- Pao?!
Galatia correu até o banheiro com as pernas bambas, então repetiu o nome da melhor amiga cinco vezes por sua garganta irritada por desespero.
Em vão, pois a ligação terminou sozinha e a jovem foi deixada por um assombrado e simples "Alô" que ela jurou ter sido dito pela voz de Pao-Tsu Pang.
Ou será que não? O alô foi meio doce, não desesperado, sombrio. Talvez fosse só uma ligação por engano? Alguém que tentou ligar para um amante para uma conversa romântica na madrugada? Talvez fosse só impressão?
Talvez Galatia Gray estivesse finalmente sucumbindo ao enlouquecimento. Faria sentido depois de ter passado por tudo que passou nos últimos meses. Às vezes até se pegava pensando quanto tempo ela ainda aguentaria antes que seu subconsciente insano tomasse controle de suas emoções.
Com o resto da lucidez que não foi morta pela exaustão, Galatia ligou de volta para o número por incontáveis vezes, mas era a voz robótica do "Fora de Área" que a recepcionava.
Só conseguiu desistir de sua compulsiva missão de achar a dona daquele alô quando a falta de energia a desligou do ar e a fez adormecer contra a parede fria do banheiro.
Manhã
Angela pousou cada um dos pés nas lajotas do piso rico e brilhante de sua casa com cuidado, mas assim que atravessou a sala, a figura de sua mãe envolvida por um robe de seda chamou sua atenção.
- Não se preocupe. Não vou falar para o seu pai - Ágatha deixou claro antes que a filha pudesse abrir a boca. A mulher segurava uma taça comprida e uma garrafa de vinho.
Haviam marcas de olheiras embaixo de seus olhos e um resto de rímel mesclado. Seus cabelos loiros estavam bagunçados no topo da cabeça e o nariz entupido, como quem passou uma noite chorando.
- O quê aconteceu...?
A filha perguntou, mas embora houvesse preocupação a voz não era doce. Era objetiva e distante, como o relacionamento das duas.
Um sorriso triste se formou nos lábios finos da mulher.
- Você sente que já amou alguém?
Angela despejou a mochila no chão enquanto refletia para responder um:
- Eu não sei... Espero que não.
- Eu também espero que não. Você é o tipo de menina que vai atrair um amor doentio, assim como eu - Ágatha disse antes de afundar o rosto nas mãos finas repletas por Pulseiras Cartier - E é tão amargo... Um dia você vai entender o quanto o amor não é uma garantia, Angela, e vai torcer para estar com alguém que só seja um pobre tolo apaixonado.
A filha então torceu os lábios e tentando se convencer de que a mãe só estava bêbada e traçou seu caminho até o quarto.
- Mana! Mana! Por que diabos você dormiu no banheiro?
A voz de Gabriel Gray em parceria com suas sacolejadas pelo ombro, trouxeram Galatia Gray do fundo do abismo do sono de volta para a realidade.
- Gabe... - Sua voz rouca chamou, enquanto os olhos lutavam contra a claridade e corpo contra a dor da noite mal dormida.
Será que o irmão mais novo tinha visto as outras duas meninas? Será que os pais também? Como ela iria se explicar?
Para a sua sorte quando o irmão a ajudou a se colocar de pé, a menina notou que o quarto estava vazio, e qualquer sinal de Blanche ou Angela tinha sido apagado pelas duas.
- Eu não sei... Acho que eu só estou cansada...
- Mana, você não pode deixar tudo o que está acontecendo mexer com você desse jeito. Nós estamos juntos nessa. Nós temos que ser fortes... Juntos.
Galatia olhou o irmão no fundo de seus olhos, tão parecidos com os seus. Embora soubesse que Gabriel não tinha nem ideia sobre a investigação dela e Colt que agora tinha um grupo todo envolvido, o jeito com o que ele disse aquilo a fez sentir como se realmente estivessem juntos nessa.
Como se realmente fossem lutar contra aquilo juntos.
A frase de Gabriel foi suficiente para dar à garota o gás para mais um dia, e então ela se enfiou no chuveiro traçando, mentalmente, o caminho que teria que tomar até a casa de Colt na reunião da tarde.
A ligação da noite anterior, naquele instante, era tão borrada que mais parecia um sonho ou um delírio insano.
- Madrugou, Delegado? - O perito, Chuck, detrás da repleção da delegacia, cumprimentou o homem ruivo.
Haviam rugas novas em sua testa constantemente curvada em tensão.
- Escutei algo daquele jovem Aiden ontem, Chuck, que não me deixou dormir essa noite - Disse, sacando uma chave de sua desengonçada bolsa-carteiro e abrindo sua sala.
- Aiden Azura? O que foi envenenado?
- Esse aí.
- O quê foi que ele disse?
- Hum... Venha na minha sala daqui a pouco e traga um café. Estou achando que vamos ter que mudar o status do caso da Marina Muller de desaparecimento para foragido.
À tarde
Colt Carlile abriu as portas de dois metros de sua casa com entusiasmo no rosto. Dedicados exclusivamente para a menina atrás delas, Galatia Gray, e o fato de que finalmente sentia como se estivesse tendo progresso em toda aquela investigação.
- Ei... O que aconteceu? - O rosto sem cor da loira não conseguiu ser disfarçado pelo pequeno sorriso que ela portava no rosto para não preocupa-lo.
- Nada! Eu só... Não dormi muito essa noite - Mentiu, se colocando na ponta dos pés para beija-ló no rosto.
- Digo o mesmo, a Blanche fica falando enquanto dorme - Angela acusou, enquanto cruzava o casal com sua bolsa de marca pendurada no ombro e entrava na casa da família Carlile. Seguido dela, Leon, Bay e Blanche fizeram o mesmo.
O grupo se espalhou pela monumental sala de entrada - que tinha sido palco do baile de máscaras há algumas estações atrás - enquanto Colt entrelaçava os dedos nos de Galatia e se sentava com ela em um dos sofás.
- O bueiro - Foi o anfitrião que pautou a discussão principal dos seis.
- Faz muito sentido que a pessoa esteja se locomovendoS e fugindo por esse subterrâneo. Ninguém mais usa esses túneis da usina abandonada - Leon cruzou as pernas.
- Nos vídeos que nós roubamos da escola da para ver que a Marina anda pelo campus mas não entra dentro da escola. Ela da meia volta e vai embora pela rua - Angela expôs - A partir daí a câmera não pegou mais nada.
- Então ela não foi sequestrada de dentro da escola? - Bay coçou a cabeça ruiva.
- Não... Tenho certeza que a pessoa que matou a Sra. Jennevive entrou pelo túnel embaixo de Bexley High, mas não a que sequestrou a Marina - Galatia murmurou, e antes que pudesse se abalar foi envolvida pelos braços de Colt atrás das costas.
- Isso, e essa pessoa usou o túnel na área do lago Champlain nos casos da Pao-Tsu, no baile de máscaras aqui em casa, e a Poppy Portella - Colt deduziu.
Galatia Gray sentiu o sangue esfriar ao escutar o nome de Pao e se lembrar da noite anterior.
- Por que tem um túnel embaixo da escola, afinal de contas? Como é que ninguém viu isso? - Leon retomou.
- A escola já foi parte da refinaria a umas décadas atrás - Colt respondeu.
- Mas ainda assim, acabaram de construir a piscina e o vestuário lá embaixo, como é que ninguém viu que tinha uma merda de um buraco no chão com um túnel quilométrico embaixo?!
- Não faz muito sentido mesmo... Será que seu pai não consegue conversar com quem fez aquela obra e ver se eles viram alguma coisa? - Galatia voltou-se para Angela.
- Eu posso ver com ele - Respondeu, um pouco incerta.
O silêncio em grupo durou pouco, pois a sirene que parecia vir de mais de uma viatura ecoou da porta chamando a atenção dos seis jovens.
- Mas o quê...?
Toques pesados ecoaram da porta de entrada pela qual tinham acabado de entrar. Leon Lockhead foi o primeiro a se levantar do sofá com uma postura defensiva, mas foi Colt quem a abriu.
Atrás dela, estavam Rogers Bachmann e outros quatro Vigilantes.
- Jovem, viemos pela Srta. Galatia Gray, acredito que ela esteja aqui dentro, certo?
Capítulo curtinho mas to escrevendo bastante (acredito que em no máximo MÁXIMO duas semanas término BT)
O que estão achando??
Beijinhos ❤️
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