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— Então... A gente precisa conversar. – respirei fundo, mas mantive os olhos no chão, sem coragem de encarar de volta. — O verão chegou ao fim e, com isso, as minhas férias também. Isso significa que eu vou embora... Vou voltar pra cidade, pra faculdade... Vou pra longe daqui. E por mais que a gente não diga em voz alta, nós sabemos que tem algo aqui, entre nós... Um relacionamento íntimo. Quero dizer, eu me abri pra você, contei todos os meus segredos e já te toquei em partes extremamente privadas. Se isso não é um relacionamento, eu não sei o que é.

Passei a mão no rosto, nervosa.

— Eu não consigo nem colocar em palavras o quanto eu vou sentir a sua falta. Eu nunca esperava criar esse laço com você, mas o que eu posso fazer agora? Eu não posso ficar e definitivamente não posso te levar comigo, você pertence à fazenda. Eu preciso ir embora, mas, por favor, não se esqueça de mim. E saiba que eu sempre estarei pensando em você.

Finalmente encarei nos olhos, fazendo bico pra não chorar.

— Eu te adoro, Doralice. E eu prometo que vou tentar parar de comer carne.

A vaca mugiu e começou a se afastar, claramente não querendo prolongar aquela despedida. Mas tudo bem, eu sabia que ela não queria chorar na minha frente.

Suspirei e pulei a cerca de volta.

Eu sabia que tinha que ter uma conversa bem parecida com outra pessoa... O problema era que, além de não saber nem por onde começar, eu também não tive a chance.

Harry estava estranhamente ocupado ultimamente... distante. Eu mal o via.

Ele acordava cedo, antes que eu pudesse acompanhar a sua corrida matinal, se mantinha trabalhando fora o dia todo e voltava tarde da noite, quando eu já estava dormindo.

Havia dias que a única evidência que eu tinha que Harry realmente tinha estado comigo, era o lençol bagunçado do seu lado da cama no dia seguinte.

Eu estava tentando não ser paranoica, mas era difícil não me sentir rejeitada. Quatro dias haviam se passado e tudo o que eu tinha conseguido de Harry eram resmungos dizendo que estava ocupado, isso quando eu conseguia vê-lo em algum momento.

Ele não me abraçava, não sorria, não olhava pra mim... Era como seu eu não estivesse lá, ou pelo menos, não devesse estar. Como uma visita que ficou tempo o suficiente para se tornar inconveniente.

Era isso? Ele tinha se cansado?

Mas tudo isso começou quando ele percebeu que as férias estavam chegando ao fim. E tudo o que ele tinha me dito naquele verão ficava martelando na minha cabeça:

Eu não namoro.

— Você não deixaria a fazenda? Nunca?

— Não tenho porquê deixar.

Se eu pudesse sentir alguma coisa, seria por você.

Eu queria poder sentir mais por você, Mel.

Ele queria, mas não conseguia.

Talvez fosse isso. Talvez Harry percebeu que estava acabando e estava se distanciando para me mostrar que já tivemos tudo o que podíamos. Um verão para eu me lembrar e nada mais. Um jeito de me mostrar suas limitações...

Mas aí eu pensava em como ele costumava me tocar, beijar, olhar... Apertei a correntinha no meu pescoço, aflita.

Não tinha como ser tudo da minha cabeça, tinha? Ele sentia alguma coisa mim... ele precisava sentir.

Angustiada com as vozes contraditórias na minha cabeça, decidi pegar a van e ir até o bar da cidade. Talvez Harry estivesse por lá e ninguém melhor para me dar respostas do que o próprio culpado pela minha confusão.

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Fuck Me [HS]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora