Hábitos Decadentes - Exílio A...

By MyLightNovel

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HÁBITOS DECADENTES - EXÍLIO ABERRANTE História por Matheus Santos Revisão e Edição por Rômulo Brandão Distrib... More

PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 7

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By MyLightNovel

SETE


          Em uma situação normal, eu não teria nenhum problema em dormir dentro de uma escola abandonada. Na verdade, eu não me importo muito onde durmo, contanto que eu durma bem — vai, pode me chamar de desleixado, eu deixo.

          Mas nesta situação em que eu e Koa ficamos presos em um ciclo ao redor de uma escola caída aos pedaços e que, por um ato que desconheço, voltou a ficar como nova em um instante, é uma loucura.

          — Ei! Você é Erick? O famoso Erick Linz? — perguntou Koa, enquanto movia sua mão na minha frente com os dedos expostos, e eu os via de maneira embaçada.

          — ... O quê? — respondi com certa sonolência.

          — Consegue me ouvir? Oi, sou eu, o cara mais simpático do mundo.

          — Chega... posso tá sonolento, mas não com amnésia, sei perfeitamente que a última sentença é um crime contra a verdade.

          — Para mim são a mesma coisa, contanto que você não saiba distinguir o que está à sua frente adequadamente.

          — Por que você quer comparar duas coisas como se comparasse banana e maçã?

          — E ambas não são frutas?

          — Sim. Não. Digo, são frutas, mas são distintas.

          — Não vejo diferença alguma, apenas possuem nomes diferentes e cores diferentes, mas estão catalogadas no mesmo grupo.

          — Você tá ouvindo o que tá falando?

          — Perfeitamente.

          — Tá dizendo que uma banana possui o mesmo valor que uma maçã?

          — Exatamente. Ambas são frutas, não é?

          — Não, uma é rica em potássio, e a outra possui excesso de vitamina A. Isso já é o suficiente pra que sejam coisas praticamente diferentes.

          — Novamente. É a mesma coisa, ambas são frutas, blá, blá, blá, ambas possuem vitaminas, blá, blá, blá.

          — Esqueça! É inútil. Você realmente é um idiota.

          Enquanto ele demonstrava uma total falta de vergonha, eu simplesmente esfregava meus olhos ainda em um estado sonolento, meio que não acreditando que só dormi cerca de três horas antes de Koa me acordar. O que, para então, já era dia, e o sol se encontrava espantosamente brilhante pelas janelas, e eu, que permaneci sentado com as costas para uma parede, recebia tais raios solares diretamente em meu rosto. O lugar que escolhemos para o aconchego noturno foi a primeira sala do bloco norte, na verdade, se você entrar e virar à direita, já encontra ela.

          — Então? Você não dormiu, não é? — perguntou Koa com certa preocupação.

          — Acha mesmo que eu conseguiria dormir aqui? É como tentar passar a noite em um presídio, e acredite, conheço pessoas que já fizeram algo assim.

          — Eu consegui.

          — Você é estranho, não conta.

          — Não sou estranho! Enfim, você teria dormido bem se tivesse conseguido algum dinheiro.

          — Prostituição de novo? E você, por que não tenta esse plano no meu lugar?

          — Eu?! Não, eu não...

          — Ah, vamos! Você seria uma bela pros-ti-tu-ta.

          — Espera! O que vo...

          Eu consegui.

          Koa até então tinha usado isso contra mim, o que, de fato, era sua arma secreta para me irritar constantemente — e estava conseguindo até pouco tempo. Porém, agora eu tive não só a chance, como toda uma situação que favorecesse a possibilidade de usar isso contra ele.

          — Aposto que teria uma fila inteira de clientes — indiquei com um sorriso espantoso em meu rosto.

          — Não! Pare com isso! — pediu Koa com arrependimento. — Eu sei o que está fazendo, não continue!

          — Tudo bem. Eu tenho uma ideia de como conseguir algum dinheiro e sair daqui.

          — Então você vai...

          — Sem prostituição. Sem qualquer coisa de teor sexual.

          — Então o que é?

          — Iremos trabalhar.

          — Hã?!

          Trabalho.

          O bom e velho trabalho honesto.

          Para que fique claro, não. Sendo totalmente sincero, e talvez este seja o momento de maior decisão na minha vida, então mereça esta verdade... eu jamais trabalhei. Nunca. Nenhuma vez.

          Também não é como se eu tivesse uma vida de alta classe com banheiras de ouro repletas de notas de cem, na verdade, sempre vivi de uma maneira comum, simples. Porém, em situação alguma eu tive a necessidade de trabalhar, o que fortalece o fato de que meus pais trabalharam arduamente para evitar qualquer esforço antes do momento adequado. Em outra situação, minha mãe impediria esse ato e me indicaria fazê-lo apenas daqui a dez anos. Mas...

          Por jamais ter trabalhado, nem mesmo sei como ou por onde começar. Citei essa opção por ser — além da mais óbvia — a mais "fácil", mas não sei nem mesmo o que fazer — isto, claro, se eu sei fazer algo também. Ainda que eu perambulasse pela cidade inteira à procura de algo, eu nem mesmo saberia o que procurar. Então, de certa forma, essa não é uma excelente ideia. O que realmente me intriga é o que fazer quando achar um trabalho.

          O que fazer. Novamente usando palavras adjuntas para retratar uma coisa que não sei.

          Pérolas não possui um acervo muito grande de trabalhos que eu e Koa possamos fazer. O mais provável é que teremos problemas pelo menos nas quatro primeiras tentativas, eu diria três, mas conhecendo a gente...

          Em outras palavras, será um dos maiores desafios da minha vida.

          Mas antes de qualquer coisa, antes mesmo de levantar-me de onde estava, afastando a caixa de gelo com a cabeça do vampiro, tive Koa obstruindo minha visão periférica, estando agachado em minha frente; por um segundo, ele movimentou-se o bastante como para ver o que havia atrás dele. No instante em que a imagem que eu vi refletiu em minha retina, eu congelei. Diria que fiquei pasmo, mas eu pude falar alguma coisa, e foi exatamente o que fiz.

          — Koa, poderia me dizer quem é esse senhor sentado ali? — perguntei com meu dedo apontado para o homem sentado em uma cadeira no outro lado da sala em que eu e Koa dormimos.

          Com certa prudência, ele virou-se para conferir e voltou com uma resposta.

          — E-Eu não sei.

          Essas foram as exatas palavras de meu amigo híbrido de homem e gato, as quais foram desferidas com certo gaguejo em sua voz e uma expressão pálida — mas considerando que sua pele é de fato muito branca, quase não vi diferença.

          Em todo caso, o homem ali em minha frente sentado era de fato um senhor. Visivelmente adulto, de pelo menos quase trinta anos, cabelo curto com penteado para trás um tanto social, pele clara e um terno escuro, com uma mala pequena vermelha ao lado dele. Logo, e sem se importar com minha presença, ele tomou um maço de cigarros do bolso de seu paletó e tomou um em sua boca já buscando o isqueiro do outro bolso.

          Não demorou mais do que um segundo para que eu o associasse com o que eu senti ontem, com o odor que eu tive o temor de sentir, cigarro. Sendo esse homem um fumante, sendo ele alguém que está aqui nesta escola, que outrora estava caída aos pedaços, não resta muita dúvida ao que se diz respeito dele e o que pode nos fazer. O homem do qual ouvi a risada e senti o cheiro de nicotina ontem foi ele.

          Sem muita espera, encarando-o de forma singular, tendo Koa observando-o de mesma forma em pé, tomei um pouco de ar antes de falar com ele.

          — E-Ei, quem é você? — perguntei diretamente sem nenhum tipo de conversa paralela antes.

          O homem, que acabara de acender seu cigarro e tragar um pouco do mesmo para seus pulmões, expirou a fumaça sem muita demora e olhou para mim, então, em um ritmo casual, apenas disse:

          — Hm? Oh, mas se não são os dois que bateram a cabeça ontem à tarde.

          Hm? Espera, ele está entregando que foi realmente ele que nos fez entrar em pânico ontem? Não, não, espera, ele não tinha percebido que eu e Koa estávamos aqui até o momento? Esse cara é uma figura.

          — Desculpe — disse em contrapartida —, mas poderia me responder?

          — Ah... quem sou eu, é... isso é um pouco chato de dizer, mas posso falar que pode me chamar de Igor.

          Igor, o simplório nome que esse homem desferiu como uma oferenda de confiança gerou ainda mais desconfiança.

          — Agora — disse ele enquanto tomava a voz —, algum de vocês dois pode me dizer o que estão fazendo aqui? Digo, esta é uma escola primária, então não acho que jovens de aparentemente mais de quinze anos estejam pensando em se matricular. Isto é, claro, se ela funcionasse.

          — N-Não é isso — respondi com certo gaguejo —, nós decidimos passar a noite aqui. Não pretendo voltar a uma escola tão cedo em minha vida.

          — Então largou ela? Que ousadia.

          Droga, deixei transparecer um fato sobre mim para um estranho.

          — Mas — indiquei, pronto para perguntar algo — o que alguém como o senhor faz em uma escola abandonada?

          Ele logo expirou mais um pouco de seu cigarro e me olhou diretamente entre a fumaça com um sorriso ambíguo. Para então, sua resposta veio em seguida.

          — Como que o quê? Se eu não estivesse aqui, vocês não teriam um lugar para dormir.

          O que esse homem disse?!

          O que ele acabou de dizer? Foi isso mesmo? Não tem erro, tem? É, ele realmente disse isso, ele acabou de dizer exatamente as palavras que eu acho que ele disse. Embora a redundância em minhas perguntas seja evidente, não posso deixar escapar a declaração que esse desconhecido Igor acabou de jogar aqui.

          — O-O que você quer dizer com isso? — perguntei com certo receio.

          — Estou dizendo que, sem minha presença aqui, ambos estariam dormindo em um chão sujo com paredes corroídas — respondeu ele, de modo completamente natural.

          Ele admitiu, de fato. Ele é o culpado. É quem fez aquilo conosco.

          Isso é no mínimo desconcertante.

          Recobrei minha calma segundos o bastante como para levantar-me do chão e encará-lo de frente. Com Koa ao meu lado, o qual acredito que esteja tão confuso e surpreso quanto eu, iniciei uma conversa, ou melhor, um interrogatório para com o homem que estava sentado fumando em minha frente.

          — Quero que me diga o que você é — pedi com toda a calma que pude manter.

          — Sabe — começou ele em sua resposta —, às vezes, eu fico pensando em parar de fumar.

          — O quê? Isso não é o que eu perguntei.

          — Se eu não falar sobre isto antes de te responder, isso vai começar a parecer um interrogatório. Você quer que isso seja um interrogatório? Eu não quero, seu amigo das orelhas de gato quer? Não? Tudo bem, então.

          Meu amigo das orelhas de gato? É brincadeira, não é? Esse cara... ele pode ver Koa por quem ele realmente é? Ele consegue ver Koa como a esquisitice que é. Para resumir, Koa não pode ser visto pelas pessoas normais como o que ele é realmente; só conseguem ver um garoto irritante com cabelos claros. As orelhas, os olhos esmeralda, nada disso é refletido em suas retinas, pois, para eles, isso é impensável, então não conseguem ver sua real forma — o que para mim é mais que conveniente.

          Porém, sendo eu alguém que foi inserido no sobrenatural, vi Koa como ele realmente é desde o momento em que o vi pela primeira vez, e isso, é claro, é resultado do que houve nas minhas últimas semanas na escola.

          Agora, sendo que este homem, Igor, viu Koa como ele de fato é, isso só pode significar duas coisas, e já adianto que a segunda é a acertada: ou ele é como eu, teve alguma experiência com o sobrenatural e passou a ver como tudo é, ou ele é o sobrenatural. Sim, considerando que você tem que ser atingido pela bola para se tornar arremessador, nada mais justo do que dizer que esse homem é como Koa, uma esquisitice sobrenatural.

          Com isso em mente, deixei que o confuso Igor continuasse a divagar sobre sua relação em deixar de fumar.

          — O que eu quero dizer é: eu quero deixar de fumar? Não, não quero, porém devo, é algo tóxico o suficiente como para me obrigar a parar de consumi-lo apenas por prevenção de saúde. Ainda assim, eu não sou afetado por seus estágios de corrosão, meus pulmões são mais limpos do que algum dia um ser humano desejou que fossem. Então, por que será que eu devo deixar de fumar algo que não me matará e que eu gosto de tanto?

          Embora eu não entendesse o propósito de tamanha divagação, era nítido que ele sugeria uma resposta minha, ainda que sua pergunta parecesse retórica, eu devia no mínimo me inclinar a dizer algo.

          — Então não precisa deixá-lo — respondi.

          — Sim, você tem razão, eu não preciso, mas existe a realidade moral em que sou obrigado a deixá-lo. Se pararmos para pensar mais a fundo, eu deixaria um vício meu apenas porque é o certo a se fazer, e não porque está me afetando de alguma forma.

          — Eu entendo que falar sobre seu vício seja extremamente interessante — ressaltou Koa antes de continuar —, mas poderia nos dizer quem é e o que quer?

          Soltando o cigarro no piso, ele logo pisou por cima dele com certo ar de não se importar, então levantou-se, segurando sua mala pouco antes de falar:

          — Como eu disse, o meu nome é Igor, e vocês dormiram bem essa noite porque eu permiti que assim fosse, antes de qualquer coisa que continuarei a dizer, gostaria de um pequeno obrigado, por gentileza.

          A formalidade do homem que mudara a forma deste estabelecimento drasticamente assustou com facilidade minha pessoa. Sem muita demora, eu e Koa olhamos um para o outro e, em uníssono, agradecemos ao homem em nossa frente.

          — O-Obrigado.

          Com certa satisfação aparente, ele retomou suas palavras.

          — Agora o que eu sou é meio óbvio, o garoto com orelhas de gato é seu amigo pelo visto, então já deve entender que não sou muito diferente dele, tirando... bem, o que eu fiz aqui.

          De fato, algo a ser considerado em uma comparação.

          — Mas não quero que fiquem tão tensos, eu não vou fazer mal a vocês, apenas vim ver se tinham dormido bem — afirmou ele.

          — Ver se havíamos dormido bem? — perguntei. — Você é algum tipo de bom samaritano que ajuda jovens sem casa pra dormir?

          — Não, sou alguém que viaja por aí roubando coisas que outras pessoas precisam.

          Hm?!

          — D-Do que está realmente falando? — indagou Koa.

          — Vocês fazem perguntas demais — afirmou ele, enquanto passava a mão atrás da nuca —, começo a questionar se fiz o certo ou não em ajeitar este lugar.

          Do jeito que ele fala, parece até que realmente não é uma má pessoa. Porém, eu não deveria parecer que confio nele tanto assim, sinto que estou até mesmo fraudando minha desconfiança, o que faria eu nem mesmo tê-la a princípio. Parando para pensar mais a fundo, eu realmente desconfio deste homem?

          Pergunta boba, mas vamos levá-la mais a sério. Se eu desconfiasse dele, estaria seguindo seus pedidos e continuando a falar quase que normalmente com ele? Digo, quando se desconfia, você atua o mais natural possível para que o desconfiado não saiba sobre sua desconfiança, o que, claro, gera em contrapartida um sentimento de igual natureza no indivíduo a ser desconfiado — tudo bem, bati todos os recordes de repetição de uma palavra na mesma oração sem clonar o uso, pontos para mim.

          De fato, fraudei minha própria desconfiança, sendo assim, irei ignorar tudo e me tornar um grande amigo deste completo desconhecido; bateremos altos papos e tiraremos fotos em diversos momentos juntos para postar nas redes sociais de ambos como demonstração de uma alegria compartilhada entre os dois para com todos e o mundo.

          Não, não, não, não, não... é claro que não. De jeito nenhum, que tipo de maluco eu seria se fizesse uma loucura dessas? Talvez alguém que precise ir para um asilo, mas não aquele asilo, por favor, aí sim seria maluquice.

          Em todo caso, aqui estou eu, encarando um homem que aparentemente não é uma má pessoa e que parece não desejar meu pescoço, sangue, alma ou cabeça. Acho que posso me arriscar, mas com toda a cautela possível, é claro.

          — Igor — disse ao tomar a conversa para mim —, você parece uma pessoa no mínimo decente, e isso acalma o meu coração por enquanto.

          — Agradeço profundamente — respondeu ele com um sorriso dócil, e em seguida continuei:

          — Sendo assim, sendo você esse tipo de pessoa que aparenta ser, eu gostaria que você me dissesse uma coisa.

          — Quer saber como eu mudei a aparência da escola?

          — Não, não é isso — falei em tom baixo antes de perguntar realmente o que eu desejava saber. — Gostaria que me dissesse por que nos prendeu nesta escola durante uma noite inteira.

          Com minhas palavras, o ar parecia haver reduzido sua temperatura pelo menos mil graus, logo, meu hálito podia ser visto sem que muito esforço fosse requerido; e, claro, isso nada mais foi do que uma metáfora conservadora do silêncio que ocupara todo o espaço entre eu e Igor naquele momento.

          Uma convergência de surpresa e inquietação podia ser presenciada ao observar Igor um pouco mais de perto, logo, a inevitável gota de suor que representava a insatisfação e medo escorreu por seu rosto em uma velocidade assustadoramente calculada. Contudo, Koa, o qual se encontrava ao meu lado naquele instante, esbanjava uma duplicata do que descrevi, e como suspeito, assim como você, não entendia o propósito de minha dúvida com total firmeza.

          Para início, o homem que se responsabilizou pela mudança visual e estrutural deste extinto estabelecimento de ensino declarou dois fatos de suma importância para que eu esquecesse completamente a série de fotos que pretendia tirar com ele em festas noturnas. O fato principal, ele ser a causa dessa mudança, se autodeclarar uma esquisitice, uma anomalia sobrenatural, uma bizarrice, apenas me fez notar que ele só poderia ter feito tal proeza de arrumar o lugar já sabendo que eu e Koa dormiríamos aqui.

          O que leva ao fato de número dois: ele é o culpado por nos fazer andar em círculos. Se pararmos para pensar que todas nossas rondas naquela infinita calçada tiveram esta escola se repetindo, eu posso dizer que ele desejava que entrássemos aqui. Posso dizer que ele desejava que eu e Koa passássemos a noite neste lugar.

          Contudo, por quê? O que ele poderia ganhar ao prender dois jovens sem dinheiro que ninguém desta cidade conhece em uma escola abandonada? Ok, isso foi quase um resumo de um crime relatado no noticiário das quatro; posso até ver "jovens desaparecidos são encontrados mortos em escola abandonada" na legenda da tela.

          Então eu o questionei diretamente e, embora ele possa se revelar alguém de natureza perversa, acho que eu e Koa podemos dar conta se formos mais espertos. Sem muita cerimônia, ele procurou agitadamente por um cigarro no bolso de seu paletó, como se estivesse vasculhando dentro de um poço sem fundo — e talvez seja, depois de ele renovar uma escola e nos prender em uma rua sem fim, não duvidaria da existência de um bolso infinito também. Após achar um, o qual ainda estava meio torto devido às altas sacudidas do maço, ele pegou seu isqueiro e o acendeu já sugando uma enorme quantidade de fumaça, o bastante como para o cigarro ter metade de seu tamanho reduzido a cinzas imediatamente.

          Após isso, após tudo isso que ele fez, abaixou seu corpo em uma reverência, e como se nada houvesse ocorrido, ele disse em um tom calmo:

          — Espero que tenham descansado bem, até outrora.

          E ele sumiu.

          Desapareceu.

          Simplesmente se desfez no ar lentamente como fumaça, e vimos como a sala em que estávamos retornava à sua real forma, sua mal-acabada e deteriorada aparência que vimos à princípio. Quando isso aconteceu, a pasma expressão que eu e Koa compartilhamos vendo um vazio em nossa frente foi refletida nos olhos um do outro como uma prova do quão perdidos nos encontrávamos diante daquele momento.

          Igor havia esquivado minha pergunta e sumido no ar.

~

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