Parte 26

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Ara nunca havia visitado a cidade portuária no nordeste de Talmhainn e a uma cavalgada quase curta de Cáhida. Tão falada sobre, tão relevante. Sabia, ainda assim, que Grande Chifre tinha algumas vantagens para aquela empreitada: era bastante heterogênea e absurdamente movimentada. Navios, comboios, passantes e aventureiros errantes, todos os sóis uma quantidade incontável de criaturas entrava e saía da cidade. Era por entre toda essa confusão que Ara planejava adentrar os muros de Grande Chifre, ela e Iolanda, sem que fossem detectadas.

Vestindo capas e capuzes, as duas escolheram por deixar os cavalos nos arredores da cidade, e caminhar pelo resto do caminho. Ara e Iolanda, ambas tendo passado uma boa quantidade de verões se especializando em um deslocamento furtivo, desapareceram por entre os outros viajantes que se aglomeravam nos portões de Grande Chifre.

Não havia muito controle na entrada da cidade, apenas quatro guardas atentos, preocupando-se com potenciais confusões, e não a identidade daqueles que chegavam. Grande Chifre era o tipo de lugar que recebia a todos. Logo, as duas circulavam pelas ruas de pedra, passando pelo comércio, lojas de todo o tipo de artesão, de meias e sapatos à armas e instrumentos mágicos, pelas estalagens, os bordéis, bordéis disfarçados de tavernas e tavernas que se limitavam à venda de comida e bebida —talvez uma ocasional erva para o fumo.

Enquanto caminhavam, os passos em uma velocidade calculadamente mediana que não chamava atenção de ninguém ao redor, Iolanda puxou a manga da capa de Ara. A elfa observou sua nova companheira, que a encarava, os olhos arregalados. Com um movimento curto do queixo, Iolanda mostrou uma construção pouco a frente. Um prédio, não muito alto, mas construído com pedra e de forma bastante meticulosa. Nada dizia se tratar de um estabelecimento oficial, como prefeitura, ou até mesmo uma guilda, porém o que quer que o prédio abrigasse, o dinheiro investido em sua construção indicava poder. E, dependurados das janelas de vidro grosso do segundo andar, estavam dois estandartes exibindo a águia da Virtude.

— É a primeira que vemos — Ara comentou em resposta.

— Isso é bom?

Iolanda respirava fundo, tentando disfarçar a apreensão que sentia, que seus olhos gritavam. Estivera quieta em sua pequena cabana em uma vila de absoluta irrelevância, mas em vez de manter seu esconderijo, havia ido direto para uma cidade enorme, cheia de guardas e potenciais espiões, e ainda por cima influenciada pela Virtude. A humana começou a questionar seu bom senso em ter confiado na elfa estranha e em sua história forçada de ingenuidade e "querer fazer o certo".

— Se andamos por metade da cidade sem encontrar essa maldita águia, é sinal de que a cidade é, no mínimo, dividida. E pode ser que só quem mora nessa casa apoie abertamente a ordem — Ara tentou tranquilizar a companheira.

Não era o caso.

O caminho mais rápido para o porto passava pelo centro e parte mais rica da cidade e, das muitas glamorosas casas, um número considerável carregava o estandarte da Virtude. Assim que percebeu o padrão, Ara desviou o caminho.

— O quanto você conhece dessa cidade? — a elfa perguntou.

— Vim poucas vezes, mas sei como andar por aqui. Levo jeito com isso — Iolanda garantiu.

— Então você guia, vamos seguir pela parte mais pobre, deixar todas essas mansões pra trás e ver se não encontramos um símbolo mais amigável.

— E o que seria isso? — Iolanda perguntou.

Ara apenas sorriu em resposta. Sentia o peso se seu anel de latão, a cobra engolindo sua próprio cauda, presa no cordão de couro ao redor do pescoço. Lembrou-se do conforto em caminhar pelas colinas de Udalea e ver o símbolo nas portas, pintado em paredes, desenhado em pedras no chão. Sabia pouco sobre Grande Chifre, mas lembrava-se de Maguí contando como a cidade também apresentava enorme disparidade entre suas áreas ricas, e as mais pobres.

Livro 1 - A Elfa, O Homem e a Ordem [completo]Where stories live. Discover now