- Galatia...
Colt vibrou os olhos claros de um lado para o outro como se buscasse as palavras exatas para substancializar seus pensamentos.
Um misto de laranja e azul escuro contornava o pôr do sol. O sons dos grilos ressoava das moitas e os passarinhos desapareciam de vista.
- Colt... Eu não acho que...
- É, eu tenho a impressão de que não, também...
Galatia Gray levou os olhos ao chão. Talvez ela não tivesse ainda tanta certeza do que dizer, exatamente.
Colt Carlile a fitou por alguns momentos. Notou que uma blusa branca maior que seu corpo pequeno pendia sob o mesmo, escondendo suas mãos atrás das mangas compridas, observou o arrepiar de seus fios loiros aonde o elástico de cabelos os apertava e observou em sua expressão um misto de desarranjo e supresa.
- Miau! - Um protesto escapou a mochila carteiro do garoto, mas antes que ele pudesse fecha-lá, duas pequenas orelhas peludas fizeram uma entrada triunfal.
- Você carrega sua gatinha aí dentro?! - Galatia aliviou a expressão com um sorriso curioso, descruzou os braços e tomou a liberdade de tirar o animalzinho da bolsa de Colt.
- Pois é... - Ele riu avermelhado e coçou as costas da nunca com a mão - Faz quase um mês que eu encontrei a Minnie na rua e fiquei com dó de deixar ela sozinha. Mas minha madrasta tem alergia de gatos, então...
- Então você tem ela em segredo - Galatia deduziu e Colt assentiu com a cabeça - Até o fático dia em que sua madrasta passar três horas espirrando e começando a desconfiar que você adotou um gato. Foi assim que eu e meu irmão tivemos que doar o Toby para outra pessoa.
- Seus pais tem alergia a gatos? - Questionou com um sorriso entretido nos lábios finos.
- Toby era um cachorro, e eu mesma tenho alergia a cachorros. Minha mãe descobriu que ele morava no quarto do meu irmão quando eu comecei a ter cinco crises de rinite por semana - Ele riu da explicação.
- Bem, você é a única pessoa que sabe sobre a Minnie. Então nesse fático dia é para você que eu vou doar ela - Colt brincou como se aquilo fosse uma ameaça.
- Para mim não é problema, olha essa carinha - Disse segurando a gatinha pelo peito como se fosse o Simba no Rei Leão - Acho até que ela já gosta mais de mim que de você.
- É aí que você se engana - Disse recolhendo a gatinha, atuando um ciúme - A Minnie me ama.
Colt e Galatia soltaram risadinhas abafadas, até que o assunto se dissipasse e a tensão reocupasse a cena. Não era para conversar sobre sua gata que Colt estava ali.
- Você acha que o que aquele cara falou tem alguma chance... Alguma possibilidade de ser verdade?
Galatia refletiu a pergunta brevemente antes de ajustar seu rabo de cavalo e responder um;
- Vem aqui.
Em seguida a menina atravessou o gramado de sua casa a passos gatunos. Cruzou o gramado aonde pequenas flores brancas se espalhavam de maneira aleatória até que chegassem na traseira da casa vizinha à sua, cujas paredes também eram verdes e a telha bege-escura.
Com pouco esforço, empurrou um largo vaso de plantas desgatado do meio do gramado até uma das paredes. Então pulou sob ele e se alavancou com os braços para cima do telhado vizinho.
Sem muitos questionamentos, Colt Carlile acolheu Minnie em um dos braços e com o outro fez o mesmo.
- Foi mal, mas se meus pais me vissem lá na porta eles iriam fazer algumas perguntas - Galatia se explicou enquanto esticava as pernas sob a telha.
- Não tem problema. Eu gostei da vista - Respondeu enquanto assegurava sua gatinha em seu colo - Ninguém mora nessa casa?
- Não, tem uma família que mora aqui.
- E eles deixam você subir aqui?
- Eles nem sabem.
- Como assim? - Colt soltou uma risadinha engraçada. Não era todo dia que fazia um mal-feito - E se eles virem eu e você aqui em cima?
- Eles nunca me viram nos catorze anos em que eu venho fazendo isso, mas qualquer coisa é só sair correndo - Galatia disse, antes de voltar a sua expressão séria de antes - Sim, eu acho que tem alguma possibilidade do que aquele Zero falou ser verdade...
- Eu não a conhecia tão bem, mas ela não me transmitia a imagem de uma pessoa depressiva - O garoto opinou - Para ser franco, eu sinto que tenho alguma responsabilidade com essa história toda de um jeito ou de outro. Se aquilo realmente foi obra de alguma pessoa, eu e você estávamos lá junto com ela, então nós temos meios de ajudar com o que escutamos. E se isso foi realmente um suicídio, isso também me envolve por que, bem... Foi por minha causa que a Angela começou a atormentar ela, e...
Sua postura se tornou cabisbaixa e seus olhos cinzas escureceram junto com o céu do começo de noite.
- Colt, você não tem culpa nessa história. Tipo, nenhuma - Galatia transmitiu uma confiança que ela mesma não sentia - Em nenhuma das hipóteses.
- Mesmo assim - Ele voltou seu rosto na direção da garota sentada ao seu lado - Não vou ficar me remoendo com o que aconteceu, eu nem tenho direito de me sentir desse jeito. Você, seus amigos e a família dela, sim. Eu não. Por mais louco que isso soe, eu estou disposto a ver se realmente existe alguma possibilidade dela ter sido... Assassinada - ele passou as mãos pelas raízes do cabelo antes de dizer algo que anularia a carga de dramaticidade daquela fala - Eu sei que as chances são mínimas, mas... Se existe uma possibilidade...
Seu rosto, parcialmente iluminado pela lua reluziam o mesmo brilho determinado de seus olhos cinzas, agora lustrosos. Galatia prendeu o fôlego por alguns segundos. Não haviam conversado tantas vezes, mas o pouco que havia experienciado de Colt Carlile era suficiente para mostrar um garoto muito diferente do que caminhava os corredores de Bexley com uma aparência arrogante, e acompanhava a filha do prefeito com sua aura fria.
Ao invés dele, uma figura tímida de um jeito incomum, consideravelmente inocente, surpreendentemente dócil e estonteantemente bonita se revelava.
Colt, de forma definitiva, não tinha noção do quão fácil poderia influenciar uma pessoa. Nem quanto sua verdadeira personalidade doce era, em disparada, mais atraente e manipuladora que sua persona rei-gelado.
- ...Se existe uma possibilidade ela deve ser revista - Galatia murmurou, e Colt abriu um sorriso esperançoso que embaraçou a garota, e a loira envergonhada só tinha um comportamento; - Se você estiver disposto a fazer um juramento de escoteiro. Em nome da nossa investigação - Ela estendeu a mão.
A expressão um pouco confusa de Colt fez com que ela se arrependesse amargamente de compensar sua vergonhisse com humor. Poxa, eles estavam falando de um assunto tão sério e ela fazendo piadas idiotas como se tivesse no jardim de infância.
Mas aí, o garoto cuspiu na palma das próprias mãos e a estendeu até que a ponta de seus dedos se encostassem.
- Se formos fazer um juramento de escoteiro, ele vai ter que ser o mais sério possível - Colt afirmou com um sorriso delicado no rosto.
Galatia não conseguiu conter uma risada antes de cuspir na própria mão.
- Eca - Soltou entre risadas no momento em que as mãos se selaram em um som de "plaft".
Sob a testemunha dos grilos barulhentos, dos incontáveis gatos de rua, das famílias naquelas casinhas verde-limão, da pequena Minnie e, se você quiser apelar para o descritivismo, da noite de um pequeno município que se diferencia de todas as outras noites pela calmaria onipresente, Colt Carlile e Galatia Gray haviam feito um pacto.
Que oficializado por toda aquela saliva, havia se tornado irreversível.
xoxo
Verdadeiramente grata pelas 800 leituras em pouco tempo! Espero que estejam gostando dessa história que planejei com muito carinho ❤️
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