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Eu odiava as paredes cinzas. Eu ainda vestia as roupas de hospital. Eles faziam todos os pacientes usarem. Você deve por um moletom por cima, então eu coloquei uma preto que tinha colocado na mochila. Depois de verificarem meus sinais vitais, eu esperei para encontrar com o psiquiatra.

Olhei para fora da janela e o tempo chuvoso e nublado fez tudo ficar pior. Sentia falta da minha esposa, das minhas crianças. Ver Camila antes de vir para cá foi difícil, mas eu sabia fez tudo ficar mais claro. Eu precisava lidar com isso. Precisava finalmente confrontar meus traumas que eu apenas afundava mais e mais na minha mente.

O psiquiatra olhou o meu histórico médico e trocou minhas medicações de ansiedade e depressão. Eu não tinha ideia do que esses remédios faziam, então eu confiava no que ele estava fazendo.

Peguei meus medicamentos e sentei na cadeira, encarando a janela, desejando que eu pudesse estar em qualquer outro lugar, menos aqui.

Havia diferentes sessões para fazer durante o dia, então eu fui para a sala onde mexíamos com argila. Cada um de nós tínhamos uma pequena bola. Eu não me sentia com vontade de fazer muita coisa, mas mexer com a argila com as mãos me fez sentir bem. Trabalhei o dia todo com minha raiva e frustração naquele material.

Fui para outra sessão, onde ouvíamos um pouco sobre meditação. Eu aprendi o quão importante respirar e lembrava para mim mesmo o quanto eu precisava voltar aos remédios. Quando eu era pequeno, eu meditava diariamente, mas agora, eu acho que eu não sentia que precisava. De fato, isso me trouxe uma realização. Minha ansiedade e depressão, desde que conheci Camila, foram controladas muito bem. Mesmo quando ela terminou comigo, eu, de alguma forma, sabia no fundo da mente que ela voltaria. Suspirei. Talvez eu não tivesse sentido a necessidade de trabalhar nos meus problemas, porque eu estava feliz. Eu não gostava de confrontar meu trauma.

Flashback

- Você ainda pensa neles...nele? - Camila perguntou enquanto deitávamos na cama. Estávamos na Itália, e o assunto surgiu porque Camila compartilhou comigo que algumas vezes ela pensava no padrasto. - Eu não desejo exatamente nada de ruim...mas eu não desejo nada de bom...se isso faz sentido. - ela falou.

Balancei a cabeça.

- Não...quer dizer...eu acho que é mais fácil não pensar nele. Eu acho que ele está onde merece estar, e ele não pode machucar mais ninguém... - tive um rápido flash de Jerry beijando minha testa. Afastei os pensamentos.

- Tudo bem? - Camila perguntou, afagando minha bochecha.

- Estou bem.

- Não tinha a intenção de trazer esse assunto..desculpa se te chateou. - ela falou triste.

- Não chateou, tudo bem. Eu gosto de ficar com você, no presente. Qualquer coisa que aconteceu antes não importa, o que importa é o agora, você e eu, contra o mundo. - falei, beijando os lábios dela. - Eu te amo...

- Também te amo...mas...amor...tenho que te falar algo importante... - Camila falou séria. - Acho que preciso de novas calças. Os carboidratos estão me consumindo... - Camila confessou e nós rimos. Era o tipo de risada que fazia tudo virar em câmera lenta. O tipo que fazia você sentia que tudo sempre iria ficar bem. O tipo que me lembrava o quão apaixonado eu estava.

Fim do flashback

Ri comigo mesmo. Talvez eu devesse ter percebido que ela estava grávida na época.

Encontrei com o terapeuta, e ele não facilitou para mim. Eu contei tudo...tudo desde o momento que vi Jerry até o momento atual.

- O que te faz ter mais medo? - ele perguntou.

Plano de voo (Versão em PT) - Shawmilaजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें