Afasto a sua mão e limpo as lágrimas rápido.

-desculpa.- viro-me.

Sempre soube que o Harry detestava o Dean, e mesmo ontem, quando por um momento me esqueci de tudo, quando o Harry e eu fizemos amor, eu não beijei, eu deixei que ele me tocasse, mas eu virei a cara, eu não queria que ele sentisse o gosto horrível que eu sinto.

Abro a porta e ando rapidamente até á casa de banho, fecho a porta á chave e ligo o chuveiro. Sinto-me suja outra vez, sinto-me cobarde, sinto-me coberta de mentiras e deceções, sinto que o estou a estragar, que estou a polui-lo.

Quando a água está quente sento-me no chão frio da cabine de duche, deixo que a água me lave o mais que possa. Imagens de todas as visões e sonhos que tive, em que o Harry desapareceu e eu fiquei apavorada... eu sei que agi mal, mas merda, quem nunca pecou que atire a primeira pedra. Eu não posso viver sem ele, não agora que ele é uma parte do meu organismo, é difícil, mas eu luto sempre por isto, luto por ser tudo o que ele quer e precisa, lutei no inicio para ter o seu amor, lutarei agora se for preciso.

Se não lhe contei, foi porque o queria proteger, e hoje a minha ideia era ir ter com o Dean e persuadi-lo a deixar o Harry em paz. Riu sem humor, porque no fundo o Harry tem razão, sou frágil e ingénua, acreditei que conseguia convencer alguém com uma mente tão retorcida a deixar-nos em paz, quando ele afirmou que nunca quis tanto duas coisas como eu e o Harry.

O mais difícil é que no fim, tudo o que posso ver é que ele tem razão, pelo menos quando diz que sou idiota, eu não devia nunca ter tentado ir ter com ele, e talvez não contar ao Harry não seja o meu maior arrependimento, mas preciso de lhe dar razão, agi como uma idiota e agora estou a arcar com as consequências. É assim que vivemos, e é disto que o mundo gira. De dinheiro e culpa. Dinheiro fez o Dean raivoso, e culpa está a fazer-me perder a confiança do Harry. Talvez eu realmente não confie tanto nele assim, talvez eu ainda tenha medo de me abrir para ele.

A porta range e fico especada a olhar, espero tudo, que a porta caia, que ele lhe bata, mas tudo o que vejo é a pequena porta mexer-se, sem nunca se abrir. Então sei que ele está ali, atrás da porta, á espera de mim, para me julgar, mais e mais, até que nada reste, a até que todos os meus segredos e culpas estejam desvendados, e eu esteja nua. Mas será que estar nua não é tudo o que eu quero? Será que confiar no Harry não é tudo o que eu quero?

A cama é fria, as janelas de vidro mostram-me a cidade de londres longe, e os maiores edifícios de Oxford perto, enquanto isso, estou sozinha na cama, o relógio mexe-se e são onze da noite, a almofada do Harry está debaixo da minha cabeça, e o único som no quarto é o som da minha respiração, é tudo muito metódico, a maneira como pisco os olhos, como esfrego os pés um no outro para os aquecer, como os meus dedos apertam a almofada. Não há realmente um ponto nisto. Sinto-me culpada, a minha culpa destrói-me, e não é como quando o Harry me deixou, e eu não tinha culpa, porque eu sabia que não tinha. As visões eram algo que eu não podia controlar. Mas isto? Ontem eu podia ter evitado tudo isto, podia ter chegado e pedir desculpa e ter-lhe contado o que se tinha passado, em vez disso calei-me, telefonei á minha mãe, pensei que estava tudo bem até ir para a cama e a culpa me assombrar. É algo que vem devagar, mas quando vem, te atinge com força.

A porta abre e fecho os olhos. O meu corpo está espalhado no meio da cama, enquanto o oiço despir-se. Ele baixa-se na cama e os seus braços envolvem-me, puxando-me para o meu lugar, e quando penso que ele me vai largar, ele agarra-me com mais força. Sinto a sua respiração perto de mim, e depois os seus lábios estão nos meus, não é um beijo, é apenas pele contra pele, a minha respiração acelera e espero algo malvado, mas a única coisa é quando ele começa a sugar lentamente o meu lábio inferior, ele lambe, e beija, e repete o processo com o lábio superior, é como se ele estivesse a curar a ferida. Arde-me porque passei o dia todo a coça-los com as minhas unhas, mas acende o fogo da esperança. De que talvez ele ainda me ame, como eu o amo a ele, mesmo que ele ache que não.

Vision 2 - PrisonersWhere stories live. Discover now