Meu orgulho é o único culpado

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Eu passei a noite inteira chorando e reclamando no colo da Camila, minha mãe quis me matar assim que eu contei toda a verdade e não tiro a razão. O que mais doía no meu coração era a imagem das crianças na minha mente, Elizabeth e Bradley estavam perdidamente machucados, Derek nunca mais olharia na minha cara. Acabou com o Senhor Evans, definitivamente acabou aquilo que nem deveria ter iniciado. Sem desejos. Sem corpo. Ele é fragmentado demais. Questionei tudo o que tinha que questionar no colo da Camila e da minha mãe, desabafei tudo o que eu achava sobre a víbora chamada Wanda e em como o Cole ainda parece estar perto de mim. Tudo aconteceu tão rápido e sei que eu precisava era só de um momento desse, chorar e jogar tudo para o alto para depois organizar. Eu acordei me sentindo um pouco melhor, não pelas crianças. Mas, preciso tentar me acostumar com a ideia de que talvez eu não volte a ver aqueles pestinhas nem tão cedo. Isso dói. Mais do que qualquer outra coisa.

- Você está linda - Camila disse pela segunda vez ao olhar o look que ela escolheu para eu vestir no ateliê em que ela trabalha - Adorei. Fica com ele. Você fica tão bem de branco e vermelho.

Um conjunto de short e cropped de alcinhas, um casaco vermelho por cima que foi Camila que desenhou com detalhes e costurou. Ela era realmente boa, me passou as sandálias de tiras e eu calcei sem ânimo. Camila me olhava seriamente e ainda me xingava quando tinha oportunidade para me fazer esquecer a Família Evans, era impossível.

- Você precisa paquerar - Camila diz colocando as mãos no meu ombro após pegar as nossas bolsas e nos levar para a saída do ateliê - Sabe que o seu maior problema foi tesão acumulado.

- Eu não vou transar com ninguém, Camila - Resmungo andando ao lado dela pelas calçadas da cidade de Nova York - Você poderia respeitar a minha dor. Eu realmente estou machucada pelas crianças. Eu quero que o Senhor Evans se foda.

- Eu sinto muito pelas crianças, eu disse isso a noite inteira - Camila segurou meu braço enquanto andávamos e deitou a cabeça em meu ombro - Desculpe. Você está com uma cara péssima e eu gostaria de ter a minha melhor amiga de volta - Camila resmunga - Seu aniversário é em três dias e eu não sei como concertar o que aquele Senhor Evans fez. O pior de tudo é pensar que vocês não transaram, porra! E, se ele for ruim de cama.

- Camila - Respiro fundo - Ruim de cama? Ele acabou comigo em um beijo. Eu não gosto nem de imaginar ele na cama.

- 20 anos - Camila disse sorrindo e tocando meu rosto animada - Você vai completar 20 anos em três dias. Sabe o que vamos fazer para tornar esse dia uma verdadeira lenda? Vamos para um bar de stripper. Homens em cima de nós, Lili.

- Você é louca - Disse rindo e ela me olha sorrindo ainda mais por ganhar minha risada - Safada - Complemento - Louca e safada.

- Vamos para um barzinho famoso! - Camila disse pegando na minha mão e me puxando pela calçada - Você precisa beber e eu também. Vou faltar na aula hoje. Pelo bem de uma amizade sincera.

Reviro os olhos e não tenho como correr para outro lugar. Eu não tinha nada para fazer mesmo. Iria para casa? Pensar e ficar preocupada, acabar chorando novamente. Meu celular vibra na minha bolsa assim que entramos no bar, pego o mesmo e observo a notificação de depósito do aplicativo do meu banco, Senhor Evans depositou meu pagamento. Suspiro e guardo o celular novamente. As dívidas desse mês estará todas pagas.

Camila me puxa para o balcão do bar, pede duas doses de vodka e tira um pirulito da sua bolsa que me faz rir com toda essa animação. O bar era muito incrível, um pouco mais escuro mas bem iluminado, sofás aconchegantes e banquetas também. Por isso nós escolhemos nos sentar nas banquetas ao bar mesmo, um barman mais bonito que o outro, o que não poupou a Camila de querer flertar com quase todos eles. Tocava uma música animada e que já dava vontade de levantar para dançar, algumas pessoas dançavam perto de uma pequena e improvisada pista de dança. Nova York é definitivamente a cidade que não dorme e eu amo poder contemplar isso em qualquer dia, em qualquer horário.

Era inacreditável mas, avistei o Noah de longe. Era quase impossível. Não sabia que ele era de Nova York também. Eu precisava dar o fora daqui.

- Camila, vamos embora! - Disse virando toda a minha vodka, abri a minha bolsa e peguei o dinheiro das bebidas, bati no balcão e puxei a Camila nas pressas enquanto ela virara a sua dose - É um erro pensar em se divertir por agora.

- O que houve, Lili? - Ela pergunta preocupada enquanto saímos daquele estabelecimento - Por que um erro? Você merece se divertir. Eu sei que dói amiga mas, você já passou por outro mil problemas e você é forte. Se dá uma chance, para de sofrer porquê tá se fodendo para o seu bem estar.

- Camila, Noah está ai dentro! - Apontei para o bar em que estávamos nos afastando - Lembra do garoto que eu disse que beijei no Cassino. Eu não quero o encontrar.

- É a sua chance! - Camila arregala os olhos e eu reviro os mesmo - Lili, eu ordeno que você pegue aquele garoto.

- Eu ordeno que você cale a sua boca! - Respondo irritada e cruzo os braço andando para o meu apartamento.

Pelo menos Camila respeitou a minha escolha, reclamou mas respeitou. Ela me deixou em casa, ela morava somente algumas quadras do meu bairro e eu subi para o meu apartamento tranquilamente. Minha mãe não estava em casa ainda apesar de ser tarde, ela comentou que estava cheia de trabalho na revista e que iria fazer algumas horas extras nos próximos dias. Caminho até o meu quarto, tiro as minhas sandálias e casaco, coloco minha bolsa na cama e escuto o meu celular tocar. Meu coração se apertar ao ver "Mansão Evans" brilhando na tela.

- Alô? - Murmurei atendendo com medo.

- Oi Lili - Escuto a voz baixinha do Bradley - Eu não consigo dormir. Eu sinto a sua falta.

- Ah, Brad - Suspiro e me sento na cama fechando os olhos - Eu já estou com saudade também, meu amor - Sussurro - Mas, está tão tarde para você estar me ligando. Você deveria estar na cama.

- Peguei o telefone escondido aqui na sala - Ele sussurrou - Eu não quero acordar o papai. Mas, estou com medo de fechar os olhos novamente.

- Você pode levar o telefone para o seu quarto? Consegue fazer isso?! - Pergunto.

- Sim - Ele responde.

- Então suba até o seu quarto, estarei na linha com você até você dormir - Murmuro me deitando na cama.

- Você é especial, Lili - Bradley sussurra e eu sorrio com lágrimas nos olhos.

- Você que é especial, Bradley - Murmuro deixando escapar uma risada baixinha - Já está na cama?

- Acabei de entrar no quarto - Ele diz baixinho - Subindo na cama. Agora estou deitado e puxando a coberta.

- Agora me diz o que você fez no Colégio hoje? - Pergunto e posso sentir uma pontada de animação.

- Hoje tivemos aulas de ciências, eu conheci os planetas, os materiais naturais e todo o sistema solar! - Ele diz animada e esquece que preços falar baixinho caso alguém esteja por perto.

- Hoje eu não fiz nada de interessante, limpei a casa e acompanhei uma amiga no trabalho - Murmurei sorrindo - Sabe me explicar o porque do céu ser azul.

- Não. Já esqueci tudo - Ele responde e eu não aguento, acabo rindo baixinho novamente - Lili, eu sinto meu coração ficar acelerado quando estou em casa.

- Seu coração está acelerado agora? - Pergunto preocupada.

- Sim - Ele sussurra.

- Respira fundo, vamos lá - Disse o orientando baixinho e escutando a sua respiração pesada - Respira fundo - Peço mais uma vez - Segura o ar todinho, agora solta devagarinho.

- Lili - Bradley sussurrou outra vez e o escuto bocejar - Por que o céu é azul?

- Quando os raios de luz do sol entram na atmosfera, ocorre o fenômeno do espalhamento, que destaca a luz de cor azul - Respondo baixinho - Bradley? - Sussurro mas não escuto mais nada - Dorme bem, meu pestinha. Boa noite.

The NannyWhere stories live. Discover now