Parte 13

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Ara, início da vida adulta

A fila nos portões da cidade real se estendia por mais de um quilômetro. Humanos vinham com carroças carregadas de barris de cerveja, caixas com comida e produtos dos mais variados; anões chegavam a cavalo ou a pé, carregando sacolas com equipamentos ou armas forjadas com maestria; haflings traziam carretas puxadas por pôneis, abastecidas com ervas para o fumo, frutas e batatas. Seres ainda menos comuns também esperavam, gnomos que não paravam de rir, meio orcs que atraíam olhares preocupados, gigantes, lagartos da altura dos humanos que andavam em duas patas, e alguns poucos elfos. A diversidade era grande, para uma cidade tão homogênea quanto Cáhida.

Dez guardas protegiam os enormes portões de ferro, pintados de preto. Portavam espadas e machados e suas armaduras tinham a cor bronze, com detalhes em azul: as cores do Rei. Usavam capacetes similares, carregando o brasão da família real, um escudo simples, as letras "L" e "C" em uma fonte elegante no interior, com uma coroa em cima, e desenhos de um urso de cada lado. Questionavam os que passavam, perguntando nomes, de onde vinham e o que planejavam fazer na cidade, mas era raro que impedissem a entrada de alguém. Era dia de mercado, e os que chegavam com produtos não passavam muito tempo explicando suas intenções aos guardas, que desejavam agilizar aquele processo.

Ara não esperou na fila, tinha vindo até Cáhida escoltando Ghrèin e Blath, apesar do filho ser capaz de proteger o pai sozinho, e nobres não precisavam da autorização dos guardas para entrar na cidade. Ghrèin havia explicado aos jovens que os humanos o consideravam um Duque, já que era quem liderava Lannuaine, e portanto seria um relevante membro da nobreza, respondendo apenas ao Rei. Era uma informação nova para a jovem elfa.

— São formalidades necessárias, os Reis anteriores não se metiam nos assuntos dos elfos da floresta, mas Lázaro quer se envolver mais. Todos os que controlam grandes porções de terra são chamados de Duque, ele escolheu me dar o título para facilitar qualquer discussão.

Ara não tinha considerado aquilo muito positivo, mas Ghrèin lhe assegurara que buscava ter um bom relacionamento com o Rei exatamente para que não houvessem muitas intromissões na vida da floresta. A elfa não comentou sobre sua segunda preocupação, quanto ao Rei pensar que Lannuaine pertencia a Ghrèin, ou até mesmo aos elfos.

Aproximaram-se dos portões em uma carruagem de madeira entalhada, puxada por dois grandes cervos. Era uma visão comum para os três elfos, mas atraía olhares curiosos daqueles que esperavam na fila. Ara conduzia os animais, enquanto Ghrèin e Blath, sentados no interior da carruagem, discutiam assuntos que não a interessavam. Aquela cidade enorme chamava mais sua atenção, a muralha por si só era impressionante, gigantesca. Uma vez no interior, era sempre possível ver o castelo, construído com pedras rosadas, ou ao menos sua torre mais alta. O telhado reluzia, era ornamentado com vidro, em três tons de verde diferentes, e reflexos coloriam as outras torres.

Apenas membros da classe mais alta habitavam as casas protegidas pela muralha, eram em sua maioria humanos — os nobres de outras raças costumavam viver entre os seus, ou em cidades maiores e mais heterogêneas. Havia apenas uma via ampla o suficiente para a passagem da carruagem, que circundava o castelo, e os elfos puderam observar bastante daquela cultura que lhes era tão peculiar. Humanos viviam em palacetes extravagantes, coloridos e bem cuidados, que outros seres não achavam nada confortáveis ou bonitos. Havia muitos ornamentos no exterior dos prédios para que uma elfa, acostumada com a beleza vinda da simplicidade, considerasse a construção agradável aos olhos.

Ali os costumes dos homens dominavam, criados circulavam pelas ruas com uniformes pomposos, caminhando por entre vitrines e mais vitrines de artesãos oferecendo seus produtos. Vendiam objetos decorativos de porcelana, almofadas de mil tamanhos diferentes, uma diversidade de roupas que deixava a elfa tonta. Tudo custava uma quantidade absurda de peças de ouro. Ara achou cômico, se perguntava onde os humanos guardavam tanta coisa, e para que precisavam de tantas roupas diferentes.

Livro 1 - A Elfa, O Homem e a Ordem [completo]Where stories live. Discover now