Intrínseco

By ElissMoura

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"Será mesmo possível alguém se apaixonar pelo seu próprio anjo da guarda? Acredito que sim, pois eu estava, i... More

Vencedor do The Wattys 2015
Prólogo
Despedidas
Como nos velhos tempos
3. Perdida e Salva (I parte)
3. Perdida e Salva (II parte)
4. O Melhor Perfume do Mundo (I parte)
4. O Melhor Perfume do Mundo (II parte)
5. Destino
6. Invasor
7. Convite (I parte)
7. Convite (II parte)
8. Damas
8. Damas (II parte)
Bônus (Não é capítulo)
9. Brincando de bonecas (I parte)
9. Brincando de bonecas (II parte)
10. Tempestade
10. Tempestade (II parte)
11. Os Sofrimentos do Jovem Werther
11. Os Sofrimentos do Jovem Werther (II parte)
11. Os Sofrimentos... (finalzinho da II parte, que por alguma razão o wtt cortou
12. O Gênio da Lâmpada
12. O Gênio da Lâmpada (II parte)
13. Promessa
13. Promessa (II parte)
14. Mais difícil do que deveria ser.
Aviso.
15. Julgamento
16. O Beijo (II parte)
17. Choque
17. Choque (II parte)
18. Quem É Você?
19. A Lei Dos Cem Anos
Promoção no Ar.
20. Intrínseco
21. Perguntas e Respostas
22. Permissão
23. Você Teria Coragem?
24. Temperamental
25. Vontade
26. Eu Sinto Você
27. Condicional
28. Momentos
29. Momentos (II parte)
30. Visita
31. Opressão
Resultado da promoção.
32. Princesa
33. Presentes
34. A Festa
35. Confronto
36. Juízo Final
37. Escuridão
38. Vazio
39. Sacrifício
40. Luto
41. Possibilidades
Epílogo 3... 2... 1...
Não perca...
Atenção!
Orgulho! ❤

16. O beijo

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By ElissMoura

Entrei no prédio e encontrei Marcos esperando por mim ao lado da porta do elevador.
Ainda parecia chateado. Mas falou comigo.
- Oi.
- Oi. - respondi ao cumprimento, enquanto caminhava para as escadas.
- Por que não usa o elevador? - sugeriu ele, em tom de boa surpresa, quando subi o primeiro degrau.
Virei-me para olhá-lo. A interrogação saltando aos olhos.
- Consertaram esta manhã! - explicou, quando a porta do elevador abriu-se depressiva.
"Já estava na hora" pensei. Quase nem me lembrava que tínhamos um elevador no prédio.
Hesitei por um momento. Tive um estranho medo de entrar naquele elevador. Obviamente não era nenhum tipo de medo claustrofóbico. O que eu sentia tinha a ver com ter que enfrentar Marcos. Eu não teria para onde fugir se ele quisesse recomeçar nossa conversa e isso era meio preocupante, aliás, preocupante demais.
Marcos segurou a porta do elevador, olhando-me paciente, com um sorriso mínimo nos lábios.
Encaramo-nos em silêncio. Várias coisas sendo ditas pelo olhar: perguntas, respostas, pedidos de desculpas, explicações... Eu ainda não havia reparado, mas os olhos dele estavam mais caramelos hoje. Sara ficaria louca se o visse agora, se visse estes olhos que me encaravam. Eu tinha quase certeza de que poderia rolar alguma coisa entre eles. Pelo o que eu conhecia de Sara, as chances eram de noventa por cento, e pelo o que eu conhecia de Marcos...
- E aí, vamos? - perguntou ele, chamando minha atenção, atrapalhando minhas estatísticas.
Respirei fundo e por fim resolvi entrar no elevador. Não tinha o que temer, eu não precisava ficar apavorada, afinal nosso apartamento ficava no quinto andar e usar o elevador nem era realmente necessário, seria uma subida rápida e tranquila.
__ Vamos! - murmurei, desistindo das escadas.
A porta de metal se fechou com um ruído baixo. Marcos apertou nosso andar no painel de números iluminados. Houve uma movimentação incomum e depois, finalmente, acho que estávamos subindo.
Um silêncio opressor e deprimente pairou sobre nossas cabeças com prazer, mantive os olhos grudados no marcador de andares ao lado da porta, desejando que fosse mais depressa - aquele silêncio estava acabando comigo - mas então, vi Marcos esticar o braço com cuidado meticuloso e apertar o botão de emergência.
- O que está fazendo? - perguntei sobressaltada, encostando na lateral metálica, quando a caixa minúscula em que estávamos chacoalhou, rangeu, tremeu, estalou e... parou.
- Precisamos conversar! - ele olhava-me de frente, a expressão confusa.
Não seria uma subida rápida, muito menos tranqüila. Por que foi que acreditei nisso?
- Olha, Marcos, já conversamos e não quero brigar com você. Então, vamos esquecer tudo o que dissemos esta manhã, tudo bem? - pedi, totalmente arrependida por não ter escolhido as escadas quando tive a chance.
- Não se preocupe, Ísi. Não é sobre isso que quero conversar. Não agora! - Marcos hesitou, parecia inseguro. Seus olhos brilhavam mais que o habitual.
Sobre o que ele estaria pretendendo conversar agora?
- Na verdade... quero te pedir uma coisa.
- Me pedir... o quê? - indaguei, ainda temerosa.
- Será que pode o dizer a minha irmã que não fui à aula hoje? - pediu - Por favor, você sabe como Suzana é toda... toda... - ele não conseguia encontrar a palavra certa.
- É, eu sei! - resolvi facilitar. Era realmente difícil adjetivar a personalidade de Suzana sem parecer uma calúnia. - Não sou nenhuma fofoqueira, não se preocupe, não vou bater na sua porta e te entregar pra sua irmã!
__ Sei que não faria isso, - ele meio que sorriu pra mim - mas se Suz te encontrar no corredor e perguntar alguma coisa....
__ Você quer que eu minta, é isso?
- Não, você não tem que mentir, apenas... omitir...
- Omitir? - interrompi friamente.
- Exatamente. Pode fazer isso?
Eu o encarei em silêncio, aquele seu pedido era uma coisa bem simples de se fazer, afinal eu realmente não precisava dizer nada a irmã dele sobre sua freqüência no colégio, mas de repente tomei aquele pedido como a oportunidade perfeita para justificar minha "omissão" da verdade para Beatriz.
- Às vezes precisamos omitir algumas coisas, não é? Quando sabemos o quanto pode ser difícil e complicado dizer a verdade. - atirei essa sobre ele sem nenhuma piedade. Eu sabia que Marcos leria nas entrelinhas e entenderia muito bem o que eu queria dizer com aquelas palavras.
Ele encarou-me indignado. Minha mensagem implícita era bem clara em seus olhos.
- É, - concordou. - acha que pode fazer isso? - ele repetiu a pergunta com ironia,
sugerindo já saber minha resposta.
- Posso. - concordei. - Por você! - acrescentei num tom que inspirava troca de favores.
Marcos acenou com a cabeça e colocou o elevador em movimento novamente. O restante da subida foi feito num silencio ainda mais torturante do que o do inicio. Mas quando nos despedimos, Marcos estava sorrindo e disse que ainda seria muito bom me fazer companhia até o colégio. Concordei com um suspiro pesado, era injustiça eu não conseguir ficar com raiva daquele garoto.
Aquela noite, deitada em minha cama, fiz uma oração aos sussurros. Pedi a Deus que me mostrasse o melhor caminho, que me ajudasse a não ferir ninguém, mas que também não permitisse que eu mesma me ferisse. A inconsciência me dominou sem que eu pudesse perceber, e dessa vez tive o sonho mais perfeito de todos.
Estávamos no bosque, o lugar secreto dele, ao pé do imenso Ipê amarelo, suas folhas e flores dançavam ao leve toque da brisa quente. Robert me encarava com um brilho nos olhos que fazia meu coração doer. Era um brilho tão quente, tão só pra mim. Eu nem ao menos ousava piscar, não queria perder um segundo do tempo que tinha para olhá-lo. Ele deu um passo a frente, vindo em minha direção. Tremi. Outro passo, e mais outro, e então ele estava parado diante de mim. A brisa soprou com mais força e as folhas do Ipê sincronizaram um passo de
dança frenético. Robert ergueu uma das mãos e segurou uma mexa de cabelo que se insinuava pelo meu rosto. Ele sorria, e sem dizer uma palavra inclinou-se para mim e, com toda lentidão existente no mundo, tocou levemente seus lábios nos meus.

Acordei.

Levei instintivamente a mão até meus lábios. Não parecia um sonho, meus lábios formigavam e estavam quentes. O sonho mais real que já tive na minha vida. Se eu fechasse os olhos, tinha quase certeza de que Robert me beijaria novamente.

Não beijou.

Saí do quarto e caminhei até a cozinha. O dia estava claro. Olhei no relógio digital do micro-ondas, logo Marcos estaria na minha porta.
Tentei me apressar. Não comi nada de café da manhã, apenas peguei meus livros, troquei de roupa e quando eu terminava de escovar os dentes, Marcos bateu na porta da frente.
- Precisamos correr se não quisermos nos atrasar! - ele disse, quando o atendi.
Descemos as escadas apressados, numa competição infantil, e ao chegarmos ao térreo do prédio vimos, através da porta de vidro da entrada, Robert Castro na calçada, encostado ao carro preto reluzente.
Esqueci minha bicicleta e atravessei a porta correndo.
- Olá! - disse Robert, com um sorriso maroto nos lábios, ao perceber minha surpresa.
O sangue de todo meu corpo desceu num segundo impressionante para meus pés. Tornei-me tão lívida quanto uma lebre da neve e tremia tanto como se o pelo da lebre tivesse sido arrancado. A voz ficou presa na garganta, sem encontrar um caminho pelo qual pudesse escapar.
Nem mesmo uma palavra de uma sílaba fui capaz de pronunciar.
- Está tudo bem, Ísi? - Robert olhava-me com preocupação. - Você parece um pouco... pálida - acrescentou ainda me analisando.
Por que eu precisava agir como uma perfeita idiota? Era apenas um sonho inocente e nada mais. Ele jamais saberia, a menos que eu lhe contasse, e era claro que eu não contaria.
- Não é nada, eu... eu estou bem! - consegui dizer por fim.
Senti que meu sangue voltava a circular. Esbocei um sorriso amarelo. Robert também sorriu e isso fez com que meu sangue começasse a voltar para os pés. Desviei os olhos antes de virar uma lebre sem pelos novamente.
- O que... está fazendo aqui? - perguntei tentando manter a consciência.
Marcos saiu do prédio e parou ao meu lado, segurando sua bicicleta, estava sério como um velho carrancudo.
Robert nem ao menos olhou para ele, respondeu minha pergunta mantendo os olhos presos em meu rosto.
- Bom, não sabia se você estaria com humor para pedalar está manhã, então pensei em vir até aqui e, sei lá, te oferecer uma carona. - ofereceu com um sorriso caridoso.
Eu realmente não esperava que Robert Castro aparecesse na minha porta, afinal ele não dissera nada sobre vir me buscar.
__ Ele pode vir com a gente? - perguntei, indicando Marcos com a cabeça, numa tentativa lamentável de quebrar a rixa idiota entre os dois.
Antes que Robert respondesse Marcos riu alto ao meu lado.
- Vai sonhando. Prefiro ir para o colégio de joelhos a entrar nesse carro.
- Marcos! - eu o repreendi. Ele fechou a cara para mim. Bufei, com tamanha infantilidade.
Robert deu de ombros, encarando meu amigo "criancinha". Depois disparou seus olhos acinzentados para mim, esperando uma resposta, cheio de expectativa. Marcos olhava-me em silêncio, também esperando.
Ah! era uma boa hora para eu apelar para o ponto de ônibus mais uma vez.
- Tudo bem, Ísi - disse Marcos, condescendente, depois de um tempo imensurável de silêncio angustiante. - Pode ir com ele... se quiser. - ele me lançou um olhar carinhoso e irritado ao
mesmo tempo. Fiquei sem saber qual dos olhares deveria considerar.
- Marcos, não seja infantil. Por que não vem com a gente? - resmunguei, quando ele começou a pedalar, seguindo para o fim da rua. - Marcos...
Ele olhou-me por sobre os ombros e abanou a cabeça com um sorrisinho triste, seguindo em frente, deixando-me para trás.
__"Tchau". - ele disse sem som, antes de virar a esquina e desaparecer.
__ Tchau. - eu disse, mesmo sabendo que ele já não podia me ouvir.
__ Vamos? - Robert estava parado na minha frente, com a porta do carro aberta para mim.
Respirei fundo e assenti, enquanto entrava no veículo.
Ele colocou o carro na estrada e a principio imaginei que faríamos todo o trajeto no mesmo silêncio perturbador de ontem, isso seria uma tortura, mas então Robert se virou para mim, o rosto meio tenso, mas aqueles olhos...
Virei o rosto e encarei a estrada. Não era seguro ficar olhando para ele, não depois daquele sonho incrivelmente real.
__ Seu amigo é um pouco dramático, não? - ele estava tentando quebrar o gelo, mas não me agradava que usasse a infantilidade de Marcos como ferramenta principal.
__ Somos todos meio dramáticos às vezes, essa é a verdade! - respondi meio azeda, tentando encerrar o assunto recém iniciado. Não queria desabafar e aumentar a antipatia que ele sentia por meu amigo.
Senti que Robert ainda me encarava, e como desejei virar-me e encará-lo de volta, olhar
aqueles olhos enlouquecedores e profundos, mas mantive firmemente a cabeça imóvel sobre o pescoço.
__ Algum problema? - ele oscilava seus olhares entre mim e a estrada.
Eu sabia que podia responder um simples "Não, problema nenhum", mas havia um problema, uma questão não resolvida.
Tive que ceder aos meus olhos.
__ Você sabe que ele não gosta de você, não sabe? - indaguei virando-me para olhá-lo.
Robert meio que riu.
__ E ele deveria gostar de mim? - sua pergunta era cheia de um humor sem graça.
Mantive os olhos em seu rosto, tentando encontrar algum vestígio do garoto repulsivo que Marcos parecia enxergar ali.
Não encontrei nada, e eu sabia que poderia ficar procurando para sempre que ainda assim, nada seria encontrado.
__ Você sabe o porquê ele não gosta de você, não sabe? - perguntei, quase timidamente.
Robert balançou a cabeça, um suspiro seco ressoou entre nós.
__ Vejo que andaram conversando. - ele não parecia chateado, ou irritado, ou frustrado.
Parecia indignado.
__ Marcos... só andou me contando umas historias... Disse que voce esteve no hospital, no dia em que a Jéssica nasceu...
Robert me interrompeu bruscamente.
__ Se você quiser posso terminar o trabalho de literatura sozinho. Dona Celina com certeza te deixará trocar de parceiro.
suas palavras me pegaram desprevenida.
__ O que?
Robert manteve os olhos na estrada e pareceu refletir por um momento.
__ Não, isso não daria certo... - resmungou consigo mesmo.
__ É claro que não
__ Acho que não tem ninguém sobrando na turma pra fazer dupla com você a essa altura do campeonato. Bom, talvez você possa entrar na dupla de Beatriz, então vocês seriam um trio, e...
__ Você está brincando comigo, não está? Por favor, diz que isso é só uma brincadeira. - eu praticamente implorei a ele.
Robert encarou-me quieto, e acho que ficou pasmo ao constatar que, seja lá o que Marcos tenho me dito, eu não tivesse considerado.
__ É... só uma brincadeira! - murmurou ele finalmente.
Respirei aliviada. A idéia de "perdê-lo" parecia dolorosa demais, mesmo eu achando que essa reação não era nada natural.
__ Robert, não vou escolher um lado, se é isso o que estava pensando. Para mim, isso tudo
parece extremamente infantil. Tá, seus tios quiseram adotar Jessica quando ela nasceu, mas Suz se recusou a abrir mão da filha, ponto.
__ Você sabe que tem um pouquinho mais envolvido aí. - afirmou categórico.
__ Está falando do dinheiro que foi oferecido em troca da criança? Tá, mas eles deviam
estar... desesperados, sei lá. Isso também não é nenhum pecado mortal. É errado? Sim, mas não imperdoável, pelo menos não para mim.
__ Sabe que ainda tem mais! - pressionou.
__ É, eu sei que você também foi falar com Suzana no hospital, mas e daí, também não acho isso imperdoável. Bom, Clarice é sua tia, você só quis ficar do lado dela, certo?
__ Eu posso cuidar de um bebê!
__ O que? -perguntei, totalmente perdida com aquelas palavras.
__ Foi o que minha tia disse quando viu Jessica pela primeira vez através do vidro da
maternidade. "Eu posso cuidar de um bebê, eu posso Senhor, sei que posso". - Robert virou para me encarar por um momento, havia dor em seu rosto. - Os olhos dela... nunca vou me
esquecer da dor que vi nos olhos dela naquela dia.
Robert voltou a encarar a estrada, estávamos nos aproximando dos últimos metros até o
colégio, então ele voltou a falar.
__ Eu fui até o hospital, na tarde em que Suzana receberia alta, fui escondido até o quarto dela, eu só queria... conversar. Pedir pra que ela não proibisse Clarice de pelo menos visitar a bebê... Mas Suzana estava estressada demais aquele dia, cansada demais e... com medo demais. Estava
apavorada com a idéia de perder a filha para um casal cheio da grana. - Robert suspirou,
diminuindo a velocidade ao entrar no fluxo de carros que seguia para o estacionamento da escola. - Não tive chance nem de me apresentar formalmente. Quando entrei no quarto, ela... surtou, literalmente. Começou a gritar e a me xingar, e dizer que não queria um centavo da minha família, que não era contrabandista de bebezinhos como meus tios, e que era melhor eu ir embora se
não quisesse que ela os denunciasse. Os enfermeiros vieram e tentaram acalmá-la, mas eu sabia que enquanto eu estivesse alí isso seria impossível, então fui embora.
Havíamos chegado ao estacionamento, e Robert manobrava o jipe pra conseguir chegar até a sua vaga.
Eu queria dizer a ele que era por isso que eu não podia, escolher um lado naquela historia toda. Ninguém tinha culpa de nada. Bom, talvez Suz e o Sr Castro tivessem uma porcentagem considerável de culpa pelo desenvolvimento dos fatos, mas isso não fazia deles os vilões, assim como não fazia de Clarice, a esposa enganada, ou Jessica, a que menos tinha alguma coisa a ver com tudo aquilo, as mocinhas da historia.
Robert, estacionou com destreza, desligou o motor do carro e voltou a falar.
__ Eu me arrependi de ter ido até lá, afinal eu não tinha nenhum direito de estar ali - ele tirou a chave da ignição num movimento lento, quase como se a chave pesasse em sua mão. - Quando passei em frente ao vidro da maternidade, no quarto em que a bebê estava, vi sua irmã com ela nos braços...
__ Lena? - aquilo me pegou de surpresa.
__ Havia tanto rancor no rosto dela, tanto... pavor, como se eu fosse entrar naquele quarto e arrancar-lhe a criança dos braços.
Aquela revelação foi algo que realmente me surpreendeu.
__ Então... vocês já se conheciam? - murmurei, só agora entendendo a expressão inexplicável de Lena quando o viu comigo.
Descemos do carro e, mais uma vez encontrei os olhos de Beatriz perplexos olhando-me de longe. Talvez eu devesse ter ido de ônibus. Sua expressão não mentia, ela iria me crucificar na primeira oportunidade. Robert acompanhou-me até a porta da minha sala de História, e, mais uma vez, disse que me esperaria na saída.
Dessa vez não tentei recusar.
__ Tudo bem! - concordei sorrindo, antes de entrar.
O meu sonho da noite passada tomou conta da minha cabeça assim que me vi longe da
presença encantadora de Robert, o som do farfalhar dos galhos das árvores no bosque e o toque dele em meu cabelo acompanharam-me por toda a manhã.
Tentei ocupar minha cabeça o máximo possível com as palavras incompreensíveis dos professores. Não podia vacilar um segundo e permitir que os lábios de Robert tocassem os meus novamente. Não era certo eu pensar nele daquela maneira, porque havia uma promessa a ser cumprida, uma promessa que me impedia de ter todo e qualquer tipo de pensamento que
envolvesse Robert e beijos ao mesmo tempo. Eu tentei, dei o máximo de mim para não pensar nele. Foi um esforço descomunal que exigia a resistência de cada átomo do meu organismo.
Eu tentei, mas era impossível esquecer um sonho tão real como aquele.
No almoço Robert veio falar comigo. Isso só piorou a forma como Beatriz estava me olhando.
Entre a aula de Química e a Educação Física ela me arrastou até o banheiro feminino para despejar sobre mim toda sua raiva.
- O que pensa que está fazendo? - grunhiu, segurando com violência meu braço. Tentei me soltar, mas ela não aliviou o aperto de ferro.
- Está me machucando, Beatriz! - reclamei, quando ela aumentou ainda mais a pressão de seus dedos.
- Ainda nem comecei a fazer isso. - jurou, com olhos cheios de cólera.

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