17. Choque (II parte)

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- Não tem elevador? - berrou Beatriz, quando comecei a subir as escadas. - Eu não acredito que você mora em um prédio que não tem elevador!
- Tem elevador, mas está em manutenção - expliquei a ela, mas isso não diminuiu sua
indignação.
A droga do elevador havia enguiçado na semana passada, com a dona Zélia e o marido dela lá dentro. Coitados, tiveram que esperar por quatro horas, até que os bombeiros conseguissem abrir a porta e tirá-los de lá, direto para o hospital.
- Então é a mesma coisa que não ter! - arfou minha amiga impaciente.
- Não devia estar reclamando tanto, depois de me fazer andar como uma louca por aquele shopping. - rebati, alguns degraus acima, mostrando as sacolas que eu carregava.
- Ah, era um terreno plano e não o Himalaia e, além disso, estávamos nos divertindo. - destacou enfática, sacudindo a outra metade das suas preciosas sacolas de compras.
Comecei a correr escada acima, e quando percebeu que estava ficando para trás, Beatriz disparou a subir os degraus a toda velocidade, quase me derrubando quando passou por mim sorrindo.
Ela era mesmo muito competitiva.

Destranquei a porta e Beatriz entrou como um foguete indo direto se esparramar no sofá.
- Exagerada! - eu disse, tirando a chave da porta e atirando minha mochila e as sacolas na poltrona. - Vem me ajudar a pegar minhas coisas. - pedi.
Ela me seguiu até meu quarto.
- Quartinho bacana! - ela disse, analisando o ambiente por um instante. Percebi quando ela parou para olhar meu mural de fotos e pareceu encarar a foto de Sara com certa curiosidade. Mas ela não me fez nenhuma pergunta a respeito, apenas abanou a cabeça e depois correu para as roupas que eu já havia jogado em cima da cama - Por que não leva um jeans e essa blusa aqui? - sugeriu, segurando minha blusa amarela de malha. Gostei da opção. Enfiei dentro de uma pequena mochila de viagem, enfiei também minha camisola rosa e minha nécessaire com produtos de higiene. Depois fui procurar meu livro de história, eu teria aquela matéria no dia seguinte.
Enquanto eu procurava pelo livro ouvimos uma batida na porta da frente.
- Pode atender, por favor? - pedi a Beatriz.
Ela saiu em direção à sala e minutos depois estava de volta e trazia Marcos com ela.
- Oi! - eu disse, revirando uma pilha de livros no canto do quarto.
- O que é isso? Está fugindo de casa? - perguntou ele, apontando para minha bolsa de roupas em cima da cama.
- É só por essa noite. - comentou Beatriz. - Ela vai dormir na minha casa, faremos a Noite das Meninas - anunciou toda animada. Marcos fez uma careta.
- Parece que será bem divertido! - zombou - Aposto que Ana e Mei também estão nessa?
- É claro que estão! - disparou Beatriz - Aliás, vou ligar para elas agora mesmo e dizer que você aceitou, Ísi! - ela saiu do quarto com o celular na mão.
- Achei! - exclamei, aliviada por encontrar o objeto de minhas buscas.
- Noite das Meninas, é? - indagou Marcos, me olhando de um jeito afetado.
- Não me olhe assim. - pedi, enquanto guardava o livro na mochila. - Este seu olhar me desencoraja!
Ele me sorriu ternamente, em pé ao lado do guarda-roupa.
- Você está bem?
- É claro que estou bem. - falei, verificando minha bolsa pra ter certeza de que havia
colocado alí tudo o que precisava.
- Admiro que esteja dando uma chance a ela. - Marcos sussurrou, enquanto enfiava as mãos nos bolsos da bermuda, de um modo quase infantil.
Encarei seu rosto por um segundo.
- Não estou dando chance a ninguém e, por favor, vamos encerrar este assunto? - pedi,
meio irritada com aquela conversa.
Ele acentiu com a cabeça, e depois sorriu descontraidamente, mudando de assunto.
- Parece que amanhã vou ter que ir para o colégio sozinho, não é? - reclamou.
- Prometo que na saída estarei com você. - garanti.
Beatriz voltou ainda mais animada.
- Minha mãe vem buscar a gente, depois vamos passar pra buscar a Mei. Ana disse que vai com a mãe dela. - avisou. - Já está pronta? - perguntou impaciente.
- Éh, acho que sim! - murmurei, rezando para que aquela noite fosse um programa divertido. Peguei minha mochila com as roupas, meu livro, minha mochila de cadernos e saímos os três do apartamento.
- Até mais! - disse Marcos, parado no meio do corredor.
Pareceu uma despedida tão dolorosa.
- Até mais! - murmurei, e também soou quase como um adeus.
Beatriz me tomou pelo braço e me levou para as escadas, quebrando completamente o súbito clima melancólico.
__ Vamos!

IntrínsecoWhere stories live. Discover now