33: eu não quero que você passe a me olhar de outro jeito

8.1K 814 326
                                    

✾✾✾

— Sabe qual foi a primeira coisa que eu gostei em você? – perguntou manhoso, em um clima preguiçoso estimulado pelo tempo nublado do lado de fora.

Rolei nos lençóis, ficando de frente para ele e tentando não me distrair com seu corpo nu ao lado do meu.

— O quê?

Harry apoiou a cabeça em uma das mãos e usou a outra para dedilhar a minha cintura, chamando a minha atenção para a tatuagem pequena marcada em minha pele clara, feita tantos anos antes.

— Isso.

Curvei os lábios em um sorriso desacreditado, achando sua afirmação um tanto quanto suspeita. Eu tinha certeza que ele havia notado outros atributos físicos meus antes de gostar daquela tatuagem boba. Era de Harry que estávamos falando.

— Por quê? – ergui as sobrancelhas.

— Porque foi a primeira coisa sobre a verdadeira Melissa que eu conheci.

Aquela tatuagem antiga e infantil de Harry Potter era a única coisa sobre eu mesma que havia me acompanhado nos últimos anos. Uma vontade de rir me atingia em cheio quando eu lembrava dos olhares assustados e reprovadores de minha mãe e Beatriz quando eu apareci com ela em casa, tendo usado de uma autorização falsa para conseguir que o tatuador fizesse o serviço mesmo eu sendo menor de idade na época.

Com o tempo a minha mãe acabou se acostumando e, no final, já tinha passado a gostar dela, pensando até em fazer uma também. Beatriz, no entanto, nunca engoliu aquilo, me chamando de irresponsável e brega sempre que tinha a oportunidade. Mas eu era viciada na saga e a ideia de ter um par de óculos e uma cicatriz tatuada parecia brilhante na ocasião.

Depois do que aconteceu, passei a odiar a tatuagem. Pensei até mesmo em fazer algumas sessões para removê-la, mas nunca tive coragem. E agora, tendo a chance de ser eu mesma novamente, era grata por tê-la mantido.

— Eu a adoro – Harry disse baixo, traçando o contorno do desenho com suavidade, com um sorriso tranquilo e descansado.

— O que mais você adora?

Ele cessou o carinho e ergueu os olhos até os meus, parecendo confuso. Mas enquanto nos encaramos, suas linhas deixaram de ficar tensas e mostravam que ele estava compreendendo o motivo da minha incerteza.

Harry respirou fundo e ergueu a mão até o meu rosto, me dando um sorriso triste.

— Adoro tudo sobre você... Eu queria poder sentir mais do que isso, desculpe.

Meu coração se encolheu enquanto eu encarava o cara estragado ao meu lado, lendo a sinceridade espelhada em seus olhos verdes. Minha garganta se fechou e uma vontade de chorar me atingiu em cheio, mas eu me segurei.

Estava tudo bem. Eu estava bem.

Ele pareceu se dar conta do quanto se abriu sem ao menos perceber, pois arregalou os olhos para a própria frase e pareceu inquieto. Levantou da cama e arrumou algo para falar.

— Eu tenho... – coçou a garganta, desconcertado e perdido. – Eu tenho que ir à cidade fechar uns negócios – começou a se vestir de qualquer jeito.

Fiquei ali, jogada na cama, assistindo-o tristemente enquanto ele se arrumava. Sentindo meu olhar, Harry se virou, já com sua calça vestida e uma blusa jogada no ombro. Ele pareceu perceber que eu estava sensível, parou por um segundo e suspirou.

— Algo errado?

Sim.

— Não – respondi na mesma hora, procurando me recompor. – Só estou preocupada com o pessoal acampando no topo daquela montanha com esse tempo fechado – desviei os olhos, fitando minhas unhas.

Fuck Me [HS]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora