Operação Luthor

بواسطة _BiaSantos

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Uma coisa é de conhecimento comum para todos os agentes do FBI: Lionel Luthor fabrica drogas ilícitas. Mas o... المزيد

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 39 parte 2
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51

Capítulo 3

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بواسطة _BiaSantos

Boa leitura.

                                                                                         ❖

Alex sabia que aquela missão era um erro no exato momento em que Winn a sugeriu, e tudo piorou quando John apoiou as mãos no quadril e torceu a boca para o lado enquanto considerava.

Quem em sã consciência considerava uma idéia de Winn?!

O arrependimento já a estava corroendo por dentro, ela devia ter ficado ao lado de Snapper Carr quando ele sugeriu há vinte minutos cancelar a missão, não que ela achasse que mudaria alguma coisa, a missão havia sido aprovada, Carr estava apenas sendo estúpido. Mas ela devia ter ficado do lado dele apenas para deixar claro a insatisfação que sentia com a decisão, mas... Ela não o suportava , quando ela encontrasse alguém que realmente tivesse alguma simpatia real pelo novo Diretor Chefe–temporariamente, ela se lembrou– Alex pediria demissão, nem a mãe de Carr devia gostar dele.

Mas ela devia ter deixado de lado o desgosto pelo homem por apenas um segundo para salvar a irmã. Alex se lembrava muito bem da ultima vez em que Snapper tinha ido contra uma missão, e essa tinha sido a ultima missão do pai dela.

Alex freou o carro quando o sinal se fechou e praguejou.

O relógio estava correndo.

Distraidamente ela batucou os dedos livres do volante na calça jeans impacientemente.

Parecia que no ultimo mês tudo o que fizera foi desejar ter mais tempo e se preocupar com aquela missão estúpida, com a irmã aprendendo a ser uma vadia e com a insanidade dela por querer entrar naquele ninho de cobras peçonhentas.

Alex ainda achava que Kara não estava pronta.

Maldita hora em que John tinha deixado Kara voltar para a agência, "ajudar com a papelada" ele havia dito e onde a irmã dela estava agora?

Alex estava no aeroporto no momento em que Kara desceu do avião, ela tinha acompanhado cuidadosamente o momento em que ela caminhou em direção ao pequeno grupo de pessoas realmente parecendo uma mulher nascida e criada em um berço de ouro.

Alex tinha estudado Lena Luthor enquanto a mulher olhava para Kara, e ela tinha deixado a mão direita pairar muito próxima a arma embaixo da camiseta quando Samantha Arias franziu as sobrancelhas em desconfiança para Kara.

Mas depois de tudo ter corrido relativamente bem com Lena Luthor no aeroporto, e com Samantha Arias é claro – Alex previa que a mulher iria causar problemas em um futuro próximo– somado ao fato de Alex saber que Lionel Luthor ainda não estava na mansão tinha aliviado um pouco do peso sobre os ombros dela.

Isso até o momento em que ela foi convocada para representar John, porque o irresponsável não estava atendendo ao telefone.

Deixar apenas Winn de suporte fazia o estomago de Alex se revirar, mas ela não tinha muita escolha no momento. Kara teria que se cuidar sozinha por alguns minutos.

Não era ela quem tinha pulado na missão estúpida como se ela fosse uma piscina de chocolate?

Kara já havia passado uma semana sem suporte e era uma das melhores agentes que eles tinham, ela sobreviveria.

Que grande surpresa John já estar lá quando ela chegou.

Snapper apenas a tinha deixado ficar com o propósito de obter ajuda, mas Alex agradeceria se ele a tivesse descartado imediatamente, porque não foi nenhum pouco saudável o ouvir cuspir para quem quisesse ouvir tudo o que podia dar errado naquele plano estúpido, na verdade Alex poderia ter acrescentado muito mais a lista dele, as noites em claro a tinha proporcionado muito tempo para refletir sobre aquela loucura.

Ela havia saído da sala com vontade de vomitar.

O sinal se abriu e ela acelerou, o pneu cantou, Kara iria querer a cabeça dela se soubesse o que estava fazendo com o Jeep dela, mas aquilo não era nada comparado ao que Alex faria quando tivesse que tirar a maldita bunda dela de dentro daquele ninho de cobras quando tudo o que ela disse acontecesse.

Ela pegou o caminho mais curto para chegar até a casa onde ela e Winn passariam os próximos dias, ela ficava a seis casas de distancia da mansão Luthor, ela queria ter pelo menos uma vantagem ali, já que aparentemente o cérebro de todo mundo havia virado gelatina.

Alex foi obrigada a diminuir a velocidade em uma rua de apartamentos por conta de um acidente e foi nesse momento quando ela olhou para a calçada pensando em usá-la de pista que ela avistou Samantha Arias.

Alex havia visto aquele rosto muitas vezes nos últimos meses enquanto estudava a origem da relação da mulher com Lena Luthor para reconhecê-la. Havia uma garota de dez anos ao lado dela usando uniforme de futebol. Ruby Arias, a filha de Samantha.

Alex a teria ignorado e gastado energia xingando mentalmente o motoqueiro desastrado que havia batido na BMW a alguns metros a frente e buscando formas de sair do engarrafamento se não tivesse reconhecido a corretora de imóveis dela, a Sra. Brown, conversando com Arias exatamente em frente ao prédio de apartamentos onde ela tinha estado olhando apartamentos a menos de um mês atrás, e o conhecimento de que havia apenas um único apartamento vago em o todo aquele prédio fez o estomago de Alex se agitar novamente.

Alex olhou para o carro amassado a três carros de distancia e para a ambulância que havia acabado de chegar, ela tinha um minuto.

Winn nem mesmo tinha ligado.

E Kara merecia isso.

Ela saiu do carro e se apressou para a calçada.

— Boa tarde, Sra. Brown– Alex disse interrompendo a conversa das duas mulheres— Apenas queria confirmar se está tudo certo com meu apartamento.

— Oh, senhora Danvers, que bom que você veio!— O modo aliviado com que a mulher disse as palavras deixou Alex desconfiada— Tentei ligar varias vezes, mas sempre dava caixa postal.

— O que?– Alex rapidamente capturou o celular do bolso da jaqueta, o coração dela falhou uma batida quando descobriu que ele estava desligado, a bateria havia acabado.

Alex bateu a mão à testa com força, amassando a franja entre os dedos enquanto o celular pendia frouxamente em sua mão.

Winn.

Kara.

A temperatura corporal de Alex desceu a menos dez graus quando a recordação de uma secretaria segurando um telefone e a chamando quando ela saiu da sala de reunião apressada a atingiu como um soco.

Ela havia ignorado a mulher.

Meu deus.

O que ela tinha feito?!

— Você está se sentindo bem Sra. Danvers ? Você parece um pouco pálida.

— Eu aluguei o apartamento, senhora– Samantha disse dando um passo determinado na direção dela.

Todos os pensamentos que a tinham mantido acordada voltaram com força e derreteram completamente o gelo de seus membros.

Alex estava dentro do carro em menos de dez segundos.

A corretora gritou o nome dela, mas Alex a ignorou totalmente, o apartamento havia perdido completamente a importância.

Ela deu partida no Jeep e fixou os olhos no espelho retrovisor quando pisou no acelerador.

O Jeep retrocedeu perigosamente para trás e então cantou os pneus quando Alex acelerou e as rodas subiram na calçada.

Ela mal ouviu o grito de Samantha e da corretora quando passou por elas acelerando e buzinando para saírem da frente.

                                                                                          ❖

A sala de jantar era ao lado da sala de visitas, logo depois de um pequeno corredor onde ficava um vaso de palmeira.

As paredes do cômodo eram pintadas de um tom suave de creme e uma grande varanda ficava na parede frontal da casa, as cortina azul marinho haviam sido puxadas para dar vista ao pátio e as estátuas iluminada por luzes na frente da casa.

A luz dos refletores no gramado não conseguia atingir alguns dos contornos dos rostos e das crinas dos cavalos e o jogo de luzes e sombras os deixavam grotescos.

Uma mesa de madeira coberta por uma toalha verde escuro ocupava o centro da sala, doze cadeiras de madeira escura e envernizada de estofado verde estavam posicionadas ao redor da mesa retangular, cinco dos lugares já estavam ocupados.

Lena e vovô Joseph não estavam ali.

Na cabeceira da mesa e de frente para Kara estava sentado um homem de cabelos negros, mechas prateadas e finas entremeavam entre os fios negros como feixes de luzes sendo engolidos por pura escuridão.

Lionel Luthor tinha poucas rugas no rosto e seus traços eram esculpidos por linhas severas. Ele não tinha a aparência de um homem com quase sessenta anos. Debaixo das sobrancelhas grossas e escuras olhos verde-floresta – como os de Lena– encararam Kara com desinteresse.

Ali estava o alvo dela, sentado a poucos metros de distância como se fosse um rei. O homem responsável por todo aquele plano mirabolante e o motivo pelo qual ela tivera que aprender a ser outra pessoa em trinta dias.

O sangue se agitou nas veias dela ao estar cara a cara com o homem que eles iriam por atrás das grades.

Kara teve o cuidado de manter o rosto provocante o suficiente e de não deixar nem uma fagulha da agitação que sentia aparecer em seus olhos.

Menos de um segundo depois ela desviou os olhos de Lionel como se estivesse acostumada à presença dele e os olhos dela foram para Lilian Luthor sentada na cadeira à direita do marido.

Ainda era um pouco chocante pensar em se sentar na mesma mesa que Lilian Luthor e compartilhar uma refeição.

Kara havia crescido assistindo aos filmes dela ao lado de Alex e de seus pais.

Eliza, a mãe adotiva de Kara, praticamente sabia tudo sobre a atriz, era até um pouco assustador e até mesmo Alex por mais que não admitisse– nem com uma arma apontada para a cabeça– era fã de Lilian.

A mulher era sensacional em seus filmes de ação, aquela pose de mulher poderosa e aquela coisa que ela fazia com a sobrancelha eram demais, Kara nunca admitiria para ninguém, mas o filme de 1986 no qual Lilian interpretou a espiã Alexandra– era daí que vinha o nome de Alex– havia sido apena mais um empurrãozinho na decisão dela de seguir a profissão do pai.

Eliza provavelmente iria surtar se descobrisse que Kara havia sentado na mesma mesa que Lilian Luthor e não tinha pedido um autografo para ela.

Lilian estudou Kara por alguns segundos com os olhos azuis pálidos e frios antes de desviar os olhos educadamente.

Kara quase sorriu, a mulher era incrível demais.

Lex Luthor estava sentado à esquerda de Lionel, e diferente do pai– que vestia um terno preto impecável– o filho estava usando apenas a camisa com a qual Kara o vira mais cedo, o paletó e a gravata haviam sumido e a camisa estava um pouco amassada.

Alana estava sentada ao lado do marido, uma mão de unhas afiadas e pintadas pousada sobre a dele na mesa, mas os olhos dela estavam em Kara e o sorriso que ela ostentava enquanto a observava fez Kara se arrepiar de um jeito ruim.

A cadeira ao lado de Lilian estava vazia e Kara deduziu que devia ser a cadeira de Lena, porque Luna estava sentada na cadeira ao lado. A criança parecia ainda menor sentada na cadeira luxuosa.

Kara caminhou elegantemente até o lugar posto ao lado de Alana e sorriu para ela enquanto se sentava.

Ela pensou em dizer alguma coisa, porque era o Kira faria em uma mesa silenciosa como aquela, apenas para quebrar a paz de espírito dos ocupantes, mas o som de saltos clicando no piso vindo da entrada da sala a impediu.

Lena entrou pela porta rapidamente e não olhando para ninguém em particular disse:

— Me desculpem pelo atraso.

Um som baixo e elegante veio da direção do acento de Lionel e Kara se virou para ver os cantos dos lábios do homem se contraírem em desgosto.

— James– Ele chamou com uma voz áspera e profunda.

Um homem alto, careca e de pele escura entrou na sala, ele usava um uniforme branco impecável e empurrava um carrinho com bandejas de comida.

Kara se lembrava da ficha dele.

O cozinheiro havia nascido em uma cidade pequena, o pai dele havia sido um policial e havia sido morto em assalto quando James ainda era adolescente. Ele havia deixado a esposa, James e mais uma filha de nove anos sozinhos no mundo. A mãe de James tinha lutado sozinha desde então para cuidar dos filhos. Hoje em dia eles tinham uma vida confortável, a mãe havia se aposentado e a irmã havia se formado em psicologia.

Ela "conhecia" todos os funcionários da mansão, sabia o essencial sobre eles, de onde vinham, quem eram, o nome de seus familiares e amigos e se já haviam tido algum problema com a justiça.

A última consideração não era tão relevante, se eles tivessem problemas com a justiça não estariam trabalhando na mansão pra começo de conversa.

James serviu a comida em silencio antes de se retirar.

Kara nunca achou que uma mesa na hora do jantar pudesse ser tão silenciosa, ela estava acostumada a brincadeiras e pessoas falando alto, às vezes brigas pelo ultimo pedaço de bolo de chocolate, mas aquilo parecia mais um enterro.

Ela tentou evitar olhar para os lados e para frente, estar cercada por todos os Luthor era um pouquinho opressor, mas ela sabia que a sensação iria passar, sempre passava.

O problema era o silencio, ele era esmagador e parecia drenar toda a confiança dela.

— Então como foi à viagem, querida?– Alana perguntou quebrando a bolha opressora sobre Kara, ela quase agradeceu a mulher— Conheceu alguém interessante?

Kara mastigou a comida devagar.

Ela tinha ouvido uma pontinha de irritação no tom de Alana ou era impressão dela?

—Não deve ter sido tão incrível assim, considerando que ela ficou apenas seis meses fora– Lex alfinetou enquanto cortava um pedaço de carne.

Esse era o momento, uma palavra errada e tudo iria ruir.

— Para sua informação, querido cunhado, foi uma experiência única – Kara cantarolou divertida depois de beber um gole de água da taça— Mas já estava com saudades da minha família, estava ansiosa para passar um tempo ao lado das minhas meninas.

Os olhos de Lena travaram com os Kara do outro lado da mesa completamente ilegíveis no momento.

— Você pretende ficar ou ainda tem assuntos pendentes lá fora?— Lilian questionou e Kara desviou os olhos para a atriz.

Escondido entre cabelos dourados e um rosto bonito havia aço Kara notou, ela podia ver o brilho astuto nos olhos de Lilian.

— Ficar– Kara respondeu cuidadosamente se perguntando se estava perdendo a ultima oportunidade de escapar que tinha — a menos que surja algo urgente que requer minha atenção.

— O que exatamente você esta fazendo mesmo?– Lex perguntou zombeteiramente— Eu nem sabia que você era capaz de trabalhar.

— Não vamos falar de negócios à mesa, por favor– Lena disse do outro lado da mesa— Já fazemos isso o suficiente nas outras horas.

Kara procurou os olhos de Lena do outro lado da mesa e a mulher devolveu o gesto com um aperto na mandíbula.

A desculpa que Kara tinha era bem simples: Kira havia viajado para estudar uma parceria com um possível empresário interessado nos desenhos dela.

Aparentemente Kira era formada em moda, tinha sido uma surpresa para Kara ela ter completado a graduação.

Então ela havia voltado com o intuito de passar um tempo com a família enquanto isso Leonard, o sócio imaginário dela, resolvia a papelada.

Mas pela pergunta de Lex, talvez o motivo da viajem de Kira estivesse um pouco obscurecido para o restante da família.

Ela ainda estava confusa sobre Lena Luthor, mas depois da discussão que elas tinham tido e do modo como Lena desviou do assunto, Kara achava que estava começando a entender algumas coisas.

A família de Lena provavelmente não sabia que o casamento delas era um completo fracasso.

No inicio Kara e toda a equipe tinham achado que a história falsa era algo que Kira tinha inventado para enganar a esposa amorosa dela, mas naquele momento havia uma nova suspeita pairando sobre a cabeça de Kara como se fosse um tijolo prestes a cair e lhe dar uma dor de cabeça terrível.

Porque algo dizia a ela que quem havia inventado aquela historia era Lena.

Algo nos olhos verdes sussurrava para ela que ela estava certa.

— Acho que é uma boa idéia irmã– Lex respondeu— A voz dela me irrita.

Kara desviou os olhos dos de Lena.

— Lex– Lilian repreendeu o filho do outro lado da mesa.

Lex era um homem inteligente até onde Kara sabia, mas parecia se converter em uma coisa ciumenta e infantil na presença de Kira.

—Oh, não se preocupe querido cunhado– Kara cantarolou— Não me importo em contar minhas aventuras em particular para Alana, aposto que ela não acha minha voz irritante, não é querida?

A mulher respondeu com um sorrisinho.

Lex apertou com força a taça de água e o rosto dele virou pedra, os olhos dele se fixaram em Kara com sede de sangue antes de relutantemente se voltarem para o prato.

Kara se perguntou o quanto ele era capaz de se segurar antes de agarrá-la pelo pescoço e usar a faca que tinha nas mãos para abrir a garganta dela.

O jantar seguiu em silencio depois disso, apenas o barulho dos talheres batendo na louça e eventuais suspiros.

Kara se perguntou se Alex já sabia sobre tudo, ela não havia trazido o ponto eletrônico para baixo, mas o relógio no pulso dela estava pronto para registrar qualquer imagem ou movimento suspeito. Se Kara não entrasse em contato em uma hora, Winn entenderia que havia algo de errado e tomaria as precauções necessárias.

As precauções necessárias eram: Tire Kara de lá– de preferência viva– sem parecer que eles estavam espionando.

Um pequeno bufo chamou a atenção de Kara do outro lado da mesa. Era Luna.

Os cabelos escuros da criança estavam meio úmidos e a pequena franja lateral estava bagunçada. Ela parecia uma pequena rebelde sem causa.

Kara observou com diversão Luna lutando para cortar um pedaço de carne, se embaralhado com os talheres de prata grandes demais para as mãos pequenas dela.

A criança ergueu os olhos naquele momento e encontrou os olhos de Kara com frustração e depois de olhar para mãe – que estava concentrada em um ponto particular da mesa– mostrou a língua para Kara.

Kara sabia que era infantil, mas mesmo assim levantou a mão e tocou um ponto no maxilar exatamente onde havia um band-aid com desenhos minúsculos no rosto de Luna enquanto olhava zombeteiramente para a criança.

Os olhos da garota se arregalaram quando ela levou a própria mão para o maxilar e tocou no curativo. Então ela semicerrou os olhos para Kara e espichou a língua novamente para ela antes de abaixar os olhos para o prato novamente.

Kara gargalhou baixinho com os lábios fechados.

Alguns minutos depois ela captou Luna olhando furtivamente na direção dela e quando Luna pareceu ter certeza de que ela não estava olhando, ela cutucou a mãe para que Lena pudesse cortar a carne para ela.

Kara enfiou uma garfada de comida na boca para não gargalhar e quase se engasgou.

Vovô Joseph não apareceu para jantar e ninguém comentou sobre sua ausência, o que a fez pensar que a ausência dele não era incomum.

Lena a cada poucos minutos encontrava os olhos dela e as vezes sorria suavemente como se fosse a mulher mais apaixonada do mundo, Kara devolvia os sorrisos se sentindo a mulher mais estúpida da face da terra.

Como ela tinha confundido o brilho dos olhos de Lena com a inocente luz do sol? Aquilo era aço, pontas afiadas de aço puro reluzindo na direção dela.

Quando o jantar finalmente se encerrou Kara se apressou–tentando não demonstrar que estava com pressa – para entrar em contato com Winn, já tinha se passado quase uma hora desde a última conversa deles.

Pessoas ricas demoravam muito para comer, parecia que estavam mastigando espinhos a cada garfada, tinha sido uma refeição torturantemente lenta e silenciosa para Kara.

Mas Kara não estava contando com um imprevisto quando chegasse à porta do quarto, na verdade ela estava tentando evitar o "imprevisto", mas ele a agarrou pelo braço com violência diante da porta do quarto e no corredor vazio.

— Onde pensa que está indo?– Lena rosnou, os dedos frios queimando no antebraço dela.

— Indo me deitar?– Kara respondeu um pouco frustrada enquanto se virava para encará-la lutando para manter um sorriso no rosto— A menos que queira se juntar a mim.

— Eu preferiria a morte.

Kara sorriu porque realmente parecia verdade.

— Oh, não seja tão dramática– Ela deu um passo para mais perto de Lena— Sabe que podemos nos divertir juntas.

— Vou me divertir muito quando chutar seu traseiro para dentro de um avião com destino ao outro lado do mundo.

— Achei que estávamos bem, meu anjo– Kara suspirou de verdade desta vez— O que mais há para esclarecer?

— Que tal sua partida amanhã de manhã?

— Sabe, quando eu disse no jantar que iria ficar eu estava falando serio.

— Eu também estou falando serio, quando digo que você, sua vadi-

— Mãe?

Kara olhou por sobre o ombro de Lena para a criança de pijama que segurava um bichinho de pelúcia parada a alguns passos de distancia no corredor e estava olhando para elas, Luna escondeu o dinossauro de pelúcia atrás das costas quando Kara olhou para ele.

— O que foi meu amor?– Lena se virou para a filha e Kara se afastou um passo para trás.

— Você disse... – Luna hesitou com os olhos presos em Kara novamente.

De costas para Kara, Lena suspirou baixinho.

— Me desculpe querida, você pode ir para o quarto, eu já vou ver seu projeto da escola.

Luna assentiu rapidamente e então correu de pantufas de volta para o quarto.

— Acho que seu monstrinho quer que você o coloque para dormir– Kara disse baixinho e divertida.

Um borrão preto se virou para trás e apontou um dedo no rosto dela.

— Cuidado com como se refere a minha filha– Os olhos verdes de Lena queimavam— Sugiro que aproveite a noite, porque vai ser sua última sobre esse mesmo teto.

Lena se virou bruscamente e caminhou pelo corredor antes de sumir dentro da mesma porta pela qual Luna havia entrado.

Kara esperou um segundo a mais no corredor antes de entrar no quarto e se esconder no banheiro para entrar em contato com Winn.

— Winn? –Ela chamou se ajeitando sobre a tampa do vaso sanitário.

O que você tem nessa cabeça, porra?!

O coração dela disparou.

Alex.

— Boa noite chapeuzinho vermelho – Kara zombou, aliviada e ao mesmo tempo apreensiva.

Boa noite vai ser se você me disser que está saindo daí nesse exato momento. – Alex grunhiu do outro lado.

Kara não respondeu e pensou em fingir que a ligação havia caído.

Eu sabia– Ela ouviu a irmã suspirar— Essa missão esta sendo abortada. Quero que saia daí o mais rápido que puder.

— O que?! Não! – Kara protestou e arregalou os olhos com o tom da própria voz.

Winn me contou sobre o surto de Lena Luthor e sobre a omissão de Kira– Alex grunhiu.

Kara evitou um gemido, porque ela tinha a impressão de que Winn tinha feito parecer pior do que realmente tinha sido? Não que tivesse sido bom, de maneira alguma.

— Não foi exatamente um surto–Ela replicou em um tom mais baixo.

Eu ouvia a gravação, Kara.

Kara suspirou e agarrou a borda da pia.

— Tá, mas não precisamos cancelar a missão.

Alex soltou uma risada incrédula do outro lado.

Não precisamos? Acabei de descobrir que em vez de um ninho jararacas você entrou em um de cascavéis, e que as poucas informações que tínhamos são mais furadas do que o fundo de uma peneira e você ainda acha que podemos continuar com a missão?– Alex rosnou e Kara apertou os dedos no mármore gelado.

— Ainda podemos – Ela disse e se apresou antes que Alex a cortasse— Não vê que de certa forma isso aumenta nossas chances de sucesso? Não preciso mais fingir ser a esposa perfeita para a Luthor, o casamento é uma farsa, Lena provavelmente nem se importa com que faço ou aonde vou.

Você não percebeu ainda que está cercada por cobras e completamente cega?! Não tem como você prever o que mais Kira omitiu, um passo em falso, uma respiração errada e não só Lena saberá, Lionel vai acabar com você! – Alex latiu do outro lado.

Era claro que ela sabia, ela não era burra.

— Já era um risco antes, posso lidar com isso.

Não, você não pode!– Alex rosnou– Pelo menos antes sabíamos o que esperar de Lena Luthor, agora não fazemos idéia do que essa mulher pode fazer! Se antes tínhamos duvidas sobre a relação dela com o pai, agora acho que podemos acrescentar isso a lista.

Kara sabia que Alex estava certa em alguns pontos, tá legal, talvez fosse mais que alguns, mas ela não iria sair daquela casa nem arrastada.

Aquela era a primeira missão dela em campo depois de um ano, um ano muito ruim. Não fazia sentido desistir naquele momento, quando já estava dentro da mansão.

Ela só tinha uma escolha, mesmo que isso a colocasse em uma situação pior do que já estava com a irmã.

— Escute– Alex ordenou— Vamos te tirar daí, inventaremos um problema de ultima hora para que você possa viajar, avisamos Kira, e se ela ainda quiser seguir com os planos idiotas de ameaças podemos nos livrar disso em um piscar de olhos. A doce e patética Kara Danvers que ela conheceu vai ganhar de repente o melhor advogado do mundo em sua causa.

Kara bufou.

O plano idiota que Kira havia inventado era uma ofensa a inteligência dela, como se ela não tivesse sentido quando Kira deslizou o colar para dentro do bolso dela.

Mas ela inda não queria desistir, desistir parecia o mesmo que falhar e Kara tinha horror a palavra falha.

— Quero falar com John– As palavras saíram pesadas da língua dela e ela agarrou a pia com mais força.

Um silêncio vazio de emoções foi a resposta de Kara.

Alex ficou em silencio por quase um minuto inteiro antes de responder.

John não esta na cidade. –Ela disse— Ele só volta depois de amanhã.

Então vou esperar e conversar com ele.

Não acredito que você vai fazer isso, sou sua superior!– As palavras de Alex pareciam concreto.

Você me faz fazer isso quando não confia em mim.

Não é questão de confiança e você sabe disso, isso é sobre segurança, sua idiota!

— Posso lidar com isso– Kara garantiu.

Do mesmo jeito que lidou na última vez?– A voz de Alex vacilou na ultima palavra.

Kara sentiu um nó se apertar dentro do peito e de repente engolir ficou difícil.

— São situações diferentes– As palavras dela saíram baixas.

Um silêncio pesado se instalou na linha.

Winn entrará em contato com John, se é isso o que você quer– Alex respondeu— Mas saiba que se algo acontecer será completamente sua responsabilidade– Kara sabia que se Alex pudesse ela a arrancaria pela orelha de dentro daquele banheiro e então a arrastaria até a mãe delas para que ela decidisse o destino dela, depois o que restasse dela, Alex levaria até o diretor— Se for inteligente vai estar em casa a tempo do café da manhã e Lena Luthor vai acordar com um bilhete informando sobre sua viajem urgente que não pode ser adiada.

Alex desligou.

Kara apoiou o telefone na pia e suspirou afastando a franja do rosto.

Havia muita coisa em jogo.

Ela podia perder muito mais do que o emprego se permanecesse ali.

Mas então o que ela iria fazer se voltasse? Sentar e ler informações enquanto Alex trabalhava e a mãe dela a rondava como se ela fosse uma criança prematura?

Sim, ela estava fazendo aquilo por ela, mas não apenas para provar para os outros que ela estava bem, mas para provar para si mesma que não havia se tornado apenas um fardo para a família como tinha se sentido durante o ultimo ano inteiro.

Kara estava cansada de se sentir como uma pedra que a cada dia mais se afundava na lama.

Ela precisava sentir que aqueles cacos quebrados que ela sentia se revirando dentro do peito dela estavam colando novamente e que não iriam desmoronar e se transformarem em pó ao primeiro sopro do vento.

Ela tinha que fazer John acreditar que ela podia terminar aquela missão e sair vitoriosa.

De volta ao quarto Kara percebeu que a mala dela havia sido desfeita como havia pedido.

Ela conferiu se a arma ainda estava de baixo do colchão e depois foi ao closet procurar por um pijama.

Depois de se vestir Kara trancou a porta do quarto e se deitou.

Ela tava cansada não só fisicamente, mas psicologicamente também, e queria esquecer a ultima parte da conversa com Alex e a lembrança dolorida que ela tinha revivido.

Mas o cérebro dela não conseguia desligar.

Aquela foi a primeira das muitas outras noites em que Kara passou acordada naquele quarto, ouvindo os barulhos suaves que vinham do quarto de Lena através da parede fina.

                                                                                          ❖

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