Aquários

By EuropaSanzio

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Gregório é um homem frustrado com sua atual vida. Sempre sonhou grande e, contrariando as suas expectativas... More

Epígrafe
Primeira Parte - Post mortem, ante vitae
16 de Julho de 1950
21 de Julho de 1950
2 de Agosto de 1950
14 de Agosto de 1950
18 de Agosto de 1950
22 de Agosto de 1950
Segunda Parte - A Vida em Cor-de-Rosa
24 de Agosto de 1950
3 de Setembro de 1950
8 de Setembro de 1950
9 de Setembro de 1950
21 de Setembro de 1950
24 de Outubro de 1950
1 de Novembro de 1950
7 de Novembro de 1950
2 de Dezembro de 1950
Primeira Carta
Segunda Carta
Terceira Carta
Quarta Carta
Quinta Carta
Sexta Carta
Terceira Parte - Arroubos e Arrufos
23 de Janeiro de 1951
25 de Janeiro de 1951
28 de Janeiro de 1951
14 de Fevereiro de 1951
5 de Março de 1951
28 de Março de 1951
12 de Abril de 1951
2 de Maio de 1951
3 de Junho de 1951
Quarta Parte - A Última das Obras
20 de Junho de 1951
26 de Junho de 1951
4 de Julho de 1951
Quem foi Aquários - ou o que deveria ter sido

29 de Novembro de 1950

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By EuropaSanzio

Quarta Feira, 29 de Novembro

Há dois dias se passou a comemoração na Academia Santa Catarina, aquela que Melinda fez menção para mim. Poderia eu ter narrado naquela mesma noite tudo que se passou, mas fiquei tão extasiado com uma certa ideia que chegarei a transpor aqui , que não me foi possível narrar sobre nada. Entenderão tudo, senhores, tudinho! Paciência, apenas, pois antes quero falar sobre a tal da comemoração. Semanas antes tinha eu ido atrás de saber disso melhor, claro. Cheguei até a falar com a diretora lá. Fui com a áurea de senhor que ajuda uma das meninas da academia, um exemplo sou eu! Quem ficou encucada com isso, óbvio, foi Teresa. Com ela, meu discurso de benfeitor não pega, então restou somente o silêncio de minha parte à sua birra.

Cheguei à escola fazendo o que menos pretendia: chamando atenção. Fui atrasado, entrei bem no meio da fala de alguém, não pude nem passar o meu olhar pela fileira de moças que estavam sentadas em cadeiras sobre a grama, em busca de minha Melinda, pois todos ali fitaram a minha chegada abrupta. Como figura importante, logo trataram de me acomodar em uma poltrona no lugar de destaque, ao lado de filantropos, professores e clérigos. Foi só então, já sentado, depois de ter respirado um tanto para compensar a correria que fiz para chegar até lá, que vi as sobrancelhas de Melinda levantadas em minha direção. Ali, quase perdida entre as outras meninas, bem na fila do fundo, era somente uma pessoinha qualquer aos olhos de outrem, mas, aos meus, era a única coisa que existia entre tantas pessoas tão sem significância alguma a mim. Ela nem se deu ao trabalho de virar a cabeça por completo até minha direção, somente salientou a tez de sua testa. Queria sorrir para ela, poderia alguém perceber? Oh! Mas com toda certeza! Teria sido um sorriso todo bobo, perceptível aos olhos de qualquer curioso que poderia haver, recolhi-me sem esboçar reação alguma àquela menina. Ao menos no rosto, senhores, era eu indecifrável, pois todo o resto desse meu corpo velho era uma sucessão de reações químicas, biológicas e sentimentais. Minhas pernas balançavam impacientes em baixo da cadeira, minhas mãos percorriam minha coxa, indo e vindo, espalhando suor, sentia até um fio quente escorrer pela lateral de meu rosto. Era eu só nervosismo, pois sabia que, em algum instante, aquela mulher, que tanto falava, iria cessar sua voz, as pessoas, então, se levantariam, com várias vindo me cumprimentar, mas tão logo eu me livraria delas e pertenceria somente à Melinda.

A diretora dizia algo sobre parabenizar os esforços das moças em um trabalho de caridade lá, desejava boas festas e um parabéns pela conclusão de mais um ano escolar. Vieram até umas formandas, todas arrumadas, para receber sei lá o que. Isso já tinha se passando bem uma hora de mim ali, aterrando minha vontade louca de possuir Melinda. Se eu pudesse, não fosse suspeito, teria me levantado e sentado ao lado dela, com nossas pernas juntinhas, se não se tocando, compartilhando o calor. Que indiscreto seria! Somente eu de homem no meio daquelas moças. Notem, senhores, que há tanta imoralidade e perigo em tudo que penso em fazer com Melinda. Isso, claro, no olhar maldoso das pessoas, que põem tudo no nada, fazem caso por besteirinhas, paciência! Tive que aguentar as honrarias por bem mais meia hora, até aquele precioso fim de fala chegar, para minha benção. Como eu já previa, veio um bocado de clérigos, professores e filantropos me cumprimentar, os quais tratei de despachar, um a um, com toda a minha educação. Falavam, narravam, contavam e, enquanto, em cada espaço de cada letra de seus dizeres, morava o meu olhar indo se encontrar com minha menina, sempre tentando acompanhá-la. As moças já haviam se levantando e agora se dissipavam pela grama, indo um tanto para lá e outro para acolá. Se não tomasse cautela, logo perderia o meu amor de vista. A cada nova conferida que eu dava, enquanto eu fingia ouvir, moravam expectativas que Melinda também estivesse compartilhando daquele olhar. Ilusão minha, senhores, pura ilusão. Ela estava sentada em um balanço, empurrando seu corpo de leve com o seu sapato, totalmente distraída com o que uma moça que estava em pé, bem ao seu lado, lhe dizia. Melinda mais se preocupava em fazer careta a tudo que a outra falava, comentar algo de vez em quando, pisar na grama noutras horar, retirar lascas de tinta do balanço, em suma, fazer de tudo, menos me encarar. Poderia parecer que ela estava esperando por algo, ou alguém, mas, como já lhes disse, uma conclusão minha nunca é confiável, pois um coração que ama tende com facilidade ao erro.

Porém, irei confessar-lhes, esperava ao menos que Melinda desse um jeito de retirar aquela menina do seu lado, pensando, claro, na possibilidade clara de que logo eu iria me dirigir a ela. Será que ela tinha dúvidas de que eu faria isso? Ou apenas não desejava que eu fosse importuna-la, preferindo ficar de papo com aquela amiga? Seria possível ela optar por aquele presente tão pacato à minha companha? Passava pela minha cabeça que sim, no entanto, após ter eu conseguido despachar todas aquelas pessoas que me separavam de Melinda, esqueci da garota ao seu lado, de minhas paranoias e fui, sem me intimidar, até o balanço onde repousava minha menina. A cada ar a menos que me mantinha longe dela, quebrado pelos meus passos, ia eu olhando-a de forma mais sedenta. Quando poucos metros nos separavam, Melinda fez força no balanço e seus pezinhos voaram longe. A garota ao seu lado, que se segurava nas argolas, assustou-se com o repentino solavanco em suas mãos. Melinda ia e vinha, sorrindo para mim. Sua saia escolar preta ia balançando junto com o vento, a cada nova brisa, mostrando milímetros a mais de suas coxas pálidas, presenteando-me com uma visão magnífica, que compensava a qualquer conclusão precipitada de minha parte.

Senhor Gregório ela não falou, mas cantarolou, fingindo só perceber minha presença quando fiquei bem na sua frente Que surpresa! Não achei que viesse.

Ela estacionou seu movimento, levantando um tanto de areia com seus sapatos.

Queria dizer-lhe alguma coisa, mas meus sentimentos e palavras por ela eram tão impuros, mas tão, que não conseguia verbalizar alguma coisa descente na frente de alguém.

Você não tem que fazer aquela coisa lá, Lou? - Mel perguntou à menina que nos encarava Vá e me deixe. Tenho uma coisa para falar com o senhor aqui.

Melinda, tão direta e tão deliciosamente não sutil!

Foi somente o ser ordinário se afastar para eu me sentar ao lado de Melinda, em outro balanço. Ela riu de deboche da cena que era eu naquele brinquedo e recomeçou a se balançar.

Por que não se balança também? perguntou, gargalhando, seus cabelos, pelo efeito do vento, hora desnudando sua face, hora cobrindo a tudo Podemos ver quem chega mais perto do céu com a ponta dos pés. O senhor é baixinho, acho que tenho só uns cinco centímetros a menos e possuo muita experiência em me balançar. Seria uma disputa justa.

Não peça isso de mim, Melinda, por favor. Diga-me, por que não está usando seus rabinhos de cavalo? Gosto tanto deles.

Minha tia diz que eles são muito infantis para uma moça, não deixaria que eu viesse a esse encerramento de ano idiota com meu penteado favorito. Muito infantil, muito infantil... gozou da falava da tia.

Diga-me, Melinda, há mesmo algo que queira falar comigo ou apenas disse aquilo para a menina ir embora?

Voltando a estacionar, Melinda sacudiu a cabeça, a seu modo, nem negando nem afirmando.

Há algo, sim. Mas não quero lhe falar agora. Falarei mais tarde, pois, na verdade, é um pedido. Envergonho-me de pedir as coisas.

Um pedido? Bem, seja o que for, irei arranjar. Não precisa se envergonhar. Eu disse que lhe daria qualquer coisa, não disse?

Ah, mas não é bem algo! Ah, fique calado. Não falemos disso. Irei lhe pedir quando eu me achar confortável. Agora, lembrei! Há outra coisa para lhe contar, e essa não é um pedido.

O que é? indaguei, curioso.

Passarei um tempo fora, sabia? Achei que o senhor gostaria de saber ela me encarava dissimuladamente, esperando por uma confirmação minha.

Para onde? Do que está falando?

Meus tios vão viajar, fazem isso tooodo fim de ano. Daí, como eles não são loucos de me deixarem só por aí, irei para a casa da minha tia-avó. Já lhe falei dela? Quando eu era pequena, morava com ela.

Por quanto tempo? eu já nem escondia o tom de desespero da minha voz.

Um mês. Mais que um mês! Quarenta dias, talvez? Meus tios viajam por umas duas semanas, mas vão querer se livrar de mim durante toda as férias escolares, sei bem como são.

Maldição! Era o que eu queria gritar. Bem que cheguei a aguentar um mês sem trocar palavras com Melinda, mas aquilo seria diferente. Ela estaria fora do meu alcance, não poderia sequer iludir-me achando que poderia topar com ela nas esquinas. Estaria ela sei lá aonde, fazendo sei lá o que, longe do meu carinho, da minha proteção. Era eu o único a conseguir protege-la!

Mas é muito tempo! Diga-me, como poderei falar com a senhorita?

Para que que o senhor iria querer falar comigo? deu de ombros.

Onde sua tia-avó mora, diga-me Melinda, pare de se balançar, já. Leve a sério. Isso é muito sério. Olhe para mim, pare de se balançar. — Ela não notava o quanto sua distância me faria sofrer?

Contrariada e fazendo carranca, parou com seu movimento e me olhou amuada.

— Mora a uns seiscentos quilômetros daqui, eu sei lá! Sei lá também como o senhor pretende falar comigo!

— Falaremos por cartas!

— Cartas? — seu olhar se iluminou e em um segundo desfez a carranca, passando a rir — Mas nunca escrevi a ninguém! Porém não quer dizer que nunca desejei faze-lo. Na verdade verdadeira, sempre quis. Seria maravilhoso, não é? O senhor quer mesmo fazer isso?

— Mas é claro! Diga-me o endereço certinho e eu lhe darei o meu. Acha que haverá alguém que impeça isso, Melinda? Pense bem.

— Não, não.

— Sua tia-avó?

— Ela é surda e meio cega, nem vai notar quando eu sair de casa para ir em busca de selos. O senhor se preocupa mesmo com isso...

— Isso o quê?

— Nada! Nada! Olhe, acho que agora posso lhe pedir a tal coisa.

Melinda acentuou ainda mais a sua cara de menina inocente, enquanto que, por puro contraste, mordiscava seus lábios pintados de vermelho.

— Entregarei o endereço ao senhor, mas no baile.

— Que baile?

— O do fim de ano da cidade, ora. O senhor irá, não irá?

— Se a senhorita for, irei!

— Ótimo, ótimo. Irei te entregar lá. Porém, há um probleminha...

— Diga-me e eu resolvo.

Ninguém naquela casa sequer cogita em me levar junto! Sabe, eu até fiz menção, mas minha tia disse que não iria pagar a entrada para mim, tampouco eu tinha roupas e a elegância necessária para frequentar tal evento. Disse também que estaria a cidade toda e que não seria bom eu ser vista toda molambenta. Coisas do tipo. Mas eu queria tanto ir! Sabe, meninas da minha idade debutam no baile, sabia, sabia? Várias da minha turma irão e eu ficarei em casa, sozinha! Fale com meu tio, é isso que lhe peço. Se o senhor falar com ele, aposto que ele cede. Aposto! Falará, não é? E logo! Já é sábado o baile!

Queria dizer-lhe que esquecesse o baile. Isso porque, agora, eu tinha a informação de que ela estaria sozinha em casa sábado à noite. Oh, eu a faria companhia! Daria toda minha atenção e ela não se sentiria nem um pouquinho só. Mas como propor algo tão egoísta àqueles olhinhos suplicantes, que me fitavam enquanto mordia seus lábios sedosos? Ah, dane-se meus desejos de tê-la a sós em meus braços. Ao menos poderia encontra-la na tal festa e fazer suas vontades. Se assim ela queria, assim ela teria.

— Falarei! Pode se considerar já no baile! Irá de certeza. Não deixarei passar.

— Gregório, sabia que o senhor não iria me decepcionar! Poderia beijar-lhe agora mesmo, se não fosse esse tanto de gente por aí. — vendo minha cara, ela tratou de completar — Na bochecha! Beijar-lhe na bochecha! Beijar essa sua barbinha tão linda!

— Irá me entregar o endereço no baile, não irá?

Ela assentiu avidamente.

— Foi nosso acordo, não foi? — brincou, piscando.

— E, depois, poderei cobrar esse tal beijo, não poderei? Na bochecha. — tratei de completar.

Encolhendo os ombros enquanto balançava-os, Melinda não assentiu àquilo, mas sorriu de sua forma travessa.

— Não será tão mal assim esse tempo fora, sabe? — observou — Quando eu voltar, terei dezesseis anos. Ah, um fato curioso, nasci no último dia do ano, sabia? Trinta e um de dezembro de mil novecentos e trinta e quatro. Tão logo completo ano, já começa o ano de completar outro ano. Confuso, não? De todo modo, quando eu voltar, não serei assim tão criança quanto o senhor pensa que sou.

— Longe de mim achar isso.

Repentinamente, as feições de Melinda murcharam e ela acomodou sua cabecinha nas argolas do balanço, olhando para o chão.

— Confesse-me a verdade, ainda gostará de mim daqui a alguns anos, quando eu já estiver velha e cheia de ruguinhas? — elevou o dedo aos olhos, apontando às linhas de expressão que nem davam sinal de existência naquele rostinho quase infantil.

— Mas que pergunta tola! Não gostarei da senhorita. Amar-te-ei, mais do que já amo! Escute, Melinda, não gosto da senhorita, eu a amo. Ouviu? Amo-a! Será para sempre minha menina. — como era gostoso possuir um pretexto para fazer aquela confissão.

— Tá bom, tá bom. Mas, pense comigo, quando eu estiver com trinta anos, supondo que eu chegue lá, já que morrerei jovem, como bem sabe... O senhor terá quantos anos? Uns sessenta e....

— Sessenta e quatro.

— Sessenta e quatro! Com essa idade, ainda terá energia para ir atrás de outra mocinha e prometer as mesmas coisas que prometeu um dia a mim. O senhor dirá a elas que está disposto a lhes dar de tudo! Que resolverá a todos os seus problemas. Então, irá esquecer-se de mim. Não serei mais a sua menina. Estarei com trinta anos, velha, já enrugada, poderei até ter cabelos brancos! Que irá querer o senhor comigo?

— Nunca mais me repita tamanha bobagem. Será sempre jovial para mim.

Peguei sua mãozinha, ignorando possíveis olhares sobre nós.

— Veja, — pedi — veja o contraste dessas mãos. As minhas já estão tão acabadas... As suas, tão brancas e sem nenhuma fissura, que primor elas são! Nunca chegarei sequer a idade de ver essas suas mãozinhas como as minhas são hoje, irei ter ido com Deus bem antes delas ficarem assim.... Será sempre jovem para mim, Melinda, sempre. Olhe para mim, eu, com setenta anos, que chance nesse mundo teria de possuir uma linda dama de trinta e seis ao meu lado? Seria uma sorte, não é? Pois bem! Nunca terei tal sorte. Minha esposa terá sessenta e oito quando eu tiver setenta, esta será a jovialidade que terei ao meu lado. Ela sim é velha para mim, Melinda, não a senhorita.

— Homens são diferentes das mulheres, não percebe? Homens vão ficando velhos e a cada ruga ou fio branco que ganham, ficam mais atraentes. Eu, aos vinte anos, já serei considerada alguém descartável.

— Não sei de onde a senhorita tira essas ideias. Nunca vi mulher falar que aprecia rugas nos homens! Quem dirá cabelos brancos.

— Bem, ao meu ver, assim é. Outra, é difícil tirar coisas da minha cabeça quando eu as coloco, então desista de tentar discutir isso comigo.

— Desisto. Mas nunca duvide do meu carinho pela senhorita, isso, jamais, ouviu?

Ela acariciou a minha mão, que ainda repousava em seu colo, entrelaçando, por fim, seus dedinhos aos meus.

— Às vezes não sei como gostar do senhor — comentou.

— Como assim? Apenas goste, pronto. Não é assim tão complicado.

— Digo, a forma como gostar. As coisas que o senhor faz e diz para mim... Não sei a forma correta de lhe interpretar. Ah, bobagem! Não vou continuar a falar, caso contrário falarei tolices.

— Continue, por favor. Adoro ouvir as suas impressões sobre mim.

— Não. Talvez outrora. Teremos tempo. E outra, à meia luz tudo fica mais confortável para ser dito, agora faz um sol de doer, luz demais. Iremos nos ver sábado, não iremos?

— Com toda certeza que sim!

— Como o amo com todo o meu coração! Sinta-se abraçado. Apenas se sinta, pois não posso fazer isso aqui, agora.

Largou minha mão e se levantou do balanço, de forma tão brusca e repentina que meu braço ficou parado no ar.

— Tenho que ir, há coisas da escola para aprontar. Logo estarão esperando por mim. Acho melhor o senhor ir também, há muitas moças por aqui, por quem pode se ver encantado, longe de mim querer tal coisa. Tratarei de arranjar o endereço certinho e o senhor lembre-se de ir falar com meu tio.

Soltando beijos ao ar, foi-se.

Isso tudo, senhores, há dois dias. Faz dois dias que não faço nada senão isso, mergulhar-me nas palavrinhas confessas de Melinda. Se havia alguma dúvida sobre ela ter ou não carinho por mim, foram cessadas. Estava claro, como meu próprio amor por ela, que Melinda me tinha apreço. Oh, como me tinha! Agora acho-me confuso, com meus próprios sentimentos embaralhados. Tenho vontade de beija-la, pôr minhas mãos em sua cintura, cheirar seu cabelo, alisar seu pescoço! Não ligo de pôr ordem a essa confusão, pouco me importa! Amo-a como um pai, mas amo-a ainda mais como um amante. Não há amor mais verdadeiro que essa junção a qual meu coração criou de forma tão espontânea. Amo-a das duas formas, por isso mesmo estou certo que ela é o ser mais estimado desse mundo. Amo-a como um pai idolatra sua filha, como o pai que acolhe, que dar amor, que dá a vida. Mas amo-a também como um apaixonado em seu ápice, disposto a tudo em nome do impossível. Há, senhores, amor mais puro e de magnitude maior como esse que aqui descrevo? Minha Melinda, minha filha, também o meu amor. Jamais a deixarei, nunquinha! Um pai não larga seu filho, um homem não abandona a sua mulher. Assim serei, assim seremos.

Convidei, bem hoje, Sr. Dorneles para beber algumas cervejas comigo. Não foram precisas muitas para ele ceder ao meu pedido. Dei-lhe uma gorda quantia, que ele arregalou os olhos ao pôr na mão, e pedi-lhe que usasse em serviço de Melinda, que lhe comprasse um vestido e sapatos de seu agrado. Preferi dar uma quantia exorbitante para ele se sentir no direito de pegar um pouco, uma espécie de suborno velado. Se eu lhe desse pouco, ele tomaria parte da mesma forma e nada sobraria para Melinda. Com aquele valor, dei a entender que desejava tudo do bom para ela, que iria averiguar suas vestimentas e conferir o investimento que fiz. A essas horas, talvez, Melinda já até tenha ido fazer sua festinha com o presente. Tento imaginar seu rostinho feliz, provando vestido, calçando sapatos. Tão linda! Queria eu ter ido acompanha-la nessas escolhas. Não teria nada mais extasiante do que vê-la conferindo o vestido em seu corpo, passando suas mãos pelo tecido, ajeitando seu bojo. Enquanto isso, ficaria eu no canto, apenas observando-a. Ela me olharia de soslaio, riria, daria de ombros. Eu, lá, vendo-a, em íntimo confessaria a mim a mesma coisa que agora digo: não há nada nesse mundo que eu queira mais bem que Melinda.

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