- O quê?! Quem?! - Galatia Gray foi incapaz de controlar o tom que sua pergunta desesperada saiu, mas foi ignorada no instante em que mais um Vigilante desceu as escadas apressado até a piscina.
- Qual o nome de vocês dois?! - O novo membro disparou a pergunta, feroz. Uma sobrancelha grossa e um queixo proeminente contribuíram para seu aspecto intimidador.
- Galatia Gray e Colt Carlile - O menino dos olhos cinzas respondeu. Ambos os jovens se encontravam prensados contra a parede.
- Colt com "C" ou "K"?!
- Com um "C" - Colt respondeu, sem saber bem o porquê da pergunta.
- Apreendam esse homem imediatamente! - O Vigilante deu a ordem aos outros que não tardaram a avançar para cima de Colt Carlile. O rapaz se mostrou assustado enquanto era envolvido sem explicações pelos oficiais.
Galatia protestou com gritos, mas foi incapaz de conter os homens que arrastavam o garoto pelo braço até a escadaria. O Vigilante que restou serviu para impedi-la de seguir o grupo.
- Por que estão levando ele?! Ele não fez nada! - Galatia lutou contra o braço do homem que a mantinha parada, em vão.
- Evidências mostram o contrário, mocinha.
- O que aconteceu?! Q-quem m-m-morreu?! - O chão embaixo de Galatia parecia se dissolver como areia.
- O corpo acabou de ser identificado como o de uma funcionária da escola, Sra. Jones - O Vigilante respondeu, passando os olhos pelos arredores como se esperasse por outros.
- A Sra. Jones?! - Galatia berrou mais uma vez ao escutar o nome da Conselheira Jennevive - Como!? Por que!?
- Acalme-se, senhorita.
No andar superior os quatro Vigilantes escoltavam Colt Carlile pelos braços até a entrada da escola, tratando o jovem com tanta firmeza quanto se trataria um terrorista. Colt analisou o panorama enquanto seu cérebro processava todas as informações de forma alucinante. Haviam pelo menos seis viaturas em torno do colégio e incontáveis Vigilantes espalhados pelo gramado e corredores.
Na pequena porta que dava para a sala de informática, faixas amarelas separavam investigadores do pequeno grupo de alunos que tentavam espiar a cena mórbida. Murmúrios assustados eclodiam entre os espectadores.
- Senhor esse menino tem ''C'' no nome dele! - O Vigilante ameaçador alavancou o braço de Colt para frente em um empurrão que fez com que ele cedesse dois passos até o Delegado Rogers - É o único dos alunos que ainda estão na escola com ''C'' no nome.
Assim que o Delegado o reconheceu como filho mais novo dos Carlile, revirou os olhos e lançou um olhar severo ao Vigilante responsável por apreendê-lo.
- Nós nem confirmamos ainda se foi a vítima que escreveu aquele ''C'' antes de morrer, idiota! Você não pode sair agarrando pessoas sem evidência nenhuma - O Delegado repreendeu antes de se voltar para Colt, que havia perdido toda a cor no rosto pálido - Está tudo bem, garoto? - Colt balançou a cabeça em um ''sim'' rápido - Venha comigo - Dessa vez com uma iniciativa mais amigável, o Delegado Rogers o guiou até um dos bancos de madeira que rodeavam o campus.
- O que aconteceu...? - Colt fez a pergunta assim que se sentou.
- Mais uma vítima, rapaz... Mas dessa vez parece que ela nos deixou uma dica antes de partir - Rogers explicou, antes de voltar à sua persona severa e ordenar a dois Vigilantes que reunissem os estudantes presentes na escola e checassem as câmeras de segurança.
- Que dica? - Sua voz estava tão falha quanto o movimento trêmulo de suas mãos.
- No chão... A Sra. Jennevive escreveu com o próprio sangue a inicial de quem a esfaqueou - Explicou, se sentando de forma lenta devido à má-forma física, ao lado de Colt, enquanto os Vigilantes se redobravam para obedecer suas ordens.
- A letra ''C''? - Perguntou. O corpo todo tinha passado a tremer.
- Não se preocupe, garoto. Tem milhares de pessoas com essa inicial em Bexley - Rogers tentou consola-lo. Embora seu trabalho exigisse que desconfiasse de qualquer suspeito, conhecia Colt desde que o menino era criança e brincava com seu filho Bay na piscina de sua casa - Repasse comigo o que fez hoje e vamos poder limpar qualquer suspeita sua.
Embora seu discurso tivesse como intenção final acalmar o jovem, fez com que ele se erguesse de súbito carregado por uma energia atormentada.
- A letra C! - Colt exclamou quase que para si mesmo - Quem fez isso não está mais no colégio! Ele tentou atacar a Galatia também e fugiu pelo vestiário do subterrâneo! Aonde ela está!? Ela não pode ficar sozinha!
Rogers apertou as sobrancelhas, de fato conhecia o nome de Galatia Gray como o alvo que escapou das outras tentativas de homícidio. Como o alvo maior do serial killer.
- Peça que tragam a senhorita Galatia Gray para cá - O Delegado deu a ordem mais uma vez antes de se voltar ao garoto - Acalme-se rapaz, me explique direito o que aconteceu.
- Eu acabei de voltar de Nova Iorque e vim até a escola de carro para ver a Galatia na aula de natação. Quando eu cheguei na piscina as luzes estavam apagadas e assim que eu as liguei vi ela com uma expressão assustada e nós escutamos os passos de alguém que fugia pelo vestiário - Colt tentou se manter no eixo para contribuir com aquela investigação. A letra ''C'' ecoava em alto e bom som dentro de sua cabeça enquanto o menino se sentava mais uma vez- Alguém tentou atacar ela, provavelmente depois de matar a Sra. Jones! Se eu não tivesse chegado a tempo-
- Jovem, não tem nenhuma saída pelo vestuário... A única saída da piscina é a escadaria até o primeiro andar. - Rogers relatou - Sei disso por que um adolescente resolveu invadir a escola e dar uma festinha na piscina, há algumas semanas atrás.
Colt balançou a cabeça. Tinha a certeza absoluta de que escutou passos de alguém saindo pelo vestuário, então manifestou sua certeza ao delegado.
- Posso olhar denovo, garoto... Mas é impossível alguém ter saído dela - Rogers prometeu e no mesmo instante, envolvida por uma toalha e uma áurea assustada, Galatia Gray se aproximou, escoltada por Vigilantes.
- Galatia! - Colt ergueu-se pela segunda vez, tão energético quanto antes.
- Colt...
Antes que pudessem trocar palavras que não fossem os próprios nomes, o Delegado Rogers pediu à jovem que recriasse os acontecimentos da piscina. Galatia se esforçou para retratar todos os detalhes do momento em que saiu da última aula de História e participou da aula de natação até o que se ofereceu para ficar para trás para que pudesse praticar. Embora fizesse uma força física para tentar se lembrar de maiores detalhes, afirmou que sentiu uma presença vinda do vestuário e se aproximando dela no escuro, mas que ao escutar os passos de Colt Carlile fugiu pelo mesmo lugar de onde veio.
Assim como Colt, Galatia teve a certeza de que a pessoa desapareceu pelo vestuário.
Ao final do discurso, um dos Vigilantes caminhou do corredor até o gramado para confirmar que as imagens das câmeras de segurança da piscina e da sala de informática - aonde a Sra. Jones tinha sido assassinada - tinham sido apagadas do computador de segurança da escola.
Entretanto, as câmeras de vídeo da garagem e do corredor do primeiro andar não, e estas eram suficientes para confirmar o testemunho de Colt, que o garoto tinha entrado na escola direto para a piscina.
- Temos uma lista dos alunos que estão na escola, senhor. Eles só estão aguardando a sua liberação para irem para casa. Os pais já estão impacientes no portão.
- Libere-os - Rogers mandou - Revistem o vestuário. Acredito que a Sra. Jones tenha sido assassinada por acaso. Por que entrou no caminho que levava até a senhorita... - Direcionou o alerta à Galatia, que apertou um dos punhos contra o peito como se aquilo mantivesse seu coração batendo - Vou pedir para que algumas viaturas fiquem na porta de sua casa, hoje à noite.
- E eu vou chamar os seguranças de novo - Colt afirmou, mas Galatia balançou a cabeça de forma negativa.
- Nenhum dos dois é necessário. Eu não quero preocupar meus pais.
- Acredite, senhorita. É mais que vital - Rogers insistiu.
Colt enlaçou seus dedos gelados na mão livre de Galatia. A insistência refletida nos olhos opacos era doce e impossível de negar. A loira então assentiu, temendo a reação de seus pais.
Não queria voltar para Orlando. Do que aquilo adiantara? Não queria soltar aquelas mãos que a envolviam. Não agora.
- Mas acredito que não tenho escolha - Pensou alto, sacava do bolso o celular para contatar os pais.
- Eu te levo para casa... Lá você conta para os seus pais pessoalmente - Colt ofereceu a alternativa.
Mais uma vez, Galatia assentiu. No horizonte viu Marina Muller escorada contra o portão, esperando pelos pais. Até pensou em ir até ela, mas aí seria só mais uma pessoa para preocupar. Preferiu, então, ir embora o mais rápido possível.
~
A noite estampada no céu roxo-amanteigado decorado por estrelas, serviria como propaganda pra uma noite linda e romântica, tão diferente da noite bagunçada e assustadora que Galatia estava vivenciando.
Tinha alguém que a queria morta. Pessoas estavam morrendo por que ela andava tendo a sorte de escapar de alguém que estava sedento pelo sangue dela. A Pao? A Poppy? A Sra. Jones? O Aiden? A Camille?
Galatia apertava, mentalmente, toda a sua insegurança para fazê-la cuspir algum defeito seu que faria alguém a odiá-la a esse ponto. Ao ponto de não medir vidas e esforço para tira-la - de vez - do caminho.
Em pouco tempo, ela e Colt chegaram na porta da casinha verde limão, depois de uma viajem dominada pelo silêncio.
- Quer que eu entre com você? - Ele sugeriu ao estacionar, curvando o braço para que ficasse virado para o banco de passageiro de Galatia.
- É melhor não... Meus pais vão querer conversar comigo a sós...
Colt levou os olhos as pernas, depois ao teto do carro.
- O que você vai fazer? - Galatia perguntou depois de alguns instantes. Sabia que sua expressão pensativa indiciava algo em sua mente.
- No domingo vou para Burlington... Consegui descobrir pelos documentos que a gente roubou do escritório do meu pai a clínica de reabilitação aonde meu irmão está... Quero investigar algumas coisas- Respondeu. O "C" ensanguentado flutuava dentro de sua cabeça gritando um nome que lhe era (literalmente) familiar.
Os olhos de Galatia se dilataram em uma surpresa quieta. Então era da clínica do irmão dele que ele estava atrás? Ele não sabia? Eles não conversavam?
- Eu ia te explicar tudo melhor, hoje - Colt disse, como se conseguisse ler seus pensamentos - Mas... É informação demais para um dia só... Amanhã é Sábado eu posso vir aqui na sua casa se você quiser e-
- Eu vou com você.
Galatia afirmou. Sua impulsividade sobressaiu qualquer possível timidez.
- Para Burlington...?
- Para Burlington.
- Não é uma boa idéia... - Colt resistiu, temeroso - N-não que eu não iria querer a sua companhia é só que-
- Eu quero ir com você. Por favor - Galatia piscou os grandes olhos castanhos.
- Galatia... Seus pais não vão deixar você ir... Eu não quero deixar eles ainda mais preocupados. Eu não quero colocar você em risco.
- Colt Carlile. Eu não vou mais assistir ninguém morrer por minha causa. Eu vou com você, para investigar seja lá o que você está querendo investigar - Galatia bateu o pé, então se inclinou e beijou-o no rosto de forma lenta, antes de se colocar para fora do carro e se preparar para a conversa terrível que preocuparia os pais.
Colt precisou de alguns instantes para se reconectar com a realidade. Não demorou para que seus pensamentos fossem do colorido que Galatia Gray provocava nele para o sombrio, reflexo daquela noite de acontecimentos.
Então era isso; eles iriam para Burlington.
Capítulo meio paradinho, mas espero que gostem! Lembrando que a história toda vai ser reformada a partir do último capitulo, e qualquer coisa incoerente vai ser consertada! Beijos de luzzzz