Vision 2 - Prisoners

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"Quando o teu maior medo se tornar real, o que vais realmente fazer?" Sophia sabia que o maior medo dela se... More

1ºCapitulo
2ºCapitulo
3ºCapitulo- POV Harry
4ºCapitulo
5ºCapitulo
6ºCapitulo
7 Capítulo
Ideia
8ºCapitulo
9ºCapitulo
10ºCapitulo
11ºCapitulo
12ºCapitulo
13ºCapitulo
14ºCapitulo
15ºCapitulo
16ºCapitulo POV-Harry
17ºCapitulo POV-Harry
18ºCapitulo- POV Harry
19ºCapitulo-POV Harry
Nota
Nao desesperem
20ºCapitulo
21ºCapitulo
22ºCapitulo
23ºCapitulos
24ºCapitulo
25ºCapitulo
26ºCapitulo
27ºCapitulo
28ºCapitulo
29ºCapitulo
30ºCapitulo- POV Harry
31ºCapitulo- POV Harry
32ºCapitulo
33ºCapitulo
34ºCapitulo
35ºCapitulo
36ºCapitulo
37ºCapitulo
38ºCapitulo- POV Harry
39ºCapitulo
40ºCapitulo
41ºCapitulo
42ºCapitulo
43ºCapitulo
44ºCapitulo
45ºCapitulo- POV Harry
46ºCapitulo
Nota MUITO IMPORTANTE
47ºCapitulo
48ºCapitulo
49ºCapitulo
50ºCapitulo
51ºCapitulo
52ºCapitulo
53ºCapitulo- POV Harry
57ºCapitulo
58ºCapitulo- POV Harry
ultimo capitulo, para quem não consegue ler
59ºCapitulo
60ºCapitulo
61ºCapitulo
62ºCapitulo
63ºCapitulo
64ºCapitulo
65ºCapitulo
Aviso
66ºCapitulo
67ºCapitulo
68ºCapitulo
69ºCapitulo POV -Dean
70ºCapitulo
72ºCapitulo
73ºCapitulos
74ºCapitulo
75ºCapitulo
76ºCapitulo POV- Harry
77ºCapitulo
78ºCapitulo
79ºCapitulo
80ºCapitulo
81ºCapitulo
82ºCapitulo
83ºCapitulo POV- Harry
84ºCapitulo
85ºCapitulo
86ºcapitulo
87ºCapitulo
88ºCapitulo
89ºCapitulo
90ºCapitulo
Especial 5 milhões

91ºCapitulo

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Skylar Grey - I Know You

Sia - Salted Wound

Á medida que eu ia passando as localidades, e os números diminuíam até Londres a minha ansiedade aumentou, mais do que já estava, e se é que isso seria possível. Eu estava toda confusa, molhada, triste, com medo, nunca ninguém tinha tido uma experiencia tão arrasadora como esta. Pelo menos era o que eu pensava. Há alturas na vida em que tu pensas que não pode vir pior, que acabou, não há mais mal por onde vir, aí tu estas enganado, é como um íman, coisa más atraem mais coisas más, é um ciclo que só quebra com o tempo e otimismo. E a miúda otimista que eu era pareceu morrer um pouco a cada dia que passou com esta porcaria. Cada segurança, cada carro, cada arma, cada pessoa passou a ser um suspeito, o meu sorriso fácil parecia estar a morrer, e quando eu olhava para alguém que passava a correr ao lado do carro eu não pensava no que a pessoa poderia ser, eu pensava na atrocidade que ela era, que dentro dela havia algo errado. Porque havia algo errado dentro de cada um de nós.

Faltavam cinquenta km para chegar a Londres, e eu não conseguia pensar, a minha cabeça era um nó. Eu queria ir embora, mas por outro lado eu queria esperar pelo Harry. Eu não sabia o que iria fazer a seguir porque a minha cabeça e o meu coração estavam a puxar para lados opostos. Quando pensava que o melhor era ir embora, o meu coração rematava alguma coisa que o Harry me disse e apertava com tanta força que achava que ele ia explodir.

Depois de desligar o telemóvel o Harry disse que estaria aqui ao fim da tarde, eu ri-me e disse que isso seria uma boa ideia, embora eu nem sequer lhe tenha dito que estava a um passo de me ir embora. Acho que chegou a um ponto na minha cabeça que a minha forma egoísta de pensar está a ganhar a tudo o resto, o meu corpo não aguenta mais o cansaço e a minha cabeça está a ponto de colisão. Sinto-me tão cansada e sem rumo...

O telemóvel toca e deslizo o dedo pelo ecrã para atender.

-Sophia? Estou no aeroporto de Mdrid, chego aí em três horas, por favor não faças nada estupido, liga ao Matt...

Eu tento não rir, mas é mais forte que eu, uma gargalhada histérica salta-me dos lábios enquanto mais lágrimas queimam nos meus olhos.

-Harry? Porque é que tu confiaste nele? Mesmo sabendo o que ele fazia tu tentaste salva-lo... como é que pudeste cofiar tanto nele?

Por um momento não estou a falar com o meu namorado, estou a falar com alguém que deu cabo de mim, que me arrastou para um confusão que podia ter sido evitada se ele não tivesse sido tão idiota...Oh meu Deus desde quando penso este tipo de coisas dele?

-Como é que sabes isso?- A voz dele é um sussurro rouco, quase doloroso.

-Adivinha?! Passei as últimas vinte e quatro horas a ser pressionada contra parede pelo Dean e pelo Matt, e queres saber? Não havia ninguém lá, nenhum daqueles magníficos seguranças estava lá para se meter á minha frente...

O silêncio é gelado, apenas a respiração dele é aguda.

-Ninguém?- Ele sussurra com força.

-Ninguém...

Engulo em seco e tento concentrar-me na estrada, o alcatrão molhado a desaparecer á minha frente. A respiração do Harry é tão grave que me levanta todos os pelos do corpo.

-O que mais sabes?- A sua voz é triste.

-Foi ele Harry, aquela arma estava nas mãos dele, apontada á minha cabeça, ele ia fazê-lo por meio milhão de libras...

O que leva realmente uma pessoa a querer tirar a vida a outra? Não é como se eu não fosse feita do mesmo que ele, não é como se fossemos diferentes. A maneira como um ser humano se pode julgar superior a outro ao ponto de se achar no direito de lhe tirar a vida é nojento, e até á seis meses atrás eu nunca pensei que iria conviver com uma coisas dessas, mas agora estou no meio de uma data de ilegalidades, raiva, guerra, amor... como é possível que tudo isto tenha crescido do facto de uma mãe não sabes distribuir o seu amor? Como é possível que seja o amor a primeira causa de tudo isto?

Bato com as mãos no volante e limpo raivosamente a bochecha.

-Soph?- A voz do Harry está carregada de preocupação.

-O que é que vamos fazer Harry? Estamos na estrada em direção á miséria...

Ele inspira bruscamente e é quase como se estivesse ao meu lado.

-Eu vou resolver isto, o meu voo vai partir em vinte minutos, eu vou estar aí a tempo.

Mas não chega.

-Vejo-te no aeroporto.- Murmuro.

-Não faças nada estupido Sophia. Por favor.

-Amo-te.

-Não sei se me estas a dizer isso porque me amas, ou porque tens medo de não conseguir voltar a dizê-lo, seja qual for a razão, eu amo-te, e quero que fiques aí e esperes por mim.

Deslizo o dedo pelo ecrã e desligo a chamada. Respiro com mais força e abano a cabeça, é só um dia mau, vai acabar e amanhã tudo será melhor.

Eu nunca antes tinha reconsiderado beber café mas uma noite sem dormir, e toda ansiedade de hoje deu comigo em doida, mal consigo manter os olhos abertos á medida que entro no parque de estacionamento do aeroporto. Á carros em todo o lado e quando encontro uma vaga livre não penso duas vezes. Deixo-me ficar de olhos fechados com a cabeça encostada na janela e penso no que vamos fazer a seguir. Ele está a vir para cá mas por algum motivo isso não me acalma, na realidade deixa-me ainda mais perdida e com medo. De alguma maneira ouvimos sempre como os homens querem proteger as suas mulheres mantendo-as afastadas do perigo, mas neste momento eu sinto-me assim, a querer o Harry longe daqui. Estou uma confusão e os pensamentos egoístas que tive em relação ao Harry quando falei com ele evaporaram-se. Estou tão descontrolada que não sei o que quero, não sei o que é certo e nem sei se consigo distinguir o que estou a fazer de bem do que estou a fazer de mal.

Bebo mais um gole da bebida amarga e visto o casaco, enrolo o cachecol á volta do meu pescoço e baixo o espelho para ver a minha cara, tem um rasto de lágrimas por cima da base e pesco uma toalhita do porta-luvas retirando o excesso de maquilhagem, á medida que passo o pano pela cara as manchas odiosas aparecem. A marca da mão do Dean diminuiu na minha bochecha, o meu lábio continua com uma racha enorme ensanguentada. Puxo o cachecol para baixo e vejo a marca dos dedos dele, e parece que ainda sinto o aperto constante. Respiro fundo e volto a colocar o cachecol, no entanto não há nada a fazer quanto á maquilhagem, não trouxe nada comigo e não vou comprar nada.

Enquanto saio do carro com o copo de papel na mão, a mala na outra e um velho guarda-chuva percebo que ainda tenho as roupas encharcadas devido ao tempo que estive á chuva. Quando entro dentro do aeroporto o ar quente atinge-me e sinto-me tremer. Tenho um pressentimento de que vou ficar muito doente.

Entro numa loja e a empregada olha para mim desconfiada, não a condeno, pareço horrível, não só pela minha roupa, a minha cara, o meu cabelo... Agarro num par de jeans pretos, numa camisola de lã cinza e coloco-as em cima do balcão. Por sorte a loja não está muito cheia e as pessoas parecem alheias á rapariga perdida mesmo ao lado delas.

-Boa tarde.- A senhora sorri-me forçadamente.

-Boa tarde. - Passo-lhe o meu cartão enquanto ela passa as roupas pelo leitor de preços.

Digito o código e ela passa-me o saco com a roupa. Quando saio da loja tenho que parar para perceber onde estou situada, estive aqui tês vezes mas isto é enorme e cheio de gente. Toda a gente corre para um lado e para o outro e eu sinto-me tonta a tentar achar a casa de banho para me trocar.

Quando finalmente encontro a casa de banho e me troco sinto-me muito melhor, mais confortável e mais eu. Enfio a roupa molhada dentro da mala gigante que trouxe e tiro de lá o laptop metendo-o debaixo do braço.

Olho os placares a indicar quando os próximos voos vão chegar e falta uma hora e meia para o voo do Harry aterrar. Nunca fiquei tão contente por Espanha não ser assim tão longe do Reino Unido.

Assim que me sento numa cadeira de plástico nada confortável olho para o telemóvel verificando as horas. São 18:50. Fecho os olhos por dois minutos, só dois minutos, dois minutos é o tempo que preciso para compreende. Harry...

A primeira coisa que sinto é uma mão na minha bochecha e sobressalto-me agarrando a mala com mais firmeza na minha mão. Quando abro os olhos estou perdida no mundo. Dois olhos verdes observam-me com intensidade, rugas poderosas debaixo dos seus olhos, e cansaço na sua cara, os seus lábios estão feitos numa linha triste, e sem que me possa controlar os meus braços estão á volta do seu pescoço, a minha mala e computador caem no chão enquanto ele me levanta para me abraçar melhor. Acho que nunca senti um aperto tão grande no meu coração.

-Harry.- Murmuro como uma prece.

-Oh céus.- A sua voz é rouca e ele afasta-me á distância de um braço, a sua cara sustenta um olhar horrorizado. Ele toca suavemente o meu lábio e estremeço com dor, os seus olhos perscrutam todo o meu rosto e vejo enquanto mágoa se transforma em raiva. Os seus dedos alcançam o meu cachecol puxando-o para baixo, os dedos frios tocam a pele agredida.

-Eu vou mata-los, eu vou dar cabo deles.- A sua mão aperta a minha e ele começa a puxar-me com força para fora da sala de desembarque. Eu puxo-o bruscamente para o fazer olhar para mim.

-Não!

Será que ele não entende? Não há nada a fazer, a única coisa que podemos fazer é agarrar naquilo que nos resta e irmos embora com os nossos corações ainda a bater.

-O que raio significa isso? Achas que os vou deixar a rir? O Matt...- Ele passa as mãos pela sua cara, os seus olhos brilham em tristeza e quero anima-lo, dizer-lhe que está tudo bem mas não posso, porque no fundo...bom no fundo nós chegamos ao fim da linha e existem apenas dois caminhos que podemos seguir.

-Eles não se estão a rir, o Dean anda por aí, á espera de nós para dar um passo em falso... ele está furioso...

-Com o quê? O que raio se passou? Porque é estas assim, qual deles foi?

Assisto com horror quando lágrimas banham os olhos dele, elas não deixam os seus olhos mas estão lá.

-Vou contar-te no carro.

Estamos sentados dentro do veículo quente e o Harry não diz uma palavra, as suas mãos apertam o volante com força e os meus olhos não o deixam, á espera que ele simplesmente expluda.

-Ele bateu-te, ele tocou-te mesmo.- A voz do Harry é baixa, e os seus dedos agarram o meu queixo virando-me para ele. O seu polegar passa gentilmente pelo lábio cortado e encolho-me.

-Deixa-me beijar-te. Por favor.

Sorriu sem vontade, mas uma parte de mim está feliz quando me aproximo dele, e os seus lábios tocam gentilmente os meus sem grande pressão, apenas o contacto leve, quase infantil, um beijo que tem algo de imortal na sua composição.

-Eu estou tão feliz por teres cedido e teres-lhe dado o código do cofre.- Ele murmura quase sem força.

Sou apanhada de surpresa.

-Como? Ele queria falsificar os documentos e tu dizes-me que não estas nem um pouco chateado?

-Do que me vale uma grande empresa se ele te poderia ter magoado mais? No fim do dia Soph não importa o quê, és tu que estás lá, só tu, não o dinheiro, não as propriedades... és só tu.

Fecho os olhos ao som das suas palavras e deixo-me render ao facto de tudo ir ficar bem, que talvez tudo vá ficar melhor amanhã.

-Então vamos embora? Vamos para Nova York? Vais acabar o teu curso comigo? Vamos...

-O quê? Não, nem pensar, eu vou encontra-lo e fazê-lo pagar por esta merda toda.

-Não Harry! Esse é o problema, ninguém está a conseguir desistir, deixa isso, vamos desaparecer, vamos embora.

Não é um pedido, sou eu a implorar por alguma paz, O meu corpo e a minha mente não aguentam mais medo, desespero, fúria...

-Eu não sou um cobarde...

-E eu sou? Deixa-me dizer-te não é cobardia nenhuma fugir de lutas que não vão dar a lado nenhum.

Ele fecha os olhos com força e passa os dedos pelo cabelo rebelde, parece quase como um anjo atormentado, até que abre os olhos e eu não podia saber melhor o que vêm ai.

-Sabes se me tivesses ligado ontem talvez eu tivesse impedido todas estas coisas.

-Eu sabia! Eu sabia que de alguma forma eu ia ser a culpada!

-Tu e essa mania de nunca falares comigo, de tentares pôr-te á minha frente.

-Eu liguei-te...

-Porque sabias que não podias mais sozinha, porque tinhas chegado ao teu limite!- A sua voz aumenta de volume e no meu interior quase que posso sentir o chão tremer.

Engulo as lágrimas e percebo que não vou a lado nenhum assim, o Harry é um homem sedento de poder, e de teimosia, ele tem que ter tudo como quer, e nem eu o vou conseguir demover, por muito que isso seja triste, eu sinto que agora não é uma questão de me manter a salvo, ou a ele, sinto que ele quer apanha-lo por honra, e isso magoa-me mais que tudo.

-Eu vou buscar as minhas coisas ao apartamento, vou comprar uma passagem e vou para Nova York, se quiseres vir comigo...

Ele abana a cabeça e ri-se.

-Espera! Tu estás a deixar-me?- Ele soa incrédulo.

-Não. Estou a dar-te a escolher entre vires comigo e acabares com toda esta merda que nos rodeia, ou ficares aqui sozinho a lutar contra algo que nunca vai desaparecer.

-Tu não irias faze-lo, tu não sabes viver sem mim.- Os meus olhos aumentam de tamanho e engasgo-me com as palavras duras.

-Acho que temos uma boa oportunidade para o testar agora. Por favor vamos para casa.

Ele arranca e nenhum de nós diz nada, sinto-me fria, vazia e estupidamente só. Encosto a cabeça á janela e deixo que a minha respiração a embacie, enquanto as gotas de chuva escorrem lá fora.

Eu sei que o que estou a fazer é quase loucura, mas não acho que possa aguentar mais perseguições, mais medos. É como se a minha vida estivesse intoxicada, e toda esta energia horrível, esta chuva, este país. Todo este cinzento, toda esta tristeza não é para mim. Onde estava eu com a cabeça á seis meses atrás para me meter num avião para um dos sítios mais chuvosos do mundo? Onde estava a minha cabeça quando quis vir para cá? Mas no fundo sei que nada em mim se arrepende. Vivi os melhores e piores momentos aqui, e talvez de alguma forma o facto de os maus começarem a borrar os bons me faça querer voltar para os meus pais. Talvez o meu pai tivesse razão, talvez eu seja demasiado nova.

-Não vás...- A voz do Harry perde-se com o som da chuva a bater nos vidros, e o meu coração salta com força contra o meu peito, quase tanta força que o posso ouvir.

-Não fiques...- Murmuro rabiscando os vidros.

-Eu vou proteger-nos Soph, eu...

Viro-me para ele e tento controlar-me, tento falar calmamente mas não consigo.

-Para de prometer coisas que não vais fazer, para de me dizer que vai ficar tudo bem aqui quando não vai, para de dizer que há um futuro aqui, quando é óbvio que não há nada aqui. Nada, só sombras de coisas que nunca vamos poder apagar.- Grito alto quando a minha frustração me atinge-me.

Ele não diz mais nada e continua a conduzir, concentrado nos seus pensamentos, e sinto-me como a bruxa má, sinto-me tão mal que não consigo nem pôr me no lugar dele.

-Eu não quero magoar-te Harry, mas não creio que possa aguentar mais desta merda por mais tempo. Eu amo-te e não há nada que vá mudar isso.

-Se me amasses tanto como dizes ficavas comigo, confiavas em mim.

A sua voz é dura, e sem sombra de vida, as palavras ferem-me tão profundamente, que acho que foi a coisa mais dolorosa que alguma vez me disse.

-Isso não é justo. De todo.- Murmuro.

Ele não me responde e olho para ele novamente, está tão serio e nem sequer parece estar a respirar, é como se se estivesse a fechar, como se estivéssemos a voltar para trás e ele estivesse a erguer as muralhas que eu destrui. Ele está a tentar fazer com que eu não o afete.

E isso dói.

Quando oiço a porta do carro bater percebo que chegamos. Abro os olhos suavemente e olho para o relógio no meu pulso, são quase dez da noite. A minha porta abre-se e a mão do Harry agarra a minha suavemente, meto a mala ao ombro e sigo-o até ao elevador.

-Será seguro? Todos aqueles seguranças estavam envolvidos com Matt.- A minha voz esganiça-se e o Harry não me responde limita-se a ficar calado.

-O apartamento está limpo, o Louis chegou mais cedo e revistou-o, não há nada aqui dentro.

Ele aperta-me suavemente a mão e quando o elevador para no nosso andar e saímos para a frente as luzes fracas acendem-se com o toque do Harry. Tudo está no seu devido lugar, e apenas alguns vestígios de que estive aqui esta manhã.

-Preciso de fazer um telefonema.

Fico a olhar para ele enquanto o vejo desaparecer dentro do escritório, talvez vá verificar se fiz mais estragos do que apenas dar uma cópia do testamento ao Dean.

Fico parada no meio da sala a olhar em volta, como se de alguma forma a minhas pernas me implorassem para sair, para desaparecer dali, como se o meu coração quisesse dizer-me algo, e o meu cérebro tocasse todos os alarmes.

Abano a cabeça e tento perceber como vim aqui parar, eu sei que a segurança do prédio é boa, mas não assim tão boa se o Dean entrou uma vez certo?

O Harry aparece e agarra a minha mão, quase como que a arrastar-me para o quarto, ele fecha a porta atrás de si. Os meus olhos piscam e o seu olhar cai sobre mim. Ele suspira e senta-se na cama, com calma.

-Avisei a policia, na realidade eles andam a tentar ligar-me desde ontem á noite.- A sua voz é arrastada, ele passa as mãos pela sua cara, e sento-me ao lado dele.

-Porque?- Pergunto, embora ache que o Matt me deu a resposta esta tarde.

-Ele tentou levantar alguns documentos originais no banco...

-Conseguiu?

-Não, há um acordo, só eu os posso levantar. Isso alertou as autoridades, isso e o facto de ele ter apresentado documentos falsos.

-O Matt falou-me disso, ele disse que o Dean anda louco á minha procura, ou á tua...

Os olhos do Harry caem novamente em mim e ele deita-se para trás puxando-me com ele.

-Tu foste incrivelmente esperta em tê-lo deixado sozinho na estrada, era óbvio que ele não te ia tentar levar até mim.

-Porque dizes isso?

-Ele tinha reservado uma passagem para o Japão, para hoje á meia-noite. Ele ia entregar-te ao Dean, e ir-se embora.

Os meus olhos fecham-se e tento concentrar-me no facto de estar com o Harry, isso parece lutar contra o medo e o pânico dentro de mim.

-Eu sei que estas com medo, e não te vou mentir eu estou com medo também, mas podemos sair disto juntos.

Perco-me no verde musgo dos seus olhos e pestanejo enquanto passo a mão pela sua face, delicadamente quase para memorizar a sensação da sua pele debaixo da minha mão. Tento manter os olhos abertos, mas não me vale de muito, o cansaço dos últimos dias abate-se sobre mim, e a ultima coisa que oiço é qualquer coisa como " fazer-te feliz".

O meu peito move-se com força, e os meus ouvidos zumbem.

Um tiro.

Levanto-me rapidamente e olho em volta. O Harry não está no quarto e a porta está meio aberta. Corro até á sala enquanto tropeço, as lágrimas não me deixam ver claramente e quando chego á sala há um móvel deitado no chão, uma cadeira partida, parece um rasto de confusão até ao escritório. Soluço com força enquanto o pânico toma conta de mim. Estou paralisada, não me consigo mexer até ao escritório com medo do que vou encontrar.

E se alguém estiver mais lá? E se eles dispararem para mim? O Harry? Ele está ferido?

Abano a cabeça e obrigo-me a caminha para dentro do escritório. A cena á minha frente choca-me e por um momento não distingo o emaranho no chão. O Harry está caído contra a parede com um revolver na mão, e o Dean tem sangue escuro a escorrer-lhe pelas costas. Sinto-me tonta, parece que vou cair a qualquer momento, á tanto sangue no chão, perto da perna do Harry. Vejo uma faca espetada na sua coxa esquerda e corro até ele, os seus olhos estão aberto mas parecem perdidos. Ele não se fixa na minha cara.

-Harry!- Grito e ajoelho-me ao seu lado. A sua cara está ensanguentada, do seu nariz escorre sangue e tem um corte enorme na sua bochecha, está tão fundo. Meto a mão na poça de sangue que sai da sua perna e suspiro enquanto arranco a faca da sua perna e ele berra.

Levanto-me a cambalear e pego no telemóvel. A chamada é quase em camara lenta enquanto chamo os serviços de emergência, os meus olhos não deixam o corpo imóvel do Dean, a minha cabeça anda á roda, vejo tudo em duplicado...

-Os sinais vitais estão estáveis, foi apenas choque e exaustão.

Uma voz ao longe diz, e tento respirar rapidamente.

-Hey! Está tudo bem.- Um rapaz ruivo coloca a mão na minha testa e volta a baixar-me para o sofá.

Olho em volta e percebo que ainda estou em casa do Harry... Harry!

-O Harry? O meu namorado?

Sento-me em pânico e olho á volta.

-quanto tempo estive assim?

-Não mais que vinte minutos. Eu não sei qual dos rapazes era o seu namorado, mas lamento informa-la de que um deles faleceu durante a viagem para o hospital.- Os meus olhos arregalam-se e tento baixar-me para agarrar a mala que deixei perto do sofá quando cheguei.

-Não pode sair, tem a tensão muito baixa, e sofreu um pequeno ataque de pânico.

-Preciso de saber...

Espreito pelo vidro transparente. Estou aqui á dois dias. O Harry parece irreconhecível, tem uma grande ligadura á volta da cabeça, algo parece a cadeira partida foi primeiro contra a cabeça dele. Á pontos na sua bochecha, e a sua perna está em recuperação, parece tão frágil. Ando para trás e para a frente e sento-me novamente na cadeira de plástico desconfortável. São onze da manhã e ele ainda não acordou, estão a medica-lo fortemente para não sentir dores. Não sei como me sinto em relação a isso, na realidade não sei como me sinto em relação a nada.

Toda eu estou dormente, fria, enregelada. Sei que devia entrar ali dentro e tocar-lhe, mas não tenho coragem. A minha cabeça está inundada com imagens violentas, sangue... e ele matou-o, o Dean está morto. Não sei se o que sentir em relação a isso, sinto-me mal com o sentimento de alívio. Mas estou aliviada em parte... Isso é errado? Eu não sei, e duvido que alguma vez o consiga saber.

Uma mala de viagem enorme está mesmo ao meu lado e não consigo olhar para ela. Tenho um livro no meu colo e coloco um papel por cima, clico na caneta e tento perceber o que fazer a seguir...

Talvez quando leres isto eu já esteja no outro lado do mundo, talvez seja a coisa mais horrível de se fazer contigo deitado numa cama de hospital, aproveitar-me da tua vulnerabilidade para sair, sem ao menos falar contigo. Mas de algum modo eu sabia que se estivesses acordado eu não conseguiria olhar para ti, e dizer-te adeus. Talvez eu seja tão cobarde como nós os dois pensávamos, mas agora, neste momento eu não consigo mais. Cheguei ao meu ponto de viragem. Durante os dois dias que estive sentada a olhar para ti lembrei-me de uma serie de coisas que me disseste. Mas principalmente lembrei-me de todas as vezes que me disseste que eu me achava invencível, e sabes? Senti mesmo, estar ao teu lado, ter a oportunidade de estar contigo deu-me a experimentar sensações que nunca tinha sabido que podia sentir. Isso foi o que tu me fizeste, fizeste-me sentir amada, bela, estimada, a lista é interminável. Mas tinhas razão eu não era invencível e eu percebi isso agora. Quando te vi deitado no chão... isso fez-me perceber que não sou nada, sou um pião num jogo que é a vida. E quando digo que cheguei ao meu limite, não me refiro a nós. Eu vou amar-te, eternamente como o meu primeiro amor. Eu refiro-me ao que eu me tornei, uma sombra de mim própria. Não por ti, mas em todo o jogo em que nos envolvemos, tudo foi tão desesperante, e as imagens daquela noite não deixam a minha cabeça, o barulho do tiro, o sangue, o teu grito... está tudo a repetir-se constantemente na minha cabeça, e no fundo... no fundo acho que se tivesse acordado mais cedo, se não tivesse adormecido nada disto teria acontecido. E sei que me vais dizer que a culpa não foi minha, mas de que serve isso quando a minha cabeça está inundada com sons e imagens horríveis? Do que me serve todo este amor, toda esta intensidade se no fim de cada vez que fecho os olhos vejo que enquanto estávamos a viver na nossa bolha havia pessoas á nossa volta a sofrer para continuarmos a amarmo-nos? Do que serve um amor que magoa tudo e todos? A intensidade daquilo que sinto por ti assusta-me agora que te vejo deitado, a respirar calmamente á minha frente. O que sou eu sem ti? Isto não é uma pergunta para uma rapariga de dezoito anos pois não? Eu amo-te tanto que me dói, e talvez esteja aí a falha das grandes paixões, a intensidade é esmagadora Harry e neste momento não consigo ligar com ela. Nem fisicamente, nem psicologicamente. Estou partida, perdida e não sei se consigo continuar a lidar com isto... estou perdida.

Sei que vais ficar zangado comigo quando leres isto, sei que vais odiar-me, mas depois de tudo isso passar, de todos esses sentimentos se irem, sei que vais perceber-me. Sei que uma parte de ti sente o mesmo que eu. E tu vais deixar-me ir não vais? Vais deixar-me terminar o meu curso, vais deixar-me lutar as minha próprias lutas, vais deixar-me correr sozinha? Vais deixar-me amar-te eternamente sem a promessa do meu regresso? Vais? Porque acima de tudo Harry eu amo-te, e talvez esse veneno a que chamamos amor, seja o que nos mata e nos matem vivos.

Eternamente tua

Sophia

Dobro o papel em quatro partes e ganho coragem para entrar no quarto. Cheira a hospital, mas cheira também a ele, e enquanto lhe deixo o pepel na mão e lhe beijo os lábios, percebo que estou a fazer aquilo que acho melhor para nós os dois. O meu coração dói, mas depois de dois dias a responder a perguntas sobre tudo o que se passou, a ser interrogada por polícias que me fazem questões de "como", "porquê" e "quando" sei que estou certa, e que por muito egoísta que pareça faço-o também por ele, porque ele também precisa disto. Foi como naquela noite em que lhe disse que ela era como uma borboleta. Precisava de ser livre.

Ele precisa de ser livre.

Fim do segundo livro.

O link da terceira temporada está no link externo, amanhã irei publicar mais uma coisa neste livro, é para voces por isso fiquem atentas. Obrigada por tudo, acabei de ver que chegamos ao 2M nesta historia, e não consigo descrever a minha gratidão para com voces, só queria que soubessem que são a parte mais importante disto, e que sem voces eu não saberia que era capaz de contar historias desta maneira.

Amo-vos.

Já podem adicionar a terceira temporada na vossa biblioteca ahah, vou deixar o link aqui tambem, ou então procurem Vision 3, se não conseguirem vão ao meu prefil e adicionem.

Link: http://www.wattpad.com/story/33134856-vision-3-the-sentence

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