago para carregar a desanimada Galatia Gray até a superfície, sendo imediatamente aparado por Gisele, Gunther e a porção de paramédicos que tinha sido enviado ali caso o pior acontecesse.

Charles Carlile na outra porção da calçada infestada por observadores e Vigilantes, empurrou quem estivesse em sua frente para correr em direção ao filho mais novo. Fora Bay Bachmann quem o tirou da superfície, mas diferente de Galatia Gray, Colt tinha a pele pálida e os lábios arroxeados se contastrando com a camisa encharcada pelo próprio sangue.

A única esperança pendia em sua pele morna.

Sua pele ardente.

- Não... Meu deus, não... - Charles murmurava embaixo do próprio fôlego em meio a incompletas orações que proferia ao passar as mãos pelo rosto do primogênito.

Angela Ashwood e Blanche Balthazar foram as últimas, acompanhadas pelos Vigilantes que a pouco tempo atrás caçavam os outros dois rapazes do grupo.

Agatha e Alexzander esperavam por ela na calçada, mas a menina decidiu se manter no gramado que separava o bueiro da calçada interditada pelo público.

- Será que eles vão ficar bem? - Angela perguntou entre uma tossida e outra.

- Não sei - Foi a resposta de Blanche, que assistia os paramédicos carregarem Catherine Carlile por entre a multidão crucificadora - Eu... Espero que sim. Eu deveria ter sido mais cautelosa.

- Cautelosa? Como assim-

- Vamos conversar mais outra hora, preciso resolver umas coisas. Mande notícia dos dois se tiver alguma - Blanche disse, traçando seu caminho para longe dali.

- Ei! Espera aí! E a pist- - Angela tentou, mas Blanche já estava distante o suficiente para que o som dos curiosos fosse mais alto que aquele diálogo.

- Alô, Sra. Pang? Estou ligando para te reportar sobre a missão - Blanche falou em seu telefone enquanto caminhava contra a multidão para longe do Bairro dos Lustres.

Rogers invadiu a faixa amarela isolante para aparar o filho, Bay, com um abraço intenso.

A avó de Leon, Leta, não tardou em dar uma bronca em dois Vigilantes para que também pudesse se aproximar do neto. Alívio transbordando de cada uma daquelas interações. Felicidade emanando de cada uma daqueles pais e avôs, com excessão de Charles Carlile, que soluçava ajoelhado na calçada enquanto o único filho que não tinha perdido para a vida era carregado para o hospital de emergência.

Mas isso faz parte dos grandes eventos e seus grandes finais:

Eles sorriem apenas para alguns.

Uma semana depois

A correnteza do lago traçar seu caminho natural entre as gramíneas. Carregava pequenas folhas secas que não resistiram o calor do verão.

Carregava o túmulo de alguém que teve a vida interrompida de modo tão injusto.

Galatia Gray assistiu aquilo com o coração pesando contra o peito. Com a garganta apertada. Com os punhos fechados e o olho marejando.

Típico de quem não concorda com uma decisão do acaso.

E assistir ele, que era tão jovem, que era tão bom, que era tão vivo, ser reduzido a uma porção de poeira sendo levada pela correnteza, era nada mais que injusto.

Galatia passou os olhos por aquela porção de pessoas vestidas de preto, perguntando para si mesma se sentiam o mesmo que ela.

Antes que pudesse cair em um soluço intenso, uma mão a envolveu pelas costas em consolo.

- Se eu soubesse que você ia chorar tanto no final de Ultimato eu ia ter pedido para a enfermeira colocar outro filme - Colt Carlile disse. A graça estampada em seus lábios e no jeito que balança o pé alegre.

- Eu não sabia que o homem de ferro ia morrer! - Se defendeu - Isso é um absurdo!

Sua defesa fez Colt cair de vez em uma gargalhada proveitosa. Os dois dividiam o pequeno espaço da cama hospitalar do rapaz para assistirem filmes, contra a indicação da enfermeira Lucy, que pedia insistentemente para que Galatia se sentasse em uma das cadeiras.

Colt, pelo que os médicos chamaram de "milagre" tinha sobrevivido a um tiro que raspou a borda superior de seu estômago. Sua maior sequela, e a pior (de acordo com o próprio), seria ter que se alimentar por comida não-sólidas pelo resto do mês.

"Parece cocô mole" Era a frase que usava para descrever a sopa de feijão do Hospital Regional de Burlington.

- Eu achava que já tava na hora de ele morrer, agora a Viúva negra... - Foi a vez de Cedrick, que também teimava a enfermeira Lucy em sair demais do seu quarto para visitar o do irmão, comentar - Como é que matam a linda da Scarlett Johansson?!

- Hora de ele morrer?! - Galatia rebateu em choque - Tá falando sério!? Ele era o melhor, acabou de ter uma filha!

- Eu fiquei triste pelo capitão América... - Colt opinou.

Dois toques ecoaram da porta interrompendo a sessão de spoilers.

Rogers Bachmann em toda sua estrutura robusta e cabelos ruivos se colocou para dentro. Nas mãos, segurava um balão murcho que dizia "melhoras" em letras garrafadas.

- Me desculpe pela demora da visita, garoto... Acho que você deve ter imaginado como se passaram essas últimas semanas - Seu tom de voz era rígido e carregava uma envelhecida timidez que fez Galatia se perguntar se Bay era adotado.

- Eu imagino, Sr. Bachmann - Colt disse, ele próprio tensionado. Não pela visita do homem, mas pelo que ela significava - Eu imagino como a parte burocrática do final da investigação sobre a... Bem...

- Costuma ser garoto - Rogers poupou-o de falar - Infelizmente perante a nossa justiça o acontecimento dos bueiros e todos os jovens de testemunha não são suficientes para provar e colocar alguém na cadeia. Era preciso mais provas, mais documentação... Mais evidências...

- E vocês ainda não tinham isso contra a Catherine - Galatia deduziu.

- Nós não tínhamos. Ela passava longe da nossa lista de suspeitos... Mas acontece que outra pessoa tinha feito toda essa investigação antes de nós, e conseguiu um dôssie todo em cima de vocês Carlile, que vai facilitar muito nosso processo - Rogers disse.

- Outra pessoa? - Foi a vez de Cedrick.

- Pois é... Quase um milagre! Bem, essa própria pessoa fará questão de se apresentar quando a ocasião for propicia. Mas chegando logo no ponto, sua irmã... A Catherine... Ela foi levada hoje para a penitenciária - Anunciou.

Colt lançou um breve olhar para Galatia. Um que equilibrava uma profunda soturnidade e uma sensação de dever comprido.

A tristeza, entretanto, era quem se destacava.

- E... Ela falou mais alguma coisa? - Colt perguntou.

- Não... Continua em uma greve de silêncio desde o dia em que saiu do hospital. E é por isso que eu vim aqui. Escutei falar que você vai receber alta amanhã, e pensei que você poderia tentar falar com ela... Tentar fazer a Catherine falar. As informações que nós temos a respeito do que realmente aconteceu nas noites dos assassinatos é inexistente, ainda. Nós acreditamos que você é a única pessoa que pode... Tirar algo da boca dela.

- Você acha mesmo que ele tá' em condições de falar com ela? - Cedrick esticou as costas na poltrona, defensivo.

- Não precisa ser agora. Mas seria vital para a nossa investigação. Não só o depoimento dela como o seu também. Seria importa saber sobre o que aconteceu na noite em que você foi dopado, garoto - Rogers disse.

- Eu não me lembro de nada que aconteceu naquele dia depois que o Colt me deixou denovo na clínica. Eu já disse - A impaciência crescia em sua tonalidade.

- Sr. Bachmann... Assim que eu estiver mais disposto... Da saúde, digo... Eu vou contatar você para... Para eu conversar com ela - Colt disse.

- Ótimo - Rogers disse de forma soturna. Sabia que seu pedido não era ótimo, mas era o melhor que poderia ser.

- É sério isso? Colt - Cedrick contrapôs.

- Eu vou conversar com ela - decidiu, firme - É o único jeito de sabermos o que aconteceu com todas aquelas mulheres... É o único jeito de tentar confortar as famílias delas...

Rogers assentiu uma última vez antes de se despedir. Cedrick, contrariado, inventou que iria comprar comida na cantina do outro bloco. Galatia, que ainda estava ao lado de Colt, acariciou suas costas, em conforto.

Nada daquele desfecho parecia ''ótimo''. Era como se ambos e toda a cidade esperassem que quando a verdade viesse a tona, todos aqueles assassinatos fariam mais sentido. Era como se ainda houvesse esperança de que cada uma das vítimas voltaria para casa. Voltariam a caminhar pelos corredores de Bexley High. Voltariam à vida.

A verdade cruel era que o mistério tornava toda aquela tragédia eletrizante e esperançosa.

Três dias depois

- Surpresa!!!

Confetes coloridos e estalinhos barulhentos ecoaram do quintal da residência dos Carlile no instante em que Colt atravessou a porta de entrada.

- Bem-vindo de volta, filho - Charles foi o primeiro a abraça-lo entre os convidados, fazendo o menino se perguntar qual tinha sido a última vez que o pai tinha feito aquilo.

Dava-se início à comemoração pela volta de Colt.

˜

- Ai o Vigilante apontou a arma para nós dois! - Bay contou enquanto balançava animado uma garrafa de cerveja aos céus - Eu achei que ia morrer!

- Deixa eu contar essa parte agora de agora - Leon tomou o assunto - Ai eu sai correndo pelo túnel, no escuro!

- Uau - Cedrick debochou.

- Você só fala isso por que não estava lá - Foi Bay quem defendeu - Foi horrível! Imagina em quantas baratonas eu pisei, sem querer - o ruivo fez cara de nojo. Colt soltou uma risada.

- A Angela e a Blanche não vem? - Galatia perguntou.

- Eu não sei... Eu não falo com nenhuma das duas desde o dia do túnel - Bay explicou - Mas nós mandamos convite para elas.

Assim que o rapaz terminou sua frase luzes vermelhas e azuis invadiram as largas janelas do casarão roubando atenção para a rua da frente. Seguido dele, quase de imediato, a irritante sirene Vigilante ecoou pelo Bairro dos Lustres, fazendo aquela porção de jovens traumatizados correrem até a frente da casa.

- Mas o que...?

Do carro do Delegado Roger, desceram as convidadas que faltaram: Blanche Balthazar e Angela Ashwood. A segunda parecia acanhada como um animal silvestre, estranhamento que foi explicado quando Rogers e seus homens bateram na porta da residência Ashwood com sangue nos olhos.

Do outro lado da rua, Bay, Cedrick, Colt, Leon e Galatia assistiram confusos aquela sequência de cenas. Blanche com as mãos no ombro de Angela parecia a preparar para o que estava prestes a acontecer.

Com a porta dos Ashwood se recusando a ser aberta, Rogers foi quem deu o chute fatal contra a entrada. Assim que a porta cedeu, ele e os homens invadiram a casa e ali ficaram por alguns poucos minutos. Gritos cujos Galatia Gray julgou pertecer a Agatha Ashwood repercutiram pela vizinhança.

- Angela! - Leon não resistiu em atravessar a rua e alcançar a menina, que assistia aquilo tudo com lágrimas pesadas escorrendo pelo rosto vermelho.

Galatia não tardou em seguir Leon e fazer o mesmo.

- Isso é um engano! Isso é uma loucura! Me soltem agora! Vou demitir todos vocês, vou acabar com sua vida seu filho da puta!

Alexzander, em seu pijama e cabelos arrepiados foi carregado algemado pelas costas, para fora de sua própria residência. O homem que emitia mais grunhidos sem sentido que profanidades, se comportava de forma tão brutal que nada se parecia com a imagem de prefeito que portava para o resto de Bexley.

- Caralho... - Bay deixou escapar, assim que também atravessou a rua e se juntou ao grupo de amigos que protegiam Angela em um círculo.

- Você... Foi você que inventou essa mentira! - Alexzander vociferou assim que identificou a filha na calçada. Angela se encolheu, trêmula - Sua maldita! Sua vaga-

Antes que pudesse completar a frase o homem recebeu um soco generoso no rosto.

- Eu sempre quis fazer isso - Confessou o Delegado enquanto recolhia o punho de volta para si e enfiava o prefeito de Bexley dentro da viatura. Os vizinhos curiosos tiravam fotos pelas janelas daquela cena que protagonizaria o jornal da manhã seguinte.

E como um incêndio que vai cedendo contra a água gelada, as viaturas desaparecesseram e o silêncio voltou a reinar no bairro mais nobre da cidade.

- Angela... Você tá bem? - Leon aparou-a com um abraço, mas a menina foi capaz de formular frases de trás do choro.

- Ela vai ficar - Blanche assegurou - Alexzander Ashwood vai ser preso por violência doméstica, abuso de menor, omissão de socorro, injúria verbal, denunciação caluniosa, falso testemunho... E um caralho à quatro.

- O quê!?

Angela, com o rosto escorado no peito de Leon Lockhead assentiu à todas aquelas informações.

- Em outras palavras... Além de mentir para a busca que iria te resgatar - ela se voltou para Galatia - Atentar contra a própria filha, o Alexzander sabia bem que a Marina não tinha nada haver com os assassinatos e incriminou o nome dela para proteger o verdadeiro motivo pelo qual ela tinha que ficar de boca fechada - Blanche disse.

- Eles estavam tendo... Um caso - Angela completou.

- Um caso!? - Leon e Galatia cobriram os lábios quase em uníssono - Aonde ela está então!?

- Ela está, nesse exato momento, em um avião vindo do Texas de volta para Vermont. Com os assassinatos e algumas peripécias da Angela, a família Ashwood toda passou a ser investigada pela polícia, tornado mais fácil que o caso entre o prefeito e uma menina menor de idade viesse à tona e acabasse com a carreira e reputação dele. Por isso, Alexzander a ameaçou e a coagiu a ficar na sua casa de família, Angela, e não entrar em contato com ninguém - Blanche explicou - até que a poeira abaixasse aqui na cidade, ou ele conseguisse incriminar a Marina e se livrar dela de uma vez.

- Então era por isso que ela vivia vindo para o Bairro dos Lustres... Por isso que o Aiden disse aquilo - Bay juntou os fatos.

- Então... O cara de Nova-Iorque que a Marina ficava era... Era o prefeito? - Leon apertou os lábios enquanto mil pensamentos corriam por sua cabeça - Eu sabia que ela gostava de caras mais velhos... mas...

- Isso ela mesma vai poder explicar para vocês, assim que ela estiver de volta - Blanche assegurou. Tudo o que eu sei é que o caso dos dois fugiu do controle paralelos aos feitos da Catherine, mas que ambos os crimes não se cruzaram.

- Blanche Balthazar - Colt chamou por ela, intrigado. Nos olhos cinzas havia um brilho curioso que àquela altura Galatia conhecia bem - Quem é você?

Blanche soltou uma pequena risada. Leon estranhou por que nem se lembrava de já ter visto os dentes da menina. Menina? Naquele momento ela não parecia uma menina. Havia uma energia matura rodeando seu peculiar jeito de ser.

- Bem... Acho que a essa altura não tenho mais porquê mentir.

- Você é o Zero!? - Leon tentou.

- Que? Não! Eu... Bem... Acho que vocês devem ter escutado falar que a Pok-too Pang contratou um detetive particular. Sei disso por que foi porque esse rumor custou a vida da Poppy Portella - começou.

- Sei...

- Acontece que ela não contratou só um... Ela contratou quatro.

- Os Balthazar - Colt deduziu em cheio, Blanche não resistiu em sorrir mais uma vez.

- Exato. Ela queria que o serviço fosse feito com uma excelência que os Vigilantes patéticos de Bexley não foram capazes de alcançar com um ano inteiro de investigações, tanto que foram ultrapassados por um bando de adolescentes. Então por isso, eu meus outros dois colegas de trabalho interpretamos o papel de família nesses últimos meses.

- Até o seu irmão mais novo!? Ele brincava com a minha irmãzinha todo final de semana! Brincava com o Gabe também! - Leon perguntou com os lábios escancarados em descrédito.

- Ele é meu irmão de verdade, mas ele é bem útil em investigações - explicou - Foi ele quem levantou a suspeita contra família Carlile para começo de conversa. Levantou a suspeita, à princípio, em cima de você, Colt.

- Faria sentido, já que eu estava na porta da casa da Pao no dia em que ela foi assassinada - Colt assentiu.

- Você era muito esperto para ser tão inocente, e sempre se encontrava nos lugares mais suspeitos. No dia do baile de máscaras o Bernard, meu ''pai'' - ela fez aspas com os dedos - ficou encarregado de te manter longe da Galatia. Nós realmente achávamos que você era o responsável pelos assassinatos.

- Eu me lembro disso... - Galatia cobriu os lábios com as mãos.

- Foi por isso que você me chamou para dançar, então!? Você queria um disfarce para sair investigando a pista de dança?! - Leon tentou mais uma vez, entusiasmado.

- Não. Eu só queria dançar mesmo - Blanche abriu uma careta como se aquilo fosse óbvio.

- Era por isso que você sabia desmaiar pessoas com extintores de incêndio e tirou uma pistola da bota - Foi a vez de Angela afirmar, pois foi a primeira a descobrir sobre a verdadeira identidade de Blanche.

- Por fim... Como nós tinhamos uma suspeita contra a sua família conseguimos montar um dôssie muito bom a respeito da vida de cada um de vocês, o que facilitou com que a prisão da sua irmã fosse quase imediata. Descobrimos provas o suficiente de que a Catherine comprava passagens de trem com nomes falsos para visitar a cidade nos dias dos assassinatos. Descobrimos sobre a carreira dela como CEO e a relação com o setor químico da empresa. Sobre o namoro dela com o herdeiro dos Donavan e o incêndio que ela causou e culpou seu irmão logo depois que sua mãe... - Blanche se interrompeu, sensível - Bem, entretanto, eu confesso que foram vocês dois em especial que trouxeram o caso até aqui - Ela apontou para Colt e Galatia - De forma brilhante, diga-se de passagem.

- Mas olha só... - Bay coçou a cabeça como se aquilo fosse fazer as engrenagens rodarem mais rápido - Qual é o seu nome de verdade então?

- Blanche, só é outro sobrenome - Respondeu, com outra careta óbvia.

- E quanto anos você tem? - Ele apertou os olhinhos amarelos.

- Vinte - Sua resposta fez Leon arregalar os seus.

- Então isso quer dizer que eu ainda tenho uma chance- Bay afirmou, confiante.

- Nós conversamos sobre isso depois - Blanche desviou - Colt, quanto ao que o Delegado te pediu, eu vou reforçar que é fundamental que você tente fazer a Catherine falar...

- É... Eu sei... - O rapaz baixou a cabeça.

- Blanche... Você sabe alguma coisa da carta da Pao? A que ela fez antes de... Você sabe alguma coisa sobre essa história? - Leon tocou no assunto que vinha o assombrando com maior destaque no último ano.

- Ah... Sim. Ela estava na sua casa, Galatia, mas os seus pais levaram ela, sem saber, para a polícia. Eu também não sei qual é o conteúdo dela ainda, mas sei que aquele tal de Zero conseguiu acesso à ela pela sua casa - Explicou, fazendo Galatia engasgar em surpresa.

- Minha casa!?

- Ela estava junto com os pertences da Pao. Os que a Pok-Too te entregou. Vocês deveriam pedir ao Rogers Bachmann, depois - Sugeriu - Quanto a mim, tenho algumas coisas para finalizar... Mas, venho me despedir de vocês outra hora.

- Você vai embora? - Angela perguntou.

- Acho que a minha missão aqui já chegou ao fim.

Blanche terminou antes de desaparecer no horizonte.

Os quatro amigos se entreolharam de um jeito pasmo.

- Ela era doida demais para ser real mesmo - Leon notou.

- Eu ainda acho que ela continua bem doida - Bay mordeu os lábios - E eu adorei isso.

Alguns grandes eventos acabam se extendendo de surpresa.

Dois dias depois

Leon Lockhead e Galatia Gray se apertaram entre a segunda multidão de passageiros que desciam dos ônibus da rodoviária, em busca do que estaria carregando Marina Muller.

Mais adiante, os pais da menina faziam o mesmo. Um alívio puro escorria junto às lágrimas da mãe, que só queria ver a filha bem e em casa.

- Faz quase dois meses que a gente não se vê... Isso é tão estranho - Leon confessou. A pele corada em ansiedade.

- Eu sei muito bem o que você está sentindo - Galatia disse - Eu me odeio por isso, mas além de estar nervosa... Eu estou com tanta raiva dela - Confessou, fazendo Leon gargalhar.

- Eu tô' é com ódio dela! Só deus sabe o quanto eu queria matar a Marina agora - Leon disse com um sorriso fraco - C-como é que ela faz isso com a gente? Não é possível que ela não podia ter mandado nem um FAX falando que estava viva.

Foi quando a figura morena, de cabelos caramelos cheios de vida e lábios castanhos e carnudos apareceu entre um grupo de viajantes; Marina Muller.

Seus pais foram os primeiros a correr em sua direção. De acordo com o delegado eles e a filha já tinham retomado o contato desde o incidente no túnel, então o momento entre a família foi afetuoso e menos desesperado.

- A sua sorte é que eu fiquei com saudades, se não nem ia olhar mais na sua cara! - Leon berrou chamando a atenção da amiga, que andou em direção aos amigos com uma expressão quase lúdica.

- Gente... - Os olhos da menina se encheram de água no instante em que alcançou os dois melhores amigos. Leon e Galatia não resistiram em cair no mesmo choro e envolvê-la com um abraço. A raiva toda dissipada em aliviamento.

Pouco importava agora as circustâncias e a curiosidade, só estavam felizes por estarem mais uma vez reunidos.

Alguns dias depois

Colt Carlile caminhou pelo corredor de ferro da penitenciária com as mãos geladas. Não haviam janelas, só fortes luzes brancas que pareciam esfriar o ar que cortava aquele espaço.

- É naquela porta... - O policial nova-iorquino que o acompanhava murmurou, apontando para a entrada.

Colt não hesitou em caminhar até ela, pois sabia que se interrompesse sua decisão por nem que fossem instantes acabaria desistindo de estar ali e pegaria o primeiro táxi de volta para Bexley.

Resoluto, abriu a porta lentamente, assistindo a imagem daquela sala de ferro se desdobrando em sua frente. Catherine, sentada em uma das cadeiras de aço, fitava-o com os olhos inebriados por uma energia sombria que travou o irmão mais novo por alguns instantes.

- Catherine... - Foi dos lábios dele que a iniciativa escapou. A decepção aguda transparecendo no rosto de forma incontrolável. Tinha ensaiado aquela conversa por noites à fim, tinha repetido as mesmas perguntas que faria para ela de forma incisiva, tinha ensaido o tom de voz que adotaria para mostrar a irmã que o laço entre os dois agora era o mesmo que o de dois estranhos. Entretanto, vê-la de tão perto inibiu-o de seguir seu tão bem estruturado plano, e o rapaz só conseguiu materializar suas emoções através de um - ...Por que?

Ela não respondeu. Desviou o olhar por poucos segundos, não por pela vergonha, e sim pela praticidade.

- Por que... Por que você fez tudo isso? Que tipo de transtorno... Como é que você foi... - Colt viu-se incapaz de completar qualquer frase. Qual seria o propósito de pergunta-la algo superficial como um ''Por que você matou três pessoas?''. Que tipo de resposta reconfortante poderia sair da boca daquela alma sombria?

- Eu fiz tudo por você - Ela sussurrou, os olhos ainda baixos. Os cabelos louros lisos, espalhados pela cabeça sem nenhum cuidado, fazendo o irmão se perguntar se até a vaidade fazia parte do personagem que Catherine interpretou.

Uma gargalhada única escapou de Colt.

- Fez por mim? Fez por mim!? - Quando se repetiu, fez de maneira tão intensa que o policial que o guardava deu um passo a frente. O menino então respirou fundo e tentou manter a mente focada no seu propósito - O que... O que você fez exatamente?

- Eu tirei elas do caminho... Elas só querem te machucar, e eu não poderia permitir...

- Machucar? - Colt tentou.

Os olhos de Catherine se ergueram até um infinito de forma hipnotizante, como se só ela estivesse sendo capaz de ver algo que ninguém mais conseguia.

- No dia que a mamãe partiu você chorou tanto... Tanto... Tanto - Sua voz enfeitaçada ecoou pelas quatro paredes - Você... Você era tão pequeno e tão indefeso... E você ainda é... - Catherine transportou os olhos até o irmão, que foi tomado por uma repulsa profunda - Eu prometi para mim mesma que não iria deixar ninguém te ferir... Ninguém te usaria... Nem o Cedrick... Nem o Charles... Nem ninguém...

- Foi você que acusou o Cedrick... Você quem fez ele ir para a clínica.

- Não foi difícil... Depois que ele começou a fumar eu achei que... Seria a oportunidade perfeita... Então eu coloquei fogo na praça... Deu certo... Deu tudo certo - Ela parecia conversar sozinha.

- Você quase matou duas crianças - Colt se afastou. O desgosto afligindo seu ser com tanta força que haviam lágrimas em seus olhos.

- Não importa... Elas estavam ali na hora... Não foi culpa minha, foi culpa do tempo... Da vida - Catherine riu baixinho - Nada disso foi culpa minha... Se você tivesse se mudado comigo em Nova-Iorque, eu não teria que ter te protegido de ninguém... Você sabe que isso no fundo, foi tudo culpa sua, Colt.

Colt sentia-se fora de órbita, como se os pés pouco pisassem no chão.

Não era mentira. O menino sempre se sentiu dominado pela culpa. Era como se seu subconsciente soubesse antes dele próprio que as mortes eram definidas por ele. Por quem se aproximasse dele.

- Por que não atacou a Angela então? - Ele tentou se manter objetivo.

- Sua indiferença por ela sempre foi o suficiente para que ela não pudesse te afligir - Catherine disse - E era através dela que eu conseguia saber sobre você... Até depois que vocês terminaram ela foi muito útil quanto a chantagem... Quanto ao envenenamento...

- Você fez aquilo com a Poppy e a Sra. Jones por que elas estavam no seu caminho... E a Pao? Você achou que eu e ela tinhamos algo por que na época a escola toda nos viu juntos na farmácia! Você também pensou! Você dopou a mãe dela... Você enforcou ela... Você...!

Catherine resumiu-se ao seu próprio silêncio mais uma vez.

- Só me diga como foi... - Colt buscou se manter centrado - Me diga exatamente o que você fez com ela.

- Foi fácil... - Catherine confessou - Eu entrei no quarto... Abri a porta devagar... E a enforquei pelas costas... Ela mal teve tempo de gritar, Colt... Mal teve tempo de tentar se defender... Ai eu pendurei ela no teto e pronto... Ela teve exatamente o que ela mereceu - Disse aquilo com um sorriso insano.

Colt apertou as sobrancelhas, com a impressão de que algo naquele testemunho não se encaixava.

Então, respirando fundo, se concentrou em não deixar transparecer qualquer maldito sentimento de compaixão. De preocupação e do que restou de um carinho que ele tinha pela irmã que nem existia.

- Outro dia eu volto para tirarmos mais coisa - Anunciou ao policial antes de dar as costas e ir embora.

Sob o sol alaranjado que invadiu seus olhos no instante em que saiu da penitenciária, Colt Carlile sentiu-se entorpecido pela sensação de que embora tudo parecesse ter finalmente voltado ao normal.

Nada mais seria como antes.

Quatro meses depois

Fiapos de luz atravessavam o vidro embaçado da janela. Frações da luz da tarde refletiam as paredes verde-limão da casa dos Gray. Porções amareladas pintavam a grama de verde-verão. Um verde intenso e natural que ecoava nas árvores altas do Lago Champlain. Um verde que combinava com o azul claro do céu desprovido de nuvens.

Era o dia mais veraneio de Bexley, embora estivessem estreitando o outono.

Crianças e suas mochilas pesando chumbo caminhavam em grupos ansiosos para o primeiro dia de aula. O suor cheio de vida escoando da testa.

Jovens, assim como os que você conheceu, se preocupavam exclusivamente em terminar de fazer caber em suas caixas de papelão os pertences que levariam para a faculdade.

Era tempo de mudança.

Angela Ashwood, diferente dos amigos, tinha deixado a vida acadêmica para um ano futuro. E em sua mala, recheavam looks pensados para o clima gostoso de Paris.

Era lá que passaria seu ano sabático com a mãe. Era lá que suas cicatrizes terminariam de se fechar. Era lá que o pai abusivo iria se tornar apenas uma memória amarga.

- Eu estou bonita? - Perguntou para o menino pousado em sua cama, embora os olhos estivessem presos nela própria.

- Não - Foi a resposta de Leon Lockhead - E eu vou mentir que não toda as vezes que você trocar de roupa até você desistir de ir para Paris e ir comigo para Nova Iorque.

- Leon, bebê, eu prefiro morrer que ir para a faculdade pública de lá - Angela disse, jogando os cabelos loiros para o alto e envolvendo o rapaz com os braços - E eu não fui aceita em nenhum outro lugar.

- Mesmo assim - Ele tentou com um bico genuíno - Eu... E-eu não queria que o que tá rolando entre a gente acabasse aqui... Um ano longe é-

- Muito tempo, eu sei. Mas é por isso mesmo que nos temos que terminar. Não é você que vivia falando que passou uma vida amando alguém de um lado só? Então. Agora você tem um ano para superar ela de vez e sentir minha falta. E aí quando você me ver de novo, vai estar com tantas saudades e tanta vontade de me ver que você vai me amar do jeito que eu mereço ser amada - Angela encerrou aquele assunto com um selinho.

- Justo - Leon concordou, antes que voltassem a trocar os beijos que prometeram serem os últimos antes que cada um dos dois rumasse para caminhos opostos.

~

Fugindo de todas as expectativas que o assombraram nos últimos quatro anos que passou fugindo da escola, dando amassos nas colegas no armário do zelador, dormindo nas aulas de matemática e desenhando órgãos reprodutores no quadro negro na aula de espanhol, Bay Rupert Bachmann, foi o único dos graduados que conseguiu uma milagrosa vaga na faculdade de Yale.

Tal feito se sucedeu depois que o candidato mais bem qualificado para a vaga desistiu de cursar o ensino superior em Yale, e sugeriu à reitoria da universidade, através de uma carta anônima de recomendação, que Bay era o mais bem qualificado para ocupar seu lugar.

Embora o ruivo tivesse um dos piores históricos de notas e frequência escolar da cidade.

- Ah! Eu estou tão orgulhosa de você meu peixinho dourado! - Bradou pela milésima vez naquela despedida a mãe do rapaz.

Bay sorriu, também muito orgulhoso de si próprio por ter uma personalidade tão charmosa e carismática que conseguiu fazer um nerd aleatório recomendar o nome dele para Yale.

Assim que terminou de abraçar os pais, sacou o celular do bolso e traçou o caminho até o carro que o levaria para Nova-Iorque naquela mesma manhã.

Na tela, o número da misteriosa Blanche clamava sua curiosadade.

Aonde será que ela morava de verdade? Ele tinha esquecido de perguntar

Pouco importava, algo no âmago de seu ser indicava que aquela não teria sido a última vez que ele veria aquela menina tão excêntrica em vida.

~~

Cedrick Carlile apertou as mãos no bolso, enquanto passeava os olhos pela casa empoeirada em desprovida de móveis que a poucas semanas tinha se tornado sua.

Conseguia imaginar aonde colocaria cada pedaço de mobília. Aonde colocaria sua estante de action-figures e sua mesa de sinuca. No andar de cima separaria um quarto só para o irmão mais novo passar as férias da faculdade, e reservaria o outro vago para ser seu pequeno escritório caseiro, aonde ele conquistaria a própria liberdade mais uma vez.

Ele e o pai tinham se reconciliado depois de um pedido sincero de desculpas por parte do homem, que se manifestou em forma de uma generosa herança que daria ao filho para que ele tivesse dignidade na reconstrução da sua vida fora da clínica de reabilitação.

Entretanto, não morariam juntos, por que embora Cedrick estivesse sedento demais por sua nova fase para perder tempo abominando o pai, não seria capaz de perdoa-lo a ponto de voltarem a ser como a família de antes. Então, por enquanto, o perdão seria suficiente.

Com os dedos trêmulos por emoção, o menino passou os dedos pelo detalhe favorito na casa: Suas paredes verde-limão, características do bairro que escolheu em Bexley.

Então, decidiu ligar para Mia, a enfermeira cujo sempre teve uma certa quedinha e agora finalmente teria a oportunidade de chamar para um encontro.

~~

Marina desceu as escadas de sua casa até a cozinha, aonde os pais e suas malas a esperavam. Assim como Leon, a menina tinha escolhido a faculdade pública de Nova-Iorque para o seu novo recomeço. Pela primeira vez na vida sentia-se madura, sentia-se verdadeiramente uma mulher.

A menina sempre buscou aquela independência se envolvendo com homens mais velhos, driblando os pais, mentindo para os melhores amigos e tomando indecisões inconcequentes. O engraçado foi que só conseguiu a encontrar quando decidiu olhar para dentro de si mesma.

Agora que conseguia ter o senso crítico e o amor próprio para analisar suas escolhas passadas, ficou evidente que o relacionamento com Alexzander nasceu de forma orgânica, baseado em uma rebeldia e desejo de contrariar o pais. Primeiro se seguiram nas redes sociais, então se encontraram a primeira vez antes do discurso do homem na sua segunda posse.

Marina tinha deixado o relacionamento errado evoluir tanto que teve a coragem de arrumar um namorado ''falso'' (Aiden) para disfarçar aos pais e aos dois melhores amigos com quem realmente se encontrava algumas noites.

Mas agora ela saberia tomar melhores decisões. Agora ela teria a determinação de se tornar a mulher que deixaria ela mesma orgulhosa.

~~

Cheiro de lílios. Cheiro de rosas. Cheiro de orquídeas e jasmins.

Colt Carlile fechou os olhos enquanto era envolvido por todos aqueles cheiros. A brisa fresca e o sol que a equilibrava. O jeito que cada das flores se movimentavam em conjunto, quase uma dança lenta. Quase uma valsa da natureza.

O rapaz só escapou do transe quando um corpo peludo passou a cauda pelo seu rosto sem maior cerimônia.

- Minnie - Reprendeu a gatinha a pegando no colo, carinhoso - Você não pode sair pulando no meu colo de qualquer jeito, gordinha como você está.

A gatinha miou em protesto.

- Então os miados que a Camille dizia que escutava de madrugada não eram mesmo loucura de sua cabeça - A voz de Charles pegou Colt de surpresa, que em um ímpeto quase escondeu a gatinha atrás das costas.

- Bem... Acho que não tenho mais por que esconder - Colt explicou, com um sorrisinho fraco e os olhos voltados para a mala que usou exclusivamente para guardar os pertences de Minnie que levaria para Nova-Iorque.

- Sabe, sua mãe gostava bastante de gatos - Disse, se sentando próximo ao filho - E de cachorros... Acho que ela gostava de todas as porções de animais. Ela era uma mulher espirituosa.

- É... - Colt se lembrava bem.

- Eu sinto que... Em algum ponto do meu casamento, eu tomei a escolha absurda de parar de prestar atenção na Cecilia. Parei de prestar atenção nela e parei de prestar atenção em vocês três. Eu voltei os olhos para a minha vida pessoal e eu... Virei as costas para a minha família... Se eu não tivesse feito isso... Eu teria... Eu teria percebido que a Catherine-

- Pai... - Tentou o impedir de continuar.

- Eu sei, eu sei. Agora é tarde para pensar em como poderia ter sido.

Colt assentiu. Charles se colocou de pé de forma lenta e ajustou os óculos no nariz de forma ansiosa. Colt não conseguia nem imaginar o tamanho da luta interna que seu pai deveria estar travando para tentar soar mais intimista.

- Eu só... Espero que você saiba... Que eu me arrependo de tudo, e que se eu pudesse, eu teria... Valorizado sua mãe do jeito que ela merecia ter sido valorizada pelo marido...

Colt assentiu mais uma vez. Minnie miou em preocupação.

- E... Eu tenho orgulho de você... Filho.

Charles disse, então escondeu as mãos no bolso do paletó e saiu do jardim.

Colt pegou-se fitando o pai enquanto sua frase final pendia em sua cabeça.

Parecia pouco, mas vindo do pai aquilo tinha um grande significado.

Bairro dos Limões

- Eu vou dirigir. Você dá muito soquinho, eu vou acabar vomitando na primeira meia-hora de viagem!

Marina revirou os olhos castanhos antes de rosnar um:

- Eu dou muito soquinho!? Seu carro poderia entrar na UFC com todos os socos que ele já levou de você. Você dirige igual uma avó! - Ela se defendeu.

- Ai que você se engana, minha avó Leta dirige bem melhor que nós dois! - Leon rebateu.

- Vocês dois... Tsc tsc - Galatia Gray desceu as escadas da casa com uma caixa de pertences apoiada no braço, quase no mesmo momente em que o Audi TT de Colt parou na calçada.

- Aonde nós vamos nos encontrar mesmo? - Leon perguntou a melhor amiga, visto que os quatro estavam rumados para a mesma cidade só iriam em carros separados.

- Central Park? - Marina sugeriu com os olhos brilhando.

- Pode ser, eu só vou deixar as coisas no dormitório com o Colt e nós encontramos vocês lá - A loira explicou, colocando a caixa no portamala do namorado.

- Qual a graça do Central Park? É só um bando de árvores e gente correndo de um jeito feio - Leon reclamou - Não é Colt?

- É, vou ter que concordar - Ele respondeu divertido.

- Vocês iam ir embora sem dar tchau!? - Gunther e Gisele repreenderam os quatro jovens em uníssono, antes de abraçar cada um deles de forma calorosa. As despedidas e discursos de boa sorte se estenderam por mais dez minutos.

Gabriel foi o último a descer as escadas da casa para se despedir.

- Se cuida, garoto - Leon bagunçou os cabelos loiros do menino enquanto Marina abraçava a mãe de Galatia.

Colt foi quem se despediu de Gabe em seguida.

- Tchau, Gabe - Galatia envolveu o irmão em um abraço apertado que com certeza o irritaria - Nem vou sentir saudades suas - Brincou.

- Fala sério! As chances de você não sentir saudades minhas são iguais a zero.

Clique.

Galatia se afastou do irmão e o encarou de forma curiosa, o menino só a respondeu com uma careta e voltou a se despedir dos outros meninos.

Não... Não era possível, era? To

Em poucos minutos a euforia já tinha sido substituida por choros melancólicos e frases clichês como: ''Eles crescem tão rápido''. Foi quando Galatia identificou que era a deixa para irem para Nova-Iorque de uma vez.

~~~

- Você está quietinho - Galatia notou, embora os olhos passeassem pela estrada de Nova Iorque e o asfalto brilhante correndo atrás dos pneus. As mãos acariciavam Minnie, em seu colo.

- Só estou pensando em uma coisa... - Colt disse. Os olhos estavam opacos de forma reflexiva - Quando eu fui conversar com a Catherine, ela me descreveu... O que ela fez com a Pao...

Galatia olhou-o de forma instantânea, o rosto revirado em dor.

- Você não tinha me dito isso.

- Justamente por que não queria ver você fazendo essa carinha - Colt acariciou-a com o polegar, antes de voltar a atenção para a estrada - Ela não falou muita coisa também, ela só disse algo que me deixou pensando...

- O quê? - Galatia insistiu.

- Ela falou que... Que a Pao nem gritou, que ela não teve nem tempo de fazer um barulho se quer, que foi pega de surpresa.

- Mas... Como isso explica a carta que está na delegacia? Como isso explica aquela caneta da Pao que vocês acharam? Isso tudo indicava que ela tinha tido bem mais tempo de contato com a Catherine... Indicava que a Pao deveria até ter tido tempo de resistir e tentar atacar ela! - Galatia deduziu.

- Exatamente. Talvez a Catherine só tenha mentido denovo, ou algo do tipo. Eu não acho que seja nada demais - Colt disse, embora não tivesse certeza sobre suas palavras - O que importa agora é que nós vamos... Hum, começar denovo - Um sorriso leve tomou seu rosto e espantou o teor daquela conversa para longe do carro.

- Vamos - Galatia devolveu outro sorriso adocidado, enquanto ambos se encaixavam na mesma frequência aonde só cabiam os dois - Hoje mesmo, eu só vou deixar as malas no dormitório e nós vamos sair para fazer alguma coisa divertida.

- Erm, quanto a isso, no meu apartamento tem um quarto à mais e eu andei pensando - Começou com um sorrisinho amarelo - Até hoje acho que você não evoluiu muito na natação, sabe como é? Talvez se você passasse um tempo comigo eu pudesse te dar mais umas aulas. Só estou te chamando por motivos filantrópicos, e também por que a Minnie até que gosta um pouco de você.

- Você quer que eu te ajude a arrumar suas malas no seu apartamento antes? - Galatia perguntou.

- Não, eu queria que você arrumasse as suas malas no meu apartamento antes - Explicou.

- Colt Carlile, você está me chamando para morar com você?

Colt permitiu que uma risadinha transparecesse pelas bochechas coradas.

- Não foi isso que eu disse, Galatia Gray, mas foi isso que eu quis dizer.

Uma plaquinha se despedindo da cidade de Bexley passou correndo pela estrada. Nela lia-se com letras gravadas na madeira as palavras: ''Volte Sempre''.

Frase que finalmente fazia sentido, agora que o sol havia voltado a iluminar a pequena cidade de Bexley. Voltou a iluminar os casarões luxuosos e o curioso casarão abandonado da família Pang. Voltou a iluminar a feirinha de comida, a sorveteria pertencente ao casal de idosos, o bairro dos cavaletes, dos girassóis, dos andarilhos. Voltaram a brotar do chão girassóis cor de rosa e voltaram a correr pela cidade os pequenos esquilos de pelagem branca.

Quanto aos alunos, sempre haveriam novos Lobos de Bexley para honrar o título do time de pior do estado. Sempre haveriam trios inseparáveis de amigos brincando pela praça dos andarilhos com suas mochilas coloridas e crushs secretas um no outro. Sempre haveriam meninos misteriosos com corações de ouros escondidos atrás de suas fortalezas, e rapazes virtuosos e meninas corajosas.

Sempre haveria no mundo, independente das circustâncias, forças para continuar o fazendo girar. Energias secretas que o farão sempre se regenarar embasados na esperança que é nata do ser humano.

Porque ai vai a minha parte favorita dos finais:

Eles sempre te preparam para novos, grandes, começos.

Fim

É isso amigas, acabamos a série. Meu deus! Primeiramente gostaria de agradecer a todas vocês que não perdem um capítulo, que são as primeiras a comentar aquele ''cheguei'' e todas as partes que vocês acham legais. Vocês não tem noção de quanto isso faz o meu dia e realmente me incentiva muito enquanto autora. Vocês são realmente incríveis! Muito obrigada de coração por todo o apoio e incentivo. Vocês não tem noção de quanto eu sou grata do fundo do meu coração.

Espero que vocês que chegaram até aqui tenham gostado da série e tenham se sentindo relacionados com alguns dos acontecimentos do livro, com os personagens, com as situações. Espero também que tenham gostado da resolução de todos esses mistérios e que tenham realmente aproveitado o tempo que passaram lendo essa belezinha.

Como sempre, deixe seu comentário, sua crítica, pois a história toda em breve vai ser TOTALMENTE REFORMULADA (tanto que incentivo vocês a lerem tudo denovo quando ela estiver editada) na intenção de aperfeiçoar alguns detalhes, dar mais sentido a alguns mistérios e o mais importante; mostrar mais dos outros personagens. Então é muito bem-vindo que vocês comentem TUDINHO QUE ACHARAM, sem medo, por que a versão que vocês acabaram de ler é apenas um rascunho, e é muito importante para mim saber se vocês estão satisfeitas com a conclusão.

Diante dessa minha primeira história que eu cheguei até o fim, queria também deixar como a lição aqui exatamente o que escrevi no final: A questão da força para enfrentar as dificuldades. (Tá bom que esses personagens passaram por poucas e boas) mas na vida real as vezes coisas muito difíceis acontecem. Eu já passei por isso assim como todas nós, mas o importante é saber que depois que nós enfrentamos elas, coisas maravilhosas nos aguardam! A vida é linda pessoal, vamos aproveitar ela com todas as nossas forças.

Acho que me embolei toda e peço desculpas se tiver algum erro de português kAKKAKA (sei que tem vários na história em si qu tambem vão ser arrumador), mas enfim;

Muito obrigada de coração!

Eu nunca vou esquecer nenhuma de vocês (se um dia virar livro vai ter dedicatória ksksk)

Com muito carinho,

- Gabriella R Frattari

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