26: você não vale nada

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Naquela tarde, eu estava relaxada como há muito tempo não me sentia.

Eu conseguia ouvir o som do vento chacoalhando as folhas das árvores ao meu redor, escutar o som do canto dos pássaros ecoando aos ventos... Sentir o vento correndo por mim, lambendo cada centímetro meu enquanto permanecia de olhos fechados e braços cruzados, encostada à caminhonete vermelha. Minha boca aos poucos se curvava em um sorriso incontrolável ao sentir os raios de sol subindo pelas pernas nuas, me aquecendo aos poucos.

Era incrível como eu conseguia me sentir, cada pedaço do corpo. Tinha consciência de cada célula correndo pelo sangue quente em minhas veias, ouvia cada batida firme do coração guardado em meu peito, sentia o ar me acariciar por dentro, correndo pelos pulmões... Eu me sentia viva, me sentia acordada.

De certa forma, era exatamente isso que havia acontecido.

Eu tinha me aprisionado no próprio corpo, vivi encarcerada e tracei um caminho que não era meu, corri atrás de um destino que não me pertencia. Vivi a vida da minha irmã como uma forma de tentar mantê-la viva, mantê-la comigo. Mas isso não permitiu que a culpa fosse embora e não apagou os meus erros... No fim do dia, ela ainda estava morta. E eu estava aos poucos deixando de existir também, encenando-a cada vez mais e esquecendo da minha própria identidade. Quem eu era, do que eu gostava, o que eu queria. Mas agora... Agora eu estava de volta. Eu havia acordado.

Respirei fundo, puxando todo o ar que conseguia ao abrir os olhos. O verde ao meu redor era vívido e a terra cheirava à chuva. O céu estava claro e o canto dos pássaros preenchia a paz daquela manhã. Eu estava sorrindo quando dobrei uma das pernas e a apoiei na caminhonete atrás de mim, esperando.

O sorriso não era resultado apenas por ter estar naquele lugar maravilhoso, por finalmente me permitir apreciar a fazenda e deixá-la me afetar. Era porque flashes de uma das melhores noites da minha vida não paravam de lampejar em minha mente.

Harry me segurando, Harry sussurrando, Harry me tendo... A forma como eu o senti ficaria marcada na minha memória para sempre. E ainda me assustava como tudo ia ficando cada vez melhor... A segunda vez foi melhor que a primeira e a terceira foi sensacional frente à segunda. Nós simplesmente não conseguíamos parar, não conseguíamos nos soltar. E no fundo, eu sentia que ainda não estava satisfeita.

Mordi a boca, sem conseguir entender aquela fome nova. Inconscientemente, apertei mais a blusa xadrez ao meu redor, a blusa dele. A roupa cheirava a Harry e caía até o início das minhas coxas, quase tampando por completo o short jeans.

Quando já estava cansando de esperar por ele, o insuportável finalmente saiu da casa, mordendo um sorrisinho manhoso quando pousou os olhos em mim.

Se eu achava que estava diferente, tinha certeza que Harry também se sentia assim, porque o cara andando até mim naquele instante não era o mesmo que tinha me recebido na fazenda, um mês atrás. Eu mal conseguia reconhecê-lo. Nunca o tinha visto tão feliz, os olhos brilhando de forma inédita e cabelos se atrapalhando com o vento de fim de tarde.

Parecia certo vê-lo leve assim, vê-lo feliz... Dava uma sensação de que as coisas estavam se acertando no mundo.

Meu coração disparava a cada passo que ele dava, a pele se arrepiava em antecipação e um tremor animado tomava conta das pernas. Eu não conseguia desviar os olhos dos dele. Tinha algo novo ali, uma conexão que havia se firmado depois da noite do lago.

Descruzei os braços e aumentei o sorriso quando ele estava a poucos passos de mim.

— Você está atrasado, porq... – tentei dizer, mas seus braços me envolveram e lábios me calaram antes que eu tivesse a chance de pronunciar mais uma palavra sequer.

Fuck Me [HS]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora