64ºCapitulo

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Geralmente geometria descritiva é o suficiente para me fazer esquecer por um bom bocado o mundo, mas agora, depois de uma hora na casa de banho, duas horas depois do Dean e algum tempo entre isso com o Harry, a minha técnica de concentração falhou miseravelmente.

-Se "o" é o ponto de origem da projeção, eu preciso, preciso de unir até ao plano de projeção de A sobre o plano de "a" e... Merda.- atiro o lápis com força contra o chão.

A minha cabeça é envolta nas minhas mãos. O pior de tudo é que se olhar para trás agora posso ver que fiz asneira com o Harry, quer dizer, ele tem razão, ele não podia adivinhar que ela ia lá, ele ama-me, ele não ia fazer nada para nos prejudicar agora certo?

O meu problema é que sou impulsiva, ciumenta e pouco tolerante. Mas todos temos defeitos, e o Harry não atuou da melhor maneira e depois...o Dean beijou-me...o que é que é suposto eu fazer em relação a isso agora? Quer dizer, agora seu puser em perspetiva se a Ninna o tivesse beijado, nem que da forma que o Dean fez, eu ia dar em louca, acabar com ele provavelmente.

Não consigo pensar corretamente com a maneira como a voz do Dean persegue o meu subconsciente, ele fez de prepósito, ele sabia que me ia deixar em apuros, ele sabia. Baixo-me e apanho o lápis no meio dos meus dias tentando concentrar-me no exercício simples novamente.

 Não sei que horas são quando a porta bate e o Harry para na entrada, o seu olhar zangado sobre mim, lembrando-me de quando o teu professor te vê a bater nos outros miúdos, e tu ficas parado na espera que ele não ache que foste tu, quando ele sabe.

A pergunta seria, "o que andaste a fazer com a Ninna quando fui embora?" Eu sei que ele não me trairia, mas á sempre aquela vozinha irritante na minha cabeça.

-onde foste?- Ele caminha até á bancada e senta-se á minha frente.

-andei por ai.- o nó na minha garganta aumenta. Eu não quero mentir-lhe, mas tenho medo.

-só isso?- ele pede.

Há algo frio entre nós, parece como se ambos nós estivéssemos em patamares diferentes á espera que algo aconteça, como se ambos tivéssemos consciência de coisas diferentes.

-sim, fui beber chá, andei por ai, e pensei...

Os seus olhos são frios, duas pedras reluzentes em preto, em como só os cadeeiros nos iluminam do escuro apartamento, um jogo de sombras que nos trás novamente para o espaço entre nós, que parece aumentar.

-sobre?- por um momento ele tem alguma esperança.

-sobre o que eu fiz, eu lamento, eu estava zangada e impulsiva, fiz uma cena, e tu tens razão, tu não ias adivinhar, no entanto o teu comportamento também...

-chega.- ele levanta-se deixando-me sozinha.

Oiço o eco dos seus passos, enquanto ele caminha para longe, parece-se com um mau sonho, em que ele está a ir, eu estou a ficar, e nenhum de nós é suficientemente forte sozinho. A porta da casa do quarto bate com força, e estremeço com o barulho.

Ás vezes, eu imagino se nenhum de nós nos encontrássemos nestas circunstancias, como seria, se nós iriamos dar grandes passeios pelo jardim, brincar de coisas estranhas como ele deixar sempre o tampo da sanita para cima, ou se eu ia desorganizar a sua coleção de filmes. Coisas desse género na sua maioria nunca aconteceram.

Arrumo o as minhas coisas com cuidado, levando o meu próprio tempo a acabar, sabendo que quanto mais devagar for, mais devagar o vejo. Esse é o lado mau da nossa relação, o medo que temos de contar as coisas um ao outro. Sei que exijo a verdade dele o tempo todo, mas será que parei para pensar e ver sobre mim mesma? Serei eu assim a tão boa no que toca a partilhar com ele?

Vision 2 - PrisonersWhere stories live. Discover now