Vinte e cinco

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Mudança boa e repentina.
Depende para quem vê.

— Eu juro que não vi nada! — exclamou Diana notoriamente apavorada — me desculpem eu estava com sede, pensei que Anne estivesse em seu quarto Gilbert — ela disse ainda em desespero — oh céus vocês iam?...

— Não! — eu e Gilbert dissemos em coro — estávamos somente... — tento dizer.

— Dando um beijo — Gilbert completou.

Diana acendeu a lanterna do celular. Estávamos já longe o suficiente para que nada viesse ser tão desagradável para ela.

— Acho que a força acabou — ela disse — e estou começando a ficar com frio.

— A casa tem ar condicionado — ele diz — agora vai ficar muito mais fria.

— Ótimo — Diana diz com sarcasmo — já está tudo tão "frio" mesmo.

— Meu celular não está aqui — interrompe Gilbert — será que podemos ir nós três lá para baixo para que eu dê uma olhada no disjuntor?

— Claro — Diana diz já descendo as escadas e passando a nossa frente — por onde vamos?

— Só segue reto, fica no porão.

Minha imaginação fértil me dava uma péssima sensação de que estávamos em um filme de terror. Três pessoas, um apagão, só uma garota com a lanterna, descemos para o porão e lá encontramos algo misterioso, a sombra de outra pessoa — não estávamos sozinhos — aquele era o nosso fim.

Uma mão toca em meu ombro e em um pulo, viro-me aterrorizada. Sinto a alma sair de meu corpo e retornar.

— O que está acontecendo? — pergunta Jerry com o seu sotaque francês.

— Jerry! — o repreendo — você tem noção de que quase matou-me de susto?

Ele ergue os ombros como se não soubesse. Diana foca a lanterna em nós e com diligência pergunta:

— O que estão cochichando?

— Jerry estava curioso para saber o que estava acontecendo.

— Escutei barulhos e decidi vim ver se estava tudo bem — diz o francês — mas se quiserem eu posso voltar ao meu descanso.

— Sim — Diana responde um tanto feroz.

— Vou precisar de alguém para me ajudar a encontrar o problema — Gilbert diz passivamente — e tenho certeza que Jerry é uma excelente pessoa para isso.

Jerry sorri com inocência.

Pobre Jerry — digo para mim mesma.

Sua inocência é tanta que me deixa admirada, já Diana, não era tão inocente, suas ações e atitudes eram bem pensadas, e calculadas, e Jerry era tão impulsionado por seu bom coração ao invés de sua razão, que eu ficava extremamente comovida com tanta pureza.

— Espero que não sejam ratos — disse Diana.

— Eu espero que não seja um serial killer — disse Jerry.

— Eu espero que seja somente um problema no poste — interrompeu Gilbert.

Agora tínhamos dois celulares. Descemos a escada do porão, e ao chegarmos na parte inferior da grande mansão, senti o ar ficar mais carregado, talvez devido ao meu nervosismo. Eu não estava acostumada com porões.

Assim que encontramos a caixa de energia, Jerry e Gilbert mexem na mesma, nos deixando na mesmice. O problema era no poste, e consequentemente passaríamos a noite sem luz.

— Isso significa que devemos voltar para nossos quartos e tentar ter uma boa noite de sono — disse Diana com positividade.

— Sim — Gilbert concorda — devemos ir para a cama e quem sabe pela manhã a energia tenha voltado.

Subimos as escadas e Jerry e Diana avançam em nossa frente. Gilbert e eu, ficamos um pouco mais para trás, assim temos também a oportunidade de conversar mais um pouco antes de nos despedirmos.

— Acha que se tivéssemos mais tempo, algo a mais teria acontecido? — questiono.

Era louvável minha comunicação direta, eu não gostava de deixar a dúvida remoer minha mente, eu tinha que perguntar.

— Eu não sei Anne — ele diz — provavelmente teria sido ainda mais...  Fervoroso de fato, mas não sei se chegaríamos no finalmente.

Deixo escapar uma risada sem graça.

— Na sala da casa! — digo um tanto perplexa — onde estávamos com a cabeça?

— No desejo — ele sussurra.

Diana aponta a lanterna para nós e com malícia diz:

— Querem mais privacidade?

O sorriso de Gilbert vacila, e seus olhos se fixam nos meus deixando-me atordoada. Se pudéssemos, se Diana não chegasse, certamente essa hora, eu já não seria mais... Virgem.

— Vamos Diana — enlaço meu braço ao dela — vamos que a noite ainda está longe de acabar.

. . .

Diana ainda mantinha a lanterna do celular acesa, direcionado para o seu rosto. Ela mordia o lábio inferior como se pensasse e repensasse em algo de uma forma bastante assídua

— Diga — lhe pressiono — sei bem que está pensando...

— Não — ela nega — eu não pensava em você e Gilbert, na verdade pensava em mim e Jerry, se tivéssemos sido um pouco mais inteligentes, teríamos nos reconciliado essa noite.

— E talvez, ao invés de eu e Gilbert estarmos aproveitando a nossa privacidade não assegurada na sala, poderia ser você e Jerry. — provoco.

— Eu não seria tão insana em usar a sala Anne — ela revira os olhos — eu prefiro a privacidade total, e não sei, acho que não estou pronta para passar de um beijo, principalmente relacionado a Jerry, ele é tão... Puro.

— Eu estou brincando Diana — digo — acho que eu e Gilbert realmente passamos um pouco dos nosso limites hoje, eu também não me sinto preparada para algo além de beijos. E acho que ele também pensa isso.

— Mas a loira oxigenada é fissurada nele — ela diz — imagino que talvez possa ter acontecido algo a mais no navio, algo que nenhum deles teriam coragem de contar.

Penso por um momento que Gilbert poderia ser um mentiroso que estava me iludindo, mas como ter certeza de que é verdade? Diana apontou a dúvida, e agora será difícil de respondê-la.

— Deveria perguntar a ele — ela sugere — deveria perguntar  se aconteceu algo entre os dois. Você é tão direta para algumas coisas e tão retraída para outras Anne.

— Está certa. — concordo — farei isso, agora. — digo.

Levanto-me e caminho silenciosamente até o quarto de Gilbert. Mas sou surpreendida pelo som da voz de Winifred que claramente chora enquanto conversa com ele. Observo através do vão da porta, e ela está sentada na poltrona aos prantos e Gilbert está com a mão pousada em seu ombro.

— Você não se lembra? — ela diz atônita.

— Não posso me lembrar de algo que não aconteceu Winifred! — sua voz é de negação.

Meu interior ferve, sinto meu coração pulsar e estou louca para agir impulsivamente, contudo antes que pudesse abrir a porta, uma frase deixa-me estática ao lado de fora, sem reação, completamente perdida em meus pensamentos inundados de dúvidas e contemplações nocivas.

— Eu não vou abortar — disse ela.

Anne With An E - Sec XXI (Concluída)Where stories live. Discover now