Intrínseco

Door ElissMoura

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"Será mesmo possível alguém se apaixonar pelo seu próprio anjo da guarda? Acredito que sim, pois eu estava, i... Meer

Vencedor do The Wattys 2015
Prólogo
Despedidas
Como nos velhos tempos
3. Perdida e Salva (I parte)
3. Perdida e Salva (II parte)
4. O Melhor Perfume do Mundo (I parte)
4. O Melhor Perfume do Mundo (II parte)
5. Destino
6. Invasor
7. Convite (I parte)
8. Damas
8. Damas (II parte)
Bônus (Não é capítulo)
9. Brincando de bonecas (I parte)
9. Brincando de bonecas (II parte)
10. Tempestade
10. Tempestade (II parte)
11. Os Sofrimentos do Jovem Werther
11. Os Sofrimentos do Jovem Werther (II parte)
11. Os Sofrimentos... (finalzinho da II parte, que por alguma razão o wtt cortou
12. O Gênio da Lâmpada
12. O Gênio da Lâmpada (II parte)
13. Promessa
13. Promessa (II parte)
14. Mais difícil do que deveria ser.
Aviso.
15. Julgamento
16. O beijo
16. O Beijo (II parte)
17. Choque
17. Choque (II parte)
18. Quem É Você?
19. A Lei Dos Cem Anos
Promoção no Ar.
20. Intrínseco
21. Perguntas e Respostas
22. Permissão
23. Você Teria Coragem?
24. Temperamental
25. Vontade
26. Eu Sinto Você
27. Condicional
28. Momentos
29. Momentos (II parte)
30. Visita
31. Opressão
Resultado da promoção.
32. Princesa
33. Presentes
34. A Festa
35. Confronto
36. Juízo Final
37. Escuridão
38. Vazio
39. Sacrifício
40. Luto
41. Possibilidades
Epílogo 3... 2... 1...
Não perca...
Atenção!
Orgulho! ❤

7. Convite (II parte)

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Door ElissMoura

Pegamos a estrada e Robert ligou o rádio do carro. De minuto em minuto eu checava o
espelho retrovisor. Marcos, muito provavelmente, poderia estar nos perseguindo. Esta idéia me deixou aflita.
- O que foi? - perguntou Robert ao meu lado, quando sondei nossa retaguarda pela décima quinta vez.
Eu devia ter disfarçado melhor.
- Só estou me assegurando de que não há ninguém atrás de nós.
- Uma bicicleta?
- Exatamente. - me entreguei.
- Está aflita porque acha que seu amigo pode estar nos perseguindo com uma bicicleta? - Robert estava rindo.
- Às vezes Marcos tende a ser cuidadoso um pouco além da conta, então não me
surpreenderia se, de repente, ele aparecesse colado no seu carro.
- Acha mesmo que ele pedala tão rápido assim? - indagou, me fazendo ver como aquilo era realmente absurdo - E se ele nos seguir, o que poderá fazer? Invadir minha casa?
Minhas aflições quanto a Marcos estar atrás de nós não duraram mais que alguns minutos, porque logo percebi que estava sentada ao lado de Robert Castro, dentro de seu carro e indo direto para sua casa.
Ah, como eu poderia me sentir aflita com qualquer outra coisa?
Robert dirigia com uma precisão incrível. Meus olhos eram traiçoeiros e não tinham noção alguma do que era passar dos limites.
Enquanto eu lutava para manter o rosto grudado na janela do carro, evitando assim o constrangimento de não conseguir evitar olhar para ele, percebi que a paisagem mudava gradativamente do lado de fora. A medida que entravamos no bairro das Laranjeiras as casas modestas e os edifícios residenciais do Botafogo foram substituídos por algumas capas de
revista de decoração.
Após alguns metros da entrada do bairro, viramos a direita, numa curva leve, e então estávamos numa estradinha de paralelepípedo, sem saída, onde tudo o que se via era, a quase cem metros a frente, uma
enorme construção na cor amarela, graciosa e imponente, que dividia espaço com as árvores ao redor.
Enquanto Robert dirigia em direção a casa amarela e quase sorridente, um pavor involuntário me dominou. Percebi o que eu estava fazendo. Eu estava indo para casa dele. Onde morava a família dele. E eu nem imaginava o que esperar disso.
E se eles não gostassem de mim? Se me achassem uma caipira sem graça? E se fossem um bando de riquinhos esnobes e nojentos?
__ Vamos? - disse Robert sorrindo enquanto desligava o motor.
Ah! Tarde demais pra pedir para ir embora?
Respirei fundo e desci do carro.
O interior da casa era amplo e calmo. Olhei ao redor, analisando o ambiente. A sala de visitas, um dos únicos cômodos que consegui ver, era reluzente. Havia no centro um jogo de sofá de couro branco, que apenas de olhar deduzia-se que era extremamente confortável; entre os sofás uma mesa de centro com tampo de vidro me chamou a atenção - seu sustentáculo era
uma estátua de bronze de uma mulher nua em posição de oração mulçumana. Uma verdadeira obra de arte. As cortinas, em tons pastéis, deixavam o ambiente ainda mais claro e outras obras de arte se espalhavam pelas paredes e estantes.
__ Pode me explicar porquê está matriculado num colégio público, e não numa dessas escolas privadas que ensinam francês e alemão desde a pré escola? - indaguei parando para encará-lo - É sério, porque a julgar por essa casa, não faz sentido você estudar na mesma escola que eu, sabia?
Robert olhou-me sorrindo.
__ Princesa Isabel é um dos melhores colégios do Rio!
__ Acho que já me disseram isso! - resmunguei sorrindo, depois voltei a olhar ao redor - É uma bela casa! - elogiei, tentando manter a atenção em uma única direção. Não queria ser indelicada e ficar olhando tudo ao mesmo tempo. - Caramba... aquilo é um Monet! - tentei conter meu entusiasmo ao me ver diante daquela tela pregada no alto de uma das paredes.
- Sim, "Impression, soleil levant". - disse Robert, e nós dois encaramos o quadro por um instante.
Um amanhecer capturado no porto, chaminés de fabricas, o mar, névoa, velas de barcos e um sol nascendo ao fundo. A tela em si não parece grande coisa e a primeira vista é bem provável que se pense que foi pintada sem vontade, porém basta segurar o olhar no sol por alguns minutos para sentir a paixão de Monet ao criar tal cenário. O nascer do sol, principalmente
sobre o mar, sempre foi um dos instantes de maior beleza para mim.
__ É lindo demais! - murmurei.
__ Sim, mas, pelo o que andei vendo outro dia, não sei se você se encaixa bem no
Impressionismo.
__ Bom, prefiro pintar entre quatro paredes, é verdade. Mas gosto dessa coisa de captar a
primeira impressão deixada pela luz do sol.
__ Isso quer dizer que gosta de Monet?
__ Ele não é meu pintor favorito, mas não posso negar que grande parte de suas obras me fascinam e, se não fosse por ele, eu jamais entenderia o Impressionismo. Essa tela, por exemplo, é sublime, é quase real, é... linda demais!
__ Mas não se iluda, esta não é a original. - destacou Robert, como um alerta.
__ Sei que não. - garanti - A original está no museu Marmottan, em Paris. Mas mesmo assim, é uma representação perfeita.
Robert assentiu enquanto seguíamos pela sala.
O silêncio ali dentro da casa parecia o de uma igreja numa manhã de segunda-feira. O que me fez ficar tensa.
- Parece meio vazio aqui! - comentei casualmente, apavorada com a possibilidade de esbarrar com algum membro da família.
- Meu tio está na concessionária, e minha tia, provavelmente, na casa de alguma amiga com minha irmã. - explicou ele indiferente.
Então estávamos... sozinhos?
Senti-me estranha, sem saber por que de repente tremia toda por dentro.
Respirei fundo e continuei com os olhos atentos a cada detalhe, da forma mais discreta que pude encontrar para fazer isso.
- Você tem uma casa realmente muito bonita! - repeti o elogio, incapaz de pensar em algo mais sensato para dizer.
- Bom, na verdade não moro aqui. - disse Robert, andando para a porta dos fundos da
cozinha.
Eu o segui.
- Não?
Saímos num imenso jardim nos fundos.
- Moro na casa da piscina! - respondeu, apontando para a casa que ficava há alguns metros dali.
Caminhamos até lá, passando pelos canteiros bem cuidados de lilases, rosas,
bromélias, e uma variedade de outras flores que eu não conhecia pelo nome. Minha mãe
ficaria encantada com o cuidado e a beleza desse jardim.
- Bom, tecnicamente, esta é minha casa. - anunciou Robert, quando chegamos a casa da piscina.
Uma imensa porta de vidro dava acesso ao interior do ambiente decorado no mesmo estilo da casa principal: cortinas de pano fino, tapetes felpudos, obras de arte decorando as paredes e a estante.
- Ainda assim, é uma casa bem bonita. - insisti no elogio.
Robert meneou a cabeça, devia ouvir isso sempre que alguém entrava. Se é que alguém entrava ali.
__ Outro Monet? - perguntei, indicando o quadro na parede a nossa direita. - Aposto que também não é original! - brinquei, fingindo repulsa.
__ Se fosse não estaria mais aqui! - nós dois rimos de sua afirmação. Depois Robert encarou o quadro por alguns segundos - "Céu de Baunilha", é incrível como a efemeridade da luz do sol sobre uma paisagem é capaz de alterar tão rapidamente nossa perspectiva da realidade, não
é? Tudo muda tão depressa como se nem mesmo o "para sempre" fosse suficiente.- ele soltou um suspiro pesado, quase como se estivesse cansado demais, depois abanou a cabeça e olhou para mim. - Certo! Agora venha, vou te mostrar a biblioteca.
- Espere aí, você tem uma biblioteca em casa? - minha voz era de deboche.
- Não é grande coisa, mas pode servir para o nosso trabalho. - eu ri com a depreciação em sua voz, enquanto o seguia.
Viramos a esquerda num corredor estreito, onde havia duas portas fechadas.
- Aqui estamos. - disse Robert, abrindo uma delas."A outra deve ser o quarto dele!", pensei involuntariamente.
- Nossa! - exclamei surpresa, entrando no cômodo. Aquela era uma biblioteca particular invejável. - Realmente, não é grande coisa! - debochei.
Ele riu.
- Eu definitivamente não sairia de casa para nada se tivesse uma biblioteca como essa! - comentei, seguindo para uma das estantes de livros, passando os olhos em cada título.
- Não precisa sair daqui... se não quiser! - disse ele. Virei-me para encará-lo, mas Robert mantinha os olhos nos livros enfileirados em outra estante, por isso fiquei sem saber o que exatamente aquelas palavras queriam dizer.
Abanei a cabeça para me livrar de suposições otimistas demais e continuei lendo os títulos de cada livro.
- Minha mãe costumava ler para mim toda noite quando eu era pequena - comentei
espontaneamente - e quando aprendi a ler, ela me dava livros em meu aniversário. - senti uma dor no coração ao me lembrar da época em que eu sabia o que era ter uma mãe.
Forcei minha atenção em não me lembrar de nada que me fizesse sofrer. Definitivamente eu não devia ter me lembrado disso.
- Tem alguma preferência de gênero... para o trabalho? - perguntou Robert, como se
percebesse meu abalo, e quisesse me ajudar, mudando completamente de assunto. Fiquei
agradecida por isso.
- Bom, na verdade não!
- Algum autor em especial?
- Também não!
- Prefere trabalhar com o contemporâneo ou os clássicos do passado?
- Hã, acho que tenho uma quedinha pelos clássicos! - confessei.
- Posso te fazer uma pergunta? - disse ele, depois de uma breve pausa.
Eu o encarei.
- Já percebeu que você me fez varias perguntas? Por acaso está competindo com a Rainha de Sabá?
Ele riu, balançando a cabeça com minha comparação.
- E você já percebeu que é assim que as pessoas conversam?
- E você já percebeu que isso só seria uma conversa se eu também lhe fizesse perguntas, mas que, na verdade, isso é um interrogatório?
Robert riu novamente.
- Tudo bem! - disse ele, encaminhando-se para uma estante de madeira do outro lado do cômodo, e voltando em seguida segurando algo com as duas mãos.
- Um tabuleiro de damas? - exclamei.
- Exatamente! - respondeu ele, com um brilho intrigante nos olhos.
- Esse jogo não é para... crianças? - provoquei - Não seria mais adequado um tabuleiro de xadrez?
- Sabe jogar? - disparou ele, ignorando minhas palavras.
- Acabei de dizer que é um jogo para crianças. Está duvidando da minha capacidade mental ou é impressão minha?
- Se você diz que sabe... - ele deu de ombros e riu.
- Mas afinal, pra que esse tabuleiro agora? - indaguei sentando no tapete, diante da mesa de centro de madeira, imitando seu movimento.
- Você reclamou que te faço muitas perguntas e que só seria uma conversa se você também me fizesse perguntas, certo?
Concordei com a cabeça. Ele continuou.
-- Então, vamos jogar uma partida de damas. A cada peça que você ganhar terá direito de me fazer uma pergunta. Da mesma forma, a cada peça que eu ganhar terei direito a uma pergunta. E aí, o que acha, parece justo pra você?
- Não. - retruquei - Parece loucura. É assim que conversa com as pessoas que vem na sua casa?
- Não, porque não trago outras pessoas na minha casa. - "por que será que eu já imaginava isso?" - Vai querer jogar ou não? - perguntou ele, com um sorriso iluminado e olhos encantadores.
Como eu poderia negar?
- Acho que não tenho escolha se eu quiser tirar alguma coisa de você, não é?
- Ótimo. - ele pareceu satisfeito. - Eu fico com as pedras pretas, você com as brancas, e, por cavalheirismo, pode começar.
- Auto lá! - eu disse, o dedo indicador em riste.
- O que foi? - perguntou ele alarmado.
- Não pode escolher as peças! - protestei.
- E por que não?
- O tabuleiro é seu, certamente escolherá as pedras que te dão mais sorte.
- Sorte? - ele riu. - Quem precisa de sorte em um jogo para criança?
- Então não se importará que eu fique com as pretas, você com as brancas, e que eu recuse seu ato de cavalheirismo e te deixe começar, não é?
Robert meneou a cabeça, analisou por uma instante minha expressão e então, em silêncio, começou a organizar as peças brancas no tabuleiro. Também organizei minhas peças em silêncio. Eu simplesmente não conseguia pensar em nada além de que estava sentada de frente pra ele, prestes a iniciar um jogo de damas com perguntas e respostas.
Algo dentro de mim gritava de felicidade e de puro medo. O que aquele momento queria
dizer, o que significava tudo aquilo?

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